Gineta

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Ginetas num desenho de 1927
Ginetas num desenho de 1927
Estado de conservação
Espécie pouco preocupante
Pouco preocupante
Classificação científica
Reino: Animalia
Filo: Chordata
Classe: Mammalia
Ordem: Carnivora
Família: Viverridae
Género: Genetta
Espécie: G. genetta
Nome binomial
Genetta genetta
Linnaeus, 1758
Distribuição geográfica
Verde - nativo, vermelho - extante introduzido, preto - extinto introduzido
Verde - nativo, vermelho - extante introduzido, preto - extinto introduzido

A Genetta genetta, comummente conhecida como gineta[1][2] (também grafado geneta[3]), é um mamífero carnívoro do género Genetta, pertencente à família dos viverrídeos, que ocorre no continente africano e no sul da Europa [4].

Nomes comuns[editar | editar código-fonte]

Esta espécie dá ainda pelos seguintes nomes comuns: gineta-europeia[1], gato-bravo[5] (não confundir com o Felis silvestris, que consigo partilha este nome) e gato-toirão.[6]

Descrição física[editar | editar código-fonte]

A gineta tem aspecto e tamanho idêntico a um gato, porém proporcionalmente tem o focinho mais afunilado, as orelhas grandes, as patas pequenas (com 5 dedos em cada uma das patas) e uma cauda larga e comprida [7]e anelada. O corpo é longo e esguio, com o pêlo de cor alternada cinza com muitas manchas escuras que tendem a formar linhas longitudinais, formando um padrão único e irrepetível em cada indivíduo [8]. A pelagem é castanha acinzentada, podendo haver indivíduos com a cor mais amarelada. A cabeça apresenta pelagem mais escura, sobretudo no focinho, sendo que no ventre a cor é mais clara. Os machos e as fêmeas são similares (sem dimorfismo sexual), assim como os indivíduos jovens e os adultos [7].

Distribuição geográfica[editar | editar código-fonte]

A espécie encontra-se amplamente distribuída, ocorrendo no norte do deserto do Saara (Marrocos, Argélia, Tunísia e Líbia), em três grandes regiões quentes, abertas e secas, na África Ocidental, África Oriental e Austral [9]. Também ocorre em regiões costeiras da Península Arábica, nomeadamente na Arábia Saudita, Iémen e Omã [10]. Na Europa, a gineta ocorre em Portugal Continental, Espanha e França [11]. Também se encontra nas ilhas mediterrâneas de Maiorca, Ibiza, e Cabrera, todas elas pertencentes ao Arquipélago das Ilhas Baleares, em Espanha [11]. Esta espécie é geralmente considerada como uma espécie introduzida na Europa e nas ilhas Baleares [11]. Foi registado a presença da espécie a 2.600 metros de altitude nas montanhas do Alto Atlas de Marrocos [12] e a 3.000 metros de altitude no Planalto da Etiópia. [13]

Introdução na Europa[editar | editar código-fonte]

Crê-se que a sua presença na Europa seja recente e que tenha sido introduzida pelo homem de forma provavelmente involuntária, como mascote que se assilvestrou ou como simples clandestino em algum barco que tenha cruzado o Estreito de Gibraltar. Alguns autores apontam que a palavra «gineta» poderia proceder da palavra de origem árabe jinete (zenete), pois os muçulmanos que combatiam a cavalo durante a Reconquista adornavam a sua sela com peles deste animal. Supõe-se que os romanos tinham ginetas como mascotes, antes de os gatos domésticos serem importados do Egipto.

Gineta fotografada num zoológico.

Península Ibérica[editar | editar código-fonte]

Na Península Ibérica, as populações da geneta são consideradas espécies introduzidas desde períodos históricos remotos, pelo que já se encontram naturalizadas há séculos.[1] Nestes termos, a geneta é uma espécie largamente distribuída pela Península Ibérica, cuja abundância parece diminuir de Sudoeste para Nordeste, de tal ordem que se ausenta, ou pelo menos rareja, nas regiões cerealíferas da Meseta Ibérica, no centro de Espanha.[1]

Presença em Portugal[editar | editar código-fonte]

No que respeita a Portugal, em concreto, a geneta tem uma presença generalizada de Norte a Sul do território continental, pese embora, seja marcadamente menos abundante nas regiões do Centro, de Trás-os-Montes e do Alto Douro.[1]

Ecologia e comportamento[editar | editar código-fonte]

A gineta habita preferencialmente em habitats florestais (de folha caduca ou persistente), com rios nas proximidades, porém é uma espécie generalista, podendo ser encontrada em outros habitats. Evita habitats abertos, ocorrendo em pequenas áreas florestais, terrenos agrícolas e pequenas áreas habitadas. Não evita a presença humana, observando-se muitas vezes na proximidade de aldeias [4].

A gineta tem hábitos nocturnos, passando o dia a dormir refugiada em grutas, árvores ocas, entre rochas ou em qualquer tipo de abrigo que a resguarde. Tal como o saca-rabos (Herpestes ichneumon), a gineta pode ocupar abrigos de outros animais que se encontram abandonados (como tocas de coelhos e texugos) [7]. É uma espécie trepadora ágil e flexível, utilizando a cauda como estabilizador dos saltos, para saltar de árvore em árvore. Possui uma elevada capacidade visual, auditiva e olfactiva. Estes sentidos são tão aprofundados, que permitem a gineta aproximar-se em silêncio e ser certeiro, sendo por isso um óptimo caçador. Tal como os felídeos, captura as suas presas utilizando as garras [7]. É um animal solitário, exceptuando na época de reprodução (nessa época vivem em grupos familiares)[4]. Os seus principais predadores são grandes carnívoros (linces, raposas e grandes mustelídeos), e aves de rapina de grande porte (Bufo-real). Em cativeiro, a gineta pode viver até aos 15 anos [7].

População[editar | editar código-fonte]

A gineta é um dos pequenos carnívoros mais comuns na sua área nativa, apesar de os dados sobre a densidade da África da espécie serem escassos. Estima-se uma densidade de 1,5 indivíduos por quilómetro quadrado[14]. Na Europa, a gineta é abundante, e apresenta um aumento das populações na França e em Espanha, esta última com densidades de 3,7 indivíduos por quilómetro quadrado [11]. Na Península Ibérica, as populações são estáveis e vão aumentando lentamente [15].

Reprodução[editar | editar código-fonte]

As fêmeas parem 2 ou 3 crias por ninhada numa concavidade de uma árvore, e atingem a maioridade com um ano de idade. Em liberdade vivem cerca de 10 anos, mas em cativeiro chegam aos 20.

Factores de Ameaça[editar | editar código-fonte]

A gineta não sofre ameaças graves, susceptíveis de a espécie entrar em extinção. Ocasionalmente, podem ser caçadas para consumo humano, fins medicinais, ou para obtenção das suas peles (fabricação de “karosses” na África Austral) [4]. No norte da África, a gineta é caçada de modo a obter o seu pêlo para que possa ser usado para fins decorativos, nomeadamente na fabricação de “karosses” (tapetes tradicionais africanos) [9][4]. Em Portugal, o uso indevido de armadilhas na gestão de zonas de caça está a dizimar indivíduos desta espécie[8][4]. Em Ibiza, a gineta está ameaçada pela perda e fragmentação de habitat causada pela urbanização e infra-estrutura e desenvolvimento do turismo. A capacidade das ginetas em viver perto de seres humanos e dos seus animais domésticos pode ter implicações na transmissão de doenças [13].

Conservação[editar | editar código-fonte]

É uma espécie classificada como Pouco Preocupante (LC) pela IUCN devido à sua ampla distribuição no continente Africano e possui uma boa tolerância às possíveis alterações do seu habitat [4]. A gineta ocorre em várias áreas protegidas da sua distribuição geográfica. Esta espécie encontra-se listada no Anexo III da Convenção de Berna, bem como no «Habitats da UE» e da «Directiva Espécies», Anexo V [11]. Em vários países da sua distribuição geográfica, como em Marrocos, Argélia e a Tunísia, foram criadas leis para a conservação desta espécie, de forma a evitar a sua extinção [4]. A gineta que ocorre em Ibiza (Genetta genetta isabelae) está classificada como “rara” [7].

Referências

  1. a b c d e Bencatel, Joana (2019). Atlas Mamíferos Portugal. Évora: Universidade de Évora. p. 92. 274 páginas. ISBN 978-989-8550-80-4 
  2. Infopédia. «gineta | Definição ou significado de gineta no Dicionário Infopédia da Língua Portuguesa». Infopédia - Dicionários Porto Editora. Consultado em 16 de fevereiro de 2022 
  3. Infopédia. «geneta | Definição ou significado de geneta no Dicionário Infopédia da Língua Portuguesa». Infopédia - Dicionários Porto Editora. Consultado em 16 de fevereiro de 2022 
  4. a b c d e f g h Herrero, J. & Cavallini, P. (2008). Genetta genetta. In: IUCN 2013. IUCN Red List of Threatened Species. Version 2013.2. <www.iucnredlist.org>. Acedido em 20 de Março de 2014
  5. Infopédia. «gato-bravo | Definição ou significado de gato-bravo no Dicionário Infopédia da Língua Portuguesa». Infopédia - Dicionários Porto Editora. Consultado em 16 de fevereiro de 2022 
  6. Infopédia. «gato-toirão | Definição ou significado de gato-toirão no Dicionário Infopédia da Língua Portuguesa». Infopédia - Dicionários Porto Editora. Consultado em 16 de fevereiro de 2022 
  7. a b c d e f Castells, Á., Zamora, J., Mayo, M. (1993). Guía de los mamíferos en libertad de España y Portugal, Ediciones Pirámide. Madrid, España.
  8. a b Sarmento, P. B., Cruz, J. P., Eira, C. I., Fonseca, C. (2010). Habitat selection and abundance of common genets Genetta genetta using camera capture-mark-recapture data. Eur. J. Wildl. Res., 56: 59-66
  9. a b Cuzin, F. (1996). Réparation actuelle et statut des grands mammifères sauvages du Maroc (Primates, Carnivores, Artiodactyles). Mammalia, 60(1), 101-124.
  10. Harrison, D. L. and Bates, P. J. J. (1989). Observations on two mammal species new to the Sultanate of Oman, Vulpes cana Blanford, 1877 (Carnivora: Canidae) and Nycteris thebaica Geoffroy, 1818 (Chiroptera: Nycteridae). Bonner Zoologische Beitrage 40: 73-77.
  11. a b c d e Delibes, M. (1999). Genetta genetta. In: A. J. Mitchell-Jones, G. Amori, W. Bogdanowicz, B. Kryštufek, P. J. H. Reijnders, F. Spitzenberger, M. Stubbe, J. B. M. Thissen, V. Vohralík, and J. Zima (eds), The Atlas of European Mammals, Academic Press, London, UK.
  12. (Cuzin, 2003)
  13. a b Admasu, E., Thirgood, S. J., Bekele, A. and Laurenson M. K. (2004). A note on the spatial ecology of african civet Civettictis civetta and common genet Genetta genetta in farmland in the Ethiopian highlands. African Journal of Ecology 42: 160-162.
  14. Waser, P. M. (1980). Small nocturnal carnivores: ecological studies in the Serengeti.African Journal of Ecology 18: 167-185.Admasu, E., Thirgood, S. J., Bekele, A. and Laurenson M. K. (2004). A note on the spatial ecology of african civet Civettictis civetta and common genet Genetta genetta in farmland in the Ethiopian highlands. African Journal of Ecology 42: 160-162.
  15. Palomo, L. J., Gisbert, J. (2002). Atlas de los mamíferos terrestres de España. Dirección General de Conservación de la Naturaleza-SECEM-SECEMU, Madrid.


Ver também[editar | editar código-fonte]

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

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