Godescalco de Orbais

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
(Redirecionado de Gottschalk de Orbais)
 Nota: Não confundir com o autor do famoso Evangeliário de Godescalco.
Godescalco de Orbais
Nascimento 805
Mainz
Morte 30 de outubro de 869
Hautvillers
Cidadania Ducado da Saxônia
Ocupação teólogo, escritor, monge, teólogo católico, sacerdote, linguista, poeta
Religião Igreja Católica

Godescalco de Orbais (em latim: Gotteschalcus Orbacensis; em francês: Godescalc; em alemão: Gottschalk; c. 80830 de outubro de 867 (59 anos)) foi um teólogo, monge e poeta saxão que é mais conhecido por ter sido um dos primeiros advogados da doutrina da dupla predestinação. De seu amigo Valafrido Estrabo, Godescalco recebeu o apelido "Fulgêncio" (Fulgentius), uma homenagem a Fulgêncio, o Mitógrafo, cujas obras ele estudou profundamente[1].

Vida[editar | editar código-fonte]

Início da carreira[editar | editar código-fonte]

Godescalco nasceu perto de Mogúncia (Mainz), filho de um conde saxão chamado Bernius, e foi entregue para a vida monástica (oblatus) ainda criança. Recebeu seu treinamento no Mosteiro de Fulda, que na época estava sob o comando do abade Rábano Mauro, e ficou amigo de Valafrido Estrabo e Lupo de Ferrières. Em junho de 829, no Concílio de Mogúncia, sob o pretexto de ter sido indevidamente constrangido por seu abade, tentou e conseguiu sua liberdade, refugiando-se primeiro na Abadia de Corbie, onde encontrou Ratramo, e depois no Mosteiro de Orbais, na Diocese de Soissons. Lá, estudou Santo Agostinho e tornou-se um fervoroso defensor da doutrina da predestinação absoluta, acreditando tanto na predestinação dos condenados quanto dos eleitos (salvos).

Sacerdócio[editar | editar código-fonte]

Entre 835 e 840, Godescalco foi ordenado padre sem o conhecimento de seu bispo por Rigboldo, o corepíscopo de Reims. Antes de 840, depois de abandonar seu mosteiro, foi para a Itália e pregou lá sua doutrina de dupla predestinação, criando boas relações com Notting, bispo de Verona, e Everardo (Eberhard), marquês de Friul.

Expulso da Itália por influência de Rábano, na época arcebispo de Mogúncia, que escreveu duas violentas cartas para Notting e Everardo, Godescalco viajou pela Dalmácia, Panônia e a Nórica pregando e escrevendo.

Godescalco estava na corte de Trpimir I da Croácia entre 846 e 848 e sua obra "De Trina deitate" é uma importante fonte de informação para os eventos do reinado de Trpimir, pois Godescalco testemunhou uma batalha entre o rei e um estratego bizantino, provavelmente da Dalmácia, que resultou em vitória croata.

Controvérsia da predestinação[editar | editar código-fonte]

Em outubro de 848, Godescalco apresentou ao Concílio de Mogúncia, reunido na Abadia de Santo Albano, uma profissão de fé e uma refutação das ideias de Rábano Mauro em sua carta a Notting. Foi condenado, porém, de heresia, surrado, obrigado a jurar que jamais retornaria novamente ao território de Luís, o Germânico, e entregue a Incmaro (Hincmar), arcebispo de Reims, que o enviou de volta para o seu mosteiro em Orbais. No ano seguinte, num concílio provincial em Quierzy presidido pelo rei Carlos, o Calvo, tentou novamente se justificar, mas foi novamente condenado como herético e perturbador da paz. Desta vez, foi demovido de seu sacerdócio, chicoteado, obrigado a queimar sua profissão de fé e acabou trancafiado no Mosteiro de Hautvilliers.

Lá, Incmaro tentou novamente fazê-lo retratar-se. Godescalco, porém, continuou a defender sua doutrina, escrevendo para amigos e para os mais eminentes teólogos nas terras de Carlos, o Calvo, e Luís, o Germânico. Uma grande controvérsia se iniciou. Prudêncio de Troyes, Venilo de Sens, Ratramo de Corbie, Lupo de Ferrières e Floro de Lyon escreveram em seu favor. Incmaro escreveu "De praedestinatione" e "De una non trina deitate" contra as doutrinas de Godescalco, mas conseguiu pouco depois de chamar Erígena como autoridade para ajudá-lo.

A questão foi discutida nos concílios de Quierzy (853), Valence (855) e Savonnières (859). Finalmente, o papa Nicolau I assumiu o caso e convocou Incmaro ao Concílio de Mogúncia. Ele ou não conseguiu ou não quis aparecer, mas declarou que Godescalco deveria ir até lá para se defender perante o papa. Nada resultou da discussão e Incmaro, quando soube que Godescalco havia ficado doente, proibiu que ele recebesse os sacramentos ou que fosse enterrado em solo consagrado se não se retratasse. Godescalco se recusou a fazê-lo e morreu em 30 de outubro entre 866 e 870.

Obras[editar | editar código-fonte]

Godescalco era um autor vigoroso e original, mas foi acusado por seus inimigos de possuir um temperamento violento, incapaz de disciplina ou moderação tanto nas ideias quanto na conduta. De suas muitas obras, sobreviveram duas confissões de fé (publicadas em latim por Migne na Patrologia Latina, 121:347 sqq) e alguns poemas (editados por L Traube na "Monumenta Germaniae historica: Poetae Latini aevi Carolini" 707-738). Alguns fragmentos de seus tratados teológicos se preservaram nas obras de Incmaro, Erígena, Ratramo e Lupo, adversários e aliados. Algumas obras de Godescalco (incluindo "De Praedestinatione") foram redescobertas em 1931 numa biblioteca em Berna[2].

A partir do século XVII, quando os jansenistas passaram a exaltar Godescalco, muito se escreveu sobre ele. Dois estudos importantes são F. Picavet, Les Discussions sur la liberté au temps de Gottschalk, de Raban Maur, d'Hincmar, et de Jean Scot, in Comptes rendus de l'acad. des sciences morales et politiques (Paris, 1896), e A. Freystedt, Studien zu Gottschalks Leben und Lehre, in Zeitschrsft für Kirchengeschichte (1897), vol. xviii.

Referências

  1. Whitbread, Fulgentius the Mythographer, p. 25 (introduction); MGH Poet. II, p. 362
  2. D.C. Lambot's Oeuvres théologiques et grammaticales de Godescalc d’Orbais (1945) traz uma visão geral das obras de Godescalco.

Atribuição[editar | editar código-fonte]

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Egon Bondy escreveu um estudo sobre Godescalco, publicado em seu livro Gottschalk, Kratés, Jao Li, Doslov (Gottschalk, Crates, Jao Li, Afterword; escrito em 1988, publicado por Zvláštní vydání, Brno 1991) (em inglês)
  • Whitbread, Leslie George (intro. e tr.). Fulgentius the Mythographer: The Mythologies. The exposition of the content of Virgil according to moral philosophy. The explanation of obsolete words. On the ages of the world and of man. On the Thebaid. Columbus, 1971. (em inglês)
  • Genke, Victor & Gumerlock, Francis X. Gottschalk & A Medieval Predestination Controversy (Texts Translated From The Latin) (Medieval Philosophical Texts in Translation) Marquette University Press, 2010. ISBN 978-0874622539 (em inglês)

Ligações externas[editar | editar código-fonte]