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Grande Oriente Lusitano

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Grande Oriente Lusitano - Maçonaria Portuguesa

O Grande Oriente Lusitano é a mais antiga obediência maçónica portuguesa, fundada em 1802[1].

Para isso, para a sua fundação, terá tido como um dos principais dignatários Gomes Freire de Andrade e o patrocínio de Augusto Frederico, Duque de Sussex, embora este último tivesse sido, ao que se julga, grão-mestre da maçonaria inglesa. A influência francesa acontecerá com o general Junot durante a sua estada em Portugal e as suas pretensões de dirigir esta grande loja[2].

Grande Oriente Lusitano

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Entrada principal do Grande Oriente Lusitano na rua do Grémio Lusitano em Lisboa

O Grande Oriente Lusitano integra-se na corrente maçónica de defesa da liberdade, da democracia e do combate ao dogmatismo.

Desde a fundação que a sua história está intimamente ligada à do País. Algumas das grandes mudanças que Portugal conheceu nos séculos XIX e XX tiveram uma forte influência da ação da Maçonaria:

Era visto como uma força motriz do anticlericalismo.[5]

Teve como primeiro Grão-Mestre o desembargador Sebastião José de São Paio de Melo e Castro de Lusignan, neto do 1.º Marquês de Pombal, cujo nome simbólico era Egas Moniz.

O Grande Oriente Lusitano conheceu, ao longo da sua história, momentos de feroz perseguição pelas alas mais conservadoras e reacionárias da sociedade. Entre esses momentos destaca-se a sua proibição por Pina Manique[6] e durante o Estado Novo (Lei n.º 1901, de 21 de Maio de 1935, proposta por José Cabral, que recentemente tinha aderido à União Nacional, depois de militar entre os integralistas lusitanos e os nacional-sindicalistas liderados por Rolão Preto[7]) que forçou os seus membros à clandestinidade e os levou, muitas vezes, à prisão ou ao exílio político.

Fernando Pessoa, apesar de assumidamente profano, publicou um artigo no Diário de Lisboa em defesa da Maçonaria e, concretamente, do Grande Oriente Lusitano.

Durante o período de clandestinidade, o Grande Oriente Lusitano viu os seus bens confiscados e o Palácio Maçónico ocupado pela Legião Portuguesa.

Com a revolução de 25 de Abril de 1974 e a revogação da Lei n.º 1901, o Grande Oriente Lusitano pôde voltar à luz do dia, tendo-lhe sido devolvidos os bens anteriormente confiscados.

Um desentendimento entre o filho do ex-grão-mestre Adelino da Palma Carlos e o núcleo do então novo grão-mestre José Eduardo Simões Coimbra levou a uma cisão no final de 1984 no GOL que acabaria por estar na origem de outra corrente maçónica, aberta a membros católicos e ligada à direita, a Grande Loja Regular de Portugal (GLRP)[8].

Em 25 de Janeiro de 2003, pela primeira vez, as portas do Grande Oriente foram abertas à comunicação social para transmitir uma mensagem do grão-mestre António Arnaut. No mesmo ano, em 20 de Março, e também pela primeira vez, o presidente da República, Jorge Sampaio, visitou o Palácio Maçónico.[9]

Entre os seus membros contam-se figuras de grande relevo na história de Portugal.

Em 1881, o Grande Oriente Lusitano (GOL) estabeleceu a primeira Loja de Adopção feminina, denominada "Filipa de Vilhena", permitindo a iniciação de mulheres sob a tutela de lojas masculinas. Durante a Primeira República, destacadas figuras femininas, como Adelaide Cabete e Ana de Castro Osório, foram iniciadas na Loja Humanidade do GOL. No entanto, em 1923, divergências internas e a conjuntura política levaram à desvinculação da Loja Humanidade do GOL, passando esta a integrar a Ordem Maçónica Mista Internacional "Le Droit Humain", que aceitava homens e mulheres em igualdade de condições.

Após este período, o GOL manteve-se, na prática, como uma obediência exclusivamente masculina, embora reconhecesse obediências femininas e mistas.

Em 31 de maio de 2025, o Grande Oriente Lusitano (GOL) aprovou oficialmente a admissão de mulheres como membros da obediência, após deliberação da sua assembleia representativa, a Grande Dieta. A decisão foi tomada por maioria qualificada de dois terços dos membros efetivos, na sequência de um processo de revisão constitucional promovido pelo então grão-mestre Fernando Cabecinha.

Até essa data, o GOL reconhecia maçons oriundos de obediências femininas ou mistas — como a Grande Loja Feminina de Portugal, o Grande Oriente Ibérico e o Direito Humano — mas não realizava iniciações femininas nas suas próprias lojas. Após três anos de consultas internas às 103 lojas da obediência, a maioria manifestou apoio à integração plena de mulheres. A decisão final foi tomada numa sessão da Grande Dieta presidida por Manuel Machado, ex-presidente da Câmara Municipal de Coimbra.

Com esta decisão histórica, o GOL passou a permitir a constituição de lojas masculinas, femininas e mistas, reforçando o seu compromisso com os princípios da maçonaria liberal e adogmática, orientada para a defesa da liberdade, igualdade, fraternidade e dignidade humana.[10]

Sob os auspícios do Grande Oriente Lusitano trabalham lojas simbólicas do Rito Escocês Antigo e Aceito e do Rito Moderno. Estes ritos são administrados pelas respectivas potências filosóficas com as quais o Grande Oriente Lusitano tem tratado:

Grémio Lusitano

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As potências estão representadas na sociedade civil através do Grémio Lusitano, associação cultural e recreativa, com sede em edifício próprio na Rua do Grémio Lusitano, em Lisboa.

O Palácio Maçónico como é designado, alberga também o Museu Maçónico Português, considerado um dos melhores da Europa na sua especialidade, que está aberto ao público, de Segunda a Sexta-Feira, das 14:30 às 17:30 horas.

Pela sua qualidade e prestígio, está prestes a integrar a rede nacional de museus.

O grão-mestre

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Fernando Cabecinha foi eleito grão-mestre do Grande Oriente Lusitano em 2021 sucedendo a Fernando Lima, que por sua vez sucedeu a António Reis. Foi iniciado na R∴ Loja O Futuro, tendo anteriormente liderado quatro vezes a Grande Dieta, parlamento maçónico.[13]

Referências

  1. Carta patente de 1802 da Grande Loja dos Antigos, de Londres. Cf. Marques 1986, pp. 674-684
  2. Anglismo na Maçonaria em Portugal no limiar do século XIX, Maria da Graça Silva Dias, Análise Social, vol .XVI (61-62), 1980-1.º-2.º, pág. 403
  3. Abolição da pena de morte
  4. Breve historial da Maçonaria em Portugal
  5. Chapter 22 Portugal under the Nineteenth-Century Constitutional Monarchy, Stanley G. Payne,A Hist´toria de Espanha e Portugal, Vol. 2
  6. Anglismo na Maçonaria em Portugal no limiar do século XIX, Maria da Graça Silva Dias, Análise Social, vol .XVI (61-62), 1980-1.º-2.º, pág. 402
  7. José Cabral – Monárquico e Nacional-Sindicalista, por José M. Martins, Almanaque Republicano, Fevereiro de 2012
  8. Como a maçonaria tomou conta do poder, Expresso, 17 de Janeiro de 2013, de o livros Segredos da Maçonaria Portuguesa, por António José Vilela
  9. Do catálogo do Grande Oriente Lusitano (apenas para visitantes) Obtido em 17 Setembro de 2009
  10. «Grande Oriente Lusitano aprova entrada de mulheres na sua maçonaria». Lusa - Agência de Notícias de Portugal. 31 de Maio de 2025. Consultado em 2 de Junho de 2025 
  11. Supreme Council of the Grand Inspector-General of the 33rd Degree of the Ancient and Accepted Scottish Rite for Portugal and its jurisdiction
  12. http://www.gremiolusitano.eu/ Soberano Grande Capítulo da Rosa-Cruz - Grande Capítulo Geral do Rito Francês de Portugal
  13. «O homem discreto que lidera a maçonaria mais influente do país». CNN Portugal. Consultado em 22 de abril de 2024 
  • CARVALHO, António Carlos. Para a história da maçonaria em Portugal (1913-1935): alguns subsídios recolhidos por António Carlos Carvalho. Lisboa, Editorial Veja, 1976.
  • DIAS, Graça Silva; DIAS, J. S. da Silva. Os primórdios da maçonaria em Portugal. Lisboa, Instituto Nacional de Investigação Científica, 1980, 2 volumes, 4 tomos.
  • MARQUES, A. H. de Oliveira. A maçonaria em Portugal. Lisboa, Gradiva, 1998. ISBN 978-972-662-644-2.
  • Marques, A. H. de Oliveira (1986). Dicionário da Maçonaria Portuguesa. Lisboa: Editorial Delta 
  • MARQUES, A. H. de Oliveira (apresentação, introdução e anotações). Figurinos maçónicos oitocentistas: um «guia» de 1841-42. Lisboa, Editorial Estampa, 1983.
  • MARQUES, A. H. de Oliveira; DIAS, João José Alves. História da maçonaria em Portugal:
  • VENTURA, António. Uma História da Maçonaria em Portugal: 1727-1986. Lisboa : Círculo de Leitores, 2013. ISBN 978-972-42-4939-1

Ligações externas

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