João-xique-xique

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João-xique-xique em Canudos, Bahia, Brasil.
João-xique-xique em Canudos, Bahia, Brasil.
Estado de conservação
Espécie pouco preocupante
Pouco preocupante (IUCN 3.1) [1]
Classificação científica
Reino: Animalia
Filo: Chordata
Classe: Aves
Ordem: Passeriformes
Família: Furnariidae
Género: Synallaxis
Espécie: S. hellmayri
Nome binomial
Synallaxis hellmayri
(Reiser, 1905)[2]
Distribuição geográfica

Sinónimos
  • Gyalophylax hellmayri (Reiser, 1905)[3]
  • Synallaxis griseiventris (Reiser, 1905) [4]

O joão-xique-xique [também grafado joão-chique-chique] (Synallaxis hellmayri)[nota 1][5][6] é uma espécie de ave passeriforme da família Furnariidae endêmica do Nordeste do Brasil.[3] Conhecido também como maria-macambira, sis-tré, tatac e patró.[7] Vive no bioma da caatinga, em meio á arbustos densos e espinhosos.

Anteriormente esta espécie foi considerada monotípica dentro do género Gyalophylax, mas estudos filogenéticos moleculares feitos entre 2009 e 2011 mostram que ela esta incorporada no género Synallaxis.[8][9]

Distribuição e hábitat[editar | editar código-fonte]

É distribuído no árido Nordeste do Brasil, exclusiva da caatinga, desde o nordeste do Piauí ate o norte de Minas Gerais; ocorre também no interior dos estados do Ceará, Rio Grande do Norte, Bahia, Paraíba, Pernambuco, Sergipe e Alagoas.[4][7]

Vegetação de caatinga, o hábitat típico do joão-xique-xique (São João do Sabugi, RN)

Habita uma variedade de ambientes secos da caatinga, incluindo pastagens ate altitude de 500 m.[10] Acreditava-se inicialmente que estava restrito a vegetação abundante da bromélia terrestre macambira (Bromelia laciniosa), mas isso aparentemente não é verdade.[1] Seu hábitat real inclui arbustos densos e espinhosos, raramente fica exposto em lugares abertos.

Descrição[editar | editar código-fonte]

Mede aproximadamente 18 a 19 cm de comprimento e pesa entre 25 e 26 g.[4] A íris é amarelo-alaranjada. Plumagem geralmente cinza acastanhado uniforme com uma grande mancha negra na garganta; face levemente negra, porém esfumada e discreta; bico e pernas são escuros; ombros das asas contrastantes com um castanho-ruivo; a cauda é longa espigada e com duas pontas, é enegrecida em comparação ao resto do corpo.[10]

Estado de conservação[editar | editar código-fonte]

O joão-xique-xique tinha sido previamente classificado como quase ameaçada pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), porque foi anteriormente pensado que sua distribuição geográfica ocorria em uma área limitada e era suspeito sua população estar em declínio devido a degradação da caatinga seca. Porem, verificou-se que sua área de distribuição é muito maior e ainda não esta gravemente fragmentada ou restrita a poucas localidades. Portanto, foi classificado como pouco preocupante na sua última avaliação. [1]

Ameaças[editar | editar código-fonte]

Apesar de ser mais disperso e seu hábitat menos restrito do que se pensava, ainda esta ameaçado pela conversão para a agricultura, pastagem intensiva, queimadas e o uso da flora local como carvão.[1]

Comportamento[editar | editar código-fonte]

Alimentam-se principalmente aos pares, porém preferem viver sós, evasivamente em vegetação rasteira densa e emergindo raramente no sub-bosque.[10]

Alimentação[editar | editar código-fonte]

Costuma procurar alimentos no solo onde predominam macambiras e cactos rasteiros, sendo um ambiente de difícil acesso. Ele forrageia com os pés e com o bico arremessa as folhas mortas. Observou-se que eles capturam apenas artrópodes e aranhas. O forrageamento do solo deve-se as condições da caatinga, principalmente na estação de seca, quando há pouca vegetação viva.[11]

Reprodução[editar | editar código-fonte]

O ninho é um conglomerado único de galhos e espinhos de cactos que possuem a forma de um túnel na entrada, com uma câmara arredondada na extremidade onde são depositados os ovos, medindo aproximadamente 700 mm, incluindo o tubo de entrada. A parte externa do tubo e a boca são revestidas com espinhos de cactos endêmicos, para impedir a entrada de predadores terrestres como cobras, lagartos, gambás e outros. Todo o resto do ninho é feito de gravetos e não há espinhos por dentro, sendo forrados com de cactos. Os ninhos são, em sua maioria, construídos no solo, ou em alturas que variam entre 0,5 a 1 m acima do chão ao redor de algum xique-xique (Pilosocereus sp.) - daí a origem do seu nome popular.[12]

Vocalização[editar | editar código-fonte]

Seu chamado mais frequente, comum ao amanhecer ou no fim da manhã, é um "ka-cheu, ka-cheu, ka-cheu.." às vezes continuando por longos períodos. Seu canto parece ser um grito alto e abrupto que se transforma em um murmúrio e lentamente para.[10]

Sistemática[editar | editar código-fonte]

Descrição original[editar | editar código-fonte]

A espécie S. hellmayri foi descrita pela primeira vez pelo ornitólogo austríaco Othmar Reiser em 1905 sob o mesmo nome científico atual; sua área de ocorrência havia sido descrita como localidade-tipo "Fazenda Serra, Rio Grande, Bahia, Brasil".[4]

Etimologia[editar | editar código-fonte]

O nome genérico feminino «Synallaxis» pode derivar do grego «συναλλαξις ''sunallaxis'', συναλλαξεως ''sunallaxeōs''»: que significa "troca"; talvez porque o criador do gênero, Vieillot, tenha pensado que dois espécimes com características semelhantes ao género poderiam ser machos e fêmeas da mesma espécie, ou então, aludindo as características diferentes que garantem a separação genérica;[13] um significado diferente seria que deriva do grego «Synalasis», que na mitologia grega é uma das ninfas da água gregas Ionides.[7] O nome da espécie «hellmayri» faz homenagem ao ornitólogo austro-americano Carl Edward Hellmayr (1878-1944).[13]

Taxonomia[editar | editar código-fonte]

S. hellmayri foi transferido do género monotípico Gyalophylax para Synallaxis de acordo com a Proposta N529 para o Comitê de Classificação da América do Sul (SAAC) seguindo Derryberry et al. (2011),[8] e o nome cientifico mudou de Gyalophylax hellmayri para o presente.[6][9]

Anteriormente era chamado de Synallaxis griseiventris, mas o nome estava pré-ocupado. Alguns autores pensam que é mais próximo do joão-grilo (Synallaxis hypospodia) do que qualquer outro do mesmo género; pois os dois tem semelhança no perfil dos rectrizes; difere morfologicamente do género atual por ter 12 rectrizes; pernas mais grossas e tarso e perfil de bico diferente. Ele já foi colocado em Asthenes e descrito por alguns autores como se assemelhando a membros desse género.[4]

Referências

  1. a b c d «João-xique-xique». Lista Vermelha da IUCN de espécies ameaçadas da UICN 2024 (em inglês). 2016. ISSN 2307-8235 
  2. Reiser, Othmar (1905). Vorläufigen Bericht über die ornithologische Ausbeute während der von kaiserl. Akademie in Jahre 1903 nach Brasilien entsendeten Expedition. Anzeiger der Kaiserlichen Akademie der Wissenschaften, Mathematisch-Naturwissenschaftliche Classe (em alemão). 42 (18): 320–324. [S.l.: s.n.] Synallaxis griseiventris, descrição original p.323. Disponível em Biodiversitas Heritage Library. ISSN 1023-4748 
  3. a b João-chique-chique Synallaxis hellmayri Reiser, 1905 em Avibase. Consultado em 4 de março de 2015.
  4. a b c d e Red-shouldered Spinetail (Synallaxis hellmayri) em Handbook of Birds of the World - Alive (em inglês). Consultado em 09 de agosto de 2021.
  5. Derryberry et al., 2011
  6. a b Brumfield, R., junho de 2012. «Mover Gyalophylax e Siptornopsis para Synallaxis» Proposta (529) South American Classification Committee (Em inglês).
  7. a b c João-chique-chique em Wikiaves. Consultado em 08 de agosto de 2021.
  8. a b Derryberry, E.P.; Claramunt, S.; Derryberry, G.; Chesser, R.T; Cracraft, J.; Aleixo, A.; Pérez-Emán, J.; Remsen Jr, J.V; Brumfield, R.T. (2011). «Diversificação de linhagens e evolução morfológica em uma radiação continental em larga escala: Os furnarídeos e arapaçus Neotropicais (Aves: Furnariidae)». Evolution (em inglês). 65 (10). pp. 2973–2986. PMID 21967436. doi:10.1111/j.1558-5646.2011.01374.x 
  9. a b Gill, Frank; Donsker, David (2009). «Joãos, arapaçus». World Bird List Version 9.1. International Ornithologists' Union. Consultado em 22 de janeiro de 2019 
  10. a b c d Ridgely, Robert & Tudor, Guy. (2009). Gyalophylax hellmayri, p. 279, lâmina 5(9), em Field guide to the songbirds of South America: the passerines - edição - (Mildred Wyatt-World series in ornithology). University of Texas Press, Austin. ISBN 978-0-292-71748-0
  11. Whitney, B.M. & Pacheco, J.F 1994. (Behavior and vocalizations of Gyalophylax and Megaxenops (Furnariidae), two little-know genera endemic to northeastern Brazil.) Condor 96: 559-565
  12. Cerqueira Lima, P., Novaes de C.L. Neto, T. e Silva, L.E.S. 2008. Primeiro registro documentado da reprodução do João-chique-chique (Gyalophylax hellmayri Reiser, 1905) na pátria da Anodorhynchus leari. Atualidades Ornitológicas 144: 33-35
  13. a b Jobling, J.A (2017) Synallaxis Key to Scientific Names in Ornithology (em inglês). Em: del Hoyo, J., Elliott, A., Sargatal, J., Christie, D.A. & de Juana, E. (eds.) Handbook of the Birds of the World Alive. Lynx Edicions, Barcelona. Consultado em 25 de maio de 2018.

Notas

  1. A espécie S. hellmayri foi movida do género monotípico Gyalophylax a Synallaxis de acordo com a SACC mediante a aprovação da Proposta N° 529, seguindo a Derryberry et al. (2011), e o nome científico de Gyalophylax hellmayri foi considerado invalido.