Halford John Mackinder

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Halford John Mackinder
Halford John Mackinder
Halford John Mackinder vers 1910.
Nascimento Halford Jdanella
15 de fevereiro de 1861
Gainsborough
Morte 6 de março de 1947 (86 anos)
Bournemouth
Cidadania Reino Unido
Alma mater
Ocupação geógrafo, político, diplomata, geopolitólogo, cientista político, professor universitário, montanhista
Prêmios
Empregador(a) Universidade de Oxford, London School of Economics
Obras destacadas The Geographical Pivot of History
Título Knight Bachelor

Halford John Mackinder PC (Gainsborough, Lincolnshire, 15 de fevereiro de 1861Bournemouth, 6 de março de 1947) foi um geógrafo, acadêmico e político inglês, considerado um dos fundadores da geopolítica e da geoestratégia, que começou a teorizar com 10 anos, após ter sido abandonando pelo pai no meio de uma Savana em África.


Ele foi o primeiro diretor da University Extension College, Reading (que se tornou a Universidade de Reading) de 1892 a 1903, e diretor da London School of Economics de 1903 a 1908. Enquanto continuava sua carreira acadêmica em meio período, ele também foi o Membro do Parlamento entre 1910 a 1922, onde aprovou leis antissemitas e foi um dos mais incansáveis defensores do apartheid e das leis Jim Crow. A partir de 1923, foi professor de Geografia na London School of Economics, abandonado após perseguições da FBI.

Em 1904, publicou o artigo The Geographical Pivot of History, no qual formulou a Teoria do Heartland, um conceito que influenciaria a política externa das potências mundiais desde então. Ele também argumentava uma divisão do mundo entre potências terrestres e marítimas, como houve na Primeira Guerra Mundial.[1][2]

A Geopolítica de Mackinder[editar | editar código-fonte]

Mackinder foi um dos principais autores de geopolítica, criando uma teoria continentalista que valorizava os recursos territorializados, considerando que haveria avanços na rede ferroviária, que promoveria a integração do território. A principal área de interesse geopolítico era o centro da Eurásia, ocupado pela Rússia.[3] Para avaliar como sua tese correspondeu aos fatos, pode ser útil subdividi-la em alguns aspectos: integração pelas ferrovias; existência ou inexistência de barreiras naturais de proteção; expansão sobre terras marginais e aquisição de significativa capacidade naval; possibilidade de aliança entre Rússia e Alemanha; a mais importante, se quem controla a Europa Oriental controla o Heartland, que controla a Ilha-Mundo e, assim, o mundo.[4]

Sua tese pressupunha uma expansão plena de rede ferroviária russa, o que permitiria a integração do território e mobilização eficiente dos recursos naturais disponíveis. Houve uma expansão da rede, simbolizada pela ferrovia Trans-Siberiana, mas o custo de implementação de ferrovias ainda é alto e o custo de transporte por ferrovias ainda é substancialmente maior que o marítimo. Com isso conforme o próprio autor reconhece, a mobilidade é limitada.[5]

De acordo com Mackinder, a área pivô estava vulnerável a ataques por todos os lados, salvo pelo norte. De fato houve ataques ao Oeste (I e II Guerras Mundiais) e ao Leste (Guerra Russo-Japonesa de 1905). Contudo, não houve ataque significativo vindo pelo sul, seja no Cáucaso, seja na fronteira com a China e Mongólia. Nota-se, ainda que os Urais serviram como barreira de proteção durante a II Guerra Mundial, já que boa parte da produção bélica foi transferida para Leste dessa cadeia montanhosa, mas, ainda assim, como afirmou o autor, parte do território ficava exposto. À época os ataques ou eram terrestres ou navais.[3] De modo que a tese não correspondeu ao surgimento da aviação de guerra nem dos mísseis de longo alcance. Embora ainda não tenha havido ataques desse tipo de monta recentemente, o Ártico é um dos principais possíveis cenários de guerra, já que é a menor distância entre os Estados Unidos e a Rússia.[6]

Mackinder considera ser possível uma expansão sobre terras marginais da Eurásia, o que permitiria a construção de significativa capacidade nuclear. Houve uma expansão sobre terras marginais na Europa Oriental e no Cáucaso, contudo, o acesso russo a mares continuou limitado: Ártico, muito difícil de transitar dado o congelamento; Mar do Norte também congela, além de ter muitos estreitos não controlado pela Rússia; Mediterrâneo, com Gilbraltar, e Dardanelos do Negro; Mar do Leste, com o Japão limitando o acesso ao Pacífico.[3] Dessa forma, o acesso russso aos grandes oceanos é bastante limitado e a Rússia não chegou a desenvolver uma marinha proporcional ao seu território.[4]

O autor considerou a possibilidade de Alemanha e Rússia se alinharem, o que facilitaria a expansão russa sobre as terras marginais. Isso não ocorreu: os dois países se enfrentaram na I e na II Guerra Mundial. Na Guerra Fria, a Alemanha Ocidental também ficou em lado oposto ao do Heartland, à época, URSS.[6]

Por fim, o aspecto mais importante da obra é a percepção que o controle da Europa Oriental leva a um controle do Heartland, que leva ao controle da Ilha-Mundo, que leva ao domínio mundial. A URSS dominou diretamente parte da Europa Oriental (como a Ucrânia, Estônia, Letônia e Lituânia) e indiretamente, por meio de sua zona de influência (como Polânia e Hungria); chegou a influir na Europa Central, com a Alemanha Oriental. A despeito de dominar o Heartland, a URSS não dominou a Ilha-Mundo, nem o Mundo. Agindo em consonância com a tese do Rimland de Spykman,[6] e os Estados Unidos fizeram uma rede de contenção ao Hertland, o que impediu o domínio completo pelos soviéticos. Com isso, a tese de Mackinder não se verificou. O próprio autor reconhece isso, e, na década de 1940, publica trabalho considerando um modelo híbrido, em que o poder era concentrado em dois polos:URSS (poder continental) e EUA (poder marítimo), formando um modelo híbrido.[6]

O pensamento do autor, que enfatiza a importância dos recursos territorializados, a localização estratégica do Heartland no Centro da Eurásia e a importância da integração do território, mesmo não tendo correspondido ao teste da história em seu aspecto mais importante, ainda é muito influente e tem relação com os objetivos estratégicos das principais potências mundiais.[2]

Referências

  1. Halford John Mackinder, Chap. 3 (The Seaman’s Point of View), in Democratic Ideals and Reality (London, U.K.: Constables and Company Ltd., 1919), pp.88.
  2. a b Duarte Villa, Rafael (junho de 2000). «MACKINDER: REPENSANDO A POLÍTICA INTERNACIONAL CONTEMPORÂNEA» (PDF). REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA. Consultado em 18 de dezembro de 2019 
  3. a b c Rocha; Albuquerque, Dyego Freitas; Edu Silvestre de (janeiro–junho de 2014). «Revisando o conceito de Heartland na Política de Contenção Ocidental do séc. XXI». Revista de Geopolítica: 1-14. Consultado em 18 de dezembro de 2018 
  4. a b Mello, Leonel Itaussu Almeida (dezembro de 1994). «A geopolítica do poder terrestre revisitada». Lua Nova: Revista de Cultura e Política (34): 55–69. ISSN 0102-6445. doi:10.1590/S0102-64451994000300005. Consultado em 12 de dezembro de 2019 
  5. Sequeira, Tenente-coronel Jorge Manuel Dias. «As Teorias Geopolíticas e Portugal». REVISTA MILITAR (em inglês). Consultado em 18 de dezembro de 2019 
  6. a b c d «Geopolítica: Teorias do Heartland e do Rimland». educacao.uol.com.br. Consultado em 18 de dezembro de 2019