Hildegard Rosenthal

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Hildegard Rosenthal
Nascimento 25 de março de 1913
Zurique
Morte 16 de setembro de 1990
São Paulo
Cidadania Brasil
Ocupação fotógrafa

Hildegard Baum Rosenthal (Zurique, 25 de março de 1913 - São Paulo, 16 de setembro de 1990) foi a primeira mulher fotojornalista do Brasil. Fez parte da geração de fotógrafos europeus que emigraram durante a Segunda Guerra Mundial e, atuando na imprensa local, contribuíram pela renovação estética fotográfica dos jornais nacionais.

Biografia[editar | editar código-fonte]

Até sua adolescência, viveu em Frankfurt (Alemanha), onde estudou pedagogia de 1929 até 1933. Viveu em Paris entre 1934 e 1935, onde ficou hospedada na casa da escritora Eugenia Markova e do pintor Marc Swarc[1]. Ao regressar a Frankfurt, estudou fotografia com Paul Wolff, um especialista em câmaras de pequeno formato, e técnicas de laboratório no Instituto Gaedel. Foi contratada como fotógrafa pela empresa Rhein Mainischer Bildverlag, até que precisa deixar a Alemanha por conta do regime nazista, passando brevemente por Paris, antes de emigrar para São Paulo em 1937. A partir do ano seguinte, começou a trabalhar como orientadora de laboratório na empresa de materiais e serviços fotográficos Kosmos, na Rua São Bento. Ainda no mesmo ano, a agência Press Information contratou-a como fotojornalista e ela realizou reportagens para jornais nacionais e internacionais. Teve fotos publicadas nos jornais La Prensa, de Buenos Aires, Gazeta do Sul, de Cananéia, e Folha da Noite, Folha da Manhã e O Estado de S. Paulo. É considerada uma das primeiras fotojornalistas do Brasil[1].

Durante esse período, realizou fotografias da cidade de São Paulo e do interior do estado, Rio de Janeiro, e outras cidades do sul de Brasil, além de retratar diversas personalidades da cena cultural de São Paulo, como o pintor Lasar Segall, os escritores Guilherme de Almeida e Jorge Amado, o humorista Aparício Torelly (Barão de Itararé) e o desenhista Belmonte. Suas imagens procuram capturar o artista em seu momento de criação, em evidente conexão com seu espírito de repórter. Interrompeu sua atividade profissional em 1948, após o nascimento de sua primeira filha. E, em 1959, depois que seu marido morreu, assumiu a direção da empresa familiar Walter S.A-Equipamento Hospitalar Dentário.[2]

Trajetória artística[editar | editar código-fonte]

Suas fotos permanecem pouco conhecidas até 1974, quando o historiador da arte Walter Zanini realiza uma retrospectiva de sua obra no Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo. No ano seguinte o Museu da Imagem e do Som de São Paulo - MIS é inaugurado com a exposição Memória Paulistana, de Hildegard Rosenthal. Em 1996 o Instituto Moreira Salles adquiriu mais de 3 mil negativos seus, nos quais se destacam cenas urbanas de São Paulo dos anos 1930 e 1940, período em que a cidade passou por um crescimento vertiginoso, tanto material como cultural. Hildegard congelou no tempo uma metrópole moderna e movimentada que, no entanto, se humanizava através de seu olhar fascinado por suas personagens. Outros negativos da fotógrafa foram doados por ela em vida ao Museu Lasar Segall.[3]

“A fotografia sem pessoas não me interessa", disse no Museu da Imagem e do Som de São Paulo, em 1981.[4]

As fotos de São Paulo registam o cotidiano da vida urbana: o fluxo de pessoas nas ruas, o transporte público, a arquitetura, vendedores ambulantes e cidadãos comuns em situações prosaicas. Hildegard registrava pessoas desconhecidas e também modelos que simulavam circunstâncias do dia a dia. Suas imagens têm poucos espaços vazios. O negativo enche-se quase totalmente com conteúdos que se apresentam de maneira equilibrada e clara. Valoriza os meios-tons e os detalhes à sombra, o que demonstra sua intenção de registrar o máximo de informações. As fotografias eram tiradas com câmeras da Leica e da Graflex, e posteriormente com uma câmera Rolleiflex[1].

Sérgio Bürgi, coordenador de fotografia do Instituto Moreira Salles e comissário da exposição A São Paulo de Hildegard Rosenthal[5] afirmou em 2013 «que a influência da Bauhaus e do Construtivismo transformaram a maneira de construir a imagem que passou a ser realizada no Brasil a partir dos anos 1940, e que Hildegard Rosenthal fez parte deste movimento de renovação. Ela era de estatura pequena mas muito ousada como jornalista e fotógrafa».[6] Prova disso é que além de seu trabalho de fotojornalista, manteve um constante diálogo através da linguagem moderna de sua produção com artistas contemporâneos no Brasil e na América do Sul, como os do grupo Santa Helena, formado por artistas imigrantes como Alfredo Volpi e Fúlvio Penacchi; ou com filhos de imigrantes italianos como Aldo Bonadei, Alfredo Rizzotti, Mário Zanini e Humberto Rosa; espanhóis, como Francisco Rebolo; ou portugueses, com Manuel Martins.[6]

Exposições[editar | editar código-fonte]

  • Hildegard Rosenthal: fotografias no Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, MAC/USP (1974: São Paulo)
  • Bienal Internacional de São Paulo XIV e XV (1977 e 1979: São Paulo)
  • Trienal de Fotografia no Museu de Arte Moderna de São Paulo, MAM/SP (1980: São Paulo)
  • Um olhar feminino dos anos 40 na galeria Fotóptica (1993: São Paulo)
  • O Olhar e o Ficar. A Procura do Paraíso na Pinacoteca do Estado de São Paulo (1994: São Paulo)
  • Brasil 1920-1950: da Antropofagia a Brasília, Institut Valencia d’Art Modern, (2000: Valencia, Espanha)[7]
  • Profissão Fotógrafo, de Hildegard Rosenthal e Horacio Coppola, no Museu Lasar Segall (2010: São Paulo)[8]
  • A São Paulo de Hildegard Rosenthal na galeria DOC Foto (2013: São Paulo)[5]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. a b c Hildegard Rosenthal: Cenas Urbanas. [S.l.]: Instituto Moreira Salles. 1999. pp. 80 p. 
  2. «Hildegard Rosenthal en la Enciclopedia Itaú Cultural» 
  3. «Filha reúne em livro material inédito sobre a fotógrafa Hildegard Rosenthal». Folha de S.Paulo 
  4. «Hildegard Rosenthal». Instituto Moreira Salles. Consultado em 13 de outubro de 2018. Arquivado do original em 9 de março de 2016 
  5. a b DOC Foto. «A São Paulo de Hildegard Rosenthal». http://docfoto.com.br (em portugués) 
  6. a b «São Paulo a través de la mirada de la fotógrafa Hildegard Rosenthal». Swiss Info. p. http://www.swissinfo.ch/por 
  7. «Colección Pirelli/MASP de Fotografía» (em portugués) 
  8. «Exposición en el Museo Lasar Segall (galería de fotos)». O Estado de São Paulo 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]