Hiperinflação

Em Macroeconomia, hiperinflação é uma inflação fora de controle à níveis muito elevados. O que ocorre é um encarecimento rápido dos produtos e desvalorização acentuada da moeda, às vezes acompanhada de recessão.[1]
O caso clássico conhecido é a crise econômica alemã de 1923. Alguns especialistas também costumam dar esta classificação para a inflação brasileira poucos dias antes da vigência do Plano Collor.
Definição[editar | editar código-fonte]
Segundo Philip Cagan, em seu livro The Monetary Dynamics of Hyperinfllation, a hiperinflação é uma inflação igual ou superior a 50% ao mês.
Em muitos países latino americanos as subidas de preços já alcançaram nas últimas décadas taxas muito elevadas, algumas na ordem de 400% anual e inclusive superiores. Há uma mudança qualitativa, é uma situação substancialmente diferente à inflação normal, com problemas e peculiaridades próprias, que requerem explicações e soluções diferentes. Numa situação hiperinflacionária, as pessoas não estão dispostas a manter seu dinheiro devido à rapidez com que este perde seu valor.[2]
Causas[editar | editar código-fonte]
Embora possa haver mais de uma causa, a hiperinflação normalmente é associada a déficits orçamentários do governo financiados pela emissão de dinheiro, o que provoca uma expansão da base monetária.[3] Outros fatores macroeconômicos também podem levar a inflação alta ou hiperinflação, como câmbio, pagamento de reparações de guerra, etc.
História da hiperinflação[editar | editar código-fonte]
A hiperinflação não é uma novidade. Em diversos países e outros períodos históricos foram conhecidos também processos inflacionistas extraordinários. O mais estudado de todos eles é o sofrido pela Alemanha depois da Primeira Guerra Mundial. A obrigação de pagar fortes indenizações às nações vencedoras e a caótica situação interna que impedia obter pela via fiscal os ingressos necessários, induziram a República de Weimar a financiar-se imprimindo papel moeda sem nenhuma contenção. Entre janeiro de 1922 e dezembro de 1923 a taxa acumulada de inflação ascendeu a um bilhão por cento. No ano de 1923 a situação alcançou um nível tão grande que os trabalhadores das fábricas recebiam a diária antecipada e davam o dinheiro a suas esposas para que fossem no mercado comprar tudo o que puder comprar.[4]
Ainda mais grave foi a hiperinflação sofrida pela Hungria imediatamente depois da Segunda Guerra Mundial. Os preços se multiplicaram por mais de 1027 em doze meses, multiplicando-se duas vezes cada dia. Países como Rússia, Peru, Bolívia, Polônia, Áustria, Grécia, China, Argentina e mais recentemente Equador, Iugoslávia também tiveram hiperinflação.[5]
Casos de Hiperinflação Notáveis[editar | editar código-fonte]
Alemanha[editar | editar código-fonte]

O governo recém eleito da jovem república de Weimar queria atender a todos os desejos de seus eleitores, mas não havia receitas de impostos suficientes para isso, então o mesmo recorreu a impressora de dinheiro, a republica ainda tinha que pagar reparações de guerra astronômicas aos países vencedores e teve partes de seus territórios produtivos ocupados pelos países vencedores, deixando o estado debilitado.
Hungria[editar | editar código-fonte]
A maior hiperinflação da história foi registrada na Hungria, logo após a Segunda Guerra Mundial, quando sua moeda era o pengő. À época, o país registrou uma taxa de inflação mensal de 41 900 000 000 000 000%, ou 207% ao dia. Assim, os preços duplicavam a cada 15 horas.[6]
América Latina[editar | editar código-fonte]
A hiperinflação latino-americana nunca alcançou essas taxas extremas, mas já foram muito mais perduráveis no tempo. A taxa média de inflação anual durante o período 1978-1987, por exemplo, foi de:
- 166% para o Brasil
- 257% para a Argentina
- 602% para a Bolívia
- 2 776% para o Peru (Alan García)
- 3 710% para o México (Miguel de la Madrid Hurtado)
Mas não foram as propostas estruturalistas senão as mais clássicas (restrição monetária e contenção do gasto público) as que conseguiram deter a espiral inflacionária. Isso sim, com efeitos muito desagradáveis para a população desses países. De fato, como consequência das repercussões de algumas políticas antiinflacionistas excessivamente rígidas, no final dos anos 1980 ocorreram em vários países sul-americanos (Argentina, Peru, entre outros) motins espontâneos com assalto a lojas de alimentação por multidões procedentes dos bairros mais pobres. A cultura popular no México atribui a derrota do Partido Revolucionário Institucional (PRI) nas eleições do ano 2000 em parte às más políticas presidenciais diante da inflação e desvalorização que açoitaram aquele país em 1994, sob a presidência de Ernesto Zedillo Ponce de León.
Recentemente, a inflação na Venezuela passou da casa de um milhão porcento ao ano durante o ano de 2018. Estima-se que ela possa passar dos dez milhões por cento no ano de 2019.[7][8][9][10]
Brasil[editar | editar código-fonte]


A Hiperinflação no Brasil ocorreu durante o período da década de 80 e 90, terminando só em 1994 com o Plano Real. A inflação atingiu 2 708% em 1993 e no período de 1980 a 1994 a moeda foi mudada várias vezes.[11]
O Banco Central do Brasil foi criado pelo decreto 4.595, de 31 de dezembro de 1964. A moeda que circulava na época era o cruzeiro. O cruzeiro novo foi implantado no dia 13 de fevereiro de 1967. O cruzeiro, padrão monetário desde 1942, perdia três zeros e se transformava em cruzeiro novo. Portanto, 1 cruzeiro = 0,001 cruzeiro novo. O cruzeiro substituiu o cruzeiro novo em 15 de Maio de 1970, sendo que um cruzeiro valia um cruzeiro novo. Durou até 27 de fevereiro de 1986. O cruzado é proveniente do Plano Cruzado, implantado pelo governo Sarney. A partir do dia 28 de Fevereiro de 1986, mil cruzeiros passaram a valer um cruzado. Para implantar o cruzado o governo aproveitou as cédulas de 10 mil, 50 mil e 100 mil cruzeiros, carimbando-as para o novo padrão. Portanto, 1 cruzeiro de 1986 passou a valer 0,001 cruzado.[12] o cruzado novo entrou em circulação no dia 15 de janeiro de 1989, no Plano Cruzado II. A nova moeda substituía o cruzado, sendo que 1 cruzado novo valia 1 000 cruzados. O cruzeiro foi reintroduzido como padrão monetário em substituição ao cruzado novo, como parte do Plano Collor, em março de 1990, sem ocorrer a perda de três zeros. O cruzeiro real foi implantado no 1º de Agosto de 1993, substituindo o cruzeiro, sendo 1 cruzeiro real equivalente a 1 000 cruzeiros de 1991. O Real foi lançado em 01 de junho de 1994, pelo Plano Real, no governo Itamar Franco. Um real valia 2 750 cruzeiros reais no momento da conversão.[13][14]
Zimbabwe[editar | editar código-fonte]
Em 2008, a Economia do Zimbabwe viveu um surto hiperinflacionário que foi um dos maiores da história e o primeiro registrado no século XXI, chegando a 231 000 000% no ano em 2008.[15]
Iugoslávia[editar | editar código-fonte]
Entre 1993 e 1994 a Iugoslávia viveu sua pior crise inflacionária. O aumento de preços chegou a uma taxa de 313 milhões por cento ao mês, ou 64,6% ao dia. A cada dia e meio os produtos dobravam de valor.[5]
As 10 maiores hiperinflações na história mundial[editar | editar código-fonte]
Taxas de inflação mensais mais altas da história[16][17] | |||||||
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# | País | Moeda | Mês com maior taxa de inflação | Maior taxa de inflação mensal | Taxa de inflação diária equivalente | Tempo necessário para os preços dobrarem | Denominação mais alta |
1 | Hungria | Pengő | Julho de 1946 | 4,19×1016 % | 207,19% | 15,6 horas | 100 Quintilhões (1020) |
2 | Zimbabwe | Dólar do Zimbábue | Novembro de 2008 | 7,96 × 1010 % | 98,01% | 24,7 horas | 100 Trilhões (1014) |
3 | Yugoslavia | Dinar iugoslavo | January 1994 | 3,13 × 108 % | 64,63% | 1,4 dias | 500 Bilhões (5×1011) |
4 | Republika Srpska | Dinar da Republika Srpska | Janeiro de 1994 | 2,97 × 108 % | 64,3% | 1,41 dias | 10 Bilhões (10×1010) |
5 | Alemanha (República de Weimar) | Marco de papel | Outubro de 1923 | 29,500% | 20,87% | 3,7 dias | 100 Trilhões (1014) |
6 | Grécia | Dracma | Outubro 1944 | 13,800% | 17,84% | 4,3 dias | 100 Bilhões (1011) |
7 | China | Yuan | April 1949 | 5,070% | 14,1% | 5,34 dias | 6 Bilhões |
8 | Armenia | Dram arménio e Rublo russo | Novembro de 1993 | 438% | 5,77% | 12,5 dias | 50,000 (rublos) |
9 | Turcomenistão | Manate do Turcomenistão | Novembro de 1993 | 429% | 5,71% | 12,7 dias | 500 |
10 | Taiwan | Yen taiwanês | Agosto de 1945 | 399% | 5,50% | 13,1 dias | 1,000 |
Ver Também[editar | editar código-fonte]
Referências
- ↑ «Hiperinflação, o que é isso mesmo? | Por quê? – Economês em bom português»
- ↑ N., Gujarati, Damodar. Econometria básica. Porto Alegre: [s.n.] p. 40. ISBN 9788563308320. OCLC 880434695
- ↑ von., Mises, Ludwig. As Seis Licoes. Rio de Janeiro, Brazil: [s.n.] p. 45. ISBN 9788562816017. OCLC 1030314382
- ↑ Von Mises, Ludwig (2009). As Seis Lições. São Paulo: Instituto Mises Brasil
- ↑ a b «Os 6 piores casos de hiperinflação da história | EXAME». exame.abril.com.br. Consultado em 14 de março de 2018
- ↑ msn.com/ Como se resolveram os 5 maiores episódios de hiperinflação da história
- ↑ «Inflação da Venezuela supera 1.000.000% em 12 meses». G1. Consultado em 1 de março de 2019
- ↑ Econômico, Brasil (10 de dezembro de 2018). «Venezuela: inflação nos últimos 12 meses ultrapassa 1.000.000% - Home - iG». Economia. Consultado em 1 de março de 2019
- ↑ «Inflação na Venezuela ultrapassa 1.000.000% em 12 meses pela primeira vez». Folha de S.Paulo. 11 de dezembro de 2018. Consultado em 1 de março de 2019
- ↑ «Bloomberg - Are you a robot?». www.bloomberg.com. Consultado em 1 de março de 2019
- ↑ Digital, CacauLimão Comunicação. «História do Dinheiro do Brasil - nome das moedas». www.suapesquisa.com. Consultado em 14 de março de 2018
- ↑ Digital, CacauLimão Comunicação. «Plano Cruzado - o que foi, congelamento de preços, 1986, resumo». www.suapesquisa.com. Consultado em 14 de março de 2018
- ↑ Jorge Iorio, Ubiratan (2013). Dez Lições Fundamentais de Economia Austríaca. São Paulo: Instituto Mises Brasil. 68 páginas
- ↑ «História da Inflação no Brasil». br.advfn.com. Consultado em 2 de setembro de 2018
- ↑ «Zimbábue chegou a ter nota de 100 trilhões para combater a inflação». R7.com. 9 de dezembro de 2017. Consultado em 24 de janeiro de 2020
- ↑ «World Hyperinflations | Steve H. Hanke and Nicholas Krus | Cato Institute: Working Paper». Cato.org. 15 de agosto de 2012. Consultado em 15 de outubro de 2012
- ↑ «World Hyperinflations» (PDF). CNBC. 14 de fevereiro de 2011. Consultado em 13 de julho de 2012
Ligações externas[editar | editar código-fonte]
- «O passado de hiperinflação no Brasil»
- «San José State University: episódios de hiperinflação» (em inglês)
- «Uma galeria de notas bancárias resultantes de hiperinflação». (em inglês)
- «A pior hiperinflação da História: Iugoslávia 1993-1994» (em inglês)