Homem-hiena

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Uma hiena como retratado em um bestiário medieval

O homem-hiena é um neologismo cunhado em analogia ao lobisomem para a teriantropia envolvendo hienas. É comum no folclore da Península Arábica, do Levante, do Norte da África, do Chifre da África e do Oriente Próximo, bem como em alguns territórios próximos. Ao contrário de lobisomens e outros teriantropos, que geralmente são retratados como sendo originalmente humanos, algumas histórias do homem-hiena contam como eles também podem ser hienas disfarçadas de humanos.

Culturas africanas[editar | editar código-fonte]

Na Somália, acredita-se tradicionalmente que Qori Ismaris ("Aquele que se esfrega como uma vara") era um homem que poderia se transformar em um "homem hiena" esfregando-se com uma vara mágica ao anoitecer e repetindo tal processo poderia retornar ao seu estado humano antes do amanhecer.[1]

Na Etiópia, acredita-se tradicionalmente que todo ferreiro, cujo ofício é hereditário, é realmente um bruxo ou bruxa com o poder de se transformar em hiena. Acredita-se que essas hienas ferreiros roubam túmulos à meia-noite e são chamadas de bouda (também escrito buda).[2] Eles são vistos com desconfiança pela maioria das pessoas se seu povo. A crença na bouda também está presente no Sudão e na Tanzânia, como no Marrocos, onde alguns berberes consideram a bouda como um homem ou mulher que todas as noites se transforma em hiena e retoma a forma humana ao amanhecer. Muitos cristãos etíopes caracterizam os judeus etíopes como sendo bouda, acusando-os de desenterrar cadáveres cristãos e consumi-los; a semelhança de ferreiro como uma profissão tradicional para homens judeus na Etiópia pode ser uma razão para a conexão entre as duas crenças.[2]

Na língua Kanuri do antigo Império Bornu na região do Lago Chade, as hienas são referidas como bultungin, que se traduz em "Eu me transformo em uma hiena".[3] Antigamente, se acreditava tradicionalmente que uma ou duas das aldeias da região eram inteiramente povoadas por homens-hienas,[4] como Cabultiloa.[5]

No folclore dos povos sudaneses ocidentais, há uma criatura híbrida, um humano que todas as noites se transforma em um monstro canibal que aterroriza as pessoas e os amantes. A criatura é muitas vezes retratada como um curandeiro, ferreiro ou lenhador magicamente poderoso em sua forma humana, mas reconhecível através de sinais como um corpo peludo, olhos vermelhos e brilhantes e uma voz nasal.[6]

Membros do culto Korè do povo Bambara no Mali “tornam-se” hienas ao imitar o comportamento dos animais através de máscaras e dramatizações. Estes evocam os hábitos vilipendiados das hienas e também podem ser utilizados para evocar medo entre os participantes, levando-os a evitar tais hábitos e traços em suas próprias vidas.[6]

Outras culturas[editar | editar código-fonte]

Al-Doumairy, em seu Hawayan Al-Koubra (1406), escreveu que as hienas são criaturas vampíricas que atacam as pessoas à noite e sugam o sangue dos pescoços das vítimas. O folclore árabe conta como as hienas podem hipnotizar as vítimas com os olhos ou às vezes com seus feromônios.[7]

Um tratado médico persa escrito em 1376 conta como curar pessoas conhecidas como kaftar, que afirmam ser “meio homem, meio hiena”, que têm o hábito de matar crianças.[6]

Os gregos, até o final do século XIX, acreditavam que os corpos dos lobisomens, se não fossem destruídos, assombrariam os campos de batalha como hienas vampíricas que bebiam o sangue de soldados enfraquecidos (moribundos).[4]

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. Mohamed Diriye Abdullahi (2001). Culture and Customs of Somalia. Col: Culture and Customs of Africa. [S.l.]: Greenwood Publishing Group|Greenwood. ISBN 9780313313332 
  2. a b Salamon, Hagar (1999). The Hyena People: Ethiopian Jews in Christian Ethiopia. [S.l.: s.n.] ISBN 0-520-21901-5 
  3. Tylor, Edward Burnett (1920). Primitive culture. [S.l.]: John Murray 
  4. a b Woodward, Ian (1979). The Werewolf Delusion. [S.l.: s.n.] ISBN 0-448-23170-0 
  5. Massey, Gerald (2007). The Natural Genesis – Vol.1. [S.l.]: Cosimo, Inc. ISBN 978-1-60206-084-5 
  6. a b c «Wayback Machine» (PDF). web.archive.org. Consultado em 18 de fevereiro de 2022 
  7. Mounir R. Abi-Said (2006). Reviled as a grave robber: The ecology and conservation of striped hyenas in the human dominated landscapes of Lebanon. [S.l.: s.n.]