Hudu

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Hudu[1][2] ou Hodu[3] (em francês: hoodoo) é uma forma de magia praticada no âmbito das religiosidades populares afro-americanas nas Américas. O hudu evoluiu nos Estados Unidos entre as comunidades africanas, como um sincretismo de diversas culturas e tradições e magia, incluindo os grimórios medievais, xamanismo e conhecimentos dos índios sobre ervas, e o vodu Haitiano. Os praticantes são conhecidos como conjurers (conjuradores) ou rootwokers (que trabalham com raízes).

O primeiro registo da palavra hudu em inglês é de 1875, descrita como substantivo e verbo transitivo.[4][5] No inglês vernáculo afro-americano o termo é utilizado para descrever um feitiço ou poção mágica, e também como um adjetivo para descrever o praticante. Entre os sinônimos regionais para a palavra estão conjuration ("conjuração"), conjure ("evocação"), witchcraft ("bruxaria") ou rootwork ("trabalhos com raízes").[6]

Contexto social[editar | editar código-fonte]

Historicamente, a maioria dos praticantes de hudu são afro-americanos, porém existiram alguns brancos que foram root doctors de destaque. Por exemplo, Dr. Harris, de Florence, Carolina do Sul, e Dr. Buzzard, de Beaufort, no mesmo estado, foram célebres hoodoo doctors no final do século XIX.[7] Americanos de origem latina[carece de fontes?] e indígena[8] também o praticaram. Acredita-se que as origens do hudu estejam com os escravos africanos, especialmente no Sudeste americano, e, historicamente, sua existência foi documentada no Alabama, Arkansas, Flórida, Geórgia, Ilinóis, Luisiana, Mississípi, Carolina do Norte, Carolina do Sul, Tennessee, e Virgínia.[9] Hoje em dia os praticantes do hudu podem ser encontrados em todas as destinações finais da Grande Migração, incluindo as principais cidades da costa oeste e nordeste dos Estados Unidos.

Ao contrário das religiões formais, o hudu não possui uma hierarquia estruturada. Também não apresenta uma teologia, clérigos e leigos estabelecidos, ou ordens de serviços litúrgicos próprias; em vez disso, os praticantes quase sempre são pessoas laicas dentro duma comunidade cristã, que têm algum tipo de conhecimento específico de magia e da tradição do hudu. Um tradicional curandeiro hudu costumava ser um indivíduo nômade, que viajava de cidade a cidade vendendo seus serviços, e por vezes abrindo uma loja nas comunidades. Diversos dos feitiços e práticas podem-se encaixar na categoria dos "remédios caseiros" e são conhecidos em determinados contextos afro-americanos ou da região sul do país.

Tradicionalmente, este conhecimento popular era passado de pessoa a pessoa.[10] Como muitas práticas hudu são passadas como remédios populares, que acabam sendo descritos de maneira mais ampla como "conhecimento comum", o hudu também é passado adiante através dos contato sócio-familiares. Com o aumento da taxa de alfabetização e da comunicação tecnológica entre as comunidades praticantes, o conhecimento do hudu pode ser transmitido por mais fontes, como livros e todo tipo de publicações e, hoje em dia, pela Internet.[11]

Sistema conceitual hudu[editar | editar código-fonte]

A visão de mundo dominante no hudu costuma ser fortemente cristã. Historicamente existiu uma vertente ligada ao Velho Testamento no pensamento hudu; isto fica particularmente evidente no que diz respeito à providência divina, bem como seu papel na justiça retributiva. Por exemplo, embora existem idéias fortes a respeito do Bem contra o Mal, amaldiçoar alguém de maneira a causar a sua morte pode não ser considerado um ato maligno. Por exemplo, um praticante explicou o fato desta maneira:

"[In] Hoodooism, anythin' da' chew do is de plan of God undastan', God have somepin to do wit evah' thin' you do if it's good or bad, He's got somepin to do wit it . . . jis what's fo' you, you'll git it."[12]

Não só a providência divina é um fator na prática do hudu, como o pensamento hudu compreende o próprio Deus como o arquetípico do "doutor do hudu" (hoodoo doctor). O hudu teria se iniciado antes de tudo; "seis dias de feitiços mágicos e poderosas palavras, e o mundo, com seus elementos, tanto em cima quanto em baixo, foi criado."[13] A partir desta perspectiva, figuras bíblicas costumam ser retratadas como doutores do hudu, e a Bíblia passa a ser uma fonte de feitiços conjuratórios, e torna-se, ela própria, um talismã de proteção.[14]

Práticas[editar | editar código-fonte]

A meta do hudu é de permitir às pessoas o acesso às forças sobrenaturais, de maneira a melhorar suas vidas cotidianas, e ganhar poder e força em diversas áreas dessas vidas, como a sorte, o dinheiro, o amor, a adivinhação, vingança, emprego e necromancia. Como em muitas outras religiões populares ou práticas médicas e mágicas, faz-se uso intenso de ervas, minerais e partes dos corpos de animais, dos objetos pessoais de um indivíduo, além de fluidos corpóreos, especialmente sangue menstrual, urina e sêmen. O contato com ancestrais ou outros espíritos dos mortos é uma prática importante dentro da tradição do conjuro, assim como a recitação de salmos e da Bíblia também é considerada como tendo efeitos mágicos.

Poções caseiras e encantos formam a base de boa parte do hudu rural, desde épocas antigas; porém já existem diversas companhias comercializando os componentes do hudu para praticantes urbanos e das áreas rurais. Geralmente estes produtos recebem o nome de mantimentos espirituais, e podem incluir ervas, raízes, minerais, velas, incenso, óleos, cristais de banho, sachês em pó e água-de-colônia.

Referências

  1. Folha de S.Paulo 2005.
  2. Holanda 1961, p. 407.
  3. Araújo 2020.
  4. Por exemplo, na canção da banda americana Creedence Clearwater Revival, "Born on the Bayou", no verso "I can still hear that old hound dog barking, chasin' down a hoodoo there" ("Ainda consigo ouvir aquele velho cão latindo, correndo atrás de um hudu lá"), a palavra se refere a um curandeiro ou praticante do hudu.
  5. «Merriam Webster Online». Consultado em 20 de outubro de 2008. Arquivado do original em 2 de janeiro de 2011 
  6. Hyatt, Harry Middleton. 1970-1978. Hoodoo--Conjuration--Witchcraft--Rootwork. 5 vols. Hannibal: Western
  7. Hyatt. Hoodoo. vol. I. p. III.
  8. Hyatt. Hoodoo. vol. I. p. 19.
  9. see Hyatt. hudu. Todos os volumes.
  10. Ver Hurston, Zora Neale. 1935. Mules and Men. New York: Harper and Row. 1990
  11. O trabalho de folcloristas como Harry M. Hyatt contribuiu para a preservação de grande parte das crenças e práticas hudu atuais. Hyatt, por exemplo, entrevistou inúmeras fontes, e documentou mais de mil tipos de feitiços e práticas; sua obra de cinco volumes serve como uma valiosa fonte primária tanto para os praticantes quanto para os acadêmicos que estudam esta tradição.
  12. "[No] huduísmo, qualquer coisa que você fizer é o plano do entendimento de Deus, Deus tem algo a ver com todas as coisas que você fizer, sejam elas boas ou ruins, Ele tem algo a ver com elas . . . aquilo que é pra você, você receberá." Hyatt. Hoodoo. vol. II. p. 1761.
  13. Hurston. 1935. Mules and Men. pp. 183.
  14. Smith. 1994. Conjuring Culture. p. 6. Ver também Hurston, Mules and Men, apêndice.

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

Ligações externas[editar | editar código-fonte]