Hypocephalus armatus
[1][2] Hypocephalus armatus Iaiá-de-cintura | |
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Ilustração esquemática presente na descrição original da espécie H. armatus, publicada em 1832 no Magasin de Zoologie (prancha 24).
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Classificação científica | |
Nome binomial | |
Hypocephalus armatus Desmarest, 1832[3][5] | |
Distribuição geográfica | |
O besouro H. armatus é encontrado na região neotropical, em uma pequena área do cerrado brasileiro, que é a ecorregião delimitada no mapa.[2][6]
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Sinónimos | |
Hypocephalus (Hypocephalus) armatus Desmarest, 1832[5] Mesoclastus paradoxus Gistel, 1837[4] |
Hypocephalus armatus (denominado popularmente, em inglêsː mole beetle ("besouro-toupeira", devido a seus hábitos fossoriais);[7] em portuguêsː iaiá-de-cintura,[1][2] lalá-de-cintura,[2][6] carocha e vaqueiro)[1][2] é um inseto da ordem Coleoptera e da família Vesperidae, subfamília Anoplodermatinae;[3] um besouro cujo habitat se encontra na região neotropical, sendo endêmico de áreas de cerrado do Brasil;[2][6] em Goiás (de acordo com citações obtidas no século XX),[6][8] no norte de Minas Gerais (municípios de Águas Vermelhas, Montezuma, Pedra Azul, Rio Pardo de Minas, Salinas, Taiobeiras e Virgem da Lapa) e sul da Bahia (municípios de Caculé, Vitória da Conquista, Condeúba, Encruzilhada e Mortugaba).[8][9][10] A espécie fora descrita em 1832 por Anselme Gaëtan Desmarest, sendo a única espécie da tribo Hypocephalini[3] e do gênero Hypocephalus (táxon monotípico), criado pelo autor junto com seu epíteto específico e este publicando sua descrição no Magasin de Zoologie a partir de um espécime coletado na province des Mines (Minas Gerais).[11]
O agrônomo Eurico Santos, divulgador da fauna do Brasil, afirma que este animal é "considerado o mais brasileiro dos coleópteros",[6][12] dada sua singularidade, estando, no passado, inserido na família dos cerambicídeos[2][8][9][13][14] ou até em uma família própriaː Hypocephalidae.[15] O entomologista John Lawrence LeConte, mundialmente conhecido por descrever milhares de insetos durante sua carreira, disse, em 1876, "de todos os besouros conhecidos pela ciência, nenhuma espécie causou tanta incerteza quanto à sua posição sistemática".[3][16]
Descrição
[editar | editar código-fonte]Espécie dotada de acentuado dimorfismo sexual, as fêmeas mais bojudas e muitíssimo mais raras que os machos numa aproximada proporção de 1 pra 50.[13] O entomologista Patrice Bouchard afirma que "este é talvez o besouro com aparência mais bizarra de todas", sendo desprovido da capacidade de voo.[3][7] Sua coloração varia do castanho ao negro e seus élitros coriáceos são ligeiramente estriados longitudinalmente e fundidos;[6][7][17] o mais característico de tudo sendo o seu protórax de grandes dimensões e suas pernas traseiras extremamente curvas.[18] Espécimes podem chegar de 5.5,[3] tamanho original de seu holótipo,[11][10] a 7.6[2] ou 8.8 centímetros de comprimento[10] e, em muitos aspectos, se assemelham mais com um grilotalpídeo do que com um besouro,[3] fato já percebido por Anselme Gaëtan Desmarest em seu texto descritivo ao citar que "o formato do inseto tem alguma relação com o do grilo-toupeira",[11] em um visível exemplo de convergência evolutiva.[13][14]
Biologia
[editar | editar código-fonte]Sua biologia e ecologia permanecem um mistério, tornando-o uma curiosidade entomológica.[16] Sabe-se que é um animal que passa a maior parte de seu ciclo de vida enterrado no solo, sendo avistado nos chuvosos meses de dezembro a janeiro,[3][7] suspeitando-se que sua alimentação seja constituída de raízes;[3] prefererindo habitats abertos, com cobertura vegetal baixa, composta por arbustos, areia e fragmentos de quartzo, sendo observados, principalmente os machos, movendo-se no solo ou abrigados sob restos de plantas ou pedras.[16] No passado se considerou que a larva de Hypocephalus armatus pudesse ser encontrada em sauveiros.[19]
Uso humano
[editar | editar código-fonte]Segundo observações do entomólogo Renato Lion de Araújo, o besouro Hypocephalus armatus era bem conhecido pela população de várias localidades do extremo norte de Minas Gerais, sendo capturado por mulheres e crianças durante a busca de pedras, musgos e outros objetos para que enfeitassem as lapinhas em seus presépios; os amarrando com uma fita colorida na acentuada constrição existente entre o protórax e os élitros, sendo suspensos vivos no teto das grutas, onde permaneciam inermes por muitos dias, agitando inutilmente as suas pernas até que a exaustão pusesse termo a seu suplício, sendo usados "como anjinhos", enquanto outras fontes acrescentam que tais coleópteros serviam de diversão para as crianças, sendo pendurados sobre os berços como estranhos brinquedos.[20]
Conservação
[editar | editar código-fonte]Hypocephalus armatus é considerada espécie ameaçada ou vulnerável, por sua "área de distribuição restrita e coleta", na Lista das Espécies Ameaçadas de Extinção da Fauna do Estado de Minas Gerais, publicada em 20 de dezembro de 1995;[21] também citada como vulnerável no Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção, publicado pelo ICMBio em 2018;[22] encontrando-se sob ameaça antrópica de monoculturas como a da cana-de-açúcar[13] ou da atividade agropecuária, fragmentando sua população, acreditando-se que a atual extensão da distribuição geográfica para esta espécie tenha se reduzido a menos de 20.000 Km². Outro fator de ameaça é a venda de espécimes para colecionadores, datada desde o século XIX.[10]
Referências
- ↑ a b c «iaiá-de-cintura». Michaelis. 1 páginas. Consultado em 8 de outubro de 2023
- ↑ a b c d e f g h HOUAISS, Antônio; VILLAR, Mauro de Salles; FRANCO, Francisco Manoel de Mello (2001). Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa 1ª ed. Rio de Janeiro: Objetiva. p. 1558. 2922 páginas. ISBN 85-7302-383-X
- ↑ a b c d e f g h i j BOUCHARD, Patrice (2014). The Book of Beetles. A Lifesize Guide to Six Hundred of Nature's Gems (em inglês). United Kingdom: Ivy Press. p. 516. 656 páginas. ISBN 978-1-78240-049-3
- ↑ a b Monné, Miguel A. (29 de fevereiro de 2012). «Hypocephalini Blanchard 1845» (em inglês). Zenodo. 1 páginas. Consultado em 8 de outubro de 2023
- ↑ a b «Hypocephalus (Hypocephalus) armatus Desmarest, 1832» (em inglês). GBIF. 1 páginas. Consultado em 8 de outubro de 2023
- ↑ a b c d e f SANTOS, Eurico (1985). Zoologia Brasílica, vol. 10. Os Insetos 2ª ed. Belo Horizonte: Itatiaia. p. 116. 244 páginas
- ↑ a b c d ZINKE, William (2014). Bugs. Big & Small, God Made Them All (em inglês). Green Forest, Arkansas: Master Books - Google Books. p. 35. 84 páginas. ISBN 978-0-89051-835-9. Consultado em 8 de outubro de 2023
- ↑ a b c LIMA, Costa (1953). «Família CERAMBYCIDAE, in Insetos do Brasil» (PDF). Escola Nacional de Agronomia (cerambycoidea.com). p. 86. 142 páginas. Consultado em 8 de outubro de 2023
- ↑ a b «Iaiá-de-cintura». Museu Nacional - UFRJ. 1 páginas. Consultado em 8 de outubro de 2023
- ↑ a b c d ICMBio (2018). Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção: Volume VII - Invertebrados (PDF). Brasília, DF: ICMBio/MMA. p. 282-284. 727 páginas. Consultado em 8 de outubro de 2023
- ↑ a b c Guérin-Méneville, F.-É. (1832). «Magasin de Zoologie» (em francês). Biodiversity Heritage Library. Consultado em 8 de outubro de 2023
- ↑ Fioravanti, Carlos (março de 2015). «Prazer em descrever». Pesquisa FAPESP. Edição 229. 1 páginas. Consultado em 8 de outubro de 2023
- ↑ a b c d GODINHO JR., Celso L. (2011). Besouros e Seu Mundo. Com 1400 ilustrações em cores desenhadas pelo autor 1ª ed. Rio de Janeiro, Brasil: Technical Books. p. 216-217. 478 páginas. ISBN 978-85-61368-16-6
- ↑ a b STANEK, V. J. (1985). Encyclopédie des Insectes. 270 illustrations en couleurs (em francês) 2ª ed. Praga: Gründ. p. 258-260. 352 páginas. ISBN 2-7000-1319-0
- ↑ Leconte, John L. (1876). «On the Affinities of Hypocephalus» (em inglês). Transactions of the American Entomological Society, Vol. 5 (JSTOR). p. 209. Consultado em 8 de outubro de 2023
- ↑ a b c Benoit, Gilles (2 de julho de 2015). «Hypocephalus armatus: a (very) unusual long-horned beetle» (em inglês). Passion Entomologie. 1 páginas. Consultado em 8 de outubro de 2023
- ↑ GODINHO JR., Celso L. (Op. cit., p. 342-343.).
- ↑ Candel, Michel (24 de março de 2013). «Hypocephalus armatus - m - Cérambycidae - Bahia, Mato Grosso - BRESIL» (em inglês). Flickr. 1 páginas. Consultado em 8 de outubro de 2023
- ↑ Obeidi, B.M.; D’Agostini, S.; Rebouças, M.M. (2014). «Elpídio Amante e os experimentos para o combate às formigas cortadeiras no Brasil» (PDF). Páginas do Instituto Biológico v.10, n.2. (Instituto Biológico). p. 2. Consultado em 8 de outubro de 2023.
Elpídio Amante pesquisou sobre a larva Hypocephalus armatus, no ano de 1963, em Montezuma, Minas Gerais. Na época, acreditava-se que esta fosse encontrada em formigueiro de saúva.
- ↑ Teixeira, Dante Martins; Papavero, Nelson; Monné, Miguel Angel (2008). «Insetos em presépios e as "formigas vestidas" de Jules Martin (1832-1906): uma curiosa manufatura paulistana do final do século XIX». Anais do Museu Paulista. v.16. n.2. (SciELO). p. 120-121. Consultado em 8 de outubro de 2023
- ↑ «LISTA DAS ESPÉCIES AMEAÇADAS DE EXTINÇÃO DA FAUNA DO ESTADO DE MINAS GERAIS» (PDF). SIAM - Sistema Integrado de Informação Ambiental. 1 páginas. Consultado em 8 de outubro de 2023
- ↑ ICMBio (2018). Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção: Volume I (PDF). Brasília, DF: ICMBio/MMA. p. 405. 492 páginas. ISBN 978-85-61842-79-6. Consultado em 8 de outubro de 2023