Ignácio Rangel

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Ignácio Rangel
Nome completo Ignácio de Mourão Rangel
Nascimento 20 de fevereiro de 1914
Mirador
Morte 4 de março de 1994 (80 anos)
Rio de Janeiro
Nacionalidade brasileiro
Ocupação economista

Ignácio de Mourão Rangel (Mirador, 20 de fevereiro de 1914Rio de Janeiro, 4 de março de 1994) foi um advogado, economista e escritor brasileiro. Ocupou a cadeira nº 26 da Academia Maranhense de Letras (AML).[1]

Biografia[editar | editar código-fonte]

Primeiros anos e formação[editar | editar código-fonte]

Ignácio Rangel nasceu na cidade de Mirador, cidade no interior do Maranhão em 1914.[2][3] Realizou o curso de Direito na Faculdade de Direito do Maranhão instituição que foi o embrião do curso na atual Universidade Federal do Maranhão (UFMA).[4] A formação foi muito ligada ao contexto em que nasceu: seu pai era um magistrado e seu avô e bisavô também frequentaram as cadeiras do curso de Direito da instituição.[5][6]

Carreira[editar | editar código-fonte]

Apesar da formação em Direito, seguiu novos rumos em sua carreira. Mudou-se para o Rio de Janeiro, onde passou a trabalhar como tradutor para a agência Reuters de notícia para quitar as contas e garantir a possibilidade de estudos de economia em casa - já que fora um autodidata nos estudos econômicos.[7][8] Seus textos de análise econômica rapidamente ganharam relevância e foi convidado para fazer parte do grupo de assessoramento econômico de Getúlio Vargas, foi um dos redatores dos projetos de criação da Petrobras e Eletrobras, duas das mais importantes estatais brasileiras, que teriam seu destino atrelado à história do desenvolvimento do país.[9][10] No ano de 1953, além de trabalhar intensamente na assessoria de Vargas, Rangel escreve seu primeiro livro, A Dualidade Básica da Economia Brasileira, publicado em 1957.[11]

Na década de 1950, foi um dos quadros que integrou o Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB), órgão vinculado ao Ministério da Educação (MEC) que produzia estudos aprofundados sobre os caminhos do desenvolvimento brasileiro.[12][13] Ao lado de quadros intelectuais como os sociólogos Hélio Jaguaribe e Cândido Mendes, o historiador Sérgio Buarque de Holanda e a economista Maria da Conceição Tavares, firmou-se como um dos principais analistas da estrutura formativa do Brasil.[6][10][14]

Foi convidado para realizar uma pesquisa a cargo da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), órgão das Organização das Nações Unidas (ONU) instalado em Santiago, capital do Chile.[10][15][16] No retorno do Chile, Rangel ingressa no BNDE (Banco de Desenvolvimento Econômico e Social, que na época ainda não possuía o "S" no nome) onde chega a chefe de Departamento Econômico.[13][17]

Nesse contexto, chegou a ser convidado pelo então presidente João Goulart para ser ministro da Fazenda, cargo que recusa.[18] Logo em seguida, vem o Golpe de 64, comandado pelo Exército Brasileiro (EB) que o coloca nome de Rangel no ostracismo.[19][20]

Dado seu trabalho e contribuições, ocupou a cadeira de número 26 da Academia Maranhense de Letras (AML).[1]

Morte[editar | editar código-fonte]

Ignácio morreu na madrugada de 4 de março de 1994, aos 80 anos no Hospital Pró-Cardíaco do Rio, no Rio de Janeiro vitimado por problemas cardíacos.[21] Foi enterrado no dia seguinte no Cemitério de São João Batista, localizado no bairro de Botafogo.[21]

Legado[editar | editar código-fonte]

Foi provavelmente o mais original analista do desenvolvimento econômico brasileiro, segundo o economista Bresser Pereira (professor da Universidade de São Paulo) e Jose Marcio Rego (professor da Fundação Getulio Vargas).[8][22]

No ano de 2014, recebeu o póstumo título de Doutor Honoris Causa da Universidade Federal de Maranhão.[4] O título foi concedido pelo então reitor da universidade Natalino Salgado usando a frase "saiu da vida para entrar para história".[4][23]

Obras[editar | editar código-fonte]

  • 1953 – A Dualidade Básica da Economia Brasileira ISEB — Instituto Superior de Estudos Brasileiros.
  • 1954 – Introdução ao Desenvolvimento Econômico Brasileiro.
  • 1957 – Desenvolvimento e Projeto.
  • 1958 – Elementos de Economia do Projetamento.
  • 1961 – A Questão Agrária Brasileira. Rio de Janeiro: Presidência da República, Conselho de Desenvolvimento.
  • 1963 – A Inflação Brasileira.
  • 1980 – Recursos Ociosos e Política Econômica.
  • 1982 – Ciclo, Tecnologia e Crescimento.
  • 1985 – Economia, Milagre e Anti-Milagre.
  • 1987 – Economia Brasileira Contemporânea.
  • 1993 – Do Ponto de Vista Naciona

Referências

  1. a b «Cópia arquivada». Consultado em 21 de abril de 2010. Arquivado do original em 21 de janeiro de 2013 
  2. «Ignácio Rangel». Intérpretes do Brasil. Consultado em 5 de maio de 2020 
  3. «Mirador». Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Consultado em 5 de maio de 2021 
  4. a b c Martins, Charles (27 de março de 2014). «Ignácio Rangel homenageado com o título de Doutor Honoris Causa in memorian». Universidade Federal do Maranhão. Consultado em 5 de maio de 2021 
  5. Malta, Maria Mello de; Malta, Maria Mello de (2014). «Ignácio Rangel e a categoria dualidade básica: uma interpretação do Brasil». Nova Economia (1): 17–31. ISSN 0103-6351. doi:10.1590/0103-6351/2103. Consultado em 6 de maio de 2021 
  6. a b Nogueira, Leonardo (8 de dezembro de 2017). «A interpretação de Ignácio Rangel e o Brasil do "milagre" e "antimilagre" econômico» (PDF). Universidade de São Paulo. Consultado em 5 de maio de 2021 
  7. Júnior, Antônio (2010). «HISTÓRIA E POLÍTICA EM IGNÁCIO RANGEL» (PDF). Universidade Federal de Goiás. Consultado em 5 de maio de 2021 
  8. a b Pereira, Luiz (1992). «Um mestre da economia brasileira: Ignácio Rangel» (PDF). Fundação Getúlio Vargas. Consultado em 5 de maio de 2021 
  9. Pereira, José Maria Dias (2014). «O centenário de Ignácio Rangel». Brazilian Journal of Political Economy (4): 544–564. ISSN 0101-3157. doi:10.1590/S0101-31572014000400003. Consultado em 6 de maio de 2021 
  10. a b c Medeiros, Rodrigo (2005). «ASPECTOS DO PENSAMENTO ECONÔMICO DE IGNÁCIO RANGEL» (PDF). Revista Intellectus (Universidade Estadual do Rio de Janeiro). Consultado em 5 de maio de 2021 
  11. Nunes, Leonardo (2008). «A dualidade básica da economia brasileira: um ensaio sobre o pensamento de Ignácio Rangel». Universidade Federal de Santa Catarina. Consultado em 5 de maio de 2021 
  12. Malta, Maria Mello de (2014). «Ignácio Rangel e a categoria dualidade básica: uma interpretação do Brasil». Nova Economia (1): 17–31. ISSN 0103-6351. doi:10.1590/0103-6351/2103. Consultado em 6 de maio de 2021 
  13. a b Silva, Arthur (3 de março de 2021). «Ignacio Rangel e o BNDES: a beleza do desequilíbrio». A Revolução Industrial Brasileira. Consultado em 5 de maio de 2021 
  14. Jabbour, Elias (dezembro de 2017). «O marxismo e outras influências sobre o pensamento de Ignacio Rangel». Economia e Sociedade (3): 561–583. ISSN 1982-3533. doi:10.1590/1982-3533.2017v26n3art2. Consultado em 6 de maio de 2021 
  15. «Sede de la CEPAL en Santiago (Estudios e Investigaciones)». Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe. ONU. Consultado em 6 de maio de 2021 
  16. Freitas, Eduardo. «Chile - Aspectos gerais do Chile». Brasil Escola. UOL. Consultado em 6 de maio de 2021 
  17. Jabbour, Elias (5 de março de 2019). «Elias Jabbour: Por que estudar Ignacio Rangel». Vermelho. Consultado em 5 de maio de 2021 
  18. Domingues, Fabian Scholze; Fonseca, Pedro Dutra (2017). «Ignácio Rangel, a correção monetária e o PAEG: recontando a história». Estudos Econômicos (São Paulo) (2): 429–458. ISSN 0101-4161. doi:10.1590/0101-416147273fsdp. Consultado em 6 de maio de 2021 
  19. «Ignácio Rangel». Marxismo 21. 20 de novembro de 2013. Consultado em 6 de maio de 2021 
  20. Jabbour, Elias (2017). «O marxismo e outras influências sobre o pensamento de Ignácio Rangel» (PDF). Economia e Sociedade (Universidade Estadual de Campinas). Consultado em 5 de maio de 2021 
  21. a b «Economista Ignacio Rangel morre no Rio». Folha de S. Paulo. 5 de março de 1994. Consultado em 5 de maio de 2021 
  22. «Um mestre da economia brasileira: Ignácio Rangel». Bresser-Pereira (em inglês). Consultado em 6 de maio de 2021 
  23. Filho, Natalino (23 de março de 2014). «Um reconhecimento merecido». Jornal O Estado do Maranhão. Consultado em 6 de maio de 2021 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

Precedido por
José Jansen
AML - cadeira 26
1991 — 1994
Sucedido por
Carlos Gaspar
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