Igreja Assíria do Oriente
| Igreja Assíria do Oriente (Santa Igreja Católica Apostólica Assíria do Oriente) | |
| A sede patriarcal da Igreja Assíria do Oriente na região do Curdistão, Iraque | |
| Classificação | Cristianismo sírio |
|---|---|
| Orientação | Nestorianismo |
| Política | Episcopal |
| Líder | Católico-Patriarca Mar Awa III |
| Sede | Arbil, Iraque; historicamente Selêucia-Ctesifonte |
| Fundador | Santos Tomé, Bartolomeu, Tadeu de Edessa e Mari de Edessa; separada das outras sés por Perozes I e Barsauma |
| Origem | período apostólico; separada em 484 |
| Congregações | 283.413 |
| Membros | 400-500 mil[1][2][3] |
| Site oficial | http://news.assyrianchurch.org |
A Igreja Assíria do Oriente (em siríaco: ܥܹܕܬܵܐ ܕܡܲܕܢܚܵܐ ܕܐܵܬܘܿܪ̈ܵܝܹܐ , romaniz.: ʿedtā dmadnḥā d'ātōrāyā), às vezes chamada Igreja do Oriente,[4] oficialmente Santa Igreja Católica Apostólica Assíria do Oriente,[4][5] é uma denominação cristã oriental que reivindica continuidade da sé fundada na Babilônia por São Tomé.[6] Algumas vezes é chamada de Igreja Ortodoxa Assíria,[carece de fontes] mas não deve ser confundida com a Igreja Síria Ortodoxa. Na Índia, é conhecida como Igreja Síria Caldeia do Oriente. Teologicamente, é associada à doutrina do nestorianismo, o que fez com que ficasse conhecida como "Igreja Nestoriana" (principalmente pelos seus inimigos), embora sua liderança tenha por vezes rejeitado expressamente tal rótulo. O seu rito litúrgico é o siríaco oriental.[7][8]
A Igreja Assíria do Oriente não está em comunhão nem com a Igreja Ortodoxa, nem com a Igreja Católica e nem com as Igrejas Orientais Ortodoxas, porque ela só aceita os ensinamentos dos dois primeiros concílios ecumênicos, discordando da posição que prevaleceu no Primeiro Concílio de Éfeso.[9][10][11] O atual Patriarca e líder máximo da Igreja Assíria do Oriente (chamado Católico-Patriarca do Oriente) é Mar Awa III.
História
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A Igreja Assíria do Oriente reivindica sucessão da sé fundada na Babilônia por Santos Tomé, Tadeu de Edessa e Bartolomeu, traçando sua existência ao período apostólico às epístolas de São Pedro.[12][13]
Grupos dissidentes
[editar | editar código]Em 1552, grupos dentro da Igreja do Oriente elegeram Mar Simeão VIII, um patriarca rival ao impopular Mar Simeão VII. Ao ter seu povo recusado pela Igreja Ortodoxa Síria, Simeão viajou a Roma, onde foi entronado em 1553. Seu grupo hoje subsiste na Igreja Católica Caldeia, que é uma Igreja oriental sui iuris em comunhão com as demais Igrejas Católicas.[14]
Em 1599, um grupo numeroso abandonou a Igreja do Oriente na Índia, por influência de missionários portugueses, estabelecendo a Igreja Católica Siro-Malabar, que junto da Igreja Caldeia veio a ser uma das duas Igrejas particulares em comunhão com as Igrejas Católicas praticando o rito siríaco oriental. Por fim, partes deste grupo se uniriam à Ortodoxia Oriental e também ao anglicanismo, resultando na hoje dividida comunidade dos Cristãos de São Tomé.[15][16]
Desde 1968, a comunidade assíria está dividida em resultado de disputas relacionadas ao uso do calendário gregoriano, com um grupo numeroso tendo estabelecido a Antiga Igreja do Oriente, sediada em Bagdá. Há, no entanto, esforços ativos de reunificação entre ambas as partes.
Em 1976 adotou oficialmente o nome "Igreja Assíria do Oriente".[17][18]
Atualidade
[editar | editar código]Atualmente, a Igreja Assíria do Oriente subsiste na Índia, no Iraque, no Irã, na China, nos Estados Unidos e em outros lugares onde haja migrado comunidades nestorianas dos países citados. Estima-se que a Igreja Assíria do Oriente conta apenas com cerca de 1 milhão de fiéis. Em virtude da perseguição religiosa, a sé principal da Igreja Assíria do Oriente chegou a alocar-se em Chicago, apenas em 2015 retornando a Arbil, no Iraque. Muitos fiéis, entretanto, permanecem ainda no Oriente Médio, na Índia e na China.
Organização
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A Igreja Assíria do Oriente é governada por uma estrutura episcopal, assim como as demais igrejas apostólicas. A igreja mantém um sistema de paróquias geográficas organizadas em dioceses e arquidioceses. O Católico-Patriarca é o chefe da igreja. Seu sínodo é composto por bispos que supervisionam dioceses individuais e metropolitas que supervisionam as dioceses episcopais em suas respectivas jurisdições territoriais.
A Igreja Caldeia Siríaca, que abrange a Índia e o Golfo Pérsico, é a maior diocese da igreja. Sua história remonta à Igreja do Oriente, que estabeleceu presença em Kerala, mas as duas comunidades mantiveram apenas uma conexão esporádica por vários séculos, e relações consistentes só foram estabelecidas com a chegada dos portugueses à Índia por volta de 1500. A igreja é representada pela Igreja Assíria do Oriente e está em comunhão com ela.
Estima-se que o número de membros seja de 385.000 adeptos,[19] embora alguns fontes dizem que chega a 500.000.[20] De acordo com o estudioso James Minahan, cerca de 19% do povo assírio pertence à Igreja Assíria do Oriente.[21] Em seu próprio Relatório sobre Liberdade Religiosa de 2018, o Departamento de Estado dos Estados Unidos estimou que os adeptos da Igreja Assíria do Oriente representam aproximadamente 20% dos cristãos no Iraque.[22]
Doutrina
[editar | editar código]Cristologia
[editar | editar código]A Igreja Assíria do Oriente tem a distintiva crença cristológica de que em Jesus Cristo há duas essências (Qnome) distintas, uma humana e outra divina, em uma só pessoa (Parsopa). A crença dita nestoriana, de que em Cristo haveria duas pessoas, completas de tal forma que constituem dois entes independentes vivendo no mesmo corpo, ao contrário do que se pensa, não é a professada por esta Igreja, e na verdade nem corresponde exatamente à realidade (só se conhece o nestorianismo na versão dos inimigos dessa visão teológica, como os monofisistas e ortodoxos). Esta doutrina cristológica surgiu em Antioquia, no século V, e foi proposta por Nestório, monge oriundo de Alexandria, que assumiu o Bispado de Constantinopla. O Teshbokhta, hino composto por Mar Babai, resume a crença da Igreja Assíria da seguinte forma:
Um é Cristo o Filho de Deus, adorado por todos em duas naturezas; em sua divindade gerado do Pai, sem princípio antes de todos os tempos; em sua humanidade nascido de Maria, na plenitude do tempo, em um corpo unido; nem sua divindade é da natureza da mãe, nem sua humanidade é da natureza do Pai; suas naturezas são preservadas em suas qnome, em uma pessoa de uma filiação. E assim como Deus é três substâncias em uma natureza, a filiação do Filho é em duas naturezas, uma pessoa. Assim ensinou a Santa Igreja.
Hoje, discute-se muito até que ponto a Igreja do Oriente foi efetivamente nestoriana. Opina-se que a dificuldade de traduzir termos como qnome e pasopa para as línguas ocidentais potencializaram a controvérsia, o que foi parcialmente coberto pela "Declaração cristológica comum entre a Igreja Católica e a Igreja Assíria do Oriente", assinada por Mar Dinkha IV e o papa João Paulo II em 1994.
A Declaração Cristológica Comum entre a Igreja Católica Romana e a Igreja Assíria do Oriente, assinada pelo Papa João Paulo II e Mar Dinca IV, sublinha a formulação cristológica calcedoniana como expressão da fé comum dessas Igrejas e reconhece a legitimidade do título Teótoco.
Escrituras e sacramentos
[editar | editar código]A Igreja Assíria do Oriente difere da maior parte da Cristandade quanto ao cânon bíblico. Possui no Novo Testamento apenas 22 livros, excluindo a Segunda Epístola de Pedro, a Segunda e Terceira epístolas de João, Judas e o Livro do Apocalipse. No Antigo Testamento não possui o livro das Crônicas e Esdras, Neemias e de Ester. A versão utilizada é a Peshitta em língua aramaica.
Desde 1964 a Igreja Assíria do Oriente adota o calendário gregoriano, o que deflagrou o cisma com a Igreja Antiga do Oriente. Pratica o sacramento da eucaristia (Qurbana) na Divina Liturgia de Addai e Mari notavelmente não há as palavras de consagração na epiclese.
O celibato é normalmente obrigatório para os bispos e monges. Sacerdotes podem se casar, em contraste com as outras Igrejas orientais e a Igreja Católica Romana, mesmo após a ordenação. Há instâncias de bispo se casarem, como fez o patriarca Mar Shimun XXIII.
Iconografia
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Em suas casas, os cristãos pertencentes à Igreja Assíria do Oriente penduram uma cruz cristã (sem o corpo) na parede leste da sala principal.[23]
A Igreja Assíria do Oriente não utiliza ícones, e os interiores de seus templos são simples.[24] A iconografia esteve presente na história da Igreja do Oriente; a oposição às imagens religiosas acabou se tornando a norma devido à disseminação do Islã na região, que proibia qualquer tipo de representação de santos e profetas bíblicos. Assim, a igreja foi forçada a se livrar de seus ícones.[25][24]
Um livro do Evangelho Nestoriano Peshitta escrito em Estrangela, do século XIII, encontra-se na Biblioteca Estadual de Berlim. Este manuscrito ilustrado da Alta Mesopotâmia ou Tur Abdin comprova que, no século XIII, a igreja ainda não era anicônica.[26] O Evangelho Nestoriano preservado na Bibliothèque nationale de France contém uma ilustração representando Jesus Cristo (não um crucifixo) no círculo de uma cruz anelada (na forma de cruz celta) rodeado por quatro anjos.[27]
Três manuscritos siríacos do início do século XIX e anteriores — que foram editados em uma compilação intitulada O Livro da Proteção por Hermann Gollancz — contêm diversas ilustrações, algumas mais rudimentares que outras. Esses manuscritos comprovam o uso contínuo de imagens. Além disso, uma figura masculina em estuque, em tamanho natural, foi descoberta em uma igreja de Selêucia-Ctesifonte, datada do final do século VI. Sob essa igreja, foram encontrados os restos de uma igreja anterior. Embora não seja possível determinar qual Igreja Nestoriana estava envolvida, a descoberta comprova que a Igreja do Oriente também utilizava representações figurativas.[28]
Ver também
[editar | editar código]- Sé de Selêucia-Ctesifonte
- Cristianismo oriental
- Nestorianismo
- Igreja do Oriente
- Igreja do Leste
- Rito oriental
Referências
- ↑ "Nestorian". Encyclopædia Britannica. Retrieved April 19, 2010.
- ↑ «CNEWA United States – The Assyrian Church of the East». Cnewa.org. Consultado em 12 de junho de 2012. Arquivado do original em 23 de julho de 2012
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- ↑ Binns, John (2002). An introduction to the Christian Orthodox churches. Cambridge, UK: Cambridge University Press. OCLC 49906281
- ↑ Eastern Christianity and Politics in the Twenty-First Century. Lucian N. Leustean. New York: Routledge. 2014. OCLC 881162158
- ↑ Interview with Mar Awa Royel, the newly elected patriarch of the Assyrian Church of the East, consultado em 7 de janeiro de 2024
- ↑ «kurdistan». www.rudaw.net. Consultado em 7 de janeiro de 2024
- ↑ Garsoïan 1999, p. 73.
- ↑ Chabot 1902, p. 532.
- ↑ Leonard M Outerbridge, The Lost Churches of China, (Westminster Press, USA, 1952)
- ↑ «Holy Apostolic Catholic Assyrian Church of the East». Oikoumene.org. Consultado em 15 de maio de 2016.
St Peter, the chief of the apostles added his blessing to the Church of the East at the time of his visit to the see at Babylon, in the earliest days of the church: '... The chosen church which is at Babylon, and Mark, my son, salute you ... greet one another with a holy kiss ...' ( I Peter 5:13-14).
- ↑ 1Pe 5:13
- ↑ George V. Yana (Bebla), "Myth vs. Reality," JAA Studies, Vol. XIV, No. 1, 2000 p. 80
- ↑ Malankara Mar Thoma Syrian Church: Heritage
- ↑ CNEWA: The Chaldean Catholic Church
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