Igreja de Nossa Senhora do Rosário (Lavras)

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Igreja de Nossa Senhora do Rosário
Igreja de Nossa Senhora do Rosário (Lavras)
Vista frontal e lateral da igreja
Nomes anteriores Igreja de Sant'Ana (1754-1760)
Igreja Matriz de Sant'Ana (1760-1917)
Tipo Templo católico
Estilo dominante colonial com interior barroco-rococó
Arquiteto Luís Pinheiro de Souza (?)
Início da construção 1751
Fim da construção 1854
Inauguração Museu Sacro de Lavras (1990)
Restauro 1875; 1902; 1928; 1949; 1970; 1982; 1997; 2008; 2019
Religião Catolicismo Romano
Diocese Diocese de São João del-Rei
Ano de consagração 1754 (como Igreja de Sant'Ana),
1917 (como Igreja de Nossa Senhora do Rosário)
Sacerdote Túlio Marcos Ribeiro Corrêa, SCJ
Website www.paroquiasantanadelavras.com.br
Estado de conservação Bom estado de conservação; retábulos necessitam de restauração e tratamento de conservação
Tombamento nacional 1948
Tombamento municipal 2002
Património nacional
Classificação Tombamento nacional pelo IPHAN,
Livro do Tombo das Belas Artes
Geografia
País Brasil
Cidade Lavras, Minas Gerais
Coordenadas 21° 14' 42" S 44° 59' 59" O

A Igreja de Nossa Senhora do Rosário é a construção mais antiga da cidade de Lavras, Minas Gerais.

História[editar | editar código-fonte]

O nome original do templo era capela de Sant'Ana, quando de sua edificação, entre 1751 e 1754, nas terras do capitão Luiz Gomes de Morais Salgado. A capela seria elevada à condição de igreja Matriz em 1760, após a transferência da sede paroquial que até então ficava em Carrancas. Em 1765 era terminada a construção da nave-mor da Matriz.[1]

Em 1810 foi construída uma igreja em homenagem à Nossa Senhora do Rosário que ficava onde hoje é o alto da Praça Leonardo Venerando. Esta edificação foi demolida em 1904, quando se iniciava a construção da nova Matriz de Sant'Ana. Em 1917 esta foi inaugurada, havendo assim a troca de nomes das igrejas: a velha Matriz passa a ser a igreja do Rosário.

Ainda no século XIX, registra-se que na época da criação do município de Lavras (1831), o padre Francisco d'Assis Braziel lecionava aulas de Latim, Francês, Geografia, Desenho, Aritmética e Música num dos cômodos da velha Matriz de Sant'Ana.[2] Além disso, havia um cemitério nos arredores da igreja, utilizado até 1853, quando foi criado o cemitério de São Miguel no então extremo sul da vila de Lavras. Em 1875, a igreja recebeu recursos advindos da loteria para sua restauração.[3]

No século XX, em 1928 foram instalados dois novos sinos da igreja, fundidos em Divinópolis e adquiridos pelo padre Fernando Baumhoff, SCJ., primeiro pároco da Congregação dos Sacerdotes do Sagrado Coração de Jesus a servir em Lavras.[1] Segundo o prof. José Luiz de Mesquita, os sinos foram batizados como "Francelino" e "Jerônimo II".[4]

Patrimônio nacional[editar | editar código-fonte]

A partir dos anos 1930, a igreja foi aos poucos perdendo destaque e ficando abandonada. Nesta época, aparentemente o templo só era aberto na Semana Santa. Em 1940, a construção colonial esteve prestes a ser demolida e ver seu terreno dar lugar a um clube social. O professor José Luiz de Mesquita (1887-1967), líder comunitário lavrense e um dos fundadores da Sociedade de São Vicente de Paulo na cidade, entidade que se reunia numa das alas da igreja desde 1908, escreve para Rodrigo Melo Franco, diretor do IPHAN, sobre a intenção manifesta pelos empresários. Melo Franco, assim, comunica o bispo de Campanha, Dom Inocêncio Engelke, OFM. que qualquer tratativa de venda da igreja deveria ser suspensa até avaliação do órgão federal.[5] A operação também foi denunciada na imprensa belo-horizontina pelo cônego Francisco Maria Bueno de Sequeira (1895-1979), sacerdote descendente dos fundadores de Lavras e membro da Academia Mineira de Letras.[6]

Em 1944, desabamentos espontâneos de algumas paredes alarmaram a população, que temia pelo desmoronamento da igreja. Seguiu-se grande debate público a respeito da conveniência da preservação do tempo bicentenário, campanha esta estimulada por José Luiz de Mesquita, Sílvio do Amaral Moreira e outras personalidades locais. Este esforço comunitário permitiu que a igreja fosse tombada como Patrimônio Histórico e Artístico Nacional em 1948[7] e restaurada com recursos federais em 1949.[5]

A igreja do Rosário novamente seria ameaçada pela falta de cuidados na segunda metade do século XX, ficando de fato fechada entre 1964 e 1982. Houve inclusive dois sérios desabamentos em 1965 e 1969, que exigiram novas reformas.[5] Em 1982, o prefeito Maurício Pádua Souza separou dotação pública municipal de três milhões de cruzeiros para contratar a firma Artes Litúrgicas Santa Rita, supervisionada pelo restaurador Elio de Oliveira, possibilitando a reabertura da igreja, após quase vinte anos. A solenidade se deu em 8 de maio de 1982, sendo a missa gravada pela Rede Globo de Televisão de Juiz de Fora.[1]

Em 13 de outubro de 1990, a igreja passou a abrigar o Museu Sacro de Lavras, ação de mútua colaboração entre a paróquia de Sant'Ana, a prefeitura municipal de Lavras e o Museu Bi Moreira.[8]

Século XXI[editar | editar código-fonte]

No início do século XXI, a Igreja de Nossa Senhora do Rosário foi declarada patrimônio cultural municipal, sendo inscrita no Livro do Tombo Histórico em 2002.[9] Após um intervalo de vinte anos, em 2008, voltariam a ser celebrados os ofícios religiosos no local,[10] quando a igreja passou por nova restauração nos retábulos e também na pintura do forro.[11] Em 2019, o entorno do templo foi reformado, quando novas pedras foram colocadas no adro e Praça João Oscar de Pádua.[12]

Durante as comemorações do tricentenário do povoamento de Lavras, em 21 de julho de 2020, o padre Túlio Corrêa, SCJ., pároco de Sant'Ana de Lavras, abençoou a "Cruz do Tricentenário", feita pelo artesão Alexandre Reis. Assim, após 38 anos, a Igreja de Nossa Senhora do Rosário voltou a ter uma cruz sobre o telhado.[13]

Acervo de arte sacra[editar | editar código-fonte]

Moacyr Villela sugere que os entalhes em madeira dos altares da igreja foram feitos pelo escultor português José Maria da Silva, em 1784,[14] embora esta teoria tem sido contestada por outros especialistas, que apontam para o círculo de entalhadores setecentistas da comarca do Rio das Mortes, como Luiz Pinheiro de Souza e Francisco de Lima Cerqueira.[15] As pinturas no forro da capela-mor datam de cerca de 1805, obra atribuída ao pintor mulato são-joanense Joaquim José da Natividade. Os retábulos da Igreja aguardam restauração, em obra estimada em R$ 500 mil.[16]

Das imagens, destacam-se as belas representações em madeira policromada em tamanho natural, ligadas às tradições da Semana Santa: Senhor do Triunfo, Senhor dos Passos, Nossa Senhora das Dores, Bom Jesus da Cana Verde e Senhor Morto. Além destas, existem imagens dos séculos XVIII e XIX de Santo Antônio, São Francisco de Assis, Nossa Senhora do Carmo, e de Nossa Senhora do Rosário. As imagens de São Benedito, São Miguel e Santa Ifigênia estão desaparecidas.[4] Faz parte do acervo original da igreja uma imagem de Sant'Ana Mestra, que esteve no trono do retábulo-mor do templo até 1917, tombada como patrimônio cultural municipal em 2020.[17][18]

Também em 2020 foi devolvida a tela "Verônica", que retornou à comunidade lavrense após 62 anos,[19][20] após ser resgatada por William Daghlian.[21][22] A pintura é também atribuída a Joaquim José da Natividade e esteve no acervo do Museu de Arte de São Paulo por 12 anos.[23] Em 2017 foi restaurada por Thaís Cristina Coelho Carvalho Caixeta,[24][25] com recursos do Fundo Municipal de Preservação do Patrimônio Cultural de Lavras,[26][27] intermédio do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional[28][29] e Ministério Público do Estado de Minas Gerais.[30][31] Em 17 de agosto de 2021, durante o IV Fórum do Patrimônio Cultural de Lavras, a tela foi exposta na Igreja do Rosário pela primeira vez, desde a década de 1950.[32]

Galeria[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. a b c Németh-Torres, Geovani (2010). Os 250 Anos da Paróquia de Sant’Ana. Col: Série Lavrensiana, 1. Lavras: Geovani Németh-Torres. 106 páginas. ISBN 978-85-911368-0-3 
  2. Vilela, Marcio Salviano (2007). A Formação Histórica dos Campos de Sant'Ana das Lavras do Funil. Lavras: Indi. p. 288 
  3. Németh-Torres, Geovani (2018). História Geral de Lavras, Volume I. Col: Série Lavrensiana, 6. Lavras: Geovani Németh-Torres. pp. 209–210. ISBN 978-85-911368-5-8 
  4. a b Németh-Torres, Geovani (10 de fevereiro de 2019). «Patrimônios desaparecidos». Acrópole. 13 (51): 4 
  5. a b c Németh-Torres, Geovani (2020). «História da preservação do patrimônio cultural de Lavras (1940-1984)». Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural de Lavras. Revista do Patrimônio Cultural de Lavras. 1 (1): 208-228. Consultado em 30 de março de 2021 
  6. O Diário. Belo Horizonte, 9 de janeiro de 1944.
  7. Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (1948). «Igreja Nossa Senhora do Rosário». Livro do Tombo das Belas Artes. Processo n.º 368-T, Inscrição n.º 316 (2.IX.1948). [S.l.: s.n.] p. fls. 67 
  8. Németh-Torres, Geovani (2020). «Ligeiro comentário sobre os museus e arquivos lavrenses». Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural de Lavras. Revista do Patrimônio Cultural de Lavras. 1 (1): 229-237. Consultado em 8 de maio de 2021 
  9. Decreto municipal n. 3.936 de 1.º de março de 2002
  10. Németh-Torres, Geovani (1.º nov. 2010). «Igreja do Rosário». Acrópole. 11 (41): 2 
  11. «Igreja do Rosário passará por reformas». O Lavrense. 6 de março de 2008. Consultado em 8 de maio de 2021 
  12. «Lavras: prefeitura realiza obra de revitalização e preservação da Igreja do Rosário». Mirante da Bocaina. 27 de novembro de 2019. Consultado em 8 de maio de 2021 
  13. Libeck, Renato Torres (27 julho de 2020). «Bênção à Cruz do Tricentenário». Museu da Imagem e do Som de Lavras. Consultado em 30 de março de 2021 
  14. Villela, Moacyr. «Jose Maria da Silva, um mestre entalhador de Braga na Comarca do Rio das Mortes» (PDF). Projeto Compartilhar 
  15. Andrade, Letícia Martins (2020). «Considerações sobre as obras de talha e pintura na Igreja do Rosário, antiga matriz de Sant'Ana das Lavras do Funil». Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural de Lavras. Revista do Patrimônio Cultural de Lavras. 1 (1): 26-49. Consultado em 4 de maio de 2021 
  16. Correio do Sul (12 julho de 2018). «Altares da Igreja de Nossa Senhora do Rosário em Lavras deverão ser restaurados». Jornal Correio do Sul. Consultado em 5 de maio de 2021 
  17. Decreto municipal n. 15.363 de 6 de abril de 2020.
  18. Németh-Torres, Geovani (15 de abril de 2020). «Imagem de Sant'Ana mestra da antiga matriz de Lavras». Acrópole. 14 (58): 2 
  19. Németh-Torres, Geovani (20 de novembro de 2020). «Verônica & a imagem de Sant'Ana». Gabriel Arriel Pedrozo. Consultado em 5 de maio de 2021 
  20. Cicarelli, Eduardo (20 de novembro de 2020). «Obra do século XVIII que foi restaurada está de volta a Lavras». Jornal de Lavras. Consultado em 5 de maio de 2021 
  21. Cicarelli, Eduardo (30 de abril de 2015). «Masp vai devolver para Minas Gerais quadro sacro levado de Lavras». Jornal de Lavras. Consultado em 5 de maio de 2021 
  22. Werneck, Gustavo (1.º maio 2015). «Obra do século 18 que estava em São Paulo vai para museu em Minas». Estado de Minas. Consultado em 5 de maio de 2021 
  23. Werneck, Gustavo (26 de abril de 2016). «Obra de arte da igreja de Lavras retorna a Minas Gerais». Estado de Minas. Consultado em 5 de maio de 2021 
  24. Moura, Fernanda Carolina Silva; Caixeta, Thaís Cristina Coelho Carvalho (2020). «Os desafios da restauração da pintura de cavalete intitulada "Verônica" pertencente à Igreja de Nossa Senhora do Rosário da cidade de Lavras, Minas Gerais». Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural de Lavras. Revista do Patrimônio Cultural de Lavras. 1 (1): 61-76. Consultado em 5 de maio de 2021 
  25. Caixeta, Thaís Cristina Coelho Carvalho (18 julho de 2020). «Os desafios da restauração da pintura intitulada "Verônica", da Igreja do Rosário de Lavras». Museu da Imagem e do Som de Lavras. Consultado em 5 de maio de 2021 
  26. Werneck, Gustavo (19 de outubro de 2017). «Quadro do século 18 é apresentado após cinco meses de restauração». Estado de Minas. Consultado em 5 de maio de 2021 
  27. Diocese de São João del-Rei (19 de outubro de 2017). «Obra de arte é devolvida para igreja de Lavras». Diocese de São João del-Rei. Consultado em 5 de maio de 2021 
  28. Pereira, Fernanda (17 de outubro de 2017). «Obra de arte é devolvida para a cidade de Lavras (MG)». Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Consultado em 5 de maio de 2021 
  29. Brasil, André (23 de novembro de 2020). «Verônica retorna a Lavras (MG): tela é restaurada e devolvida à Igreja de N. S. do Rosário». Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Consultado em 5 de maio de 2021 
  30. Ministério Público de Minas Gerais (19 de novembro de 2020). «Após ser recuperada pelo MPMG, pintura "Verônica" retorna ao acervo da Igreja Nossa Senhora do Rosário». Ministério Público do Estado de Minas Gerais. Consultado em 5 de maio de 2021 
  31. Eduardo Júnior (25 de janeiro de 2021). «Patrimônio perdido». Justiça em Questão. Consultado em 5 de maio de 2021 
  32. Bissoli, Marco Aurélio (18 ago. 2021). «Tela Verônica é mostrada pela primeira vez na Igreja do Rosário». Lavras 24 Horas. Consultado em 18 ago. 2021