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Januário Garcia

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Januário Garcia Filho
Nascimento 16 de novembro de 1943
Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil
Morte 30 de junho de 2021 (77 anos)
Rio de Janeiro, RJ Brasil
Nacionalidade brasileiro
Área Fotografia
Formação International Camaramen School

Januário Garcia Filho (Belo Horizonte, 16 de novembro de 1943Rio de Janeiro, 30 de junho de 2021[1]) foi um fotógrafo brasileiro.

Com extenso trabalho nas áreas de publicidade, música e documentação de afrodescendentes em âmbitos social, político, cultural e econômico, Januário participava de importantes espaços de memória, arte e cultura do povo negro além do âmbito profissional. Foi autor das fotos de capas de álbuns icônicos de artistas como: Gilberto Gil, Tim Maia, Belchior, Chico Buarque e Leci Brandão.[1] Januário teve seu trabalho exposto em países como Canadá, México, Bélgica, Senegal, Togo (República Togolesa), Nigéria, Estados Unidos, Áustria, Japão e Brasil.[2]

Formado em Comunicação Visual pela International Camaramen School[3], com estágio no Studio Gamma sob orientação do fotógrafo George Racz, com cursos de extensões de arte visual, história da arte e Videomaker. Atuou como presidente do Instituto de Pesquisas das Culturas Negras e foi membro do Conselho Memorial Zumbi.[4] Foi autor de mais de 100 mil fotos ao longo da carreira.[5]

Januário nasceu em Belo Horizonte, em 1943. Era filho de Geralda da Mata Garcia e Januário Garcia. Januário foi um dos quatro filhos de uma família pobre, moradora de periferia da capital mineira. Seu pai, morreu quando ele tinha 4 anos, sendo então criado, até os 12 anos, pela mãe, quando ela faleceu, ainda muito jovem aos 36 anos, por volta de 1955. Com essa perda, Januário fica desnorteado e resolve sair pelo mundo sem destino. Ele então chega ao Rio de Janeiro, com 13 anos e foi morar nas ruas e abrigos públicos da cidade.[6]

Levado ao Serviço de Amparo ao Menor (SAM) aos 16 anos, Januário foi voluntário da Tropa de Paraquedista do Exército aos 17, onde fez curso de Infante Paraquedista e, completou o ensino fundamental e ensino médio. Foi nessa ocasião que comprou sua primeira câmera fotográfica, uma Olympus, e fazia fotos dos colegas no quartel.[6]

Após sair do quartel e sobreviver de outras atividades, Januário retornou à fotografia na década de 1970, definitivamente, com uma câmera Pentax Spotimac II, iniciando assim sua carreira profissional, com o incentivo  de Ana Maria Felippe, sua esposa, que o alavancou na profissionalização. Fotografou para jornais alternativos da época e, prestou serviços como free lancer para a grande imprensa começando pela Tribuna da Imprensa e, com o tempo para as demais redações: O Globo, Jornal do Brasil, O Dia, A Notícia, Revista JB e algumas publicações da Editora Bloch.[5][6][5]

Foi convidado para participar da fundação da Photo Galeria, organização voltada para a venda de fotografia de arte, onde conheceu George Racz que mais tarde o convidou para ser seu assistente. A amizade com Racz foi muito importante, para Januário, pois foi com ele que teve um upgrade de conhecimento e técnica fotográfica que alavancou, definitivamente, sua carreira fotográfica.[6]

Montou um estúdio e foi trabalhar com publicidade, encontrando as tradicionais barreiras que um negro precisa que superar quando não exerce um trabalho em setores que a sociedade reservou para ele. Durante todo tempo que fotografou para publicidade, o único fotógrafo negro que encontrou, nessa área, foi Walter Firmo e, tinha, ainda, uma referência do fotógrafo negro, José Medeiros. Trabalhou por muito tempo atendendo a várias agências no Rio de Janeiro.[6]

Nessa ocasião começou a procurar gravadoras para entrar no mercado de capas de discos, outra batalha, pois era um mercado muito restrito, com um grupo de fotógrafos coesos que dominava o mercado, depois de vários meses visitando as gravadoras, finalmente conseguiu uma capa para fazer, a de um grupo de rock chamado O Peso. Os componentes da banda ficaram emocionados com as fotos para a capa, o diretor de arte da Poligram, na época Sr. Aldo Luiz, o congratulou e a partir dessa capa surgiram muitas outras, dos mais importantes músicos brasileiros com os quais teve a oportunidade de conviver e fazer as fotos de suas capas.[6]

Quando ainda estava começando a aprender a ler, um exemplar da revista infantil O Tico-Tico caiu em suas mãos, com seus personagens Reco-Reco, Bolão e Azeitona. Nesse número, na secção ligue-ligue da revista, ensinava a fazer um projetor de imagens com uma pequena caixa de madeira no tamanho 20X15X15. Havia um cinema no bairro que passava filmes às quartas, sábados e domingos, nos dias posteriores de manhã bem cedo ele ia esperar o lixo do cinema para pegar tiras de filmes que jogavam fora, para projetar à noite em sua casa, em uma parede pintada de branco. Dessa maneira começou a sua relação direta com a imagem, toda oportunidade que tinha, lia sobre fotografia e cinema. A imagem sempre despertou uma curiosidade que Januário não sabia explicar a razão.[6]

Movimento Negro

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Sua chegada ao Movimento Negro se deu na ocasião em que era assistente do Racz, pois ele havia implantado um curso de fotografia no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM) onde o próprio ministrava aulas e, era considerado um dos melhores cursos de fotografia da cidade do Rio de Janeiro. Em um determinado momento, Januário foi convidado a substituir Racz, como professor. Havia um aluno negro no Curso, José Ricardo D´Almeida que viu sobre sua mesa, uma revista negra americana Ebony, que Januário comprava para desenvolver seu Inglês e acompanhar as lutas pelos direitos civis nos Estados Unidos, esse número da revista falava em Malcolm X.[6]

Depois de ver a revista o aluno disse que havia um grupo de negros se reunindo aos sábados, no Centro de Estudos Afro-asiáticos na Universidade Cândido Mendes em Ipanema, combinaram de irem juntos, na reunião seguinte. Quando acabou a reunião, Januário percebeu que ali estava sendo escrita uma nova história na sociedade brasileira, era o ano de 1975. Voltou nas reuniões seguintes e começou a fotografar as reuniões do Movimento Negro. Essa documentação fotográfica passou a ser seu trabalho pessoal e ao mesmo tempo sua ferramenta de participação na luta e na história do Movimento Negro Brasileiro.[6]

Januário estava internado no Hospital São Lucas, em Copacabana, na Zona Sul do Rio, e morreu na noite de 30 de junho de 2021, em decorrência da COVID-19. Januário Garcia deixa quatro filhos.[5][8][9]

Exposição Local pais ano
COMUM DO SINGULAR 1 Museu de Arte de São Paulo-MASP / Bienal de São Paulo Brasil 1976
PRIMEIRA MUESTRA DA LA FOTOGRAFIA LATINA AMERICANA CONTEMPRORÂNEA Museu de Arte Moderna do México México 1978
COMUM DO SINGULAR 2 Museu de Arte Moderna / Salvador - BA Brasil 1979
VENEZA79 Nova York Estados Unidos 1979
WIE WEIT IST BRASILIEN e BRASILIENS ANDERS Viena Aústria 1985
BEGEGNUNG MIT BRASILIEN Kassel Alemanha 1988
AFRO BRAZILIANS IN STRUGLE Tokio Japão 1989
500 YEARS AMERICAN DISCOVERY Schomburg Center / Nova York Estados Unidos 1992
BLACK BRAZILIANS VISON Universidade da Flórida - Embaixada do Brasil / Washington Estados Unidos 1993
Eu Hein? Casa de Cultura Laura Alvim / Rio de Janeiro Brasil 1996
MOSTRA DOS 500 ANOS: Brasil + 500[10] Ibirapuera / São Paulo Brasil 2000
MOSTRA PARA NUNCA ESQUECER MEMÓRIAS NEGRAS[11] Museu Histórico Nacional / Rio de Janeiro Brasil 2001
MOSTRA EVERYDAY LIFE OF AFROBRAZILIANS Organização das Nações Unidas (ONU) / New York Estados Unidos 2004
NETOS E BISNETOS DE ESCRAVOS Conjunto Cultural da Caixa / Brasília - DF Brasil 2004
REMANESCENTE DE QUILOMBOS DO ESTADO DO RIO Capão da Canoa - RS Brasil 2004
SEMANA DA ABOLIÇÃO - PASSADO e PRESENTE Praça Melvin Jones (atual Pç Mario Lago) e Museu da República / Rio de Janeiro Brasil 2005
PASSADO E PRESENTE II Conferência de Intelectuais da África e da Diáspora / Salvador - BA Brasil 2006
Diásporas africanas na América do Sul - Uma ponte sobre o Atlântico[12] Inauguração da embaixada do Brasil / Abuja Nigéria 2006
DIÁSPORAS AFRICANAS NA AMÉRICA DO SUL – UMA PONTE SOBRE O ATLÂNTICO Festival de Divindades Negras / Aneho Togo

(República Togolesa)

2007
MEMÓRIA VIVA – 1980/2005 – 25 ANOS DO MOVIMENTO NEGRO Museu da República / Rio de Janeiro Brasil 2008
DIÁSPORA AFRICANAS NA AMÉRICA DO SUL – UMA PONTE SOBRE O ATLÂNTICO Palácio do Itamaraty, Semana da África / Brasília - DF Brasil 2008
MEMÓRIA VIVA – 1980/2005 – 25 ANOS DO MOVIMENTO NEGRO Espaço Renato Russo / Brasília - DF Brasil 2008
ESTÉTICA NEGRA Espaço Cultural de Furnas / Rio de Janeiro Brasil 2008
INSTANTES E INSTANTÂNEOS DE ANTÔNIO CARLOS JOBIM Casa do Brasil / Bruxelas Bélgica 2008
NEGRICE CRISTAL Fundação Palmares / Brasília - DF Brasil 2009
INSTANTES E INSTANTÂNEOS DE ANTÔNIO CARLOS JOBIM/ Espaço Antônio Carlos Jobim / Rio de Janeiro Brasil 2009
DIÁSPORAS AFRICANAS NA AMÉRICA DO SUL- UMA PONTE SOBRE O ATLÂNTICO Sesc / Rio de Janeiro - RJ Brasil 2010
DIÁSPORAS AFRICANAS NA AMÉRICA DO SUL- UMA PONTE SOBRE O ATLÂNTICO 3º Festival Mundial das Artes Negras - Museu Nacional do Senegal / Dakar Senegal 2011
AFRODESCENDANTS D´AMÉRIQUE DU SUD Musée De La Civilisation – Mois de I´Histoire des Noires / Quebec Canadá 2012
DIÁSPORAS AFRICANAS NA AMÉRICA DO SUL – O NEGRO BRASILEIRO Museu das Culturas do Mundo / Cidade do México México 2016
RIO DE TODAS AS ÁFRICAS Centro Cultural Laurinda Santos Lobo / Rio de Janeiro - RJ Brasil 2016
O GRITO ESPAÇO PENCE / Rio de Janeiro - RJ Brasil 2019
Nome Autor(es) País Ano
2011 Ano Internacional dos Afrodescendentes: Valorizando a Imagem das Mulheres Negras Brasileira Januário Garcia Brasil 2011
Diásporas Africanas na América do Sul – Uma Ponte sobre o Atlântico Januário Garcia e Júlio César de Tavares Brasil 2008
25 anos do Movimento Negro – Mostra a saga da luta negra no Brasil no período de 1980 a 2005 Januário Garcia Brasil 2006
A História dos Remanescentes de Quilombo do Estado do Rio de Janeiro – A Verdade que a História não Conta Januário Garcia Brasil 2002

Participação em obras de terceiros

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Nome Autor Fotografias
Aspectos da Arte Religiosa no Brasil Bahia, Pernambuco e Paraíba Clarival do Prado Valladares Januário Garcia
A Mão Afro-Brasileira - O Significado da Contribuição Artística e Histórica Emanoel Araújo Januário Garcia
Memória Negras Memórias de Negro Emanuel Araújo Januário Garcia
Quilombo dos Palmares Joel Rufino dos Santos Januário Garcia
O Corpo se Expressa e Dança Renné Wells Januário Garcia
O Negro no Rio de Janeiro e sua Tradição Musical Nei Lopes Januário Garcia
Prêmio Instituição Ano
Prêmio ORILAXÉ Afroreggae 2001
Prêmio Secretaria de Estado de Justiça e Direitos do Estado do Rio de Janeiro – Disque Racismo Estado do Rio de Janeiro 2005
Prêmio de Cultura do Estado do Rio de Janeiro - Registro e Memória Estado do Rio de Janeiro 2010
Prêmio João Candido Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro Comissão de Combate ao Racismo 2013
Troféu Dia de Mandela Instituto Nelson Mandela de Direitos Humanos 2013

Capas de Álbuns Musicais

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Cantor/cantora/banda nome do álbum ano
Belchior Alucinação 1976
Todos os Sentidos 1978
Caetano Veloso Muito (Dentro da Estrela Azulada) 1978
Cores, nomes 1982
Chico Buarque Chico Buarque 1978
Perfil 2003
Edu Lobo Camaleão 1978
Fafá de Belém Água 1977
Crença 1980
Fagner Quem Viver Chorará 1978
Beleza 1979
Leci Brandão Coisas do Meu Pessoal 1977
Atitude 1993
Dignidade 1987
Raul Seixas Mata Virgem 1978
Há 10 Mil Anos Atrás 1976
Tim Maia Tim Maia Disc Club 1978
O Descobridor dos Sete Mares 1983
Tom Jobim Urubu 1975
Tom e Edu 1981
Tom Jobim e Convidados 1985
Nei Lopes e Wilson, Roberto Ribeiro; Lucinha Lins; Obina Shok; Delcio Carvalho; Aniceto do Império; Luizinho Eça, Luiz Carlos da Vila, Martinho da Vila, Ivo Meireles, Gal Costa, Serginho Meriti, Claudio Jorge, Vital Farias, Cátia de França, O Peso, Raimundo Sodré e outros.[13]

Referências

  1. a b «Covid-19: morre o fotógrafo Januário Garcia». O Dia. Consultado em 1 de Julho de 2021 
  2. «Januário Garcia». Paraty Em Foco 2019. Consultado em 10 de julho de 2020 
  3. «Rio de Todas as Áfricas: Diásporas Cariocas nas Lentes de Januário Garcia». Geledés. 18 de outubro de 2016. Consultado em 10 de julho de 2020 
  4. «JANUÁRIO GARCIA (RJ)». Consultado em 1 de Julho de 2021 
  5. a b c d «Januário Garcia, fotógrafo de capas célebres de discos e militante do movimento negro, morre de Covid no Rio». G1. Consultado em 1 de julho de 2021 
  6. a b c d e f g h i «"Na minha geração ninguém vai poder falar que o negro não tem memória, eu vou fazer essa memória"». Núcleo Piratininga de Comunicação. Consultado em 1 de Julho de 2021 
  7. «A presença do Negro na Imprensa Gaúcha: do Império à República». Geledés. 25 de abril de 2015. Consultado em 27 de junho de 2020 
  8. Bruno Mateus (ed.). «Fotógrafo de capas históricas da MPB, mineiro Januário Garcia morre de Covid-19». O Tempo. Consultado em 1 de julho de 2021 
  9. «Morre o fotógrafo Januário Garcia, vítima da covid-19». Alô Bahia. Consultado em 1 de julho de 2021 
  10. «Em berço esplendido». ISTOÉ Independente. 26 de abril de 2000. Consultado em 10 de julho de 2020 
  11. «Folha de S.Paulo - Consciência em PRETO - E». www1.folha.uol.com.br. Consultado em 10 de julho de 2020 
  12. Flávia Nogueira (ed.). «Fotos retraçam diáspora africana na América do Sul». BBC Brasil. Consultado em 10 de julho de 2020 
  13. «CAPAS DE DISCOS DOS MAIS CONSAGRADOS ARTISTAS BRASILEIROS NOS ANOS 70 E 80.». Consultado em 1 de Julho 2021 

Ligações externas

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