Jeremias II de Constantinopla
Jeremias II de Constantinopla | |
---|---|
Nascimento | 1536 Pomorie |
Morte | 1595 (58–59 anos) Constantinopla, Istambul |
Cidadania | Império Otomano |
Ocupação | sacerdote, Patriarca, teólogo |
Religião | cristianismo ortodoxo |
Jeremias II de Constantinopla (em grego: Ιερεμίας Β΄; c. 1536, Anquíalos, Império Otomano – c.1595, Constantinopla, Império Otomano), dito Tranos (em grego: Τρανός), foi patriarca ecumênico de Constantinopla três vezes, entre 1572 e 1579, entre 1580 e 1584 e finalmente entre 1587 e 1595.
História
[editar | editar código-fonte]Jeremias Tranos nasceu em Anquíalos, na Bulgária otomana, numa influente família grega. A data exata é desconhecida, mas provavelmente foi em 1530 ou, como sugerem alguns estudiosos, 1536[1]. Ele estudou com os melhores professores gregos de sua época e, em sua juventude, tornou-se monge. Apoiado pelo rico Miguel Cantacuzeno, foi nomeado bispo de Lárissa por volta de 1568[1].
Quando Cantacuzeno conseguiu a deposição do patriarca Metrófanes III, Jeremias, com o apoio dele, foi eleito pela primeira vez para o trono patriarcal em 5 de maio de 1572[1]. A primeira preocupação de Jeremias era a reforma da Igreja e ele convocou um sínodo com o objetivo de extirpar a prática da simonia. Ele também patrocinou a reforma de sua catedral, que na época era a Igreja de Pamacaristo. Durante seu primeiro patriarcado, Jeremias também manteve os primeiros contatos com os luteranos, mas que terminaram em um impasse. Em 3 de março de 1578, Cantacuzeno foi executado e a posição de Jeremias se enfraqueceu[1]. Em 23 (ou 29) de novembro de 1579, Jeremias foi deposto, excomungado[2] e Metrófanes III, seu rival, retomou o trono.
Contudo, Metrófanes morreu logo depois, em agosto de 1580[2], e Jeremias retornou para um segundo mandato, provavelmente em 13 de agosto[3]. Entre 1580 e 1583, houve contatos entre Jeremias e enviados do papa sobre a introdução na Grécia do calendário gregoriano: a Santa Sé estava quase certa de que haveria um acordo positivo, mas, ao contrário do esperado, Jeremias se recusou a aceitar qualquer acordo[3]. Em 1584, Jeremias ofereceu como presente ao papa Gregório XIII dois pedaços das relíquias de São João Crisóstomo e Santo André de Creta[4].
No inverno entre 1583 e 1584, Jeremias foi alvo de uma conspiração de alguns bispos gregos contra sua posição, liderados por Pacômio de Kayseri e Teolepto de Filipópolis, que o acusaram de ter apoiado uma revolta grega contra o Império Otomano, de ter batizado um muçulmano (o que era um crime) e de ter se correspondido com o papado[5]. Jeremias foi preso, surrado e julgado três vezes pelos três crimes: as duas primeiras acusações se mostraram falsas, mas a terceira resultou em sua deposição em 22 de fevereiro de 1584 e no seu exílio para a ilha de Rodes.
Em 1586, graças à intercessão do embaixador francês, Jeremias obteve permissão para deixar Rodes. Ele imediatamente iniciou uma viagem através da Comunidade Polaco-Lituana (que incluía também a Ucrânia) e do Czarado da Rússia para levantar fundos. Ele chegou a Moscou em 11 de julho de 1588 e, depois de negociar com Bóris Godunov (o regente do Czar Feodor I da Rússia) em 26 de janeiro de 1589, Jó de Moscou foi entronizado como o primeiro Patriarca de Moscou e Toda a Rússia, o que implicou no reconhecimento por Jeremias II da Igreja Ortodoxa Russa[6]. No caminho de volta para Constantinopla, Jeremias depôs o Metropolita de Kiev, Onesíforo Devochka e em seu lugar nomeou e consagrou Miguel Rohoza.
Neste ínterim, depois da deposição de Jeremias em 1584, dois outros patriarcas assumiram o trono patriarcal, Pacômio II e Teolepto II, que foi deposto em maio de 1586[7]. A Igreja passou a ser governada por um aliado de Jeremias, o diácono Nicéforo (m. 1596) e, por dez dias, pelo diácono Dionísio, o Filósofo (que depois foi metropolita de Lárissa)[7]. Em abril de 1587, Jeremias foi formalmente reeleito patriarca, mas, por causa de sua ausência, a Igreja continuou sendo governada pelo diácono Nicéforo. Em 4 de julho de 1589, o sultão Murade III formalmente nomeou-o Patriarca de Constantinopla pela terceira vez[3]. Jeremias foi informado que era novamente o patriarca somente em 1589, quando estava na Moldávia, e partiu de volta para Constantinopla (agora Istambul), onde chegou em 1590[5].
Em 12 de fevereiro de 1593, um sínodo em Constantinopla sancionou a autocefalia do Patriarcado de Moscou[4]. A data exata da morte de Jeremias é desconhecida, mas sabe-se que ocorreu entre setembro e dezembro de 1595 em Constantinopla.
Confissão Grega de Augsburgo
[editar | editar código-fonte]Entre 1576 e 1581, Jeremias conduziu as primeiras importantes discussões teológicas entre a Igreja Ortodoxa e os protestantes. Em 24 de maio de 1575, os luteranos Jakob Andreae e Martin Crusius, de Tübingen, apresentaram ao Patriarca uma cópia traduzida da Confissão de Augsburgo. Jeremias escreveu três refutações conhecidas como "Respostas", que estabeleceram que a Igreja Ortodoxa não tinha nenhum desejo de uma reforma[8]. Os luteranos responderam às primeiras duas cartas, mas a terceira terminou em um impasse entre as partes. A importância deste intercâmbio é que ele revelou, pela primeira vez, de forma clara e precisa, onde estavam os ortodoxos e os reformadores protestantes em relação uns aos outros.
Realizações
[editar | editar código-fonte]Jeremias II é conhecido por seu papel na fundação do Patriarcado de Moscou durante sua viagem pelo Czarado da Rússia em 1589. Ele inicialmente sugeriu a si próprio como candidato para ser o primeiro Patriarca de Moscou e Toda a Rússia, mas Bóris Godunov sugeriu que ele se fixasse em Vladimir, uma grande e empobrecida cidade na época. Ao invés disto, Jeremias consagrou um aliado de Godunov, o Metropolita Jó, como patriarca.[carece de fontes]
Ele também conseguiu alguns privilégios para as comunidades gregas no Império Otomano, um dos quais foi o direito de fundar escolas. Até a época de Jeremias, havia uma única escola que lecionava em grego em todo o Império Otomano, a "Grande Escola da Nação". Com a influência do patriarca Jeremias, sete novas escolas foram criadas no século XVI, em Atenas, Livadeia, Quio, Esmirna, Ayvalık (Cidonies), Patmos e Joanina. Subsequentemente, outras quarenta escolas abriram por toda a Grécia e Ásia Menor.[carece de fontes]
Ver também
[editar | editar código-fonte]Jeremias II de Constantinopla (1572-1579 / 1580-1584 / 1587-1595)
|
Referências
- ↑ a b c d Aubert, R. (2003). Dictionnaire d'histoire et de géographie ecclésiastiques. Jérémie II (em francês). 28. Paris: Letouzey et Ané. p. 995-1001. ISBN 2-7063-0210-0
- ↑ a b Janin, R. (1956). Dictionnaire d'histoire et de géographie ecclésiastiques. Costantinople, Patriarcat grec (em francês). 13. Paris: Letouzey et Ané. p. 632,677
- ↑ a b c Petit, L. (1924). Dictionnaire de Théologie Catholique. Jérémie II Tranos (em francês). 8. Paris: Letouzey et Ané. p. 886-894
- ↑ a b «Jeremias II» (em inglês). Site oficial do Patriarcado Ecumênico de Constantinopla
- ↑ a b Gudziak, Borys A. (2001). Crisis and reform : the Kyivan Metropolitanate, the Patriarchate of Constantinople, and the genesis of the Union of Brest (em inglês). Cambridge, Mass: Ukrainian Research Institute, Harvard University. p. 30–40. ISBN 0-916458-92-X
- ↑ «Jeremiah II of Constantinople» (em inglês)
- ↑ a b Kiminas, Demetrius (2009). The Ecumenical Patriarchate (em inglês). [S.l.]: Wildside Press LLC. p. 38, 46. ISBN 978-1-4344-5876-6
- ↑ Ware, Timothy (1993). The Orthodox Church (em inglês). London, England New York, N.Y: Penguin Books. p. 94. ISBN 0-14-014656-3
Ligações externas
[editar | editar código-fonte]- Tibbs, Eve. «Patriarch Jeremias II, the Tübingen Lutherans, and the Greek Version of the Augsburg Confession» (em inglês)
- Schaff, Philip. «The Answers of Patriarch Jeremiah to the Lutherans, A.D. 1576» (em inglês). Christian Classics Ethereal Library