Jesus amaldiçoando a figueira

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Jesus amaldiçoando a figueira.
Entre 1886 e 1894. Por James Tissot, atualmente no Brooklyn Museum, em Nova Iorque.

Amaldiçoando a figueira é um dos milagres de Jesus e está relatado em Marcos 11:12–14, Marcos 11:20–25 e em Mateus 21:18–22, não aparecendo em Lucas. No texto de Marcos, o texto está dividido em duas partes: na primeira, logo após a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém e antes da segunda limpeza do Templo, Jesus amaldiçoa uma figueira por estar sem frutos; na segunda parte, presumivelmente no dia seguinte, a árvore definhou, o que estimulou Jesus a falar sobre a eficácia da oração.[1] Mateus apresenta o milagre como um único evento.

Narrativa bíblica[editar | editar código-fonte]

No Evangelho de Marcos:

«No dia seguinte, saindo eles de Betânia, teve fome. Vendo ao longe uma figueira que tinha folhas, foi ver se, porventura, acharia nela alguma coisa. Aproximando-se, nada achou senão folhas; porque ainda não era tempo de figos. Disse-lhe: Nunca jamais coma alguém fruto de ti; e seus discípulos ouviram isto.» (Marcos 11:12–14)
«Ao passarem de manhã, viram que a figueira estava seca até a raiz. Pedro, lembrando-se, disse-lhe: Olha, Mestre, secou-se a figueira, que amaldiçoaste! Tornou-lhes Jesus: Tende fé em Deus. Em verdade vos digo que quem disser a este monte: Levanta-te e lança-te no mar, e não duvidar no seu coração, mas crer que se faz o que ele diz, assim lhe será feito. Por isso vos afirmo: Tudo quanto suplicais e pedis, crede que o tendes recebido, e tê-lo-eis. Quando estiverdes orando, se tendes alguma coisa contra alguém, perdoai-lha; para que também vosso Pai que está nos céus, vos perdoe as vossas ofensas.» (Marcos 11:20–25)

No Evangelho de Mateus:

«Pela manhã, ao voltar à cidade, teve fome. Vendo uma figueira à beira do caminho, dela se aproximou, e não achou nela senão folhas; e disse-lhe: Nunca jamais nasça fruto de ti. No mesmo instante secou a figueira. Vendo isto os discípulos, maravilharam-se e perguntaram: Como é que repentinamente secou a figueira? Respondeu-lhes Jesus: Em verdade vos digo que se tiverdes fé e não duvidardes, fareis não só o que foi feito à figueira, mas até se disserdes a este monte: Levanta-te e lança-te no mar, isso será feito; e tudo o que com fé pedirdes em vossas orações, haveis de receber.» (Mateus 21:18–22)

A maioria dos estudiosos acredita que Marcos foi o primeiro evangelho a ser escrito e que foi utilizado como fonte para Mateus.[2] A diferença entre o incidente descrito em Marcos e a versão dada em Mateus pode ser explicada do ponto de vista da prioridade de Marcos, ou seja, Mateus revisou a história encontrada em Marcos.[3]

Interpretações[editar | editar código-fonte]

Mais informações: Marcos 11

A exegese tradicional cristã sobre este relato inclui a afirmação da divindade de Jesus ao demonstrar a sua autoridade sobre a natureza. O pensamento reformado tradicional afirma que este evento foi um sinal dado por Jesus sobre o fim da aliança exclusiva entre Deus e os judeus (veja supersessionismo). Sob este ponto de vista, a árvore seria uma metáfora para a nação judaica, que teria uma aparência externa grandiosa (as folhas), mas não estava mais produzindo nada para a glória de Deus (a falta de frutos). Esta interpretação está ligada à Parábola da Figueira Estéril.[4]

Uma vez que nem Mateus e nem Marcos explicam por que Jesus esperava encontrar frutos na árvore após terem explicitamente explicado que não era a estação de figos, céticos costumam apresentar esta história como uma evidência de contradição nos evangelhos.[5] Charles Bradlaugh sugeriu que amaldiçoar uma árvore viva seria contrário ao caráter de suposto criador benigno.[6]

F. F. Bruce afirma que as figueiras produzem 'taqsh' antes da estação se elas forem produzir frutos na época certa. Como esta não produziu, era um sinal de que ela não iria produzir fruto nenhum naquele ano.[7] Craig Keener se utilizou desta passagem como forma de datar o Evangelho de Mateus para uma data anterior, afirmando que apenas alguém com um forte conhecimento do Monte das Oliveiras teria sabido que suas figueiras estão cheias de folhas por volta da época da Páscoa.[8]

Referências

  1. Kinman, Brent (1995). Jesus' entry into Jerusalem: in the context of Lukan theology and the politics of his day. [S.l.]: Brill. p. 123. ISBN 9789004103306 
  2. Burkett, Delbert Royce, "An introduction to the New Testament and the origins of Christianity" (Cambridge University Press, 2002) p.143
  3. Davies, William David, & Allison, Dale C., "Matthew 19-28" () p.147
  4. Richard Whately, Lectures on Some of the Scripture Parables, John W. Parker and Son, 1859, p. 153.
  5. Donald Morgan. «Bible Inconsistencies: Bible Contradictions?». Infidels.org. Consultado em 6 de março de 2011 
  6. "Will you urge the love of Jesus as the redeeming feature of his teaching? Then read the story of the fig tree withered by the hungry Jesus. The fig tree was, if he were the all powerful God, made by him; he limited its growth and regulated its development; he prevented it from bearing figs, expected fruit when he had rendered fruit impossible, and in his 'infinite love' was angry that the tree had not upon it, what it could not have." - "Você colocaria o amor de Jesus como uma característica redentora de sua doutrina? Então leia a história da figueira que secou por causa de um Jesus faminto. A figueira foi, sendo ele o todo-poderoso Deus, criada por ele; ele limitou seu crescimento e regulou seu desenvolvimento; ele a impediu de ter figos e esperou que ela os tivesse quando tornou isso impossível e, em seu 'infinito amor' ficou nervoso por que a árvore não tinha algo que não poderia ter" --Charles Bradlaugh, Humanity's Gain From Unbelief, p. 82, Watts & Co., London, 1889
  7. Bruce, Frederick, 1992, "Are The New Testament Documents Reliable?", ISBN 0802822193, p 73-74.
  8. Keener, Craig, 1999, "A Commentary on the Gospel of Matthew", ISBN 0802838219, p 504.

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Clowes, John, 1817, The Miracles of Jesus Christ (J. Gleave, Manchester, UK)
  • Lockyer, Herbert, 1988 All the Miracles of the Bible, ISBN 0310281016
  • Kilgallen, John J., 1989 A Brief Commentary on the Gospel of Mark (Paulist Press, ISBN 0-8091-3059-9)
  • Maguire, Robert, 1863 The Miracles of Christ (Weeks and Co. London)
  • Trench, Richard Chenevix, Notes on the miracles of our Lord, (John W. Parker, 1846)
  • Van der Loos, H., 1965 The Miracles of Jesus (E.J. Brill, Netherlands)
  • Warren W. Wiersbe 1995 Classic Sermons on the Miracles of Jesus, ISBN 082543999X

Ver também[editar | editar código-fonte]

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

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