João Batista Rita
João Batista Rita | |
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Nascimento | 24 de julho de 1948 Braço do Norte |
Morte | Desconhecido Desconhecido |
Cidadania | Brasil |
Progenitores |
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Ocupação | estudante |
João Batista Rita (Braço do Norte ou Criciúma, 24 de junho de 1948 — ?, ?), também chamado Catarina, foi um estudante e militante das organizações M3G e Vanguarda Popular Revolucionária, durante a ditadura militar brasileira.[1][2] Desaparecido após ser preso em dezembro de 1973, após sua prisão pelo DOI-CODI em Buenos Aires, não se sabe o local e a data de sua morte. Também não há informação sobre seu sepultamento.[1] As circunstâncias de seu desaparecimento foram objeto de investigação da Comissão Nacional da Verdade.[3]
Biografia[editar | editar código-fonte]
João Batista Rita nasceu em 24 de junho de 1948 em Braço do Norte[2] ou Criciúma.[4] Era filho de Graciliano Miguel Rita e de Aracy Pereira Rita. Teve duas irmãs, Maria Rita Apolinário e Aidê Rita.[5] Foi descrito como uma pessoa de "estatura miúda".[6]
Realizou seus estudos no Ginásio Tereza Michel, em Criciúma. Depois, mudou-se para Porto Alegre, onde foi aluno no Colégio Julio de Castilhos.[5] Foi ativo no movimento estudantil do Rio Grande do Sul, em 1968.[7]
Foi detido em Porto Alegre em janeiro e abril de 1970, denunciado como ativista político.[5] À época, integrava o M3G, considerado próximo a Edmur Péricles Camargo.[6] Na prisão de abril, foi vítima de tortura no DOI-CODI, no Rio de Janeiro.[5] É indicado que João Batista Rita foi atuante em pelo menos três ações do M3G.[6]
No início dos anos 1970, João Batista Rita exilou-se no Chile, onde foi espionado pelos órgãos de repressão do governo brasileiro.[1] Sua mudança para o Chile deu-se no contexto da autorização de asilo concedida em 1971 como medida de solução ao sequestro de Giovani Enrico Bucher, diplomata suíço.[4]
Mudou-se para a Argentina após o golpe militar no Chile, onde participou da comunidade de militantes políticos organizados no Aparelhão, um local de hospedagem e articulação para opositores aos regimes ditatoriais do Cone Sul, situado em Buenos Aires. Rita casou-se com Amelia Barrera na Argentina, uma militante exilada chilena.[4]
Na sua estadia na Argentina e no Chile, João Batista Rita esteve sob custódia do ACNUR.[4]
Prisão e desaparecimento[editar | editar código-fonte]
João Batista Rita foi preso em Buenos Aires, em dezembro de 1973, no dia 5[1] ou 11.[4] A prisão foi realizada por agentes do DOI-CODI na Argentina,[8] com aval do governo argentino.[1] Na ação também foi preso Joaquim Pires Cerveira; a associação entre os órgãos de repressão brasileiro e argentino nesse caso específico deu-se no contexto de troca de informações que anteriormente levaram à prisão de Jean Henri Raya Ribard e Antonio Luciano Pregoni, ocorrida no Brasil em novembro de 1973.[9]
Foi destacado pela Comissão Nacional da Verdade o papel do coronel Floriano Aguilar Chagas, então funcionário da Embaixada do Brasil em Buenos Aires, na perseguição a João Batista Rita;[1] a família de Chagas entrou com pedido para a retratação da denúncia de envolvimento do coronel, mas o pedido foi negado pela Justiça brasileira.[10][11] Também foi citado Sérgio Paranhos Fleury como responsável pela abdução de João Batista Rita de Buenos Aires.[1]
Em artigo de 9 de fevereiro de 1974, o jornalista Patrick Keatley, de The Guardian, denunciou a abdução e conseguintes sessões de tortura a que João Batista Rita foi submetido, uma vez removido para a sede do DOI-CODI, no Rio de Janeiro. De acordo com a apuração de Keatley, Rita e Joaquim Pires Cerveira chegaram ao Rio de Janeiro em 13 de janeiro de 1974.[1] Foi na sede do DOI-CODI onde ambos foram vistos pela última vez.[4]
Acredita-se que no momento de sua prisão João Batista Rita preparava-se para mudar-se para a Itália.[6]
Investigação[editar | editar código-fonte]
Em sua investigação, a Comissão Nacional da Verdade considerou a prisão de João Batista Rita um caso exemplar da articulação dos órgão repressivos da América do Sul, no caso Brasil e Argentina, na perseguição a opositores aos governos ditatoriais.[1] A ação que levou à prisão de João Batista Rita em Buenos Aires, chamada Operação Mercúrio, foi considerada uma prévia da Operação Condor.[6]
O governo brasileiro foi indicado como responsável pelo desaparecimento de João Batista Rita, de acordo com a Lei nº 9.140/95.[5][12]
Além da investigação pela Comissão Nacional da Verdade,[13] as circunstâncias do desaparecimento de João Batista Rita foram objeto de pesquisa da Comissão Nacional sobre o Desaparecimento de Pessoas (CONADEP), da Argentina (registro 7.833),[5] e da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (registro 246).[6]
Homenagens[editar | editar código-fonte]
A memória de João Batista Rita foi homenageada em diversos eventos, nos anos 1980. Há uma rua em Cidade Dutra que porta seu nome.[12]
Ligações externas[editar | editar código-fonte]
Ver também[editar | editar código-fonte]
Referências
- ↑ a b c d e f g h i «João Batista Rita». Memórias da ditadura. Consultado em 13 de novembro de 2019
- ↑ a b «Mortos e Desaparecidos Políticos». www.desaparecidospoliticos.org.br. Consultado em 13 de novembro de 2019
- ↑ «CNV também apura desparecimento de João Batista Rita». ND+. 29 de março de 2014. Consultado em 13 de novembro de 2019
- ↑ a b c d e f «Relato: A BUSCA DA VERDADE por Derlei Catarina de Luca – Membro da Comissão Estadual da Verdade (SC) e Militante do Coletivo Catarinense Memória, Verdade, Justiça». 20 de julho de 2015. Consultado em 13 de novembro de 2019
- ↑ a b c d e f Rio Grande do Sul. Assembleia Legislativa. Comissão de Cidadania e Direitos Humanos. Relatório Azul 2008 / Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul -- Porto Alegre : CORAG, 2008.
- ↑ a b c d e f «Secretaria de Direitos Humanos | Morto ou desaparecido político». web.archive.org. 8 de fevereiro de 2019. Consultado em 14 de novembro de 2019
- ↑ «A ditadura de segurança nacional no rio grande do sul»
- ↑ Esparza, Marcia; Huttenbach, Henry R.; Feierstein, Daniel (10 de setembro de 2009). State Violence and Genocide in Latin America: The Cold War Years (em inglês). [S.l.]: Routledge. ISBN 9781135244958
- ↑ Verdade, Brasil Comissão Nacional da; DALLARI, Pedro B. A.; DELLI-ZOTTI, Guillermo MIRA; PÉREZ, José Manuel SANTOS (15 de outubro de 2017). Informe de la Comisión Nacional de la Verdad de Brasil (em espanhol). [S.l.]: Ediciones Universidad de Salamanca. ISBN 9788490127452
- ↑ «Comissão da Verdade reage e lista provas contra general». Roldão Arruda. Consultado em 13 de novembro de 2019
- ↑ «União não deve indenizar família de militar acusado pela Comissão da Verdade». Consultor Jurídico. Consultado em 13 de novembro de 2019
- ↑ a b «Mortos e Desaparecidos Políticos». www.desaparecidospoliticos.org.br. Consultado em 14 de novembro de 2019
- ↑ «Comissão da Verdade confirma investigação sobre 17 brasileiros desaparecidos no exterior». O Globo. 19 de março de 2013. Consultado em 14 de novembro de 2019