Saltar para o conteúdo

Johann August Ernesti

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Johann August Ernesti

Johann August Ernesti ([ɛərˈnɛsti]; de; 4 de agosto de 1707 – 11 de setembro de 1781) foi um teólogo luterano e filólogo racionalista alemão. Ernesti foi o primeiro a separar formalmente a hermenêutica do Antigo Testamento daquela do Novo Testamento.[1]

Biografia

[editar | editar código]

Ernesti nasceu em Tennstedt, no Saxônia (na atual Turíngia), onde seu pai, Johann Christoph Ernesti, era pastor e também superintendente das dioceses eleitorais da Turíngia, Salz e Sangerhausen. Aos dezesseis anos, Ernesti foi enviado à célebre escola monástica saxã de Pforta (Schulpforta). Aos vinte anos, ingressou na Universidade de Wittenberg e, posteriormente, estudou na Universidade de Leipzig. Em 1730, tornou-se mestre na faculdade de filosofia. No ano seguinte, aceitou o cargo de conreitor na Escola Thomana de Leipzig, da qual Johann Matthias Gesner era então reitor — cargo que Ernesti assumiu em 1734. Em 1742, foi nomeado professor extraordinário de literatura clássica na Universidade de Leipzig e, em 1756, professor ordinário de retórica. No mesmo ano, obteve o título de doutor em teologia e, em 1759, foi nomeado professor ordinário na faculdade de teologia. Por meio de sua erudição e de seu modo de discussão, colaborou com S. J. Baumgarten, de Halle (1706–1757), para desvincular a teologia dogmática dominante da ortodoxia luterana, bem como de quaisquer influências escolásticas ou místicas luteranas, abrindo assim caminho para uma revolução racionalista na teologia. Faleceu em Leipzig, após breve enfermidade, em seu septuagésimo sexto ano.[2]

Além da qualidade de seus próprios escritos, Ernesti é notável por sua influência na crítica sagrada e profana na Alemanha. Junto com J. S. Semler, colaborou na revolução racionalista da teologia luterana e, em conjunto com Gesner, instituiu uma nova escola de literatura clássica. Detectou sutilezas gramaticais no latim, especialmente quanto à concordância dos tempos verbais, que haviam escapado aos críticos anteriores.[2]

Como editor dos clássicos gregos, Ernesti não se compara a seus contemporâneos holandeses, como Tiberius Hemsterhuis, L. C. Valckenaer, David Ruhnken ou seu colega J. J. Reiske. A crítica histórica sequer foi tentada por Ernesti. Contudo, a ele e a Gesner deve-se o mérito de terem formado, por disciplina e exemplo, filólogos maiores do que eles mesmos e de terem despertado o entusiasmo nacional pelo estudo da Antiguidade.[3]

É sobretudo na hermenêutica que Ernesti reivindica destaque como teólogo. Nesse campo, seus méritos são notáveis e, à época da publicação de sua obra Institutio Interpretis Novi Testamenti (Princípios de Interpretação do Novo Testamento) (1761), quase exclusivos. Nela encontram-se os princípios de uma interpretação geral, formulados sem o auxílio de nenhuma filosofia específica, mas constituídos por observações e regras que, embora já enunciadas e aplicadas na crítica de autores profanos, nunca haviam sido rigorosamente empregadas na exegese bíblica. Foi, de fato, o fundador da escola gramático-histórica. Admite nos escritos sagrados, assim como nos clássicos, apenas uma acepção — a gramatical —, que considera equivalente à lógica e à histórica. Consequentemente, censura tanto a opinião daqueles que, na explicação das Escrituras, atribuem tudo à iluminação do Espírito Santo quanto a de outros que, ignorando todo conhecimento das línguas, pretendem explicar palavras por meio das coisas. A "analogia da fé", como regra interpretativa, é por ele fortemente limitada, ensinando que jamais pode, por si só, fornecer a explicação das palavras, mas apenas orientar a escolha entre seus significados possíveis. Ao mesmo tempo, parece não perceber qualquer inconsistência entre a doutrina da inspiração bíblica, tal como comumente aceita, e seus princípios hermenêuticos.[4]

Conflito com J. S. Bach

[editar | editar código]

A partir de 1736, Ernesti envolveu-se em uma disputa prolongada com J. S. Bach, que na época era cantor da Escola Thomana. A controvérsia dizia respeito à nomeação de um prefeito estudantil para liderar as apresentações musicais, indicação à qual Bach se opôs por motivos que Ernesti considerava infundados. Esse conflito acrimonioso resultou em múltiplas cartas às autoridades municipais e, por fim, ao rei, apesar do fato de Ernesti ter sido padrinho dos filhos de Bach.[5]

O seguidor mais notável de Ernesti foi o teólogo alemão de.[6]

Sua obra influenciou Johann Gottfried Herder[7] e Friedrich Schleiermacher.[8]

Obras sobre literatura clássica

Obras sobre literatura sagrada

  • Antimuratorius sive confutatio disputationis Muratorianae de rebus liturgicis (1755–1758)
  • Neue theologische Bibliothek, vols. i a x (1760–1769)
  • Institutio interpretis Nov. Test. (3ª ed., 1775)
  • Neueste theologische Bibliothek, vols. i a x (1771–1775)

Além dessas, publicou mais de cem obras menores, muitas das quais foram reunidas nas três publicações seguintes: Opuscula oratoria (1762); Opuscula philologica et critica (1764); Opuscula theologica (1773).[4]

  1. Samuel Davidson, Sacred Hermeneutics Developed and Applied: Including a History of Biblical Interpretation from the Earliest of the Fathers to the Reformation, Thomas Clark, 1843, p. 692.
  2. a b Chisholm 1911, p. 752.
  3. Chisholm 1911, pp. 752–753.
  4. a b Chisholm 1911, p. 753.
  5. Christoph., Wolff (2000). Johann Sebastian Bach : the learned musician. New York: W.W. Norton. ISBN 9780393322569. OCLC 42682699  pp. 349-350.
  6. Richard E. Palmer, Hermeneutics, Northwestern University Press, 1969, p. 82.
  7. Fernando Vidal, The Sciences of the Soul: The Early Modern Origins of Psychology, University of Chicago Press, 2011, p. 193 n. 31.
  8. Anthony C. Thiselton, New Horizons in Hermeneutics: The Theory and Practice of Transforming Biblical Reading, Harper Collins, 1997, p. 214.

Referências

[editar | editar código]

Ligações externas

[editar | editar código]