Cardosinho (pintor)

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Cardosinho
Nascimento 1861
Morte 1947 (85–86 anos)
Cidadania Brasil
Ocupação pintor, desenhista

José Bernardo Cardoso Júnior, mais conhecido como Cardosinho (Coimbra, 1861Rio de Janeiro, 1947) foi um pintor naïf luso-brasileiro.

Biografia[editar | editar código-fonte]

Radicou-se no Brasil com apenas três anos de idade, vindo com sua família, a qual depois perdeu toda em um acidente marítimo. Com isso ingressou no Seminário São José, desejando tornar-se padre. Seu bom aproveitamento lhe valeu uma bolsa de estudos na Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma, graduando-se em Filosofia. Em meio aos estudos de Teologia percebeu que não seria capaz de abandonar o século e retornou ao Brasil em 1877 para dedicar-se ao ensino de latim, português e francês no Colégio Batista de Juiz de Fora.[1][2]

Transferindo-se para Campos dos Goytacazes, foi indicado Inspetor Escolar, função que exerceu até aposentar-se aos 70 anos, quando passou a dedicar-se à pintura como lazer. Sua frequência na Sociedade de Artistas Brasileiros do Rio de Janeiro o levou a travar contato com Portinari e Foujita, que o incentivaram na arte, mas nunca fez um curso formal, desenvolvendo seu talento de forma autodidata. [1][2]

Sua obra foi uma das primeiras, dentro do universo naïf, a ser apreciada pela crítica de arte oficial brasileira,[1][3] estando hoje consagrado como um dos mais importantes representantes do estilo no Brasil.[4][5][6] Na apreciação de Robson Xavier da Costa, "os trabalhos desse artista nos remetem a um universo idílico e pessoal, ingênuo na sua composição, narrativo e fantástico; ele utilizava como fonte de informação para a execução da sua obra imagens retiradas de jornais, revistas e cartões postais. Suas temáticas são populares, figuras de animais, pessoas do povo, tragédias, brigas e o nu feminino".[3] Para Rubem Braga, a despeito da falta de preparo técnico, "Cardoso fêz quadros que ninguém sonharia — e que fazem sonhar".[7]

Tem obras no Museu Internacional de Arte Naif do Brasil,[1] no Museu de Arte Moderna de Nova Iorque,[3] na Tate Gallery de Londres e em coleções particulares. Deixou cerca de 600 trabalhos.[8] Entre as exposições realizadas destacam-se a participação no Salão Revolucionário na Escola Nacional de Belas Artes (1931); na Exhibition of Modern Brazilian Paintings que itinerou entre 1944 e 1945 pela Royal Academy of Arts, o Norwich Castle and Museum, a Kelvingrove Art Gallery and Museum, a Victoria Art Gallery, a Scottish National Gallery, o Bristol City Museum & Art Gallery e a Manchester Art Gallery; na Brasil 60 Anos de Arte Moderna: Coleção Gilberto Chateaubriand, mostrada em 1982 no Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão e na Barbican Art Gallery; no 7º Salão Nacional de Artes Plásticas (1984); na Tradição e Ruptura: síntese de arte e cultura brasileiras, na Fundação Bienal de São Paulo (1985),[9] e na Bienal Naïfs do Brasil (2004), o maior evento do gênero na América Latina.[5]

Deixou também três romances: Almas satânicas, Uma experiência fatal, e Um caso da vida real, além de um livro de poesia, Ideias e telas, que permanecem inéditos.[2]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. a b c d Ardies, Jacques & Andrade, Geraldo Edson de. A Arte Naïf no Brasil. São Paulo: Empresa das Artes, 1998.
  2. a b c Barbosa, Francisco de Assis. "O anjo da pintura brasileira". In : Diretrizes, 1941; IV (65):2
  3. a b c Costa, Robson Xavier da. Trajetórias do Olhar: pintura naïf e história na arte paraibana. Mestrado. Universidade Federal da Paraíba, 2007, pp. 45-48
  4. Gobbi, Nelson. "Como morre um museu: A quixotesca saga de uma Herdeira para salvar um acervo de 6 mil obras de Arte Naïf". Revista Época, 19/05/2018
  5. a b "Emoção em estado puro". SESC, 22/10/2004
  6. Machado, Natália Alves et al. "Razão, proporção e ordem de grandeza: a arte como elemento de discussão de conceitos". In: IV Congresso Nacional de Educação, João Pessoa, 2017
  7. Braga, Rubem. "Três Primitivos". In: Cadernos de Cultura — Ministério da Educação e Cultura, 1953
  8. Tigre, Bastos. Reminiscências: a alegre roda da Colombo e algumas figuras do tempo de antigamente. Thesaurus Editora, 1992, p. 216
  9. "Cardosinho". In: Enciclopédia Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2020