José Clemente Pozenato
José Clemente Pozenato Machado | |
---|---|
Nome completo | José Clemente Pozenato |
Nascimento | 22 de maio de 1938 São Francisco de Paula, RS |
Morte | 25 de novembro de 2024 (86 anos) Caxias do Sul, RS |
Nacionalidade | brasileira |
Ocupação | professor, escritor, tradutor |
Prémios |
|
José Clemente Pozenato (São Francisco de Paula, 22 de maio de 1938 – Caxias do Sul, 25 de novembro de 2024) foi um escritor, tradutor e professor brasileiro. Tem vasta produção no gênero da crônica e diversos livros de poesia e ficção, onde explora crítica e realisticamente o cenário e as tradições da região de colonização italiana do Rio Grande do Sul. Sua obra mais aplaudida é o romance histórico O Quatrilho, que recebeu versão cinematográfica indicada para o Oscar.
Faleceu no dia 25 de novembro de 2024. Ele estava hospitalizado no Hospital da Unimed para realizar um procedimento cardíaco, vindo a falecer após complicações.[1][2]
Carreira
[editar | editar código-fonte]Mudou-se para Caxias do Sul ainda jovem, ali ingressando no Seminário, depois aperfeiçoando seus estudos no Seminário Maior de Viamão, obtendo um bacharelado em Filosofia.[3] Fez mestrado em Estudos de Literatura Brasileira pela Universidade Federal de São Carlos, e doutorou-se em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, com a tese-romance A Babilônia. Ordenado padre, deixou o sacerdócio depois de 7 anos de ministério,[4] e foi lecionar literatura na Universidade de Caxias do Sul, onde foi pró-reitor de Planejamento e Desenvolvimento Institucional. Em Caxias também foi secretário municipal de Cultura, destacando-se em sua administração o Programa Permanente de Estímulo à Leitura.[5]
Obra
[editar | editar código-fonte]Pozenato iniciou na literatura como poeta, escrevendo, como pensa Rita Schmidt, versos que traem uma influência da lírica portuguesa, mesclando-a como um memorialista à sua bagagem de descendente de italianos, mas também incorporando elementos do cenário gauchesco típico da tradição rio-grandense. A evocação do passado, muitas vezes colorida de tintas épicas e míticas, contudo, acarreta a consciência da perda deste passado, surgindo o confronto com a realidade em eterno movimento e mudança.[6]
Sua estreia na prosa de ficção se deu com O Caso do Martelo (1985), uma novela policial que depois foi vertida para a televisão.[6] Segundo Charles Kiefer ele foi autor de uma literatura sólida e densa, que "parece seguir à risca aquele magnífico conselho de Dostoiévski: 'Se queres ser universal, pinta a tua aldeia'. [...] Como todos os grandes escritores de todos os tempos, conta uma boa história sem esquecer o detalhe significativo, sem perder-se em descrições inúteis, mergulhando na alma e nos sentimentos dos personagens. Saímos da leitura de seus livros com um travo de mosto na boca, um tanto embriagados, é verdade, mas certos de que o melhor que se tem a fazer com a vida é vivê-la com toda a intensidade possível".[7] Para Rita Schmidt ele conquistou um lugar definitivo na literatura contemporânea gaúcha com uma obra coerente, que "encontra na indagação da existência enquanto temporalidade seu eixo e sua diretriz".[6]
O Quatrilho (1985), sua obra mais conhecida, é uma descrição da vida de dois casais de imigrantes italianos. Embora não seja um documentário histórico no sentido estrito do termo, o cenário geral é reproduzido com bastante fidelidade. Como analisou Carlos Roberto Rangel, "Pozenato personifica a saga dos italianos no Rio Grande do Sul através das vidas das colônias. Desde as primeiras gerações, até o momento da desintegração do modelo minifundiário/familiar, o autor procura mostrar as incongruências, a sucessão dos pequenos dramas, os sacrifícios e a brutalização daquelas pessoas do mundo colonial". Para Monique Rodrigues, "O Quatrilho é mais um exemplo do quanto a História pode estar presente na Literatura de um povo, e de quanto essas obras literárias podem ser importantes para uma melhor compreensão de um determinado povo, falando até mesmo no âmbito escolar. Um romance não é o retrato fiel de uma sociedade, mas pode ser o início para a compreensão de todo um período histórico. E deve ser respeitado por isso".[8]
O Quatrilho compõe a primeira parte de uma trilogia, completada com com A Cocanha (2000) e A Babilônia (2006), que acentuam a desmontagem de antigos mitos coloniais que já havia desenvolvido no primeiro volume, superando, através de uma crítica da História e de uma ênfase no realismo, as chamadas "narrativas vitimárias e prometeicas das leituras étnico-apologéticas da colonização", como disse Mário Maestri. Para João Claudio Arendt, "não há exacerbação de heroísmos ou de fatalismos: a vida simplesmente transcorre com verossimilhança. E isso, no caso das representações sobre a imigração italiana no Rio Grande do Sul, é bastante".[9]
Também merecem nota suas centenas de crônicas, que em seu conjunto traçam um amplo panorama do mundo cultural da região de colonização italiana, que vem experimentando grandes transformações sob o impacto do multiculturalismo e da globalização. A dialética de encontros e atritos criada pelo contato entre a herança cultural colonial e a modernidade é um dos focos temáticos desta parte de seu trabalho, que de resto permeia toda a sua criação. Apesar de abraçar muitas das mudanças trazidas pelos tempos, fica nítida a marca de uma cultura de características distintivamente regionais. Para o autor, de fato, a exploração dos regionalismos é um importante meio de se produzir conhecimento.[10] Escreveu vários livros para crianças.[5]
Publicações
[editar | editar código-fonte]- 1967 - Matrícula (poesia)
- 1971 - Vária Figura (poesia)
- 1982 - Carta de Viagem (poesia)
- 1983 - Meridiano (poesia)
- 1985 - O Caso do Martelo (novela policial, adaptada para a televisão)
- 1985 - O Quatrilho (romance adaptado para o cinema)
- 1989 - O Caso do Loteamento Clandestino (novela policial)
- 1990 - O Jacaré da Lagoa (infantil)
- 1993 - Cánti Rústeghi (poesia)
- 1998 - O limpador de fogões (contos)
- 1999 - Conversa Solta (coletânea das crônicas publicadas no jornal Pioneiro)
- 2000 - O Caso do E-mail (novela policial)
- 2000 - A Cocanha (romance)
- 2001 - Pisca-tudo (infantil)
- 2008 - O Caso da Caçada de Perdiz (novela policial)
- 2009 - A Babilônia (romance, publicado primeiramente como sua tese de doutorado)
Distinções
[editar | editar código-fonte]Foi membro da Academia Sul-Brasileira de Letras, da Academia Rio-Grandense de Letras e do Conselho Estadual de Cultura. O romance histórico O Quatrilho, sua obra mais conhecida, foi adaptado para o cinema por Luiz Carlos Barreto. O filme homônimo foi indicado para o Oscar.[5]
Recebeu várias distinções: o Troféu Caxias na categoria Cultura (1986), os títulos de Cidadão Caxiense (1991), Personalidade do Livro, da Câmara Rio-Grandense do Livro (1995), e Patrono da Feira do Livro da cidade de Farroupilha (2009), o Prêmio Caxias da Câmara de Vereadores de Caxias do Sul (2015), concedido a quem se destaca pelos serviços prestados à comunidade,[5][11] e o Prêmio Reconhecimento Italiano da Serra (2015), oferecido pelo Grupo RBS para valorizar ações pela preservação da cultura italiana na região.[12] Seu ensaio O regional e o universal na literatura gaúcha (1974) foi premiado pelo Instituto Estadual do Livro, e sua tradução do Cancioneiro de Petrarca foi uma das finalistas do Prêmio Jabuti em sua 58ª edição.[13]
Referências
- ↑ "Morre, aos 86 anos, José Clemente Pozenato, autor de "O Quatrilho"". Pioneiro, 25/11/2024
- ↑ "Escritor José Clemente Pozenato, autor de 'O Quatrilho', morre aos 86 anos". g1, 25/11/2024
- ↑ Clemente, Elvo. "A literatura de italianos e descendentes no Rio Grande do Sul". In: Suliani, Antônio (org.). Etnias & carisma: poliantéia em homenagem a Rovílio Costa. EDIPUCRS, 2001, p. 410
- ↑ Pozenato deixou a Igreja para escrever livremente
- ↑ a b c d "Escritor José Clemente Pozenato recebe o Prêmio Caxias da Câmara de Vereadores". Pioneiro, 25/08/2015
- ↑ a b c Schmidt, Rita Terezinha. "Repetição e diferença: a sutura da História". In: José Clemente Pozenato. Série Autores Gaúchos nº 25. Instituto Estadual do Livro, 1995, 2ª ed., pp. 15-23
- ↑ Kiefer, Charles. "Depoimentos". In: José Clemente Pozenato. Série Autores Gaúchos nº 25. Instituto Estadual do Livro, 1995, 2ª ed., p. 24
- ↑ Rodrigues, Monique Cerini. "O Quatrilho: literatura e história na obra de José Clemente Pozenato". In: Revista e-Lato Sensu, 2013 (3):63-71
- ↑ Arendt, João Claudio. "Literatura, História e Imaginário no Romance A Cocanha" Arquivado em 22 de outubro de 2016, no Wayback Machine.. In: Nonada, 2009 (13)
- ↑ Boniatti, Ilva Maria. "Representatividade e ficcionalidade: as crônicas de José Clemente Pozenato e o espaço regional". In: Métis: história & cultura, 2003; 2 (4):93-105
- ↑ Academia Rio-Grandense de Letras. José Clemente Pozenato Arquivado em 13 de janeiro de 2017, no Wayback Machine..
- ↑ "Florenses são homenageados por serem italianos da serra". O Florense, 28/08/2015
- ↑ "Títulos da Unicamp são finalistas da primeira fase do Prêmio Jabuti". Notícias Unicamp, 23/10/2015
Ver também
[editar | editar código-fonte]- Nascidos em 1938
- Mortos em 2024
- Romancistas do Brasil
- Contistas do Rio Grande do Sul
- Novelistas do Brasil
- Escritores do Rio Grande do Sul
- Tradutores do Brasil
- Membros da Academia Rio-Grandense de Letras
- Ex-padres
- Professores da Universidade de Caxias do Sul
- Brasileiros de ascendência italiana
- Naturais de São Francisco de Paula (Rio Grande do Sul)