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Juan Vicente Gómez

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Juan Vicente Gómez
Presidente da Venezuela
Período19 de dezembro de 1908
a 17 de dezembro de 1935
(de forma intermitente)
Antecessor(a)Cipriano Castro
Sucessor(a)Eleazar López Contreras
Dados pessoais
Nascimento24 de julho de 1857
La Mulera, Táchira, Venezuela
Morte27 de dezembro de 1935 (78 anos)
Maracay, Venezuela

Juan Vicente Gómez Chacón (24 de julho de 185717 de dezembro de 1935) foi um militar, político e presidente da Venezuela, que governou em ditadura de 1908 até sua morte em 1935. Em seus 27 anos de regime, ficou conhecido pelo fim das guerras civis, a modernização do Estado e a transformação da Venezuela em uma nação petroleira.[1][2]

Apesar de sua ditadura sangrenta, seu regime sempre tentou manter uma fachada constitucional e democrática, empregando presidentes como Victorino Márquez Bustillos e Juan Bautista Pérez, subordinados a Gómez, que nesse vácuo de poder exercia o cargo de Comandante-em-Chefe.[3][4][5]

Da década de 1910 até a década de 1930, Gómez ajudou a consolidar o Estado Venezuelano e a modernizar o país, ao permitir que investidores, nacionais e estrangeiros, livremente explorassem as recém-descobertas jazidas de petróleo.[6]

Em consequência dessa maior liberdade, a Venezuela vivenciou um substantivo crescimento econômico e rapidamente se transformou em um dos países mais prósperos da América Latina já na década de 1950.

Primeiros anos

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Gómez nasceu em uma família proeminente de latifundiários andinos que viviam em La Mulera.[7] Ele foi o primogênito de Pedro Cornelio Gómez e Hermenegilda Chacón Alarcón.[8] Em 1899, juntou-se ao exército privado de Cipriano Castro, de quem era amigo desde o exílio de Castro na Colômbia. Esse exército desceu sobre Caracas em 1899 e tomou o controle do país. Ele se tornou segundo vice-presidente de Castro em 1901, primeiro vice-presidente em 1904,[9] e, em 1902, chefe do exército, responsável por reprimir várias revoltas importantes contra o governo na Batalha de Ciudad Bolívar em 21 de julho de 1903. Gómez tomou o poder de Castro em um golpe de Estado em 19 de dezembro de 1908, enquanto Castro estava na Europa para tratamento médico. Sua relação já estava abalada havia algum tempo, como demonstrado pelo episódio de La Conjura.

Presidência

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Gómez em 1899
Gómez e Cipriano Castro

Como presidente, Gómez conseguiu reduzir a dívida externa da Venezuela concedendo concessões a companhias estrangeiras de petróleo após a descoberta de petróleo no Lago de Maracaibo em 1914. Isso lhe garantiu apoio dos Estados Unidos e da Europa, além de estabilidade econômica. Embora tenha usado o dinheiro para iniciar um extenso programa de obras públicas, também recebeu propinas generosas, aumentando enormemente sua fortuna pessoal. Por suas contribuições para o desenvolvimento do país, o Congresso concedeu-lhe o título de El Benemérito ("O Benemérito"). Em contraste, seus opositores, que desprezavam suas táticas brutais no país, chamavam-no de El Bagre ("o Bagre"), uma referência sarcástica ao seu grande bigode e aparência. Também o chamavam de "O Tirano dos Andes" – referência às suas origens no estado montanhoso de Táchira.

Gómez passou o último ano de seu mandato em campanha militar, e José Gil Fortoul atuou como presidente de facto. Gómez foi reeleito em 1914, mas recusou assumir o cargo, e Victorino Márquez foi eleito presidente provisório em seu lugar. Contudo, entendia-se que Gómez continuava detendo o poder real; ele governava o país de sua casa em Maracay. Retornou ao cargo em 1922, governando até 22 de abril de 1929. Embora tenha sido reeleito pelo Congresso, recusou-se a voltar à capital, e Juan Bautista Pérez assumiu a presidência, embora Gómez continuasse como autoridade final no país. Em 13 de junho de 1931, o Congresso forçou Pérez a renunciar e elegeu Gómez presidente novamente. Desta vez, ele reassumiu o cargo, governando o país até sua morte.

Oposição

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A Geração de 1928 foi um grupo de estudantes que liderou protestos em 1928 contra Gómez na capital, Caracas. Entre seus membros estavam Rómulo Betancourt, Jóvito Villalba, Joaquin Gabaldon Marquez, Juan Oropeza, Raúl Leoni, Andrés Eloy Blanco, Miguel Otero Silva, Pedro Sotillo, Isaac J Pardo, Juan Bautista Fuenmayor, Germán Suárez Flamerich e Gustavo Machado.

Vida pessoal

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Gómez nunca se casou; entretanto, teve duas companheiras. A primeira foi Dionisia Gómez Bello, com quem teve sete filhos: José Vicente, Josefa, Alí, Flor de María, Graciela, Servilia e Gonzalo. A segunda foi Dolores Amelia Núñez Linares de Cáceres, com quem teve nove filhos: Juan Vicente, Florencio, Rosa Amelia, Hermenegilda, Cristina, Belén, Berta, Manuel Antonio e Juan Crisóstomo Gómez.[8] Gómez também teve muitos outros filhos em relações breves: pelo menos 64 e possivelmente até 99.[carece de fontes?] Ele nomeou muitos de seus filhos para cargos públicos, gerando acusações de nepotismo.[carece de fontes?]

Gómez não bebia nem fumava.[10]

Gómez e Eleazar López Contreras em 1934

O governo de Gómez é um período controverso da história da Venezuela. A longevidade de seu mandato torna difícil uma avaliação imparcial. Durante sua presidência, houve a descoberta de grandes campos de petróleo no país, que seriam desenvolvidos principalmente durante os governos de seus sucessores.[11] Sua insistência na construção de estradas e na criação de empregos na então nova indústria do petróleo promoveu a mobilidade populacional e o contato social mais frequente entre venezuelanos de diferentes regiões – algo raro até então – consolidando um sentimento de unidade nacional.[12] Ele encerrou guerras civis e insurreições políticas ao subjugar os caudilhos regionais e fortalecer seu próprio poder, resultando em décadas de paz no país.[12] Ironicamente, a eliminação do problema dos caudilhos e a escolha de Eleazar López Contreras como seu último ministro da Guerra e Marinha abriram caminho para a emergência da democracia moderna; veja Geração de 1928. Ele pagou toda a dívida externa e interna com reservas excedentes; seu conservadorismo fiscal ajudou o país a superar a Crise de 1929 e a Grande Depressão, elevando o valor do bolívar a ponto de torná-lo moeda forte.[12]

Por outro lado, ele é considerado por alguns um dos exemplos mais claros de dominação econômica dos Estados Unidos sobre a América Latina. Durante seu governo, a maior parte da riqueza nacional ficou concentrada nas mãos de Gómez e de seus aliados e, segundo Woddis, de Wall Street.[13] No momento de sua morte, era de longe o homem mais rico do país. Embora tenha trazido paz e prosperidade maiores do que a maioria dos venezuelanos vivos já conhecera, isso ocorreu às custas da democracia. Ele desprezava as liberdades civis básicas, e sua polícia secreta era onipresente. Também fez pouco pela educação pública (acreditava que "um povo ignorante é um povo dócil").[carece de fontes?] Embora cordial e simples em sua maneira de falar, sua repressão implacável contra opositores lhe rendeu a reputação de tirano. Foi acusado de tentar transformar o país em seu feudo pessoal.

Sob Gómez, a Venezuela alcançou certo grau de independência e progresso financeiro. Após a descoberta de petróleo próximo ao Lago de Maracaibo em 1914, Gómez negociou habilmente com as companhias petrolíferas dos Estados Unidos, Reino Unido e Países Baixos em benefício da Venezuela. Manteve relações estreitas com países estrangeiros e conseguiu liquidar toda a dívida externa. Exercia controle sobre os caudilhos locais e a Igreja Católica, lançou muitos programas de obras públicas e organizou uma administração "verde".[14] Anticomunista convicto, Gómez via o comunismo e os sindicatos como ameaças ao regime e reprimiu ambos, chamando o primeiro de "praga" e o segundo de "ferramenta do diabo".[15]

John Gunther descreveu Gómez assim:

Referências

  1. «Gómez, Juan Vicente (1857–1935)». encyclopedia.com 
  2. «Juan Vicente Gómez - ByV». Biografias y Vidas 
  3. «5 Características do governo de Juan Vicente Gómez». Maestrovirtuale 
  4. «Relaciones civiles-militares en el siglo XX venezolano - Capítulo I - Finales del siglo XIX e inicios del XX: Desde la desaparición de las huestes caudillescas hasta el predominio de los pretorianos». www.resdal.org 
  5. «Gobierno de Juan Vicente Gómez». Fundación Polar 
  6. Juan Vicente Gómez - Encyclopædia Britannica
  7. «Juan Vicente Gómez». Biografia y Vidas. Consultado em 3 de maio de 2014 
  8. a b «Family tree... Dispersed: Juan Vicente Gomez: A Monster, A Saint or Just a Human being». 27 de setembro de 2010. Cópia arquivada em 8 de março de 2019 
  9. Rosales, Manuel Landaeta (1905). «Gobiernos de Venezuela desde 1810 hasta 1905» (em espanhol). Tip. Herrera Irigoyen & ca. 
  10. Gunther, John (1941). Inside Latin America. New York: Harper & Brothers. p. 183 
  11. Ewell, Judith (1991), Bethell, Leslie, ed., «Venezuela since 1930»Subscrição paga é requerida, ISBN 978-0-521-26652-9, Cambridge University Press, The Cambridge History of Latin America: Volume 8: Latin America since 1930: Spanish South America, 8, pp. 727–790, doi:10.1017/chol9780521266529.014 
  12. a b c Caballero, Manuel (2007) Gómez, El Tirano Liberal 6ª edição. Alfadil Ediciones.
  13. Woddis, J. (1967). An Introduction to Neocolonialism London: Lawrance & Wichart.
  14. «Juan Vicente Gómez | Venezuelan dictator | Britannica». Encyclopædia Britannica (em inglês). Consultado em 12 de novembro de 2022 
  15. Lavin, John, A Halo for Gomez (1954), pp. 244–45