Judas, irmão de Jesus

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Judas, chamado de um dos irmãos de Jesus, segundo o Novo Testamento (em grego: ἀδελφοί, transl.: adelphoi).[1][2] Ele é tradicionalmente identificado como sendo o autor da Epístola de Judas, uma curta epístola que é uma das sete Epístolas católicas (em contraposição às Epístolas paulinas) do Novo Testamento e considerada cânonica em todo o Cristianismo.[3][4] Uma vez que Tiago, o Justo, primeiro "bispo" de Jerusalém, também é considerado irmão de Jesus, Judas é também chamado de Judas, irmão de Tiago (veja Tiago, o Justo). Também é tradicionalmente e amplamente identificado como sendo o apóstolo Judas Tadeu.

Descendentes[editar | editar código-fonte]

Hegésipo, um escritor cristão do século II d.C., menciona descendentes de Judas vivendo durante o período do imperador romano Domiciano (81 - 96 d.C.). Eusébio de Cesareia relata o seguinte em sua História Eclesiástica (III, 19-20):

Mas quando o mesmo Domiciano comandou que todos os descendentes de David fossem assassinados, uma antiga tradição afirma que alguns dos heréticos acusaram os descendentes de Judas (dito irmão do Senhor pela carne), com base em sua linhagem vinda de Davi e sua relação com o próprio Cristo. Hegésipo relata esses fatos usando as seguintes palavras.
 
História Eclesiástica, Eusébio de Cesareia[5].

Seguem as palavras de Hegésipo:

Da família do Senhor ainda estão vivos os netos de Judas, que acredita-se que tenha sido irmão do Senhor pela carne. Foram passadas informações de que eles seriam da família de Davi e eles foram levados até o imperador Domiciano pelo Evocatus, pois Domiciano temia a vinda de Cristo como Herodes também temeu. Ele os perguntou se eles eram descendentes de Davi e eles confessaram que eram. Então ele os perguntou quais eram as suas propriedades e quanto dinheiro eles tinham. E ambos responderam que eles tinham apenas nove mil denários, metade para cada um. E estas posses não consistiam de prata, mas de um pedaço de terra de trinta e nove acres sob os quais eles coletavam impostos e se sustentavam por seu próprio trabalho. E eles foram perguntados sobre Cristo e o seu reino, de que tipo era, onde estava e quando seria, ao que eles responderam que não se tratava de um reino temporal e nem terreno, mas um reino celestial e angélico, que apareceria no final dos tempos, quando ele virá em toda glória para julgar os vivos e os mortos, dando à cada um de acordo com as suas obras. Ouvindo isso, Domiciano não passou seu julgamento contra ele, desprezando-os como se não tivessem importância, e os deixou partir. E, por decreto, encerrou a perseguição à Igreja. Após terem sido soltos, eles lideraram as igrejas por terem sido testemunhas e também parentes do Senhor. E a paz tendo sido estabelecida, eles viveram até o tempo de Trajano.

Estas foram as palavras de Hegésipo.

 
História Eclesiástica, Eusébio de Cesareia, citando Hegésipo[6].

Eusébio termina seu relato afirmando que eles sofreram o martírio sob o imperador Trajano (98 - 117 d.C.), ainda citando Hegésipo (Hist. Ecles. III, 32.5):

O mesmo historiador afirma que havia outros também, descendentes de um dos assim chamados irmãos do Senhor, cujo nome era Judas, que, após terem dado seu testemunho perante Domiciano, como já foi relatado, em nome da fé em Cristo, viveram até o mesmo reinado [de Trajano]. Assim escreve Hegésipo: "Eles vieram, portanto, e tomaram a liderança de todas as igrejas como testemunhas e como parentes do Senhor. E uma paz profunda tendo sido estabelecida, assim permaneceram até o reinado de Trajano e até que o já mencionado Simeão, filho de Cleofas, um tio do Senhor, foi dedurado pelos heréticos e foi, igualmente, acusado da mesma pena [ser descendente de Davi] perante o governador Atticus. Após ter sido torturado por muitos dias, ele sofreu o martírio e todos, incluindo até mesmo o procônsul, se maravilharam que, com a idade de cento e vinte anos, ele conseguiu aguentar tanto tempo. E ordens foram dadas para que ele fosse crucificado.
 
História Eclesiástica, Eusébio de Cesareia, citando Hegésipo[7].

Epifânio de Salamina, em sua obra Panarion, menciona um Judas Ciríaco (Judas de Jerusalém), bisneto de Judas, como tendo sido o último bispo de Jerusalém judeu antes da Revolta de Barcoquebas[8].

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. Mateus 13:55: "οὐχ οὖτός ἐστιν ὁ τοῦ τέκτονος υἱός; οὐχ ἡ μήτηρ αὐτοῦ λέγεται μαριὰμ καὶ οἱ ἀδελφοὶ αὐτοῦ ἰάκωβος καὶ ἰωσὴφ καὶ σίμων καὶ ἰούδας;"
  2. Marcos 6:3 e Mateus 13:55
  3. "De Viris Illustribus - Jude, the brother of James", em inglês.
  4. Bauckham, Richard (2004). Jude and the relatives of Jesus in the early church (em inglês). [S.l.]: Continuum International Publishing Group 
  5. «19». História Eclesiástica. Domitian commands the Descendants of David to be slain. (em inglês). III. [S.l.: s.n.]  |nome1= sem |sobrenome1= em Authors list (ajuda)
  6. «20». História Eclesiástica. The Relatives of our Saviour. (em inglês). III. [S.l.: s.n.]  |nome1= sem |sobrenome1= em Authors list (ajuda)
  7. «32». História Eclesiástica. Symeon, Bishop of Jerusalem, suffers Martyrdom. (em inglês). III. [S.l.: s.n.]  |nome1= sem |sobrenome1= em Authors list (ajuda)
  8. Epifânio de Salamina. «xi». In: Frank Williams (trad.). Panarion (em inglês). I. [S.l.]: Brill Academic Pub. ISBN 90-04-07926-2