Língua macu-camã

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Macu-camã
Pronúncia:/dɤw/
Falado(a) em:  Brasil
Região: Amazonas, região do Rio Negro
Total de falantes: 142[1]
Família: Maku
 Nadahup
  Macu-camã
Escrita: Alfabeto latino
Códigos de língua
ISO 639-1: --
ISO 639-2: ---
ISO 639-3: kwa

A língua macu-camã (dâw; /dɤw/) é falada pela comunidade dos macu-camãs de Waruá, na margem direita do rio Negro no município de São Gabriel da Cachoeira. Possui 142 falantes e está em situação vulnerável.[2][1] Conjuntamente com as línguas hupda, iuhupdeh e nadëbe, a língua dâw faz parte do grupo Nadahup ou oriental da família maku.[3] Na sua morfologia, destaca-se seu caráter monossilábico, mesmo na combinação de palavras.

Etimologia[editar | editar código-fonte]

Os macu-camãs autodenominam-se dâw que significa gente ou pessoa. Também pode ser interpretado como gente do nosso grupo. A língua, leva o mesmo nome do povo, o que revela uma relação intima entre o idioma e o pertencimento étnico.[1]

Distribuição[editar | editar código-fonte]

Os macu-camãs vive dentro da terra indígena médio rio Negro I,[4] já homologada, e da terra indígena Jurubaxi, declarada em 2017.[5]

Fonologia[editar | editar código-fonte]

O sistema fonológico macu-camã é composto por vinte e cinco consoantes e quinze vogais, nove orais e seis nasais.[6]

Vogais Anteriores Central Posteriores Arredondadas
Fechadas i ĩ ɯ ɯ̃ u ũ
Semifechadas ɵ ɤ o
Semibertas ɛ ɛ̃ ɔ ɔ̃
Aberta a ã

As vogais se realizam laringealizadas quando ocorrem do lado da oclusiva glotal, por exemplo em /nɯʔ/ [nɯ̰́ʔ] ("faltar", "carecer").[6]

Consoante Labial Alveolar Palatal Velar Glotal
oclusivas surdas p t c k ʔ
oclusivas sonoras b d ɟ ɡ
nasais m n ɲ ŋ
nasais glotalizadas ɲˀ
fricativas surdas ʃ x h
aproximantes w
lateral l
lateral globalizada
aproximantes w j
aproximantes glotalizadas

Quando sucedem vogais orais, as consoantes nasais são realizadas como pré-oralizadas bm, dn, ɟɲ, gŋ. Na posição inicial /c/ e /k/ se realizam como ejectivas [] y [].[6]

Tons[editar | editar código-fonte]

O macu-camã é uma língua tonal na qual o tom é um fenômeno fonológico supra-segmental que atribui diferentes alturas às palavras, as quais implicam diferenças lexicais, o que significa que as palavras se contrastam pelo tom. Registra dois tipos de tons de contorno: tom ascendente (↑V, é) e tom descendente (↓V, è) e há segmentos atonais (tom zero ∅).[6]

Ortografia[editar | editar código-fonte]

Os linguistas Valteir e Silvana Martins, desenvolveram um alfabeto para ortografia macu-camã que consiste na representação gráfica de vogais e consoantes.[7]

fonema grafema fonema grafema
p p t t
c ç k k
ʔ ' b b
d d ɟ j
g g ʃ s
x x h r
m m n n
ɲ nh ŋ gn
l l w w
j y i i
ɯ ū u u
e ê ɤ â
o ô ɛ e
a a ɔ o

Gramática[editar | editar código-fonte]

Pronomes[editar | editar código-fonte]

pessoais[editar | editar código-fonte]

Em macu-camã os pronomes pessoais são morfemas independentes, em sua maioria monossilábicos, que não distinguem gênero. A primeira e a segunda pessoa do singular possuem pronomes específicos para sujeito enfático e objeto, nas demais pessoas do discurso, o sufixo -vʔ que segue o pronome pessoal indica foco e o caso afetado -ɯ̃´j ligado ao nome ou pronome indica que esse está em posição de objeto.[6]

pronomes pessoais
1ª pessoa do singular (sujeito) ʔãh
1ª pessoa do singular sujeito enfocado hãʔ
1ª pessoa do singular objeto (obliquo) mɯ̃´ɲ
2ª pessoa do singular ãʔ
2ª pessoa do singular sujeito enfocado ʔãm
2ª pessoa do singular objeto (oblíquo) m'ɯ̃´j'
3ª pessoa do singular animado e inanimado tih
1ª pessoa do plural ʔid
1ª pessoa do plural hortativo me
1ª pessoa do plural hortativo enfático wɤʔ
2ª pessoa do plural nɯ̃g
3ª pessoa do plural animado e inanimado hid

Possessivos[editar | editar código-fonte]

Os pronomes possessivos são definidos em macu-camã pelos pronomes pessoais seguidos pelo sufixo -ɛ̃´ɟ, exceto a primeira pessoa do singular, que possui sua forma própria mɛ̃´ɲ.[6]

Substantivos[editar | editar código-fonte]

Gênero, número e caso[editar | editar código-fonte]

Em macu-camã gênero e número dos nomes são indicados por palavras preferencialmente. O gênero é designado por ʔã´j ‘fêmea’ e xut ‘macho’, porém, para terceira pessoa do plural e do singular não há distinção gênero. O número pode ser determinado conjuntivos, por numerais, por suprafixo tonal ascendente ‘aumentador’ e 'conjuntivizador’. essas noções podem servir como referenciais de pluralidade ou de pertencer a um conjunto.[6]

Verbos[editar | editar código-fonte]

Os verbos na linguagem macu-camã tem seu tempo evidenciados por meio de morfemas que podem aparecer como sufixos ou palavras livres, alguns podem apresentar status duplo, porem majoritariamente das vezes aparecem como sufixos, como exemplo tem a palavra que indica futuro imediato "ʔẽ´j" e a que indica passado "ʔéʔ". O aspecto do verbo, por sua vez em sua maioria derivam de verbos e possuem o status de palavra gramatical. O modo imperativo dos verbos são formados pelo verbo junto com o sufixo que indica imperativo "-ɔh" ou com o sufixo que indica imperativo negativo "-'ɛ̃hiĩh". Na língua macu-camã existe um sufixo modal que exprime a ideia de veracidade "-ĩh" que se manifesta de maneira extramétrica.[6]

Sentença[editar | editar código-fonte]

existem duas ordens básicas de sentença na língua macu-camã, as clausulas assertivas seguem a ordem sujeito + verbo + objeto, já as não assertivas, como as imperativas e interrogativas, seguem a ordem verbo + sujeito + objeto. Contudo, em clausulas focalizadas, essas frases assertivas podem assumir a ordens diferentes. A frase segue a forma verbo + objeto + sujeito quando o sujeito está em foco, este sujeito é obrigatoriamente marcado pelo morfema -Vʔ. Já quando o objeto, obrigatoriamente marcado pelo morfema -Vʔ, está em foco, a forma seguida é objeto + verbo + sujeito.[6]

Referências

  1. a b c «Dâw». Povos Indígenas no Brasil. Consultado em 3 de outubro de 2021 
  2. «languages-atlas». UNESCO Atlas of the World's Languages in Danger. Consultado em 29 de abril de 2022 
  3. Martins, Valteir (2005). Reconstrução fonológica do Protomaku oriental (Tese de Doutorado, Netherlands Graduate School of Linguistics). Utrecht: LOT. ISBN 90-76864-71-3 
  4. «terrasindigenas». médio Rio NegroI. Consultado em 1 de maio de 2022 
  5. «terras indigenas». Jurubaxi. Consultado em 1 de maio de 2022 
  6. a b c d e f g h i Martins, Silvana Andrade (2004). Fonologia e Gramática Dâw (Tese de Doutorado, Vrije Universiteit Amsterdam). Utrecht: LOT. ISBN 90-76864-65-9 }
  7. Obert, Karolin (2019). a codificação linguística do espaço na língua dâw (Tese de Doutorado, faculdade de filosofia, letras e Ciências Humanas do estado de São Paulo). [S.l.: s.n.]