Língua taíno

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
(Redirecionado de Língua taína)
Taíno
Falado(a) em: Bahamas, Cuba, República Dominicana, Haiti, Jamaica, Porto Rico, Ilhas Turcas e Caicos, Ilhas de Barlavento (Caribe)
Região: povos Taínos, Ciboneis, Lucaianos
Total de falantes: extinta no século XVI[1]
Família: Aruaque
 Norte
  Ta-Aruaque
   Taíno
Códigos de língua
ISO 639-1: --
ISO 639-2: ---
ISO 639-3: tnq

Taíno ou taino[2] é uma língua extinta e ainda mal atestada como sendo uma língua aruaque que foi falada pelos taínos do Caribe. Na época do primeiro contato espanhol com as Américas, era o idioma principal em todo o Caribe. O Taíno Clássico (Taíno propriamente dito) era o idioma nativo das Ilhas de Barlavento do norte, Porto Rico, Ilhas Turcos e Caicos, da maioria de Hispaniola, e estava se expandindo em Cuba. Fontes coloniais sugerem que o cibonei era um dialeto do Taíno e era falado na Hispaniola, nas Bahamas, na Jamaica e na maior parte de Cuba.

No final do século XV, o Taíno havia desalojado idiomas anteriores, exceto no oeste de Cuba e em bolsões de Hispaniola. Como a cultura Taíno declinou durante a colonização espanhola, a língua foi substituída pelo espanhol e outros idiomas europeus. Acredita-se que tenha sido extinta depois de cerca de 100 anos de contato com europeus[1] mas possivelmente continuou a ser falada em bolsões isolados do Caribe até as décadas finais do século XIX.[3] Como foi a primeira língua nativa encontrada pelos europeus nas Américas, foi uma fonte importante de novas palavras tomadas por línguas europeias.

Dialetos Taínos nas Antilhas Pré-Colombianas

Granberry & Vescelius (2004) distinguem dois dialetos, um em Hispaniola e mais a leste, e o outro em Hispaniola e mais a oeste.

  • Taíno Clássico (oriental), falado nas áreas culturais Taíno Clássico e Taíno Oriental. Estas foram as Ilhas de Barlavento ao norte de Guadalupe, Porto Rico, Hispaniola central e as Ilhas Turcas e Caicos (de uma expansão em cerca de 1200). O Taíno clássico estava se expandindo para o leste e mesmo para o centro de Cuba na época da conquista espanhola, talvez das pessoas que fugiam dos espanhóis em Hispaniola.
  • Taíno Cibonei (ocidental), falado nas áreas culturais Cibonei e Lucaiana. Estas eram a maior parte de Cuba, Jamaica, Hispaniola ocidental e Bahamas.

Outros autores como C.S. Rafinesque (1836) distinguem um maior número de dialetos, incluindo:

  • Taíno Aipiri-Ciboney, falado em Cuba e Bahamas.
  • Taíno Bimini, falado no sul da Flórida.
  • Taíno Boriken, falado em Porto Rico.
  • Taíno Cairi, falado em Trinidad.
  • taino eyeri, falado nas Pequenas Antilhas e em Porto Rico.
  • Taíno haitiano, falado no Haiti atual.
  • Taino jamaicano, falado na Jamaica.
  • Taíno Lucaiano, falado nas Bahamas.[4]

Escrita[editar | editar código-fonte]

O Taíno é escrito com o alfabeto latino sem as letras C, H, Q, V, porém usa a forma Ny.

Fonologia[editar | editar código-fonte]

O subdialeto de Lucayo (Bahamas) (ou talvez o dialeto de Ciboney) tinha /n/ onde outros dialetos (talvez o Taíno Clássico) tinham /r/. Há uma variação nas presenças entre "e" ~ "i" e "o" ~ "u", talvez refletindo a transcrição das três vogais estáveis das línguas Aruaques nas cinco vogais do espanhol.

A língua Taíno não foi escrita. Os Taínos usavam petroglifos, que podem ser interpretados como "pré-escrita" ou protoescrita, [5] mas tem havido pouca pesquisa na área. Os seguintes fonemas são reconstruídos a partir de registros espanhóis:[6]

consoantes reconstruídas Taíno
Bilabial Alveolar Palatal Velar Glotal
Plosiva Tênuis p t k
Fortis b d
Fricativa s h
Nasal m n
Aproximante w l j

Houve também uma vibrante [ɾ], que parece ter sido um alofone de /d/.

Vogais reconstruídas Taíno
Anterior Central Posterior
Fechada i
Medial e
ɛ
o
Aberta a

Uma distinção entre /ɛ/ e /e/ é sugerida por transcrições espanholas de e versus ei/ey, como em ceiba, "ceiba". /e/ é escrita ei ou é nas modernas reconstruções. Houve, também, uma vogal alta posterior [u], que foi, muitas vezes, intercambiável com /o/ e pode ter sido um alofone.

Havia um conjunto paralelo de vogais nasais. A única no final de uma sílaba de uma palavra era /s/.

Amostras de texto[editar | editar código-fonte]

Apúshua aránagu jemeíwa táshi óta wánawa ábo japúlima óta pansawánagu. Najak'agáma ekixíjira óta goízbaná óta toká kojutá ábo wanéya aránagu alú goíz oría ro'naboríkajat. (Artíkulo 1 oría Banajíyaluwát Atabaríju oría Ará Pansawánagu)

Traduçãoː

Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. Eles são dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros em espírito de fraternidade. (Artigo 1 da Declaração Universal dos Direitos Humanos)

Hino Nacional de Porto Rico (La Borinqueña/Borikén'ât Areytoarát)[editar | editar código-fonte]

Axíjira, boríkua, Najak'busiká-itpá ayawá! Axíjira, toká jekísa sabárawa! Ináka roarát, mat’guatú Bik'ât matunaí? Guaríko! Guak'toká-iná tayno canyon'ât guátu. Guak'axéka barakutáshi, Guak'ât maxétekoá Guak'busiká. Guak'ibá, boríkuanagu, Guak'ibá jolú. Barakutáshi Guak'úkaja. Barakutáshi, Barakutáshi! Barakutáshi, Barakutáshi!

Influência[editar | editar código-fonte]

Como foi a primeira língua com a qual os espanhóis tomaram contato na América, a língua taina legou, à língua espanhola, muitas palavras descrevendo plantas, animais e práticas culturais tipicamente americanas que os espanhóis desconheciam. Do espanhol, esses termos passaram a outras línguas europeias como a inglesa, a portuguesa e francesa. A língua taina também legou muitas palavras ao dialeto jibaro do espanhol de Porto Rico,[7] e também influenciou na formação do crioulo haitiano.[2]

Lista de palavras[editar | editar código-fonte]

Lista de palavras taino:(Ramirez 2019: 647-648; 2020: 132):[8][9]

Português Taino Comparações
1sg (eu) da(t)ʃa / da- loko da-, guajiro ta-
3msg (ele) n- iñeri/loko lɨ-, guajiro/paraujano nɨ-
positivo ka- proto-arawak *ka-
testa -simu iñeri/loko (i)sibʊ
olho -ako iñeri -akʊ, loko -kʊ́ si
dente -ahi iñeri/loko -ari, guajiro -a(l)i, bahuana -ahɨ
seio (mama) t-oo loko -ʊdiʊ, iñeri -ʊri
1 heketi iñeri l-iketi “só”, loko ikin(i) “só”
2 jamoka iñeri/loko biama
3 kanokum loko kabɨ(hi)n, iñeri kabʊni
4 jamõko-bre iñeri biam-bʊri, loko bia-bite
pai (?) oheri iñeri -kʊsili
amigo -tiao iñeri -tí(ɲ)aʊ͂
no meio nakan iñeri anakɨ, loko nakan
floresta arkabuko iñeri ara-bʊ, loko ada
campo savana bahuana hamadɨ, aruã hamade
caverna (buraco) ʃagweje iñeri ʃawai
preto xej bahuana (i)tʃai, wapixana iʃa etc.
roça konuko loko kʊnʊkʊ “floresta”, wapixana/parawana/aruã kanʊkʊ “id.”
mar ba(ha)wa iñeri/loko/karib/etc. barawa / barana
forno burán iñeri bʊrale(t), loko bʊdali
remo nahe iñeri néhene, loko -na(ha)le, yavitero néhʊ, maipure nau, baré néheʊ
rato kori iñeri/loko/wapixana kʊri, guajiro kuimatʃoulu
pimenta (h)aʃi iñeri ati, loko (h)at(h)i, guajiro (h)aʃi
urucu biʃa iñeri biʃe(t), *JC pɨSɨ-ri
1pl (nós) wa- proto-arawak *wa-
negativo ma- / majani loko/iñeri ma- / mani
dependentizador -te loko/iñeri -te
orelha -ariken iñeri -arikai, loko -dike
nádega, ânus t-arima iñeri -ari(ʊ)ma
avô -aroko- iñeri -ar(ʊ)kʊti, loko -adʊkʊti
céu turei bahuana tɨraɨtsɨ
tempestade hurakan
altura haïti / wi(h)o loko aiʊmi, iñeri ĩjʊ
pedra siba iñeri/loko siba
casa bu(h)io iñeri -ʊbʊȷ͂e
partir -iba iñeri/loko -iba
banco duho guajiro tulu, warao duhu “sentado”

Empréstimos[editar | editar código-fonte]

Alguns empréstimos lexicais:[8]

Taíno sentido influência nas línguas contemporâneas
barbakoa grelha barbecue (inglês)
kasiké chefe cacique
kaimã jacaré caimán (espanhol), caiman (inglês), caimão
kaniba Caribe canibal
kanowa canoa canoa
kasabi mandioca casava (espanhol), cassava (inglês)
kaya ilha cayo (espanhol), cay, caye ou key (inglês), caye (francês), cay (alemão)
seba ceiba
wayaba goiaba guayaba (espanhol), guava (inglês), goyave (francês), goiaba
hamaka rede de descanso hamaca (espanhol), hammock (inglês), hamac (francês), maca
hurakã (/hodakã/?) tempestade? huracán (espanhol), hurricane (inglês), ouragan (francês), furacão
iwana iguana iguana
mahis, máhisi milho maíz (espanhol), maisena
manatí peixe-boi manatí (espanhol), manatee (inglês), lamantin (francês), lamantino (italiano), manati
papaya mamão papaia
batata batata-doce patata (espanhol), potato (inglês), patata (italiano), patate (francês), patata (basco), patates (turco), patata (grego), batata
sabana (poucas árvores?) sabana (espanhol), savane (francês), savanna (inglês), savana (italiano), savanne (alemão), savana
taíno parentes taíno
tabako tabaco tabaco (espanhol), tabak (alemão), tobacco (inglês), tabac (francês), tabaco

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Payne D.L., "A classification of Maipuran (Arawakan) languages based on shared lexical retentions", in: Derbyshire D.C., Pullum G.K. (eds.), Handbook of Amazonian Languages, vol. 3, Berlin, 1991.
  • Derbyshire D.C., "Arawakan languages", in: Bright, William (ed.), International Encyclopedia of Linguistics, vol. 1, New York, 1992.

Notas[editar | editar código-fonte]

  1. a b Alexandra Aikhenvald (2012) Languages of the Amazon, Oxford University Press
  2. a b FERREIRA, A. B. H. Novo dicionário da língua portuguesa. 2ª edição. Rio de Janeiro. Nova Fronteira. 1986. p. 1 641.
  3. Reyes, David (2004). «The Origin and Survival of the Taíno Language» (PDF). Issues in Caribbean Amerindian Studies. 5 (2). Consultado em 19 de fevereiro de 2017 
  4. Rafinesque, C. S. THE AMERICAN NATIONS; OR, Outlines of A National History; OF THE ANCIENT AND MODERN NATIONS OF NORTH AND SOUTH AMERICA. Vol. 1, C. S. Rafinesque, 1836, ia800202.us.archive.org/2/items/nationsamerica01rafirich/nationsamerica01rafirich.pdf
  5. http://www.tainoage.com/meaning.html
  6. Granberry, Julian & Vescelius, Gary. Languagues of the Pre-Columbian Antilles. The University of Alabama Press 2004. p. 92.
  7. Boriquen. Disponível em http://tainopride.webs.com/tainoenglishglossary.htm. Acesso em 12 de maio de 2018.
  8. a b Ramirez, Henri (2019). Enciclopédia das línguas Arawak: acrescida de seis novas línguas e dois bancos de dados. (no prelo)
  9. Ramirez, Henri (2020). Enciclopédia das línguas Arawak: acrescida de seis novas línguas e dois bancos de dados 🔗. 3 1 ed. Curitiba: Editora CRV. 290 páginas. ISBN 978-65-251-0234-4. doi:10.24824/978652510234.4 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]