Lei de Gutenberg-Richter

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Lei de Gutenberg–Richter para b = 1
Traçado da Lei de Gutenberg-Richter para vários valores de b.

Lei de Gutenberg-Richter é a designação dada em sismologia ao modelo probabilístico que descreve a relação entre a magnitude, medida na Escala de Richter, e o número total de sismos com pelo menos dada magnitude que ocorre em determinada região num determinado período de tempo.[1]

Descrição[editar | editar código-fonte]

A lei de Gutenberg-Richter pode ser expressa pela seguinte equação:

ou

Onde:

  • é o número de eventos tendo magnitude
  • e são constantes determinadas especificamente para cada região.

A existência de uma relação probabilística entre a magnitude dos sismos e a frequência da sua ocorrência foi inicialmente proposta por Charles Francis Richter e Beno Gutenberg num artigo publicado em 1956.[2]

A lei de potência que descreve esta relação entre magnitude e frequência de ocorrência é notavelmente estável, apesar dos valores das constantes e variarem significativamente de região para região e com o tempo.

O parâmetro (em geral referido como o valor-b) é em geral próximo de 1,0 em regiões com sismicidade activa. Tal significa que para cada evento de magnitude 4,0 na escala de Richter existirão 10 eventos de magnitude 3,0 e 100 eventos de magnitude 2,0 na mesma escala.

Alargando uma diversidade maior de regiões, os valores-b apresentam alguma variabilidade, situando-se em geral entre 0,5 to 2 dependendo do tipo de mecanismo focal predominante na região.[3] Um exemplo notável desta variabilidade ocorre durante a ocorrência de enxames sísmicos quando o valor de pode subir até 2,5, indicando uma muito elevada proporção de pequenos sismos em relação aos de maior magnitude.

Não há pleno consenso sobre a interpretação de algumas variações espaciais e temporais observados nos valores de . Os factores mais frequentemente citados para explicar estas variações são: a tensão aplicada ao material,[4] a profundidade,[5] o tipo de mecanismo focal predominante,[6] a heterogeneidade na resistência do material,[7] e a proximidade da macro-rotura.

A diminuição nos valores observada antes da ruptura de amostras deformadas em laboratório[8] levou à sugestão de que este é um precursor de macro-ruptura e portanto do desencadear do sismo.[9]

A física estatística fornece um quadro teórico para explicar tanto a estabilidade da Lei de Gutenberg-Richter para grandes catálogos de sismos e sua evolução quando o sistema se aproxima da macro-ruptura, mas a sua aplicação na previsão de sismos está actualmente fora do alcance.[10] Por outro lado, um valor b significativamente diferente de 1,0 pode sugerir que existem problemas com o conjunto de dados, como, por exemplo, ser incompleta ou conter erros no cálculo das magnitudes.

Há uma diminuição aparente do valor b para eventos de menor magnitude em todos os catálogos empíricos de terramotos. Este efeito é descrito como o "roll-off" do valor b, uma descrição devida ao traçado da versão logarítmica da Lei de Gutenberg-Richter se tornar mais plano na extremidade de baixa magnitude do gráfico. Este efeito pode, em grande parte, ser causada pelo conjunto de dados ser incompleto devido à incapacidade de detectar e caracterizar pequenos eventos. Ou seja, muitos sismos de baixa magnitude não são catalogados porque menos estações sísmicas os detectam e registam devido à diminuição do sinal instrumental para valores próximos dos níveis de ruído. Alguns modernos modelos de dinâmica de sismos, no entanto, prevêem um roll-off físico na distribuição da magnitude dos pequenos sismos.[11]

O valor é de menor interesse científico e é um simples indicador da taxa de sismicidade total da região. Ista relação é mais facilmente observada quando a lei de Gutenberg-Richter é expressa em termos do número total de eventos:

onde

é o número total de eventos.

Modernas teorias explicativas da Lei de Gutenberg-Richter recorrem às teorias de criticalidade auto-organizada e da autossimilaridade.

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. Gutenberg and Richter, , pages 17–19 ("Frequency and energy of earthquakes").
  2. Gutenberg, B., Richter, C. F., 1956. Magnitude and Energy of Earthquakes. Annali di Geofisica, 9: 1–15
  3. Bhattacharya et al, p. 120
  4. Scholz, C. H. (1968), The frequency-magnitude relation of microfracturing in rock and its relation to earthquakes, BSSA, 58(1), 399–415.
  5. Mori, J., et R. E. Abercombie (1997), Depth dependence of earthquake frequency-magnitude distributions in California: Implication for rupture initiation, Journal of Geophysical Research, 102(B7), 15081–15090.
  6. Schorlemmer, D., S. Wiemer, et M. Wyss (2005), Variations in earthquake-size distribution across different stress regimes, Nature, 437, 539–542, doi: 10.1038/nature04094.
  7. Mogi, K. (1962), Magnitude frequency relations for elastic shocks accompanying fractures of various materials and some related problems in earthquakes, Bull. Earthquake Res. Inst. Univ. Tokyo, 40, 831–853.
  8. Lockner, D. A., et J. D. Byerlee (1991), Precursory AE patterns leading to rock fracture, in Vth Conf. AE/MS Geol. Str. and Mat., édité par Hardy, pp. 45–58, Trans Tech Publication, Germany, The pennsylvania State University.
  9. Smith, W. D. (1981), The b-value as an earthquake precursor, Nature, 289, 136–139; doi:10.1038/289136a0.
  10. Amitrano, D. (2012), Variability in the power-law distributions of rupture events, how and why does b-value change, Eur. Phys. J.-Spec. Top., 205(1), 199–215, doi:10.1140/epjst/e2012-01571-9.
  11. Bhattacharya et al, pp. 119–121
    Pelletier, pp. 34–36.

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Pathikrit Bhattacharya, Bikas K Chakrabarti, Kamal, and Debashis Samanta, "Fractal models of earthquake dynamics", Heinz Georg Schuster (ed), Reviews of Nonlinear Dynamics and Complexity, pp. 107–150 V.2, Wiley-VCH, 2009 ISBN 3-527-40850-9.
  • B. Gutenberg and C.F. Richter, Seismicity of the Earth and Associated Phenomena, 2nd ed. (Princeton, N.J.: Princeton University Press, 1954).
  • Jon D. Pelletier, "Spring-block models of seismicity: review and analysis of a structurally heterogeneous model coupled to the viscous asthenosphere" Geocomplexity and the Physics of Earthquakes, American Geophysical Union, 2000 ISBN 0-87590-978-7.