Lei zero da termodinâmica
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A lei zero da termodinâmica afirma que "se dois corpos A e B estão separadamente em equilíbrio térmico com um terceiro corpo C, então A e B estão em equilíbrio térmico entre si". Essa lei permite a definição de uma escala de temperatura, como por exemplo, as escalas de temperatura Celsius, Fahrenheit, Kelvin, Réaumur, Rankine, Newton e Leiden.


No ano de 1853, Rankine definiu temperaturas iguais da seguinte maneira: "Duas porções de matéria são ditas como tendo temperaturas iguais se nenhuma delas tende a transferir calor a outra".[1] Isso significa que quando os corpos estão em equilíbrio térmico, não há uma diferença de energia térmica entre eles, portanto não ocorre transferência de calor.
O conceito intuitivo que temos sobre temperatura é muito subjetivo. As palavras quente e frio foram criadas para facilitar o entendimento da sensação térmica. Essa sensação varia para cada pessoa, portanto não é considerada. Estes termos servem para nos ajudar a compreender a teoria. Por exemplo, se em um dia frio tocarmos em um objeto de madeira e em um de metal, ambos à temperatura ambiente, por exemplo, teremos a impressão de que o objeto de metal está mais frio. Isso ocorre porque, como nosso corpo não está em equilibro térmico com eles, haverá troca de energia em forma de calor entre nosso corpo e os objetos. Como o metal é melhor condutor que a madeira, o calor será transferido mais rapidamente e é essa troca rápida de energia que nos dá a impressão de que o material está mais frio. Por isso, no lugar dessas noções, a Física utiliza o conceito de temperatura.
Quando um corpo é aquecido ou resfriado, certas características podem se modificar como por exemplo volume, comprimento ou resistência elétrica. A variação dessas características pode ser relacionada a sua variação de temperatura e a partir disso é possível criar um instrumento que meça a temperatura em uma certa escala. A escala de Newton tomou referências o congelamento e a temperatura do corpo humano (36,36 °C), respectivamente 0°N e 12°N. A escala de temperatura Celsius define a temperatura de solidificação da água, como sendo 0 °C e a de ebulição da água como 100 °C, quando submetidos à pressão de 1 atmosfera. Já a escala Fahrenheit, define a temperatura do gelo como 32 °F e a do vapor como 212 °F, quando submetidos à pressão de 1 atmosfera. Na escala Kelvin (escala absoluta) o ponto de fusão do gelo corresponde a 273 K e o ponto de ebulição da água corresponde a 373 K.
O significado físico da lei foi expressado por Maxwell nas seguintes palavras: “Todo calor é do mesmo tipo”. Por essa razão, um outro ditado desta lei é “Todas as paredes diatérmicas são equivalentes”.[2]
A Lei Zero como relação de equivalência
[editar | editar código-fonte]Um sistema termodinâmico está, por definição, em seu próprio estado de equilíbrio termodinâmico, ou seja, não há mudança em seu estado observável (isto é, em seu macroestado) com o tempo, e não há fluxo no sistema. Uma declaração precisa da lei zero é que a relação de equilíbrio térmico é uma Relação de equivalência em pares de sistemas termodinâmicos.[3]
Em outras palavras, pode-se dizer que se um corpo A, está em equilíbrio térmico com dois outros corpos, B e C, então B e C estão em equilíbrio térmico com o outro. Sendo assim, considera-se o equilíbrio térmico como uma relação transitiva e assume esta característica se encontra em duas situações:
- se ambos os sistemas estão em equilíbrio (A, B e C);
- e se mantém assim quando os sistemas são colocados em contato, possibilitando assim a troca de calor, mas não de trabalho ou partículas.[4]
Com isso, podemos definir uma temperatura ou uma escala termométrica.
A Lei Zero é a condição básica necessária para a existência de uma função temperatura, então não é apenas uma relação transitiva, mas também uma relação de equivalência, o que significa que é uma lei reflexiva e simétrica.
A Lei Zero recebeu esse nome porque é mais fundamental do que qualquer um dos outros. Entretanto, a necessidade de declará-lo explicitamente como uma lei não foi percebida até a primeira metade do século XX, bem depois que as primeiras três leis já estavam em uso, por isso a numeração ‘zero’. Ainda há discussão sobre seu status em relação às outras três leis.[5]
Surgimento da temperatura
[editar | editar código-fonte]Temperatura é o grau de agitação dos átomos ou moléculas de um corpo. Independentemente do estado físico do corpo (sólido, líquido ou gasoso), quanto maior for essa agitação, maior será a sua temperatura.[5]
No espaço dos parâmetros termodinâmicos, as zonas de temperatura constante formam uma superfície, que fornece uma ordem natural de superfícies próximas. Pode-se, construir uma função de temperatura global que forneça uma formação contínua de estados. A dimensionalidade de uma superfície de temperatura constante é um menor do que o número de parâmetros termodinâmicos, portanto, para um gás ideal descrito com três parâmetros termodinâmicos P, V e N, é uma superfície bidimensional. Por exemplo, se dois sistemas de gases ideais estão em equilíbrio, então
Onde Pi é a pressão no i do sistema, Vi é o volume e Ni é a quantidade (em mol, ou simplesmente o número de átomos) de gás.
A superfície PV/N=constante define superfícies de temperatura termodinâmica iguais e pode-se rotular a definição de T de modo que
Onde R é constante. Estes sistemas agora podem ser usados como um termômetro para calibrar outros sistemas. Tais sistemas são conhecidos como "termômetros de gás ideais".
Para que se possa realizar a medida da temperatura, precisa-se de uma escala termométrica. Existem três escalas que são mais utilizadas, sendo elas, Kelvin, Fahrenheit e Celsius. O astrônomo e físico Anders Celsius criou a escala Celsius em 1742. Ao utilizar como base o gelo, que seria o ponto de fusão da água, ele atribuiu a esse grau de agitação o valor 0 ºC. Ao ponto de ebulição da água, o valor foi 100 ºC.[6]
O físico alemão Daniel Gabriel Fahrenheit utilizou a mesma lógica de Celsius, mas com substâncias diferentes. Atribuiu a uma mistura de água líquida e gelo com cloreto de amônia (NH4Cl) o valor de 0 ºF. Posteriormente, uma mistura de gelo e água líquida, atribuindo o valor de 32 ºF, mais um ponto foi utilizado como base, sendo este a temperatura do corpo humano ao qual ele atribuiu como 96 ºF.
Lorde Kelvin criou uma escala um pouco mais lógica. Como a temperatura é a medição da agitação de moléculas, ele se perguntava se poderia existir algum momento em que a temperatura fosse zero, ou seja, um momento em que não houvesse agitação nenhuma das moléculas. Sendo assim, ele criou o conceito de zero absoluto, que seria a temperatura em que as moléculas ficariam totalmente paradas, nomeando como 0 K.[6]
Histórico
[editar | editar código-fonte]A Lei Zero da Termodinâmica tem esta denominação graças à Ralph H. Fowler (1889-1944), um grande físico inglês, que no século XX depois de muito tempo de desenvolvimento da lei experimental, à considerou como uma lei básica, pois sem ela o conceito de temperatura não poderia ser definido e é postulado que: “Se dois corpos estiverem em equilíbrio térmico com um terceiro, estarão em equilíbrio térmico entre si”. Contudo, se fez necessária a estruturação da apresentação da Termodinâmica de uma forma mais logica, como a primeira e a segunda lei já haviam sido formuladas, então, surgiu o termo Lei Zero. Desde então esta denominação vem sendo utilizada em física.[7]
Importância da Lei Zero
[editar | editar código-fonte]Toda lei da física tem sua relevância, assim como a Lei Zero da termodinâmica, que curiosamente foi a última lei a ser introduzida na literatura. Após a constatação de que o calor é uma forma de energia que poderia ser transformada em outra, a Termologia passou a ser chamada de Termodinâmica. Para se obter uma estrutura lógica na apresentação da Termodinâmica, era necessário colocar uma outra lei antes das que já haviam sido enunciadas (1ª lei e 2ª lei). Assim, essa outra lei recebeu o nome de Lei Zero da Termodinâmica.[6]

Com os fundamentos desta lei, podemos garantir a possibilidade de usarmos um termômetro Z para averiguar se dois corpos X e Y estão em equilíbrio. Para isso, basta conferir se os dois corpos têm a mesma temperatura.
Referências
- ↑ Truesdell, C.A. (1980). The Tragicomical History of Thermodynamics, 1822-1854, Springer, New York, ISBN 0-387-90403-4, page 262.
- ↑ Maxwell, J.C. Theory of Heat. Longmans, Green, and Co., London.
- ↑ Lieb, E.H., Yngvason, J. (1999). The physics and mathematics of the second law of thermodynamics, Physics Reports, 310: 52.
- ↑ Halliday, D., Krane K. S. Física 2. 5 ed. Editora LTC.
- ↑ a b Gaspar, A. Física: série Brasil. 1ª ed. Editora: Ática.
- ↑ a b c Sears; Zemansky; Física II – Termodinâmica e Ondas; 12ª ed. Editora: Saraiva.
- ↑ Lieb, E.H., Yngvason, J. (1999). The physics and mathematics of the second law of thermodynamics, Physics Reports, 310: 52
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- Halliday, Resnick e Walker; Fundamentos de Física – Volume 2 - 8ª edição
- Sears e Zemansky; Física II – Termodinâmica e Ondas - 10ª edição
- Tipler, Paul A; Física - Volume 1 - 5ª edição, página 597