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Luciano Mendes de Almeida

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Luciano Pedro Mendes de Almeida
Arcebispo da Igreja Católica
Arcebispo de Mariana
Info/Prelado da Igreja Católica
Atividade eclesiástica
Ordem Companhia de Jesus
Diocese Arquidiocese de Mariana
Nomeação 6 de abril de 1988
Predecessor Oscar de Oliveira
Sucessor Geraldo Lyrio Rocha
Mandato 1988 - 2006
Ordenação e nomeação
Profissão Solene 15 de agosto de 1964
Ordenação presbiteral 5 de julho de 1958
Roma
Nomeação episcopal 25 de fevereiro de 1976
Ordenação episcopal 2 de maio de 1976
por Paulo Evaristo Cardeal Arns, O.F.M.
Lema episcopal IN NOMINE JESU
Nomeado arcebispo 6 de abril de 1988
Brasão arquiepiscopal
Dados pessoais
Nascimento Rio de Janeiro
5 de outubro de 1930
Morte São Paulo
27 de agosto de 2006 (75 anos)
Nacionalidade brasileiro
Progenitores Mãe: Emília de Melo Vieira
Pai: Cândido Mendes de Almeida Júnior
Funções exercidas -Bispo auxiliar de São Paulo (1976-1988)
Títulos anteriores -Bispo titular de Túrris em Proconsular (1976-1988)
dados em catholic-hierarchy.org
Arcebispos
Categoria:Hierarquia católica
Projeto Catolicismo

Dom Luciano Pedro Mendes de Almeida S.J. (Rio de Janeiro, 5 de outubro de 1930São Paulo, 27 de agosto de 2006) foi um religioso jesuíta e bispo católico brasileiro. Foi o quarto arcebispo de Mariana.

CNBB apresenta emendas à constituição, Dom Luciano Mendes, presidente da CNBB, entrega os documentos.

Nasceu no Rio de Janeiro, em 5 de outubro de 1930, filho de uma tradicional família carioca, católica e de vasta bagagem cultural[1], era filho do Conde Cândido Mendes de Almeida Júnior e Emília de Melo Vieira Mendes de Almeida (segundos Condes Mendes de Almeida); neto do primeiro Conde Mendes de Almeida; bisneto do jurista e senador do Império Cândido Mendes de Almeida; e, por este, trineto de Fernando Mendes de Almeida e tetraneto de João Mendes de Almeida. Também era trineto de Honório Hermeto Carneiro Leão, Marquês de Paraná. Dom Luciano era irmão do acadêmico Cândido Antônio Mendes de Almeida, terceiro Conde Mendes de Almeida e reitor da Universidade Cândido Mendes.

O jovem Luciano destacava-se por sua aptidão para a matemática e pelo comportamento exemplar nos estudos. Divertia-se fazendo caricaturas de amigos e familiares, demonstrando talento e senso de humor. Seu espírito aventureiro o levava a praticar montanhismo e a participar ativamente do escotismo, onde vivenciou suas primeiras experiências de liderança e trabalho em equipe.[1]

Fez seus primeiros estudos no Colégio Santo Inácio, no Rio de Janeiro (1941-1945) e no Colégio Anchieta, em Nova Friburgo (1946-1950).

Ingressou na Companhia de Jesus no dia 2 de março de 1947. Realizou estudos na Casa de Formação dos Jesuítas em Nova Friburgo (1951-1953) e na Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma (1955-1959). Fez seu doutorado em Filosofia na Universidade Gregoriana (1960-1965).[2]

Sua ordenação presbiteral ocorreu em 5 de julho de 1958, em Roma, quando tinha vinte e oito anos de idade. No ano seguinte, concluiu sua formação espiritual em Florença e, ao longo dos cinco anos seguintes, conciliou o trabalho como orientador dos estudantes do Colégio Pio Brasileiro, em Roma, com a elaboração de sua tese de doutorado em Filosofia. Em 15 de agosto de 1964, professou seus votos definitivos na Companhia de Jesus, selando de forma plena sua consagração religiosa.[1]

Presbiterado

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De volta ao Brasil, dedicou-se ao ensino, lecionando Filosofia em Friburgo e, posteriormente, em São Paulo, onde permaneceu por quase uma década. No âmbito da Companhia de Jesus, exerceu diversas funções de destaque, entre elas a de instrutor da Terceira Provação, etapa destinada à formação final dos jesuítas, cargo que ocupou por cinco anos. Entre 1973 e 1975, atuou como Delegado Interprovincial e vice-presidente da Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB) em São Paulo, além de ter sido eleito secretário da histórica 32ª Congregação Geral da Companhia de Jesus.[1]

Episcopado

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Bispo auxiliar de São Paulo

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Foi nomeado pelo Papa Paulo VI, no dia 25 de fevereiro de 1976, bispo auxiliar de São Paulo e titular de Túrris em Proconsular, sua nomeação se deu a partir de indicação do próprio Dom Paulo Evaristo Arns. Sua ordenação episcopal deu-se a 2 de maio do mesmo ano,[2] pelas mãos do cardeal Paulo Evaristo Arns, O.F.M., Clemente José Carlos de Gouvea Isnard O.S.B. e Benedito de Ulhôa Vieira.

Dom Luciano foi designado para a Região Leste da Arquidiocese de São Paulo, conhecida como Região do Belém, um território marcado por fortes contrastes sociais, onde conviviam famílias de classe média e uma grande população em situação de extrema pobreza, residentes de favelas, cortiços e ruas.[1]

Profundamente sensibilizado pela realidade das crianças em vulnerabilidade, Dom Luciano assumiu a missão de defender e incluir esses menores. Com determinação e sensibilidade pastoral, mobilizou colaboradores, clérigos e leigos, transformando a ação evangelizadora em uma obra social dinâmica e transformadora. Dessa vivência concreta nasceu e se expandiu a Pastoral do Menor, que, sob sua inspiração, multiplicou-se e se espalhou por todo o Brasil, tornando-se referência nacional na defesa dos direitos das crianças e adolescentes.[1]

Em 1979, foi eleito secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), cargo que ocupou, após reeleição, até 1987, quando foi escolhido presidente da entidade, função que exerceu por dois mandatos consecutivos, ao longo de oito anos. Teve também atuação de destaque no cenário continental, como membro e vice-presidente do Conselho Episcopal Latino-Americano (CELAM). Nesse contexto, participou ativamente da III Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano, realizada em Puebla, no México, em 1979, encontro que deu continuidade às diretrizes de Medellín (1968) e reafirmou o compromisso da Igreja latino-americana com os pobres, com a justiça social e com a plena vivência das orientações do Concílio Vaticano II.[1]

Arcebispo de Mariana

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Em abril de 1988, um ano após ser eleito presidente da CNBB, foi nomeado o quarto Arcebispo de Mariana. Sua chegada revitalizou a ação pastoral da Arquidiocese, marcada por proximidade com o povo e forte impulso missionário. Promoveu uma reorganização administrativa, dividindo a Arquidiocese em cinco regiões pastorais e criando vicariatos regionais para dinamizar a evangelização.[1]

Inspirado pelo Concílio Vaticano II, incentivou amplamente a participação dos leigos e realizou quatorze Assembleias de Pastoral, das quais surgiram os Planos de Evangelização voltados à construção de uma sociedade mais justa, inspirada nos valores do Reino de Deus. Também reestruturou e fortaleceu diversos conselhos arquidiocesanos, entre eles o Conselho Arquidiocesano de Pastoral (CAP), o Conselho para Assuntos Econômicos (CAE), o Conselho Presbiteral, o Conselho dos Leigos (CLAM), a Comissão dos Diáconos Permanentes, e os conselhos regionais, paroquiais e comunitários.[1]

Demonstrou especial zelo pelo Seminário São José e pela formação do clero, ordenando 96 sacerdotes e incentivando a qualificação dos presbíteros no Brasil e em Roma.[1]

Deu continuidade ao trabalho de preservação do patrimônio artístico e cultural da Arquidiocese, atuando com dedicação na recuperação de igrejas históricas e obras barrocas. Conseguiu apoio de instituições públicas e privadas para restaurar mais de 35 templos, além de orientar diversas outras obras. Concluiu ainda a recuperação do célebre órgão Arp Schnitger, da Catedral Basílica, e promoveu a reforma do antigo Palácio dos Bispos, transformado em 2006 no Centro Cultural Dom Frei Manoel da Cruz, sede dos Museus do Livro e da Música.[1]

Acidente de carro

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Na manhã de sexta-feira, 23 de fevereiro de 1990, sofreu um grave acidente automobilístico que quase lhe tirou a vida. A notícia abalou profundamente toda a Arquidiocese. No acidente, faleceu o padre Ângelo Mosena (SJ), enquanto Dom Luciano ficou em estado crítico, travando uma longa e dolorosa luta pela sobrevivência.[1]

Movido pela fé e pelo amor ao seu pastor, o povo uniu-se em orações e novenas, pedindo pela sua recuperação. De todas as partes do mundo chegaram quase duas mil cartas com mensagens de solidariedade e esperança.[1]

Sua recuperação foi lenta e exigiu grande resistência: passou por catorze cirurgias e, em apenas um braço, sofreu mais de vinte fraturas. Durante o período em que esteve impossibilitado de falar, Dom Luciano comunicava-se por meio de bilhetes, acompanhando atentamente as notícias sobre a Arquidiocese e demonstrando, mesmo em meio ao sofrimento, o seu inabalável zelo pastoral.[1]

Enfermidade e falecimento

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Em junho de 2006, já demonstrava sinais de cansaço e fragilidade. Dois anos antes, em dezembro de 2004, havia se submetido com êxito a uma cirurgia para a retirada de um tumor no fígado. Contudo, novos exames realizados no Hospital Madre Teresa, em Belo Horizonte, e posteriormente no Hospital das Clínicas, em São Paulo, revelaram o retorno mais agressivo do tumor, com metástases em outros órgãos vitais, como rins e pulmões.[1]

No dia 14 de julho de 2006, véspera da festa de Nossa Senhora do Carmo, padroeira de Mariana, Dom Luciano foi internado em Belo Horizonte e, pouco depois, transferido para São Paulo, onde recebeu cuidados intensivos no Hospital das Clínicas. Após permanecer mais de quinze dias na UTI, faleceu no dia 27 de agosto de 2006, deixando um legado de fé, humildade e serviço à Igreja.[1]

Seu corpo foi inicialmente velado na Catedral da Sé, em São Paulo, em missa presidida pelo Cardeal Dom Cláudio Hummes, com a presença de inúmeros fiéis e amigos. À tarde, o corpo foi trasladado em aeronave cedida pela Presidência da República para Belo Horizonte, sendo acolhido com emoção pela Comunidade Jesuíta (ISIS).[1]

De lá, um cortejo fúnebre seguiu pela Rodovia dos Inconfidentes, em viatura do Corpo de Bombeiros, até Ouro Preto, onde a urna foi recebida com comoção na Praça Tiradentes. À noite, por volta das 21 horas, o cortejo chegou a Mariana, recebendo uma calorosa homenagem de uma multidão que lotava a Praça Minas Gerais.[1]

As exéquias prosseguiram com intensa participação do clero e dos fiéis. Na segunda-feira, as missas foram celebradas em frente à Igreja de São Francisco, e, na terça-feira, no interior da Igreja de Nossa Senhora do Carmo, onde o corpo permaneceu velado. Ao longo dos dois dias, foram celebradas missas de hora em hora, com a participação média de trinta sacerdotes em cada uma delas. Entre as celebrações, corais de Ouro Preto e Mariana ofereceram cânticos e orações, transformando o velório em uma profunda manifestação de fé, gratidão e despedida.[1]

Foi sepultado na cripta da Sé de Mariana, abaixo da lápide de Dom Viçoso, de quem era grande admirador. [1]

Ordenações[3]

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Presbítero

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Episcopal

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Dom Luciano foi o principal celebrante da ordenação episcopal dos seguintes bispos:

Dom Luciano foi concelebrante da sagração episcopal de:

Servo de Deus
Luciano Mendes de Almeida
Nascimento 5 de outubro de 1930
Rio de Janeiro
Morte 27 de agosto de 2006 (75 anos)
São Paulo
Veneração por Igreja Católica
Portal dos Santos

Beatificação

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Ao se completarem cinco anos de sua morte, Dom Geraldo Lyrio Rocha anunciou o envio à Congregação para as Causas dos Santos do pedido de autorização para dar início ao processo de beatificação de Dom Luciano. O pedido tem o respaldo de mais de 300 bispos reunidos na assembleia geral da CNBB, em maio de 2011.[4] No dia 27 de agosto de 2014 foi aberto o processo de beatificação, autorizado por aquele dicastério. A partir dessa data, ele passou a ser chamado Servo de Deus.[5]

Bibliografia

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  • ARROCHELLAS, Maria Helena (org.) Deus é bom. Homenagem a Dom Luciano. São Paulo: Paulinas; Rio de Janeiro: Editora Universitária Candido Mendes, 2008. ISBN 978-85-356-2214-0
  • MENDES, Candido. Dom Luciano, o Irmão do Outro. São Paulo: Paulinas; Rio de Janeiro: Editora Universitária Candido Mendes, 2007. ISBN 978-85-356-2136-5

Referências

  1. a b c d e f g h i j k l m n o p q r s t Parábola, Agência. «Dom Luciano Pedro Mendes de Almeida». Projeto Memória Arquidiocese de Mariana. Consultado em 27 de outubro de 2025 
  2. a b Seis anos sem dom Luciano Mendes de Almeida, acesso em 09 de agosto de 2015.
  3. [1], acesso em 24 de janeiro de 2022.
  4. «Pedido para iniciar processo de beatificação de D. Luciano será enviado à Santa Sé». CNBB. Consultado em 30 de agosto de 2011 
  5. TRINDADE, Geraldo (12 de agosto de 2014). «O legado da caridade de Dom Luciano Mendes». Adital. Consultado em 30 de agosto de 2011. Arquivado do original em 26 de junho de 2015 

Ligações externas

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