Lya Bastian Meyer

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Cartaz de uma apresentação de Lya Bastian Meyer.

Eliane Clotilde Bastian Meyer (Porto Alegre, 23 de janeiro de 1911 — Porto Alegre, 2005), mais conhecida como Lya Bastian Meyer (às vezes grafada Lia) foi uma professora, bailarina e coreógrafa brasileira, pioneira da dança clássica no estado do Rio Grande do Sul.

Filha única de Clotilde Bastian e do abastado comerciante Oscar Meyer, ambos pertencentes a famílias de origem germânica, recebeu educação aprimorada e desde cedo se interessou pela dança, sendo aluna de Eugenia (Nenê) Dreher Bercht e Philomena (Mina) Black Eckert, fundadoras do Instituto de Cultura Física do Rio Grande do Sul, uma escola que ministrava aulas de coreografia, ginástica rítmica e acrobática e dança. Logo seu talento foi reconhecido, sendo recomendado aos pais que enviassem a menina para estudar na Europa, viajando em 1928 e tornando-se aluna de Eugénie Eduardowa, Rita Pokst e Tatiana Gsowski em Berlim, que seguiam o método russo.[1]

Retornando ao Brasil em 1931, assumiu a direção das classes de dança do Instituto[2] e realizou diversos espetáculos bem sucedidos. Nesta época Angelo Guido a descreveu como capaz de veicular intensa expressão estética, "puro sabor clássico, com leves passos de ponta, as piruetas e arabescos da técnica apurada da Escola Imperial Russa de ballet".[3] A entidade se dissolveu pouco depois, levando Lya a fundar uma escola própria em 1934, a Escola de Bailados Clássicos.[4] Nesta década fez outras viagens à Europa para estudos avançados com Mary Wigman, uma grande precursora da dança modernista,[1] mas embora tenha aproveitado a técnica, a estética modernista não deixou grandes impressões em seu trabalho, talvez porque, como supõe Maria Cristina Fragoso, "a dança clássica lhe parecesse mais apropriada à realidade cultural de Porto Alegre".[5] Realizou muitos espetáculos independentes e coadjuvando as temporadas de ópera no Theatro São Pedro, sendo muitas vezes autora das coreografias, e excursionou pelo interior do estado, sempre muito aclamada. Seu sucesso levou à encampação da escola como a companhia de dança estatal em 1945, sob o nome de Escola Oficial de Dança do Theatro São Pedro.[1][4] A escola funcionou até 1959, quando Lya passou a se dedicar exclusivamente ao ensino na Escola Superior de Educação Física da UFRGS,[1] onde já lecionava desde 1940,[6] e onde introduziu as classes de ginástica rítmica e artística.[1][7] Aposentou-se em 1970.[1]

Embora o Instituto de Cultura Física a tenha precedido e absorvesse influências da dança de Isadora Duncan e do método de expressão corporal de Émile Jaques-Dalcroze, era uma escola para amadores e seus objetivos eram voltados principalmente para a saúde e a beleza do corpo e a educação física de um modo geral, dentro da filosofia da "mente sã em corpo são", onde a dança era apenas o corolário estetizado da ginástica.[8][2] Por isso Lya Bastian Meyer é reconhecida como a grande pioneira da dança clássica no estado,[1][9][10][11] sendo ainda uma das primeiras professoras de balé clássico do Brasil.[12] A sua escola formou gerações de alunos e alunas, consolidando a dança como uma atividade profissional, superando os preconceitos que ainda envolviam a atividade no tempo do Instituto de Cultura Física, quando a dança era encarada como indecente por expor o corpo dos bailarinos e a profissionalização era tida como imprópria para membros da elite, além de abrir o campo para a prática masculina.[1] Entre suas alunas se destacam principalmente Salma Chemale e Tony Seitz Petzhold, fundadoras de afamadas escolas e também consideradas integrantes da primeira geração da dança do Rio Grande do Sul.[4] Foi a responsável pela primeira audição no estado de balés famosos como Coppelia, El amor brujo, La Boutique fantasque, O quebra-nozes, Petrushka e O lago dos cisnes, entre outros.[4] Escreveu a obra didática Ginástica Rítmica (1944),[13] recebeu a Comenda do Conselho Brasileiro de Dança,[1] e uma placa de bronze instalada no Theatro São Pedro a comemora como "vigorosa expressão da arte do som e do ritmo".[14] Segundo a pesquisadora Janete da Rocha Machado,

"Lya brindava as plateias dos teatros com um fino encantamento artístico e um aprimoramento estético que não perdia para os melhores grupos de dança dos Estados Unidos e da Europa. [...] Durante muitos anos, todos os movimentos de dança tiveram sua direta participação. Idealismo, coragem e talento, fizeram de Lya, com certeza, a número um nesta arte — a primeira-dama do balé que encantou os porto-alegrenses. [...] Pioneirismo, seriedade e talento fizeram dessa gaúcha um ícone na arte de dançar. [...] Elogiados pelo público e pela crítica da época, os espetáculos de dança tornaram-se inesquecíveis. Devido ao pioneirismo de Lya Bastian Meyer, a dança clássica se propagou pelo Estado, criando raízes, as quais serviram para divulgar o nome da bailarina e de sua escola".[1]

Foi casada com Henrique Schmitz, deixando descendência.[1]

Referências

  1. a b c d e f g h i j k Machado, Janete da Rocha. "Lya Bastian Meyer: a grande dama do balé clássico gaúcho". In: XI Encontro Estadual de História da ANPUHRS: história,memória, patrimônio. Rio Grande, FURG, 23-27/07/2012
  2. a b Dias, Carolina & Mazo, Janice Zarpellon. Ginástica ou Dança: a história de um Instituto de Cultura Física. INDEPIn, 2014., pp. 162-169
  3. Apud Dias & Mazo, p. 170
  4. a b c d Corte Real, Antônio. Subsídios para a História da Música no Rio Grande do Sul. Movimento, 1984, 2ª edição, pp. 186-206
  5. Apud Wolff, Silvia Susana. Momento de Transição: Em Busca de uma Nova Eu Dança. Doutorado. Universidade Estadual de Campinas, 2010, p. 31
  6. Begossi, Tuany Defaveri; Mazo, Janice Zarpellon; Lyra, Vanessa Bellani. "O Curso Normal da Esef e a formação pioneira de professores(as) de Educação Física no Rio Grande do Sul (1940- 1956)". In: Pro-Posições, 2019; 30
  7. Hoffmann, Carmen Anita. "Os primeiros passos da dança clássica no Rio Grande do Sul através de Lya Bastian Meyer". In: Anais do III Encontro Nacional de Pesquisa em Arte. Montenegro, 01-02//07/2005, pp. 40-42
  8. Wolff, pp. 29-31
  9. Wolff, p. 30
  10. Wolff, Silvia Susana; Haas, Aline Nogueira; Vitiello, Julia Ziviani. "The presence of ballet technique in Porto Alegre and its relation to european culture". In: Revista ouvirOUver, 2016; 12 (1):208-217
  11. Duarte, Cátia Pereira; Vasconcelos, Renata; Nascimento, Mônica. "Dança em Educação Física, esporte e lazer – II: Dança moderna, dança contemporânea, dança jazz e sapateado". In: DaCosta, Lamartine (org.). Atlas do Esporte no Brasil. CONFEF, 2006
  12. Fernandes, Larissa Corat. "Delicada e sensível como bonecas de porcellana": corpo feminino e ciência nos manuais de ginástica feminina e rítmica. Mestrado. Universidade de São Paulo, 2016, p. 64
  13. Fernandes, p. 18
  14. Theatro São Pedro. Placas Homenagens.