Maarouf al-Dawalibi
Maarouf al-Dawalibi | |
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31.° Primeiro-ministro da Síria | |
Período | 28 de novembro de 1951 – 29 de novembro de 1951 |
Presidente | Hashim al-Atassi |
Antecessor(a) | Zaki al-Khatib |
Sucessor(a) | Fawzi Selu |
44.° Primeiro-ministro da Síria | |
Período | 22 de dezembro de 1961 – 28 de março de 1962 |
Presidente | Nazim al-Kudsi |
Antecessor(a) | Izzat al-Nuss |
Sucessor(a) | Bashir al-Azma |
Dados pessoais | |
Nome completo | Maarouf al-Dawalibi |
Nascimento | 29 de março de 1909 Alepo, Síria otomana |
Morte | 15 de janeiro de 2004 (94 anos) Riade, Arábia Saudita |
Alma mater | Universidade de Damasco Universidade Sorbonne |
Partido | Partido Popular |
Maarouf al-Dawalibi (em árabe: معروف الدواليبي ; Alepo, 29 de março de 1909 — Riade, 15 de janeiro de 2004) foi um político sírio que serviu como primeiro-ministro da Síria em dois períodos distintos, primeiro em 1951, e novamente de 1961 a 1962. Seus dois mandatos foram interrompidos por golpes militares.[1] Com a ascensão do Partido Baath ao poder em 1963, ele foi preso e depois exilado. Ele então se estabeleceu na Arábia Saudita, onde atuou como conselheiro político dos monarcas sauditas até o fim de sua vida.[2][3]
Biografia
[editar | editar código-fonte]Primeiro governo (1951)
[editar | editar código-fonte]Al-Dawalibi ascendeu como chefe de governo após uma crise ministerial em novembro de 1951;[4] esta crise foi precipitada pela renúncia do primeiro-ministro Hassan al-Hakim, que resultou em um vácuo de governo na Síria.[5][6] O presidente Hashim al-Atassi encarregou Maarouf al-Dawalibi de formar um novo governo, e ele assumiu o cargo de primeiro-ministro em 28 de novembro.[7]
Em oposição ao intervencionismo militar no governo, al-Dawalibi reteve para si o Ministério da Defesa, recusando-se a nomear o coronel Fawzi Selu para o cargo.[6] A nomeação de Selu como ministro da Defesa fora uma exigência imposta pelo coronel Adib Shishakli após seu golpe de Estado em dezembro de 1949, a qual todos os governos posteriores haviam acatado até então.[1] A decisão de al-Dawalibi de assumir o controle do Ministério da Defesa foi prontamente contestada pelo coronel Selu, que levou sua queixa a Adib Shishakli.[6] No mesmo dia da formação do governo, realizou-se uma reunião entre Shishakli, al-Dawalibi e o presidente Hashim al-Atassi, durante a qual Shishakli exigiu a dissolução do gabinete e a formação de um novo governo alinhado com os interesses dos militares. Tanto Dawalibi quanto Atassi recusaram-se a atender suas exigências.[7]
O gabinete de al-Dawalibi teve uma curta duração; ele se manteve no poder por apenas 12 horas após sua formação, antes de ser derrubado por uma intervenção do coronel Shishakli em 29 de novembro.[4] Este golpe de Shishakli resultou na detenção do primeiro-ministro al-Dawalibi e de todos os seus ministros, encarcerados na prisão de Mezzeh.[7] Após tentativas fracassadas de obter sua renúncia, al-Dawalibi finalmente a apresentou em 1 de dezembro. O presidente Atassi então incumbiu Hamid al-Khouja, político independente, da formação de um novo gabinete. No entanto, a crescente oposição impediu o gabinete de ser formado, levando Atassi a também renunciar em 2 de dezembro, afim de evitar um impasse político.[5][6]
Em 3 de dezembro, Shishakli delegou as funções de primeiro-ministro e presidente a Fawzi Selu.[6] Na prática, Selu serviu como uma figura de proa, enquanto Shishakli consolidava sua ditadura militar no país.[8] Al-Dawalibi foi libertado da prisão em 1952, mas acabou enfrentando uma segunda detenção no ano seguinte devido às suas críticas ao governo, o que o levou a se exilar no Iraque.[2]
Al-Dawalibi retornou à Síria após o golpe de Estado de 1954, que derrubou o regime de Shishakli. A presidência foi reassumida por Hashim al-Atassi, que prometeu completar seu mandato constitucional.[7] Atassi decidiu restaurar a normalidade política anterior ao golpe de 1951, levando al-Dawalibi a reapresentar sua renúncia, em conformidade com os procedimentos constitucionais.[1] Al-Dawalibi foi incorporado ao gabinete do primeiro-ministro Sabri al-Asali, sendo designado como ministro da Defesa. Este gabinete durou de 1 de março a 19 de junho de 1954.[9] Como ministro da Defesa, al-Dawalibi buscou reduzir a influência do exército no governo e tentou aprovar uma lei que proibia a participação de militares em partidos políticos.[3]
Segundo governo (1961–1962)
[editar | editar código-fonte]Após a secessão da Síria de sua união com o Egito em 1961, o presidente Nazim al-Kudsi incumbiu al-Dawalibi de formar um governo.[1][3] Maarouf al-Dawalibi assumiu o cargo de primeiro-ministro em 22 de dezembro, à frente de um gabinete composto por 16 ministros.[1] Além de chefiar o gabinete, al-Dawalibi ocupou simultaneamente o cargo de ministro das Relações Exteriores.[10][2]
Em janeiro de 1962, Maarouf al-Dawalibi ofereceu a mediação do governo sírio no conflito entre Iraque e Kuwait, decorrente da reivindicação de soberania iraquiana sobre o território do Kuwait após a independência deste em 1961. A proposta foi ignorada pelo presidente iraquiano Abdul Karim Kassem.[11]
Em 28 de março de 1962, uma tentativa de golpe de Estado liderada pelo oficial sírio Abdul Karim al-Nahlawi resultou,na prisão do primeiro-ministro Maarouf al-Dawalibi e do presidente Nazim al-Kudsi. Contudo, poucos dias depois, um grupo de oficiais legalistas conduziu um contragolpe bem-sucedido em 1 de abril, que resultou na libertação dos dois líderes e a recondução do governo deposto. Não obstante, al-Dawalibi viu-se obrigado a renunciar ao cargo para evitar um conflito maior com os militares.[1][3]
Exílio e morte
[editar | editar código-fonte]A carreira política de Maarouf al-Dawalibi foi encerrada pelo golpe baathista de 1963.[7] As novas autoridades sírias, integradas por oficiais de ideologia baathista e nasserista, lançaram uma campanha para prender políticos vinculados ao movimento anti-Nasser na Síria.[3] O Conselho do Comando Revolucionário ordenou a detenção de al-Dawalibi e do presidente Kudsi sob acusação de "crime de secessão".[1] Al-Dawalibi permaneceu preso até 1964, quando foi forçado ao exílio.[2][12] Seu primeiro destino no exílio foi o Líbano e, após um breve período em Beirute, estabeleceu-se definitivamente na Arábia Saudita.[1][3]
Em 1965, ele foi convocado pelo rei Faisal para servir como conselheiro político na corte real saudita. Durante os reinados subsequentes dos monarcas Khalid e Fahd, al-Dawalibi continuou exercendo suas funções como conselheiro, mantendo-se no cargo até sua morte.[2][3]
No final da década de 1970, al-Dawalibi foi enviado ao Paquistão a pedido do ditador Muhammad Zia-ul-Haq,[13] com a missão de auxiliar o Conselho de Ideologia Islâmica na elaboração de um novo conjunto de leis islâmicas para o país.[12] As leis foram originalmente redigidas por al-Dawalibi em árabe, sendo posteriormente traduzidas para urdu e inglês por uma equipe de quinze estudiosos.[12] Entre suas contribuições se destaca a formulação das Ordenanças de Hudood de 1979.[13]
Maarouf al-Dawalibi faleceu em Riade em 15 de janeiro de 2004.[2] Desde 2004, seus restos mortais estão sepultados no cemitério de Al-Baqi, em Medina.[7]
Família
[editar | editar código-fonte]Maarouf al-Dawalibi era casado com Umm Muhammad,[14] uma francesa que se converteu ao islamismo após se casar com ele.[1] Seu filho, Nofal al-Dawalibi, foi um membro ativo da oposição síria ao regime de Bashar al-Assad.[15]
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- Moubayed, Sami M. (2006). Steel & Silk: Men and Women who Shaped Syria 1900-2000 (em inglês). [S.l.]: Cune Press. ISBN 9781885942401
- W. Lesch, David (2021). Historical Dictionary of Syria (em inglês). [S.l.]: Rowman & Littlefield. ISBN 9781538122860
- Abu Salih, Abdul Quddus (2005). مذكرات الدكتور معروف الدواليبي Mudhakkirāt al-duktūr Ma'rūf al-Dawālībī (em árabe). [S.l.]: Obeikan Publishing. ISBN 9960406911
- Rahman, H. (1997). «8. Qasim's Claims and British Intervention, 1958-1962». The Making of the Gulf War: Origins of Kuwait's Long-standing Territorial Dispute with Iraq. [S.l.]: Garnet & Ithaca Press. ISBN 978-0863722073
- Moubayed, Sami M. (2000). Damascus Between Democracy and Dictatorship (em inglês). [S.l.]: University Press of America. ISBN 9780761817444
- Seale, Patrick (1965). The Struggle for Syria — A Study of Post-War Arab Politics, 1945-1958 (em inglês). [S.l.]: Oxford University Press
- Ghattas, Kim (2020). Black Wave: Saudi Arabia, Iran, and the forty-year rivalry that unraveled culture, religion, and collective memory in the Middle East. [S.l.]: Henry Holt and Company. ISBN 978-1-250-13120-1
- Khan, Ayesha (2018). The Women's Movement in Pakistan: Activism, Islam and Democracy. [S.l.]: Bloomsbury Publishing. ISBN 9781786735232
Referências
- ↑ a b c d e f g h i «معروف الدواليبي». damapedia.com (em árabe). Consultado em 25 de abril de 2025. Cópia arquivada em 11 de novembro de 2024
- ↑ a b c d e f «معروف الدواليبي … الشيخ الأحمر تحدّى الأمريكيين واعتقله البعث». snacksyrian.com (em árabe). 26 de junho de 2022. Consultado em 26 de abril de 2025. Cópia arquivada em 19 de agosto de 2022
- ↑ a b c d e f g Moubayed 2006, pp. 220–222.
- ↑ a b W. Lesch 2021, pp. 124-125.
- ↑ a b Seale 1965, pp. 114–116.
- ↑ a b c d e Moubayed 2000, pp. 76–78.
- ↑ a b c d e f Muhammad Khair Musa (23 de novembro de 2024). «معروف الدواليبي.. الشيخ الأحمر الذي لا يحب العسكر ولا يحبه العسك». Al Jazeera (em árabe). Consultado em 21 de abril de 2025. Cópia arquivada em 21 de março de 2025
- ↑ Seale 1965, pp. 118–119.
- ↑ «وزارة السيد صبري العسلي (من 1 آذار 1954 - 19 حزيران 1954)». pministry.gov.sy (em árabe). Consultado em 26 de abril de 2025. Arquivado do original em 16 de dezembro de 2024
- ↑ «وزارة الدكتور معروف الدواليبـي (من 22 كانون الأول 1961 - 27 آذار 1962 )». pministry.gov.sy (em árabe). Consultado em 26 de abril de 2025. Arquivado do original em 17 de dezembro de 2024
- ↑ Rahman 1997.
- ↑ a b c Ghattas 2020, pp. 61–62.
- ↑ a b Khan 2018, pp. 61–62.
- ↑ Abu Salih 2005.
- ↑ Shmulovich, Michal (12 de abril de 2012). «Syrian opposition leader, in unprecedented interview with Israel Radio, says Syrians want peace with Israel». The Times of Israel (em inglês). Consultado em 26 de abril de 2025. Cópia arquivada em 20 de junho de 2024