Makam

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

O makam é um padrão melódico da música clássica otomana, análogo ao o modo ocidental, mas com mais especificidades, como as direções predeterminadas de desenvolvimento melódico.[1] Tem suas origens no maqam árabe (de onde vem seu nome) e no octoeco bizantino, além de trazer relações mais distantes com outros gêneros de povos turcos, como o muqam e o shashmaqam.[2]

Notas e intervalos[editar | editar código-fonte]

O pensamento otomano clássico quanto à oitava é de matriz pitagórica, tendendo a utilizar tons e semitons semelhantes aos da música ocidental, o que provocou um afastamento dos 17 temperamentos iguais perso-árabes. São muito comuns, contudo, alterações dos intervalos baseadas na coma pitagórica, isto é, aproximadamente 23.4 cents. Visto que a coma é uma unidade de temperamento justo, há problemas para a conversão para o temperamento igual. Matematicamente, o semitom e tom em um temperamento de 12 iguais equivalem, respectivamente, a 100 e 200 cents, de forma que é comum identificar a coma com um oitavo de tom (25 cents). Os otomanos, contudo, preferiam dividir a oitava em 53 comas (isto é, formando um sistema de 53 temperamentos iguais), permitindo maior aproximação com o sistema pitagórico.[3]

O tom poderia ser maior (em turco: tanini), medindo nove comas cerca de 113.2 cents), com um semitom maior ou apótomo (em turco: küçük mücennep) equivalente a cinco comas (cerca de 203.77 cents). O tom também poderia ser menor (em turco: büyük mücennep), com oito comas ou cerca de 181.13 cents, com um semitom menor ou lima (em turco: bakiyye) com quatro comas (cerca de 90.56 cents). Outros intervalos são o de dois comas (em turco: fazla), três comas (em turco: eksik bakiyye), seis comas (em turco: artık küçük mücennep), sete comas (em turco: artık büyük mücennep) e a segunda aumentada (em turco: artık ikili), que poderia, a depender da performance e do contexto, medir doze ou treze comas.[3]

Apesar de compreender um sistema de oitavas, a teoria musical otomana, ao contrário de muitos outros sistemas, não necessariamente denomina suas notas conforme equivalência em oitavas, de forma que notas equivalentes em oitavas têm nomes distintos, às vezes completamente. A mais baixa delas é a Kaba Çârgâh, que equivale aproximadamente ao dó médio.[4]

Componentes[editar | editar código-fonte]

Os makamlar são compostos por tetracordes (em turco: dörtlü) e pentacordes, praticamente carecendo das tríades típicas do maqam. Existem seis tetracordes básicos, denominados por seus intervalos e pela tônica, mas com possibilidade de transposição. Cada um deles tem um pentacorde equivalente, atingido por um tom maior adicional ao fim, e às vezes por transposição. Nomeadamente, os tetracordes são:[5]

  • O Çârgâh, que começa na nota homônima (uma oitava acima da Kaba Çârgâh), sobe um tom maior para a Neva, outro tom maior para a Hüseyni, e finalmente um semitom maior para a Acem;
  • O Bûselik, que começa na nota Rast (31 comas acima da Kaba Çârgâh), sobe um tom maior para a Dügâh, um semitom menor para a Kürdi, e mais um tom maior para a Çârgâh;
  • O Kürdi, que começa na nota Dügâh (40 comas acima da Kaba Çârgâh), sobe um semitom menor para a Kürdi, um tom maior para a Çârgâh, e mais um tom maior para a Neva;
  • O Uşşak, que começa na nota Dügâh, sobe um tom menor para a Segâh, um tom maior para a Nim Hicâz, e mais um tom maior para a Nim Hisâr;
  • O Hicâz, que começa na nota Hüseyni Âşirân (18 comas acima da Kaba Çârgâh), sobe um semitom menor para a Dik Acem Aşîrân, treze comas para a Zirgüle, e mais um semitom menor para a Dügâh; e
  • O Rast, que começa na nota homônima, sobe um tom maior para a Dügâh, um tom menor para a Segâh e um semitom maior para a Çârgâh.

Os pentacordes, por sua vez, são:[5]

  • O Çârgâh, que é como seu tetracorde equivalente, mas sobe mais um tom maior para a Gerdâniye;
  • O Bûselik, que é transposto em Dügâh, de forma que suas notas são Dügâh, Bûselik, Çârgâh, Neva e Hüseyni;
  • O Kürdi, que é como seu tetracorde equivalente, mas sobe mais um tom maior para a Hüseyni;
  • O Uşşak, que é como seu tetracorde equivalente, mas sobe mais um tom maior para a Acem;
  • O Hicâz, que é como seu tetracorde equivalente, mas sobe mais um tom maior para a Bûselik; e
  • O Rast, que é como seu tetracorde equivalente, mas sobe mais um tom maior para a Neva.

Referências

  1. Rechberger 2018, p. 123.
  2. Touma 1972, p. 140-1.
  3. a b Rechberger 2018, p. 119.
  4. Rechberger 2018, p. 120.
  5. a b Rechberger 2018, p. 120-3.

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Rechberger, Herman (2018). Scales and Modes Around the World: The complete guide to the scales and modes of the world. [S.l.]: Fennica Gehrman 
  • Touma, H. H. (1972). «Review of Das arabische Tonsystem im Mittelalter by Liberty Manik». Ethnomusicology. 16 (1). University of Illinois Press. pp. 140–4