Manuel de Azevedo, senhor das honras de Barbosa e Ataíde

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D. Manuel de Azevedo
Senhor das honras de Barbosa e Ataíde
Manuel de Azevedo, senhor das honras de Barbosa e Ataíde
A torre da honra de Barbosa, senhorio do séc. XII cuja sucessão foi confirmada a D. Manuel de Azevedo em 1543, por carta de D. João III
Antecessor(a) D. Joana de Castro
Sucessor(a) D. Francisco de Ataíde e Azevedo
Nascimento 1486
Morte 1578 (92 anos)
Descendência
Pai D. João de Azevedo, bispo do Porto
Mãe D. Joana de Castro, senhora das honras de Ataíde e Barbosa
Ocupação Fidalgo, Prelado

D. Manuel de Azevedo (1486 - 1578) foi um fidalgo português do século XVI, donatário de senhorios com origens no período da fundação de Portugal, viajante pela Europa e Terra Santa, correspondente de D. João III e progenitor de várias figuras relevantes no Império português e na atividade missionária da época.

Biografia[editar | editar código-fonte]

Nasceu em 1486, filho do bispo do Porto, D. João de Azevedo[1] (c. 1430 - Lisboa, 07.07.1517) e de D. Joana de Castro (c. 1460[2] - c. 1532), herdeira das honras de Barbosa e Ataíde e filha de Fernão de Sousa, 1.º senhor de Gouveia do Tâmega, com D. Mécia de Castro (da casa dos Ataídes, condes de Atouguia, sendo seus pais os primeiros titulares do condado).[3]

Filho sacrílego, foi criado tudo indica que na região do Porto, por João de Paiva o velho e sua mulher Maria Bernarda,[4] sendo posteriormente legitimado, a pedido do seu pai, como D. Manuel da Silva (o sobrenome da sua bisavó D. Joana Gomes da Silva,[5] herdeira da honra e torre de Silva).[6] Mais tarde, passou a usar o sobrenome Azevedo que lhe vinha de sua avó paterna, filha do 1.º senhor de S. João de Rei.

O Bispo do Porto, D. João de Azevedo e D. Joana de Castro tiveram também 2 filhas, que foram freiras, e outros 3 filhos, todos mortos em combate nas praças portuguesas de Marrocos entre 1512 e 1516.

Tal como seu pai, D. Manuel de Azevedo seguiu a carreira eclesiástica, e em 1519 era já capelão da casa real de D. João III, com 1.900 reais de moradia.[7] Foi também fidalgo da casa real e abade comendatário dos Mosteiros de S. João de Alpendurada, Bustelo e Vila Boa do Bispo, aos quais pertenciam os respectivos coutos, todos eles com altos rendimentos o que contribuiu para lhe dar, ao longo da sua vida, a fama de ser "muito rico".

Apesar de eclesiástico, D. Manuel de Azevedo não descurava o seu lado marcial, como ficou ilustrado no ano de 1523. Nessa ocasião, esteve envolvido, com vários dos seus parentes, no apoio a uma violenta disputa de Diogo Lopes de Lima, alcaide-mor de Guimarães (casado com uma prima co-irmã de Azevedo, D. Isabel de Castro, senhora de Castro Daire), com D. Diogo Pinheiro, Bispo do Funchal e prior de Guimarães e Barcelos. A disputa envolvia a nomeação de um cônego e levou o alcaide de Guimarães e seus apaniguados e parentes a pôr cerco à cidade de Barcelos, onde se encontrava o Bispo D. Diogo Pinheiro. A questão só foi resolvida com a intervenção e mediação do arcebispo de Braga e de D. António de Ataíde, valido de D. João III e parente das duas facções. O rei acabou por perdoar o lado atacante "pela muita afeição que tinha" ao filho do alcaide.[8]

Foi um viajante assíduo em vários países europeus e na Terra Santa, tendo estado ausente de Portugal pelo menos 5 vezes entre os anos de 1524 e 1533.[7] Durante essas viagens, manteve correspondência com D. João III para lhe dar informações sobre acontecimentos políticos e militares envolvendo o Sacro Império, a França, o Papa, os Estados italianos e a Turquia Otomana. A mais conhecida das suas cartas foi a que escreveu de Veneza[9], com data de 10.12.1528,[10] informando o rei sobre a chegada à cidade de muitos cristãos-novos "que vieram de seu reino (Portugal) aqui per via de Frandes e dos que passam a terras do Turco tornar-se judeus", o que Azevedo considera ser prejudicial a Portugal por se tratar quase sempre de mercadores que passariam assim a pagar impostos nesses lugares[7][11]

Sucedeu a sua mãe, D. Joana de Castro, como senhor/donatário, com jurisdição cível e crime, da honra de Barbosa, no antigo julgado de Penafiel de Sousa. Sua mãe herdara esse senhorio por via paterna, pois Fernão de Sousa fora a terceira pessoa da linhagem dos Sousas na posse da honra, durante o século XV.[12] Os Sousas eram descendentes, por via feminina, da linhagem de D. Mem Moniz de Ribadouro, que fundara a honra no século XII.

D. Manuel de Azevedo viu confirmado o senhorio de Barbosa por carta régia de 29.05.1543,[13] na qual D. João III escreve o seguinte:[14]

" A dita quinta da honra de Barbosa sempre (foi) honrada desde o princípio de que se começou este reino de Portugal onde os antepassados do suplicante serviram muitos annos contra os mouros ... os antepassados...de Dom Manoel de Azevedo, Fidalgo de minha Casa, sempre tiveram na honra jurisdição cível e crime ... (sendo) a sobredita honra mui antiga e antes de El Rey Dom Dinis"

Quanto à regra de sucessão no senhorio, D. João III determina que "o dito Dom Manoel de Azevedo e qualquer filho ou filha mais velha, não havendo macho que suceder na honra...tenham a jurisdição dela cível e crime...e hey por bem..que possa suceder nela fêmea na mesma jurisdição...e quero de meu motto próprio que (isto) se cumpra a Dom Manoel de Azevedo e a todos seus descendentes ainda que sejam bastardos...".[14]

Foi também senhor da quintã de Ataíde, no antigo julgado de Santa Cruz de Riba Tâmega (atual concelho de Amarante), antiga honra com sua torre, situada no lugar do Pinheiro, junto à atual Ermida de Nossa Senhora da Natividade, também conhecida como Capela do Pinheiro.

Trata-se do solar de origem da família Ataíde, em que igualmente sucedeu a sua mãe, que já em 10.01.1503 era senhora da honra, pois nessa data o rei D. Manuel I fez publicar uma sentença em que condena D. Joana de Castro a cessar abusos que teriam sido por ela praticados contra os residentes dos seus senhorios em Ataíde e Barbosa.[15]

Anos mais tarde, por testamento lavrado em 17.09.1559, constituiu o morgadio de Barbosa, tendo como bens principais a quinta homônima e a de Ataíde, cada uma delas com renda anual estimada em 100 mil reais, além de diversas propriedades nos concelhos de Amarante, Cinfães, Lousada, Fafe, Penafiel e Póvoa de Lanhoso.

Na ocasião, D. Manuel de Azevedo nomeou como único e universal herdeiro um dos seus filhos, D. Francisco de Ataíde e Azevedo, afastando expressamente da herança todos os outros e fazendo apenas menção especial a um deles, D. Inácio de Ataíde (o futuro Beato Inácio de Azevedo), que seria provavelmente o primogênito, explicando que este não estava incluído na herança por ter seguido a vida eclesiástica nos jesuítas, e também porque já o tinha anteriormente compensado com a vultosa quantia de 1.500 cruzados (equivalentes a 600 mil reais brancos).[16]

Faleceu pouco antes de 16.01.1578, data em que foi aberto o seu testamento, com cerca de 92 anos de idade.

Descendência[editar | editar código-fonte]

D. Manuel de Azevedo teve vários filhos e filhas, de mulheres diferentes[7]:

De D. Francisca de Abreu - freira professa na Ordem de São Bento, prioresa do Convento de S. Bento da Avé Maria, no Porto, até o ano de 1573[17] - filha de João Gomes de Abreu, "o das trovas" do cancioneiro de Garcia de Resende e, muito provavelmente, de D. Filipa de Eça, Abadessa do Lorvão, teve:

De D. Violante de Miranda, "mulher fidalga e solteira", também chamada de Violante Pereira, filha de Diogo Pinto e de D. Mécia Pereira, filha esta de Vasco Pereira, senhor de Fermedo, e de sua mulher D. Isabel de Miranda, teve:

  • D. João de Azevedo[19], legitimado por carta régia D. João III, dada em 31.05.1552, foi abade dos Mosteiros de S. João de Alpendurada e Bustelo, depois partiu para a Índia, provavelmente após o ano de 1549, e por lá fez sua carreira, sendo nomeado governador de Moçambique e Sofala (1613 - 1614), e como tal foi 35.º governador da África Oriental Portuguesa, sucedendo no cargo a D. Estevão de Ataíde. Foi ainda nomeado capitão de Diu, falecendo antes de tomar posse, e teve geração do seu casamento em Chaul com D. Maria Brandão.

De D. Filipa de Sousa, "mulher fidalga", moradora no couto de Vila Boa do Bispo, teve o seguinte filho[20]:

Com Maria de Alpendurada teve a seguinte filha:

  • D. Briolanja de Azevedo (1550 - 09.01.1595), casada com Baltasar Veloso, com geração.

De mães com identidade desconhecida, teve os seguintes filhos:

Ascendência[editar | editar código-fonte]

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
8. Gonçalo Peres (Malafaia), Regedor da Casa do Cível e senhor de Belas
 
 
 
 
 
 
 
4. Luís Gonçalves Malafaia, Vedor da Fazenda
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
9. Maria Anes
 
 
 
 
 
 
 
2. D. João de Azevedo, Bispo do Porto
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
10. Lopo Dias de Azevedo, 1.º senhor de S. João de Rei
 
 
 
 
 
 
 
5. D. Filipa de Azevedo
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
11. D. Joana Gomes da Silva, herdeira da honra e torre de Silva
 
 
 
 
 
 
 
1. D. Manuel de Azevedo
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
12. Martim Afonso de Sousa, senhor do Castelo de Santo Estêvão
 
 
 
 
 
 
 
6. Fernão de Sousa, 1.º senhor de Gouveia
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
13. Violante de Távora, filha do senhor de Mogadouro
 
 
 
 
 
 
 
3. D. Joana de Castro, senhora das honras de Ataíde e Barbosa
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
14. D. Álvaro Gonçalves de Ataíde, 1.º Conde de Atouguia
 
 
 
 
 
 
 
7. D. Mécia de Castro
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
15. D. Guiomar de Castro, filha do senhor do Cadaval
 
 
 
 
 
 

Referências

  1. «Bishop João de Azevedo [Catholic-Hierarchy]». www.catholic-hierarchy.org. Consultado em 4 de novembro de 2019 
  2. Sousa, D. António Caetano de. «Biblioteca Nacional Digital - História Genealógica da Casa Real Portuguesa, Tomo XII, Parte II». purl.pt. p. 800 (capítulo XI). Consultado em 23 de agosto de 2021 
  3. «Carta de confirmação de D. Afonso V contrato de casamento entre Mécia de Castro, filha do conde de Atouguia e Fernão de Sousa, fidalgo da casa do duque de Bragança. - Arquivo Nacional da Torre do Tombo - DigitArq». digitarq.arquivos.pt. Consultado em 17 de setembro de 2020 
  4. Costa, S. J., Manuel G. da (1946). Inácio de Azevedo, o Homem e o mártir na Civilização do Brasil. Braga: Livraria Cruz. p. 27 (n. 2) 
  5. Soveral, Manuel Abranches de. «Casa da Trofa - Lopo Dias de Azevedo e sua mulher D. Joana Gomes da Silva». Consultado em 19 de setembro de 2019 
  6. Arquivo Nacional Torre do Tombo, Perdões e Legitimações, Leitura Nova, Livro 3, Fólio 194v
  7. a b c d Cardoso, Augusto-Pedro Lopes (2018). «Um abade viajante do séc. XVI. Dom Manuel de Azevedo, senhor da honra de Barbosa». Armas e Troféus, separata, IX série, Tomo 20: 11 (422), 16 (427), 21 (432), 30 (441). Consultado em 22 de dezembro de 2022 
  8. Freire, Anselmo Braamcamp (1921). Brasões da Sala de Sintra, Livro Terceiro. Coimbra: Imprensa da Universidade. p. 100 - 101. Consultado em 19 de setembro de 2019 
  9. Soveral, Manuel Abranches de (2005). «Subsídios para o estudo genealógico dos judeus e cristãos-novos e a sua relação com as famílias portuguesas - Séculos XV e XVI». Consultado em 19 de setembro de 2019 
  10. Cardoso, Augusto-Pedro Lopes (2018). «Dom Manuel de Azevedo e as cartas das suas viagens». Brotéria Cristianismo e Cultura. Consultado em 24 de junho de 2020 
  11. «Carta de D. Manuel de Azevedo, dando parte a el-rei. Chegara a Veneza, grande multidão de cristãos novos de Portugal... - Arquivo Nacional da Torre do Tombo - DigitArq». digitarq.arquivos.pt. Consultado em 19 de agosto de 2020 
  12. Soveral, Manuel Abranches de (2000). «Origem dos Souza ditos do Prado». Consultado em 20 de setembro de 2019 
  13. Arquivo Municipal de Penafiel, ms. C-16, p. 2v e 3.
  14. a b Cardoso, Augusto-Pedro Lopes (1 de janeiro de 2018). «Um abade viajante do séc. XVI. Dom Manuel de Azevedo, senhor da honra de Barbosa». Armas e Troféus: 453 - 455. Consultado em 3 de junho de 2023. Apêndice documental, anexo I, Transcrição da Carta régia de confirmação da honra de Barbosa a D. Manoel de Azevedo, dada por D. João III em 29.05.1543 
  15. «Carta régia de D. Manuel I, em que delibera acerca de uma contenda entre os povos da comarca de Entre Douro e Minho e D. Joana de Castro». Arquivo Municipal do Porto. Consultado em 19 de setembro de 2019 
  16. Cardoso, Augusto-Pedro Lopes (1 de janeiro de 2018). «Um abade viajante do séc. XVI. Dom Manuel de Azevedo, senhor da honra de Barbosa». Armas e Troféus: 439 e 455 - 457. Consultado em 3 de junho de 2023. Apêndice documental, anexo II, Transcrição do Testamento de D. Manuel de Azevedo, outorgado em 17.09.1559 
  17. a b Cardoso, Augusto-Pedro Lopes (Outubro 1987). «Abadessas, Prioresas e Subprioresas do Convento de S. Bento da Avé Maria nos Séculos XVI e XVII». O Tripeiro (Revista da Associação Comercial do Porto): 301 
  18. a b «Chancelaria da D. João III - Perdões e Legitimações - Arquivo Nacional da Torre do Tombo - DigitArq, Liv. 10, folhas 235 v». digitarq.arquivos.pt. p. PT-TT-ID-1-54_m0021.TIF. Consultado em 23 de fevereiro de 2020 
  19. Arquivo Nacional Torre do Tombo, Livro 20 de Perdões e Legitimações de D. João III, fls. 131v
  20. Arquivo Nacional Torre do Tombo, Livro 22 de Perdões e Legitimações de D. João III, fls. 81v e 82
  21. Cardoso, Augusto-Pedro Lopes (1 de janeiro de 2019). «Vicente Novais, o que veio rico da Índia». Armas e Troféus, Revista de História, Heráldica, Genealogia e Arte: 318 - 319. Consultado em 3 de junho de 2023. Anexo III, Carta régia de legitimação de D. Francisco de Ataíde, Lisboa, 17 de Maio de 1554 
  22. ANTT, Chancelaria da Ordem de Cristo, livº 1, fl. 8vº, 'carta para lhe ser lançado o hábito em Tomar', onde é chamado de Dom Francisco de Ataíde de Azevedo.
  23. Arquivo Municipal de Penafiel, ms. C-16, fls. 3v e 4
  24. Cardoso, Augusto-Pedro Lopes (2019). «Vicente Novais, o que veio rico da Índia: contributo para o estudo da nobreza portuense do séc. XVI». Armas e Troféus IX Série Tomo 21: 271 - 319. Consultado em 3 de junho de 2023 
  25. «(D.) João de Ataíde - Alvará. Comenda de S. Salvador de Fornelos. 27.07.1647. Arquivo Nacional da Torre do Tombo - DigitArq». digitarq.arquivos.pt. Consultado em 25 de dezembro de 2022 
  26. Subrahmanyam, Sanjay (1993). The Portuguese Empire in Asia, 1500 - 1700. New York: Longman. p. 155. ISBN 0-582-05069-3 
  27. Pereira, Esteves; Rodrigues, Guilherme (1904). Portugal : diccionario historico, chorographico, heraldico, biographico, bibliographico, numismatico e artistico. Vol. 1. Getty Research Institute. Lisboa: J. Romano Torres. p. 938 
  28. «(D.) Jerónimo de Azevedo - Carta da Fortaleza de Chaul, pelo prazo de 3 anos - Arquivo Nacional da Torre do Tombo - DigitArq» 
  29. Pinho, Isabel Maria Ribeiro T de. «Duas peças de ourivesaria pertencentes ao mosteiro de São Bento de Avé Maria do Porto» (PDF). Biblioteca Digital, Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Consultado em 19 de setembro de 2019 
  30. a b «Mosteiro de Nossa Senhora da Rosa de Lisboa - Arquivo Nacional da Torre do Tombo - DigitArq». digitarq.arquivos.pt. Consultado em 9 de junho de 2023 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]