Marcelo Bretas
Marcelo Bretas | |
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Juiz federal da 2ª Região | |
Período | 1997 - 2025[nota 1] |
Dados pessoais | |
Nascimento | 7 de julho de 1970 (55 anos) Nilópolis, RJ |
Cônjuge | Simone de Fátima Diniz Bretas |
Alma mater | Universidade Federal do Rio de Janeiro Universidade Católica de Petrópolis |
Nacionalidade | brasileiro |
Religião | evangélico |
Marcelo da Costa Bretas (Nilópolis, 7 de julho de 1970)[2] é um jurista e ex-magistrado brasileiro. Foi juiz federal da 2ª Região de 1997 até 2025,[3][4] quando foi penalizado pelo Conselho Nacional de Justiça com a aposentadoria compulsória.
Atuou entre 2015 e 2023 na 7ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro,[5][6][7] que possui competência para julgar casos envolvendo crimes contra o sistema financeiro nacional e lavagem ou ocultação de bens, e ganhou notoriedade ao julgar casos relacionados à Operação Lava Jato no Rio de Janeiro.[8][9]
Biografia
[editar | editar código-fonte]Nascido em Nilópolis, município da Baixada Fluminense na região metropolitana do Rio de Janeiro, passou a maior parte da infância e adolescência em Queimados, trabalhando com os pais em uma loja de bijuterias do Saara, mercado popular carioca.[8]
Em 1994, formou-se pela Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde, aos 19, conheceu sua futura esposa, a também juíza federal Simone de Fátima Diniz Bretas, com quem tem dois filhos.[4]
Criado em família evangélica, frequenta a Comunidade Evangélica Internacional da Zona Sul e tem dois irmãos, Adenir Bretas e Márcio Bretas.[8] Citou um versículo da Bíblia na decisão que autorizou a prisão de Sérgio Cabral pela operação Calicute, em novembro de 2016. Acusado de julgar sob égide religiosa,[8] diz separar trabalho e religião, mas com a Bíblia sempre a mão para consultas.[3]
Carreira
[editar | editar código-fonte]Em 1997, Bretas tomou posse como juiz federal da 2ª Região, passando quinze anos por varas federais fluminenses em Volta Redonda, Três Rios e Petrópolis, cidade na qual permaneceu por doze anos e obteve seu mestrado pela Universidade Católica de Petrópolis.[10]
Antes de ganhar notoriedade, Bretas permaneceu quatro meses em Washington, capital dos EUA, onde estudou o funcionamento da Justiça federal estadunidense.[4]
Bretas ganhou notoriedade ao final de 2015, quando Teori Zavascki, relator da Operação Lava Jato no Supremo Tribunal Federal, determinou o desmembramento das investigações da Operação Lava Jato em Curitiba e enviou o caso da estatal Eletronuclear para a Justiça Federal do Rio de Janeiro,[3] onde o caso foi sorteado para a 7ª Vara Federal Criminal, que Bretas assumira 8 meses antes.[8]
Com a morte de Teori Zavascki, foi um dos trinta magistrados relacionados em uma pré-lista da Associação de Juízes do Brasil para assumir sua vaga no Supremo Tribunal Federal.[3]
Em 26 de janeiro de 2017, Bretas autorizou uma operação da Polícia Federal que prendeu o empresário Eike Batista. A operação investigava crimes de lavagem de dinheiro, que consistiriam na ocultação no exterior de aproximadamente 100 milhões de dólares (cerca de 340 milhões de reais). Entre os alvos também estava o ex-governador Sérgio Cabral.[11][12][13]
Em abril de 2017, autorizou a Operação Fatura Exposta que investiga um desvio de 300 milhões de reais da pasta de saúde do Rio de Janeiro e fraudes em licitações para o fornecimento de próteses para o Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (Into) e para a Secretaria Estadual de Saúde do Rio de Janeiro.[14]
Em 29 de janeiro de 2018, a imprensa divulgou que pedido de informações feito à ouvidoria do TRF2[15] revelou que Marcelo Bretas acionara com sucesso o Judiciário para receber o auxílio-moradia mesmo sendo casado e residindo com magistrada que também aufere o benefício,[16] situação proibida por regulação do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).[17]
Em 21 de março de 2019, decretou a prisão preventiva do ex-presidente da República Michel Temer por suspeitas de corrupção na Operação Lava Jato; Temer foi o segundo ex-presidente a ter a prisão decretada por crime comum na história do Brasil.[18] A decisão de Bretas foi criticada por juristas, que apontaram inconsistências, sendo revertida monocraticamente em 25 de março de 2019 pelo desembargador Antônio Ivan Athié, do TRF-2, que afirmou que a razão principal alegada por Bretas para prender Temer "simplesmente não existe."[19][20][21][22]
Desde o início de 2019 atraiu curiosidade a relação próxima exemplificada por meio de fotos e elogios públicos entre Bretas e o governador do Rio de Janeiro Wilson Witzel,[23] sendo sua irmã Marcilene Cristina Bretas Santana nomeada para cargo comissionado na Controladoria-Geral do Estado. Em meados do mesmo ano, Bretas apagou todas as fotos com Witzel de suas redes sociais.[24] Ainda no mesmo ano gerou controvérsia uma suposta declaração de apoio ao jogador Neymar com relação a um suposto caso de estupro e agressão tendo que posteriormente prestar esclarecimentos à Corregedoria Nacional de Justiça.[25][26]
Em maio de 2020, foi internado com sintomas de COVID-19, e posteriormente após melhora do quadro foi para a semi-UTI.[27]
Em setembro de 2020, o Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-2) aplicou, por 12 votos a 1, pena de censura a Bretas pela participação em eventos públicos ao lado do presidente Jair Bolsonaro e do prefeito do Rio de Janeiro Marcelo Crivella no dia 15 de fevereiro do mesmo ano. Os magistrados classificaram as atitudes de Bretas como "autopromoção" e "superexposição". Como resultado Bretas estaria fora das listas de promoção por um ano.[28]
Em 28 de fevereiro de 2023, o CNJ acatou o recurso feito pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) punindo o magistrado com o afastamento de suas funções. Bretas era acusado de favorecimento ilícito, ao negociar acordos de delação premiada junto com o Ministério Público Federal (MPF) para negociar sentenças, combinar estratégias e orientar advogados.[29] Além disso, o ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) Luís Felipe Salomão fez uma reclamação disciplinar. Segundo o ministro, que também é corregedor do CNJ, computadores corporativos do juiz tinham supostas deficiências graves de serviços judiciais, administrativos, serventias e de registros.[30] Outra reclamação feita contra ele foi pelo prefeito do Rio de Janeiro Eduardo Paes. O político acusou Bretas de atrapalhar a sua campanha nas Eleições no Rio de Janeiro em 2018, já que no período eleitoral uma delação premiada feita por Alexandre Pinto, ex-secretário de obras na segunda gestão de Paes, acusara o prefeito de corrupção e lavagem de dinheiro durante as obras para a realização dos Jogos Olímpicos Rio 2016. Além disso, segundo o prefeito, Bretas tinha ligações próximas com o então candidato Wilson Witzel. O juiz foi condenado por 12 votos a favor e 3 contrários.[6][7][9][31][32]
Após seu afastamento, tornou-se coach jurídico e passou a ministrar cursos sobre prática jurídica e dar palestras, simpósios e conferências.[33]
Em 3 de junho de 2025, o Conselho Nacional de Justiça condenou Bretas à aposentadoria compulsória, sob o fundamento de que ele cedeu informações sigilosas de processos a um advogado e tentou beneficiar o candidato Wilson Witzel durante as eleições de 2018. O presidente do CNJ, ministro Luís Roberto Barroso, afirmou: "Todo o contexto faz parecer que havia um esquema extrajudicial armado em torno de produzir um determinado resultado de prejudicar pessoas e políticos".[34]
Livros
[editar | editar código-fonte]- A Privacidade e o Poder Investigatório: o limite entre o arbítrio e o respeito aos direitos fundamentais na hipótese de interceptação telefônica. [S.l.]: Editora Dialética. 2021. ISBN 9786559567676
Notas
- ↑ Afastado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) a partir de 28 de fevereiro de 2023[1] e aposentado compulsoriamente em 3 de junho de 2025.
Referências
- ↑ «CNJ afasta o juiz federal Marcelo Bretas para investigar condução de processos no RJ». CNJ. 2023. Consultado em 12 de abril de 2023
- ↑ «Mc Bretas». Twitter. Consultado em 22 de março de 2019
- ↑ a b c d Carneiro, Júlia (30 de janeiro de 2017). «Quem é Marcelo Bretas, juiz que mandou Cabral e Eike para Bangu». BBC. Consultado em 29 de janeiro de 2018
- ↑ a b c Martín, María (26 de fevereiro de 2016). «Marcelo Bretas, o juiz Moro carioca». El País. Consultado em 29 de janeiro de 2018
- ↑ «Relação de juízes» (PDF). Tribunal Regional Federal da 2ª Região. 8 de fevereiro de 2017. Consultado em 4 de março de 2017 [ligação inativa]
- ↑ a b «CNJ afasta Marcelo Bretas por atuação na "lava jato" do Rio e abre procedimento». Conjur – Consultor Jurídico. 28 de fevereiro de 2023. Consultado em 6 de março de 2023
- ↑ a b «CNJ decide afastar Marcelo Bretas, juiz da Lava Jato no Rio de Janeiro». CNN Brasil. 28 de fevereiro de 2023. Consultado em 6 de março de 2023
- ↑ a b c d e Nogueira, Ítalo; Canônico, Marco Aurélio (15 de fevereiro de 2017). «Juiz da Lava Jato no RJ se destaca por penas duras e religiosidade». Folha de S.Paulo. Consultado em 29 de janeiro de 2018
- ↑ a b «Afastamento de Bretas pelo CNJ abre portas para STF demolir Lava Jato do Rio». Gazeta do Povo. 5 de março de 2023. Consultado em 6 de março de 2023
- ↑ «Marcelo Bretas, juiz que mandou prender Cabral, é chamado de 'Moro carioca'». Extra. Globo. 18 de dezembro de 2016. Consultado em 4 de março de 2017
- ↑ «Operação Eficiência: veja de que Cabral, Eike e outros são acusados na Lava Jato». G1. Globo. 26 de janeiro de 2017. Consultado em 4 de março de 2017
- ↑ Vieira, Isabela (8 de fevereiro de 2017). «PF indicia Eike Batista, Cabral e mais dez pessoas na Operação Eficiência». Agência Brasil. EBC. Consultado em 30 de janeiro de 2018
- ↑ Serapião, Fabio; Macedo, Fausto (26 de janeiro de 2017). «Operação Eficiência mira Eike Batista, Sérgio Cabral e lavagem de US$ 100 milhões no exterior». Estadão. O Estado de São Paulo. Consultado em 30 de janeiro de 2018
- ↑ «PF prende ex-secretário de Saúde de Cabral e mais dois empresários na Operação Fatura Exposta». Congresso em Foco. UOL. Consultado em 12 abril de 2017
- ↑ Matais, Andreza (30 de janeiro de 2018). «Procurador da AGU é autor do pedido que revelou auxílio-moradia de Bretas». Estadão
- ↑ «Casado com juíza, Marcelo Bretas foi à Justiça para que ambos pudessem receber auxílio-moradia». Folha de S.Paulo. 29 de janeiro de 2018. Consultado em 29 de janeiro de 2018
- ↑ Brito, Carlos; Martins, Marcos Antônio (29 de janeiro de 2018). «Juiz Marcelo Bretas recorre à Justiça para receber auxílio-moradia». G1. Consultado em 29 de janeiro de 2018
- ↑ «Temer é o segundo ex-presidente do Brasil preso por crime comum; Lula foi o primeiro». G1. Globo. Consultado em 21 de março de 2019
- ↑ «Alegação antiga não pode justificar detenção, diz jurista sobre prisão de Temer». GaúchaZH. RBS. 22 de março de 2019. Consultado em 26 de março de 2019 – via O Estado de S. Paulo
- ↑ Carvalho, Mario César; Bächtold, Felipe (23 de março de 2019). «Bretas ignora 3 fatos recentes listados pela Lava Jato para a prisão de Temer». Folha de S.Paulo. Consultado em 26 de março de 2019
- ↑ Carvalho, Mario César (26 de março de 2019). «Soltura de Temer decorre de decisão frágil, não de sabotagem à Lava Jato». Folha de S.Paulo. Consultado em 26 de março de 2019
- ↑ Leitão, Matheus (25 de março de 2019). «Motivo principal da decisão pela prisão de Temer 'simplesmente não existe', diz desembargador». G1. Globo. Consultado em 26 de março de 2019
- ↑ «Recebo advogados e procuradores, mas obviamente não darei conselhos a ninguém, diz juiz Marcelo Bretas». BBC News Brasil. Consultado em 25 de novembro de 2020
- ↑ «De nomeação de irmã à operação da PF: o rompimento de Witzel e Bretas». Notícias UOL. Consultado em 25 de novembro de 2020
- ↑ «'Nem sempre a vítima é a parte mais fraca', diz Bretas sobre caso Neymar». Poder 360. 6 de junho de 2019. Consultado em 25 de novembro de 2020
- ↑ «Bretas terá que explicar comentário sobre caso Neymar». Terra. Consultado em 25 de novembro de 2020
- ↑ Muniz, Mariana (12 de maio de 2020). «Internado com coronavírus, Marcelo Bretas deve receber alta em breve». Veja. Abril. Consultado em 13 de maio de 2020
- ↑ «TRF2 aplica pena de censura ao juiz Marcelo Bretas por participar de eventos no Rio com Bolsonaro e Crivella». G1. Consultado em 25 de novembro de 2020
- ↑ «CNJ abre investigação e decide afastar o juiz Marcelo Bretas por desvio de conduta». G1. 28 de fevereiro de 2023. Consultado em 6 de março de 2023
- ↑ «Marcelo Bretas, juiz da Lava-Jato do Rio, afastado por irregularidades». Estado de Minas. 28 de fevereiro de 2023. Consultado em 6 de março de 2023
- ↑ «CNJ abre processo disciplinar e afasta juiz Marcelo Bretas». GZH. 28 de fevereiro de 2023. Consultado em 6 de março de 2023
- ↑ «CNJ abre investigação e decide afastar o juiz Marcelo Bretas por desvio de conduta». G1. Consultado em 1 de maio de 2023
- ↑ Ana Gabriela Oliveira Lima (2 de janeiro de 2024). «Bretas, juiz afastado da Lava Jato, agora tenta ser coach jurídico nas redes». Folha de S.Paulo. Consultado em 3 de janeiro de 2024. Cópia arquivada em 3 de janeiro de 2024
- ↑ «CNJ condena juiz Marcelo Bretas a aposentadoria compulsória». Agência Brasil. 3 de junho de 2025. Consultado em 4 de junho de 2025
- Nascidos em 1970
- Alunos da Universidade Católica de Petrópolis
- Alunos da Universidade Federal do Rio de Janeiro
- Juízes da Operação Lava Jato
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- Naturais de Nilópolis
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