Marco Lólio

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Marco Lólio
Cônsul do Império Romano
Consulado 21 a.C.
Nascimento 55 a.C.
Morte 2 d.C.

Marco Lólio (em latim: Marcus Lollius[1]; c. 55 a.C.2 (56 anos)), de cognome possivelmente Paulino (em latim: Paulinus)[2], foi um político e oficial militar dos primeiros anos do Império Romano e a aliado do imperador Augusto[1]. Lólio foi governador de diversas províncias romanas e cônsul em 21 a.C. com Quinto Emílio Lépido. Ele se matou em 2 d.C. depois de um conflito com o herdeiro aparente de Augusto na época, Caio César.

Contexto familiar[editar | editar código-fonte]

Lólio era membro da gente plebeia Lólia[3]. Seu pai também se chamava Marco Lólio e sua mão possivelmente era chamada Paulina, mas pouco se sabe sobre sua família ou seus primeiros anos. É provável que Lólio tenha sido um homem novo, ou seja, o primeiro de sua família a chegar ao senado[4].

Início da carreira política[editar | editar código-fonte]

Geralmente se assume que Lólio seja o "Marcos" citado em "Guerras Civis" de Apiano[5]. Apiano reconta que Lólio era um legado de Marco Júnio Bruto que foi proscrito depois da Batalha de Filipos em 42 a.C.. O próprio Lólio se disfarçou de escravo, foi comprado por um "Bárbula" (que se assume ser Quinto Emílio Lépido) e só foi descoberto em Roma por um amigo de Lépido. Lépido então foi até Marco Vipsânio Agripa, que, por sua vez, intercedeu em nome de Lépido junto a Otaviano e conseguiu que o nome de Lólio fosse removido da lista de proscritos.

Lólio lutou na Batalha de Ácio, em 31 a.C., e pode retribuir o favor intercedendo em nome de Lépido, que havia sido capturado depois de lutar por Marco Antônio, junto a Otaviano[6].

Governador romano da Galácia[editar | editar código-fonte]

O primeiro cargo conhecido de Lólio foi o de governador da Galácia, na Anatólia, em 25 a.C.. Para Augusto tê-lo nomeado para uma posição tão importante, Lólio certamente teve que se mostrar um político competente antes disto[4]. Ele foi o primeiro governador da província[7] e teve a missão de incorporar a nova província[a] ao governo imperial[4].

Apesar da dificuldade da tarefa e da resistência da população local, Lólio se provou um bom governador. Ele conseguiu treinar o exército de Amintas e incorporou-o ao exército romano como parte da Legio XXII Deiotariana. Ele também fundou a colônia de Ancara como um exemplo da civilização romana para a população local e o fez sem provocar revoltas entre os gálatas[4].

Consulado[editar | editar código-fonte]

Quando o mandato de Lólio como governador terminou, ele retornou a Roma. Em 21 a.C., uma segunda posição consular ficou disponível depois que Augusto decidiu não se auto-nomear para o cargo. Depois de uma amarga e rancorosa eleição e de longas discussões — o povo de Roma chegou a pedir que Augusto acabasse com a eleição — entre os dois únicos candidatos para a posição de Augusto, Lúcio Júnio Silano e Quinto Emílio Lépido, Lépido foi eleito cônsul e serviu juntamente com seu amigo Marco Lólio, eleito sem sobressaltos[7]. Seu consulado é mencionado numa inscrição que ele próprio dedicou a si e ao companheiro em 21 a.C. no arco oriental da face sul da Ponte Fabrício, em Roma[8][8] por conta de uma reforma na ponte patrocinada por eles[9].

Seu consulado só é conhecido por causa desta inscrição e nada mais se sabe sobre seu mandato.

Comandante militar[editar | editar código-fonte]

No biênio 19-18 a.C., Augusto nomeou Lólio governador novamente, desta vez da província da Macedônia[4][1]. Neste período, Lólio derrotou a tribo trácia dos bessos segundo uma inscrição encontrada em Filipos, na Grécia[4].

Entre 17 e 16 a.C., Lólio governou a Gália[1] e comandou as legiões do Reno[4]. Ali, Lólio foi derrotado pelas tribos germânicas dos sicambros, tencteros e usípetes, que conseguiram atravessar o rio[10]. Esta derrota, conhecida como Desastre Loliano (em latim: Clades Lolliana), foi equiparada por Suetônio ao desastre de Públio Quintílio Varo na Batalha da Floresta de Teutoburgo (em 9 d.C.). Augusto enviou seu enteado Tibério para acertar a situação e reconquistar os estandartes da Legio V Macedonica[1]. Assim que Tibério chegou os germânicos recuaram para além do Reno novamente[2]. Apesar do desgaste político e militar — Lólio jamais comandaria um exército novamente — ele e Augusto permaneceram amigos[4].

Tutor de Caio César[editar | editar código-fonte]

Os Hórreos Lolianos (hórreo é uma espécie de armazém romano) foram construídos por Lólio ou por seu filho, Marco Lólio e são conhecidos através de inscrições e também pela planta presente no Plano de Mármore de Roma. Aparentemente a família de Lólio tinha relações comercias com lugares distantes e seu nome foi encontrado entre os comerciantes romanos na ilha grega de Delos durante o período helenístico[11].

Entre 2 e 1 a.C., Lólio foi nomeado por Augusto como tutor de seu neto e filho adotivo Caio César em sua missão no oriente para aprender mais sobre o governo imperial[4][1]. Entre os oficiais que escoltaram os dois estavam Marco Veleio Patérculo, o senador romano Públio Sulpício Quirino e o futuro prefeito pretoriano Lúcio Élio Sejano[4]. Quando a comitiva chegou ao oriente, várias embaixadas foram enviadas para encontrar Lólio e nenhuma para Caio César, que foi ignorado. A relação entre os dois começou a se deteriorar durante uma visita a Tibério, que estava vivendo em um auto-exílio voluntário na ilha grega de Rodes[4]. Lólio havia envenenado a opinião de Caio César contra Tibério, que ele detestava desde o desastre no Reno em 16 a.C.[1]. Aparentemente Caio César ofendeu Tibério, que era seu tio, e Lólio foi considerado responsável pelo incidente[4].

A partir daí, no decorrer da viagem pelo oriente, Lólio e Caio César passaram a discutir com frequência. Lólio finalmente caiu em desgraça com o companheiro[12] quando foi acusado de receber suborno do Fraates V[1]. César denunciou Lólio ao imperador Augusto e ele, para evitar uma punição certa, preferiu se matar tomando veneno[2][1][12]. Outras fontes indicam que ele teria morrido de causas naturais[4].

Reputação[editar | editar código-fonte]

Lólio amealhou uma imensa fortuna durante seus mandatos como governador das diversas províncias romanas pelas quais passou[1]. O historiador Plínio, o Velho, descreveu-o desfavoravelemnte[12], chamando-o de um hipócrita que não pensava em nada além de enriquecer. Marco Veleio Patérculo o descreve como ganancioso e corrupto, mas é preciso ter em mente que Patérculo era partidário de Tibério[1]. Já Horácio, que era amigo pessoal de Lólio[4], o descreveu como um homem confiável e elogiou o fato de ele estar acima da avareza, o pecado mais usual dos governadores romanos. Horácio dedicou algumas de suas Odes a ele (4.9, 34-44) a Lólio, endereçando-o com um elogio ambíguo[1][12]. Alguns anos depois da morte de Lólio, Tibério o criticou no Senado Romano.

A fortuna de Lólio foi herdada por sua neta Lólia Paulina, que foi a terceira esposa do imperador Calígula[1].

Família e filhos[editar | editar código-fonte]

Lólio se casou com uma nobre romana chamada Valéria, uma irmã do senador Marco Aurélio Cota Máximo Messalino[13][b]. Os dois tiveram os seguintes filhos:

Evidências arqueológicas[editar | editar código-fonte]

Entre 2005 e 2006, professores e arqueólogos da Universidade de Colônia, na Alemanha, e da Katholieke Universiteit Leuven, Bélgica, participaram de estudos arqueológicos e restaurações de antiguidades romanas em Sagalassos, na Turquia[17][18]. Entre os vários achados está uma base cilíndrica para uma estátua colossal de Lólio. Na base está uma inscrição honorífica em grego: "Marco Lólio é homenageado pela demos [o povo] como seu patrono". Isto significa que a Lólio certamente conseguiu privilégios para a cidade, como uma intervenção para aumentar seu território, a resolução favorável de uma disputa com cidades vizinhas ou contatos especiais com o imperador[18].

Outro achado ligado com esta base encontrada em Sagalassos são dois fragmentos de pés da época de Augusto e que podem ter pertencido à esta estátua colossal. As antigas botas, identificadas como mulleus, são bordadas, afiveladas pelo lado de fora e amarradas por dentro. Elas são feitas de couro, provavelmente pele de algum felino, e são consideradas uma luxuosa vestimenta real. Os fragmentos foram datados em cerca de 1 a.C., a época que Lólio viajou pela região com Caio César. A estátua tinha provavelmente cinco metros de altura e estava localizada no lugar mais importante da cidade. Estes fragmentos estão atualmente no museu de Burdur, na Turquia[17].

Ver também[editar | editar código-fonte]

Cônsul do Império Romano
Precedido por:
Marco Cláudio Marcelo

com Lúcio Arrúncio

Marco Lólio
21 a.C.

com Quinto Emílio Lépido

Sucedido por:
Marco Apuleio

com Públio Sílio Nerva


Notas[editar | editar código-fonte]

  1. A região era até então parte do Reino da Galácia, um reino cliente de Roma, cujo último rei, Amintas, faleceu e deixou, em seu testamento, o reino para o Império Romano.
  2. Marco Aurélio Cota Máximo Messalino era filho do cônsul Marco Valério Messala Corvino, irmão do cônsul Marco Valério Messala Messalino e foi adotado por um membro da gente Aurélia. Tácito[14] afirma que Cota Máximo Messalino era tio-avô de Lólia Paulina, neta de Lólio.

Referências

  1. a b c d e f g h i j k l m Hazel, Who's Who in the Roman World, p.171
  2. a b c Smith, William. Marcus Lollius (5) (em inglês). [S.l.: s.n.] 
  3. Smith, William. Lollia Gens (em inglês). [S.l.: s.n.] 
  4. a b c d e f g h i j k l m n «Marcus Lollius» (em inglês). Livius.org 
  5. Broughton, The Magistrates of the Roman Republic, Vol II, p.365
  6. Apiano, Guerras Civis 4:49
  7. a b Furneaux, Cornelii Taciti Annalium, Libri V, VI, XI, XII: With Introduction and Notes Abridged from the Larger Work, p.68
  8. a b Lansford, The Latin Inscriptions of Rome: A Walking Guide, p.p.456-457
  9. Lansford, The Latin Inscriptions of Rome: A Walking Guide, p.457
  10. Tácito, Anais 1.10
  11. a b Rickman, Roman Granaries and Store Buildings, p. 164
  12. a b c d Furneaux, Cornelii Taciti Annalium, Libri V, VI, XI, XII: With Introduction and Notes Abridged from the Larger Work, p.69
  13. a b Ronald Syme, The Augustan Aristocracy (Oxford: Clarendon Press, 1986), p. 178
  14. Tácito, Anais XII.22
  15. Horácio, Horace Epistles Book I, p.79
  16. Ferry, The Epistles of Horace, Book I, p.xxi
  17. a b Archaeology's Interactive Dig – Interactive Dig Sagalassos – Sculptural Studies Report 1: 2006, by Marc Waelkens
  18. a b Archaeology's Interactive Dig – Interactive Dig Sagalassos – Recording Report 3: Epigraphical Studies, 2006, by Marc Waelkens

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Horácio. Dilke, O.A.W, ed. Horace: Epistles Book I (em inglês). [S.l.]: Taylor & Francis 
  • Ferry, D.; Flaccus, Q.H. (1937). The Epistles of Horace Book I (em inglês). [S.l.]: CUP Archive 
  • Broughton, T. Robert S. (1952). The Magistrates of the Roman Republic (em inglês). II. [S.l.: s.n.] 
  • Rickman, G. (1971). Roman Granaries and Store Buildings (em inglês). [S.l.]: CUP Archive 
  • Skidmore, C. (1996). Practical Ethics for Roman Gentlemen: The Works of Valerius Maximus (em inglês). [S.l.]: University of Exeter Press 
  • Hazel, J. (2001). Who’s Who in the Roman World (em inglês). [S.l.]: Routledge 
  • Lansford, T. (2009). The Latin Inscriptions of Rome: A Walking Guide (em inglês). [S.l.]: JHU Press 
  • Furneaux, H.; Pitman, H. (2010). Cornelii Taciti Annalium, Libri V, VI, XI, XII: With Introduction and Notes Abridged from the Larger Work (em inglês). [S.l.]: Cambridge University Press 
  • Patérculo, Veleio (2011). Yardley, J.C.; Barrett, A.A., eds. The Roman History, Hackett Publishing (em inglês). [S.l.: s.n.] 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]