Margarida Teresa de Habsburgo

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Margarida Teresa
Arquiduquesa da Áustria
Infanta da Espanha
Margarida Teresa de Habsburgo
Retrato por Jan Thomas, 1667
Imperatriz Consorte do
Sacro Império Romano-Germânico
Reinado 6 de fevereiro de 1685
a 11 de dezembro de 1688
Predecessora Leonor de Gonzaga-Nevers
Sucessora Cláudia Felicidade da Áustria
 
Nascimento 12 de julho de 1651
  Real Alcázar de Madrid, Madrid, Espanha
Morte 12 de março de 1673 (21 anos)
  Palácio de Hofburg, Viena, Áustria, Sacro Império Romano-Germânico
Sepultado em Cripta Imperial, Viena, Áustria
Nome completo Margarida Maria Teresa
Marido Leopoldo I do Sacro Império Romano-Germânico
Descendência Maria Antônia da Áustria
Casa Habsburgo
Pai Filipe IV da Espanha
Mãe Maria Ana da Áustria
Religião Catolicismo

Margarida Maria Teresa de Habsburgo[nota 1] (Madrid, 12 de julho de 1651 - Viena, 12 de março de 1673) foi a esposa do imperador Leopoldo I e Imperatriz Consorte Romano-Germânica de 1666 até à sua morte. Era filha do rei Filipe IV da Espanha e da sua segunda esposa, a arquiduquesa Maria Ana da Áustria, e irmã de Carlos II da Espanha, último rei da Casa de Habsburgo da Espanha.

Margarida é a a figura central do famoso quadro As Meninas, de Diego Velázquez.

Família[editar | editar código-fonte]

Retrato da Infanta Margarida, por Diego Velázquez

Nascida em 12 de julho de 1651, Margarida Maria Teresa era a primeira dos cinco filhos do rei Filipe IV da Espanha com sua segunda esposa e sobrinha, a arquiduquesa Maria Ana da Áustria. Por causa deste casamento arranjado, a mãe de Margarida era quase trinta anos mais nova do que seu pai.[1] A união de seus pais foi feita puramente por razões políticas, principalmente a busca de um novo herdeiro masculino para o trono espanhol após a morte prematura de Baltasar Carlos, Príncipe das Astúrias em 1646. Além dele, o outro único descendente sobrevivente do primeiro casamento de de Filipe IV era a infanta Maria Teresa, que tornou-se rainha da França como consorte do rei Luís XIV. Depois de Margarida, entre 1655 e 1661 mais quatro filhos nasceram do casamento entre Filipe IV e Maria Ana da Áustria, mas apenas um sobreviveu à infância, o futuro rei Carlos II da Espanha.[2]

Apesar do alto grau de consanguinidade em sua família,[3] Margarida Teresa não desenvolveu os sérios problemas de saúde e incapacidades que seu irmão mais novo mostrou desde seu nascimento. De acordo com os contemporâneos, Margarida Teresa era uma menina bonita, dotada de um caráter doce e alegre que recebeu esmerada educação na estrita corte de Madrid.[4][5] Era também a filha favorita do rei Filipe IV, que em suas cartas particulares se referia a ela com mi alegría ("Minha Alegria").[4]

Casamento[editar | editar código-fonte]

O Conde de Fuensaldaña, embaixador espanhol na França, sugeriu que Margarita poderia se casar com o rei Carlos II da Inglaterra, ansiando evitar um casamento entre Carlos II e a infanta Catarina de Bragança, filha do rei D. João IV do Reino de Portugal, que tinha restaurado sua independência da Espanha em 1640.[6] No entanto, Filipe IV rejeitou esta proposta, respondendo que Carlos II da Inglaterra deveria procurar uma esposa na França.[7]

Contudo, pela necessidade de um casamento dinástico entre os ramos espanhol e austríaco da Casa de Habsburgo, Margarida Teresa ficou noiva, ainda criança, de seu tio materno e primo paterno, o imperador Leopoldo I. Seu pai estipulou que ela deveria manter sua posição na linha de sucessão ao trono espanhol e passar seus direitos de sucessão aos seus descendentes, algo que Leopoldo aceitou de bom grado.

Em 28 de abril de 1666 Margarida viajou de Madrid a Viena, acompanhada por seu séquito pessoal, chegando em Viena no dia 25 de novembro do mesmo ano. Em 5 de dezembro de 1666, ocorreu a solene entrada da infanta em Viena e a cerimônia oficial de casamento foi celebrada sete dias depois, em 12 de dezembro. As celebrações que se realizaram na capital austríaca por ocasião do casamento imperial (que estavam entre as mais esplêndidas de toda a era barroca) [8] duraram quase dois anos. Um dos eventos mais ilustres durante o reinado de Leopoldo foi a esplêndida performance da ópera Il pomo d'oro ("A maçã de ouro"), pelo compositor italiano Antonio Cesti, a fim de celebrar o aniversário de dezessete anos da imperatriz, em julho de 1668. A ocasião é considerada o apogeu da ópera barroca em Viena, durante o século XVII.[9]

Margarida

Imperatriz Romano-Germânica[editar | editar código-fonte]

Imperatriz Margarida trajando luto pelo pai

Apesar da diferença de idade (onze anos) e da aparência não atrativa de Leopoldo I, o casal foi bastante feliz, já que tinham vários interesses em comum, tais como música e teatro.[10] Embora tivesse sido apelidada como Gretl por seu marido, Margarida Teresa continuou chamando-o de "tio".[11] Durante seus seis anos de casamento, Margarida deu à luz quatro filhos, dos quais apenas um sobreviveu à infância, a arquiduquesa Maria Antônia da Áustria. Suas gravidezes múltiplas vieram enfraquecer a sua saúde já frágil.

A imperatriz era muito católica, e influenciou seu marido a apoiar a expulsão dos jesuítas. Durante a celebração de Corpus Christi em 1670, o imperador ordenou a destruição da sinagoga de Viena onde no local foi construída uma igreja por sua ordem.[10]

Mesmo depois de seu casamento, Margarida manteve seus costumes espanhóis, o que levou a um forte sentimento anti-espanhol na corte imperial; cercada quase exclusivamente por sua comitiva nativa (que incluía secretários, confessores e médicos), ela amava a música e os balés espanhóis e, portanto, mal aprendeu a língua alemã.[10] Os cortesões expressaram abertamente a esperança de que a imperatriz fraca morresse logo e assim daria a oportunidade de Leopoldo se casar novamente. Além de seu devoto marido, o único amigo que ela tinha na corte era a imperatriz viúva Leonor de Gonzaga.[12]

Margarida Teresa faleceu aos vinte e um anos, após ter adoecido de bronquite, em consequência do parto de sua filha Maria Ana; isso, juntamente com sua saúde já enfraquecida devido a quatro partos vivos e pelo menos dois abortos espontâneos durante seu casamento. Foi sepultada na Cripta Imperial em Viena. Apenas quatro meses depois, o imperador viúvo apesar de seu pesar pela morte de sua "única Margareta", casou-se novamente com a arquiduquesa Cláudia Felicidade da Áustria.[13] Após a morte de Margarida, seus direitos sob o trono espanhol foram herdados por sua única filha sobrevivente, Maria Antônia, que por sua vez abdicou a favor se seu único filho sobrevivente, o príncipe José Fernando da Baviera. Após a morte precoce de José Fernando em 1699, os direitos sob a coroa espanhola foram disputados tanto pelo imperador Leopoldo I quanto pelo rei Luís XIV da França, genro do rei Filipe IV, o que desencadeou a Guerra de Sucessão Espanhola. O resultado da Guerra da Sucessão Espanhola foi a criação do ramo espanhol da Casa de Bourbon e seus direitos foram herdados por Filipe da França, Duque de Anjou, sobrinho-neto de Margarida.[14]

Filhos[editar | editar código-fonte]

Imperatriz Margarida Teresa e sua filha Maria Antônia, de Jan Thomas van Ieperen, c. 1670

Margarida e Leopoldo tiveram quatro filhos, mas apenas um chegou a idade adulta:[15]

Influência na cultura[editar | editar código-fonte]

As Meninas
Diego Velázquez, 1656, Museu do Prado

A pintura mais famosa de Velázquez na série dos retratos feitos da infanta é o quadro As Meninas, atualmente exposto no Museu do Prado em Madrid. No retrato, o artista pintou a infanta aos 5 anos em seu estúdio enquanto trabalhava em um retrato de seus pais. Ela está cercada por suas damas de companhia e outros cortesãos, seus olhos estão cravados em seus pais, cujo reflexo é visível no espelho na parede[18]. A tela foi a inspiração para Pablo Picasso, que em 1957 criou mais de quarenta variações desta obra.[19] A imagem de Margarida, encarnada nas pinturas de Velázquez, inspirou não somente pintores. O poeta Boris Pasternak a menciona no poema Tempestade de Borboleta, no qual aparece-lhe como uma visão durante uma tempestade em Moscou.[20]

Maurice Ravel teria se inspirado em Margarida Teresa de Habsburgo ao compor Pavane pour une Infante Défunte.[21] Oscar Wilde inspirou-se em Las Meninas quando escreveu The Birthday of the Infanta, um conto de fadas da coletânea A House of Pomegranates.[22]

Em 2013, um diamante azul dado a infanta Margarida Teresa, quebrou os records em um leilão em Londres, vendido por 16,39 milhões de libras. Margarida ganho-o de seu pai quanto tinha somente 13 anos como parte do dote de seu noivado com o tio, Leopoldo I.[nota 2]

Galeria de retratos[editar | editar código-fonte]

Retratos da Infanta Margarida

Ancestrais[editar | editar código-fonte]

Ver também[editar | editar código-fonte]

O Commons possui uma categoria com imagens e outros ficheiros sobre Margarida Teresa de Habsburgo

Notas e referências

Notas

  1. Ela também era conhecida como Margarida Teresa de Áustria e Margarida Teresa da Espanha. Margarida era filha do rei Filipe IV da Espanha da Casa de Habsburgo, oriunda da Áustria, isto fazia de Margarida uma Infanta da Espanha e Arquiduquesa da Áustria.
  2. O diamante foi leiloado pela Christie's em dezembro de 2008. Referido como o diamante de Wittelsbach, foi dado por seu pai o rei Filipe IV da Espanha como parte do dote quando se casou com o imperador Leopoldo I aos quinze anos de idade. O diamante foi obtido na Índia (como era costume das famílias reais naquela época para trazer seus diamantes da Índia, Hyderabad ou Bihar). A partir de hoje, é um dos poucos diamantes indianos duradouros, juntamente com o Koh-i-Noor (hoje parte das Joias da Coroa Britânica), o Régent (hoje no Louvre), o Orloff (no Kremlin) ou o Hope, no Smithsonian Institution em Washington, D.C.. Christie's vendeu o diamante de quase 36 quilates (7,2 g) por US $ 24,3 milhões, que foi o preço mais alto pago por um diamante vendido em leilão até 2013.

Referências

  1. Margaret Teresa Habsburg, Infanta de España in: Darryl Lundy - thepeerage.com. Consultado em 27 de outubro de 2016.
  2. Antonio Álvarez-Ossorio Alvariño: La sacralización de la dinastía en el pulpito de la Capilla Real en tiempos de Carlos II, pp. 315–317. Consultado em 27 de outubro de 2016.
  3. Group, Global Media (16 de abril de 2009). «Consanguinidade foi fim dos Habsburgos». DN 
  4. a b Museum of Art History, Moscow: Directmedia 2014, vol. XXVI, pp. 89–95 (The great museums of the world). ISBN 978-5-87-107267-7.
  5. Tercero, Luis. «La última emperatriz española: Margarita Teresa en el Hofburg» (em espanhol). www.vienadirecto.com. Consultado em 20 de agosto de 2016 
  6. De Villa-Urrutia W. R. (1905). Relaciones entre España y Austria durante el reinado de la emperatriz Doña Margarita, Infanta de España, Esposa del emperador Leopoldo I. Madrid: Libreria de Fernando Fe. p. 67—69 
  7. Rafael Valladares: La rebelión de Portugal: guerra, conflicto y poderes en la monarquía hispánica, 1640-1680, Valladolid: Junta de Castilla y León, Consejería de Educación y Cultura, 1998. p. 176.
  8. Friedrich Polleross: Entre "majestas" y "modestas": sobre la representación del emperador Leopoldo I (in Spanish). For more information about the celebrations see: Verdadera relación de la entrada y recibimiento que se hizo á la Sra. Emperatriz de Alemania, D. Margarita de Austria, en la ciudad de Viena, en cinco de Diciembre del año pasado de 1666, Granada, 1666.
  9. Pomp and circumstance: the baroque opera Il pomo d’oro in: europeanasounds.eu. Consultado em 28 de outubro de 2016.
  10. a b c Alfred A. Strnad: Margarethe (Margarita Maria Teresa), Infantin von Spanien in: deutsche-biographie.de. Consultado em 28 outubro de 2016.
  11. Bernhard Kathan: Frühe Gebärmaschinen in: hiddenmuseum.net. Consultado em 28 outubro de 2016.
  12. Rotraut Schnitzer-Becker: Eleonora Gonzaga Nevers, imperatrice Dizionario Biografico degli Italiani - Volume 42 (1993) in: treccani.it. Consultado em 28 outubro de 2016.
  13. Wheatcroft 1997, p. 201.
  14. Thomson, M. A. (1954). "Louis XIV and the Origins of the War of the Spanish Succession". Transactions of the Royal Historical Society. 4: 111–134. doi:10.2307/3678854. JSTOR 3678854. S2CID 159533647.
  15. Louda, Jirí; MacLagan, Michael (1999). Lines of Succession: Heraldry of the Royal Families of Europe (2nd ed.). Londres: Little, Brown and Company. tables 80, 81.
  16. Oliván Santaliestra, Laura: "Mariana de Austria en la encrucijada política del siglo XVII" (pp. 397-398)
  17. Oliván Santaliestra, Laura: "Mariana de Austria en la encrucijada política del siglo XVII" (pag. 424).
  18. Diego Rodríguez de Silva y Velázquez: Las Meninas in: museodelprado.es. Consultado em 28 de outubro de 2016.
  19. A. G. Kostenevich: Picasso - The Art of Leningrad 1982, pp. 43–226.
  20. D. S. Likhachev, T. B. Knyazevskaya: Literature and Art in the system of culture, B. B. Piotrowski: Moscow Science 1988, pp. 476–500 ISBN 978-5-02-012677-0.
  21. [Pavane pour une infante défunte. Piano. O 19 français]. {BnF Catalogue géneral
  22. «A House Of Pomegranates by Wilde, Oscar». www.biblio.com. Consultado em 13 de dezembro de 2016 
  23. Chisholm, Hugh, ed. (1911). "Charles II. (King of Spain)". Encyclopædia Britannica. Vol. 5 (11th ed.). Cambridge University Press.

Ligações externas[editar | editar código-fonte]


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16851688
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