Maria Antónia Fiadeiro

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Maria Antónia Fiadeiro
Nascimento 1942 (82 anos)
Lisboa
Morte 31 de março de 2023
Cidadania Portugal
Progenitores
Alma mater
Ocupação jornalista, escritora

Maria Antónia Fiadeiro (Lisboa, 1942 - 31 de março de 2023), foi uma jornalista, escritora e feminista portuguesa. Defensora do direito ao aborto, escreveu em 1978 o livro Aborto - o crime está na lei. Foi pioneira dos estudos feministas em Portugal.

Biografia[editar | editar código-fonte]

Maria Antónia Fiadeiro nasceu na capital portuguesa em 1942. [1][2] Filha dos activistas anti-fascistas Stella Piteira Santos e Inácio Fiadeiro, mudou-se com a mãe para a Amadora após a separação dos pais, onde ficou morar com ela e com o seu padrinho e padrasto, o político Fernado Piteira Santos. [3][4][5]

Encontrava-se a estudar filosofia na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa quando se envolveu activamente na Crise Académica de 1962, ao prestar apoio aos estudantes em greve de fome na cantina da cidade universitária, motivo pelo qual acabou por ser presa pela primeira vez pela PIDE. [4][6][7]

Dois anos mais tarde, decidiu partir para o exílio com o então marido, Alfredo Nascimento. Depois da Argélia, onde se encontravam exilados a mãe e o padrasto, partiram para Paris. Foi nesta cidade que nasceram os seus dois filhos mais velhos, um deles, o coreógrafo João Fiadeiro. [6][3][5] Seguiram para o Brasil, onde frequentou a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, formando-se em filosofia em 1970. [1][6][8] Lá voltou a ser presa por razões políticas. [3]

Foi em São Paulo que deu inicio à sua carreira de jornalista, tendo escrito para a Gazeta de São Paulo. Também trabalhou na Rádio Eldorado, onde estava encarregada de organizar as noticias para sempre lidas e era a única mulher. [9][6]

No dia 26 de Novembro de 1972, regressou a Portugal com os filhos. Foi novamente presa pela PIDE, no aeroporto, e levada para a prisão de Caxias, onde ficou um mês. [6][10]

Após sair da prisão, assumiu o cargo de directora literária nas Publicações Europa-América. [6] Conhecue Maria Antónia Palla, jornalista do jornal O Século, na apresentação de um livro do autor Manuel Puig. Foi através dela que concorreu a uma vaga na revista Modas e Bordados, tendo conseguindo o lugar ao escrever um artigo sobre a escritora Albertina Sarrazim. Começou a trabalhar lá em 1974, sob a chefia de Maria Antónia Sousa. [6]

No ano seguinte, foi nomeada chefe da redacção da revista e ofereceu a Maria Lamas o cargo de directora honorária, dedicando-lhe um número especial da revista, que sobre a sua alçada passou a chamar-se Mulher - Modas e Bordados e assumiu uma faceta feminista. [6][11][12]

Foi com Maria Antónia Palla e Maria Antónia de Sousa que, em 1977, sobiu à direcção do Sindicato dos Jornalistas. A partilha dos primeiros nomes levou Maria de Lurdes Pintasilgo, a utilizar a formula aplicada às autoras das Novas Cartas Portuguesas, conhecidas como As Três Marias e atribui-lhes o nome de As Três Antónias. [13][14][15]

Feminista, Maria Antónia Fiadeiro ocupou um papel de destaque na defesa da igualdade de género e da emancipação feminina, tendo participado activamente na fundação da Liga dos Direitos das Mulheres em 1986. [16][11] Fez parte da direcção nacional da Associação para o Planeamento Familiar (APF), de 1978 a 1981, e foi uma das responsáveis pelo boletim Planeamento Familiar, publicado trimestralmente pela associação. [17][18] Destacou-se também no campo da saúde sexual e reprodutiva, tendo escrito panfletos sobre contracepção para a Comissão da Condição Feminina e escrito o livro Aborto - o crime está na Lei, onde defende a despenalização. [12][19]

Ao longo da sua carreira trabalhou em vários jornais e revistas, nomeadamente: no suplemento Mulher do Diário de Noticias, no Diário de Lisboa, no Jornal de letras, Artes e Ideias, Casa e Decoração, Máxima. [1]

Maria Antónia Fiadeiro morreu a 31 de março de 2023, na sequência de uma paragem cardiorrespiratória, e foi cremada no Cemitério do Alto de São João, em Lisboa. [20][21]

Obras Seleccionadas[editar | editar código-fonte]

Entre as suas obras encontram-se: [22]

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. a b c TBA, Práticas de Leitura: Artistas, Artesãs, Pioneiras |. «Práticas de Leitura: Artistas, Artesãs, Pioneiras |». teatrodobairroalto.pt. Consultado em 13 de maio de 2022 
  2. «Maria Antónia Fiadeiro». VIAF. Consultado em 13 de maio de 2022 
  3. a b c «Artistas, artesãs, pioneiras». Biblioteca Nacional de Portugal. 2020. ISBN 978-989-33-0553-9. Consultado em 13 de maio de 2022 
  4. a b «O dia em que o regime perdeu o futuro». www.cmjornal.pt. Consultado em 13 de maio de 2022 
  5. a b «FERNANDO PITEIRA SANTOS_PORTUGUÊS, CIDADÃO DO SÉCULO XX» (PDF). Centro de Documentação 25 de Abril da Universidade de Coimbra 
  6. a b c d e f g h Tavares, Maria Manuela (2008). Feminismos em Portugal (1947 - 2007) (PDF). [S.l.]: Universidade Aberta 
  7. Baptista, Virginia. «Artistas, artesãs, pioneiras.Conversas singulares com mulheres extraordinárias» (PDF). Faces da Eva (45): 207-210 
  8. Dias Avelino, Yvone. «Portugal de Salazar só é livre e democrático no Brasil: Intelectuais portugueses constroem sua imprensa» (PDF). História e Democracia - ANPUH-SP 
  9. Tavares, Manuela (8 de novembro de 2012). Feminismos: Percursos e Desafios. [S.l.]: Leya 
  10. «Maria Antónia Correia Ribeiro Fiadeiro Nascimento | Memorial 2019». memorial2019.org. Consultado em 13 de maio de 2022 
  11. a b Freire, Isabel (dezembro de 2019). «Discursos sobre emancipação das mulheres e feminismos na Modas & Bordados, no pré e pós-revolução dos Cravos». Faces de Eva. Estudos sobre a Mulher (42): 85–102. ISSN 0874-6885. doi:10.34619/7cbr-7m69. Consultado em 13 de maio de 2022 
  12. a b Freire, Ana Isabel (2016). «A intimidade afetiva e sexual na imprensa em Portugal (1968-1978)» (PDF). Repositório ULisboa - repositório institucional da Universidade de Lisboa 
  13. Almeida, São José. «Maria Antónia Palla: "Não tinha, como não tenho ainda hoje, respeito pelas hierarquias"». PÚBLICO. Consultado em 13 de maio de 2022 
  14. «Novas Cartas Portuguesas: o gênero epistolar e a releitura do cânone literário português» (PDF). Universidade Federal da Paraíba. 2015 
  15. «Mulheres de Abril: Testemunho de Maria Antónia Palla». Esquerda. Consultado em 13 de maio de 2022 
  16. «Liga dos Direitos das Mulheres». agc.sg.mai.gov.pt. Consultado em 13 de maio de 2022 
  17. «Edições | Associação para o Planeamento da Família». www.apf.pt. Consultado em 13 de maio de 2022 
  18. «Exemplares do Boletim Planeamento Familiar». Plataforma Casa Comum da Fundação Mário Soares. Consultado em 13 de maio de 2022 
  19. «Aborto - o crime está na lei». www.dgsi.pt. Consultado em 20 de fevereiro de 2024 
  20. «Ministra Adjunta e dos Assuntos Parlamentares lamenta morte de Maria Antónia Fiadeiro». www.portugal.gov.pt. Consultado em 8 de abril de 2023 
  21. «Morreu a jornalista e ativista Maria Antónia Fiadeiro». www.dn.pt. Consultado em 8 de abril de 2023 
  22. «Biblioteca Nacional de Portugal - Obras de Maria Antónia Fiadeiro». catalogo.bnportugal.gov.pt. Consultado em 10 de maio de 2022 
  23. «Aborto - o crime está na lei». Centro de Documentação da Policia Judiciária. Consultado em 10 de maio de 2022 
  24. Fiadeiro, Maria Antónia (1984). Aborto o crime está na lei. [S.l.]: Relógio d'Agua 
  25. Fiadeiro, Maria Antónia; Cova, Ana (2001). Mulheres século XX: 101 livros ler e escrever ler e reler ler e lembrar. Lisboa. Lisboa: CML 
  26. «Devo a mim próprio a memória da minha vida: Fernando Piteira Santos». www.almedina.net. Consultado em 10 de maio de 2022 
  27. «Artistas, Artesãs, Pioneiras (Edições Caixa Alta, 2020)». Oficina Caixa Alta. Consultado em 10 de maio de 2022 

Ligações Externas[editar | editar código-fonte]