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Mecanismo de enfrentamento

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Mecanismos de enfrentamento, ou estratégias de coping, ou estratégias de enfrentamento, são esforços cognitivos e comportamentais para lidar com situações de dano, ameaça ou desafio quando não está disponível uma rotina ou uma resposta automática. Apenas esforços conscientes e intencionais são considerados estratégias de coping, e o elemento desencadeador de estresse deve ser percebido e analisado, não sendo assim consideradas respostas subconscientes.[1]

Tradicionalmente estudado pela psicologia da saúde, o conceito é empregado para compreender as formas pelas quais indivíduos e famílias reagem a transtornos, doenças e tratamentos. No entanto, o termo passou a ser utilizado também nas ciências sociais, em especial na ciência política e na administração pública, para analisar como agentes e organizações respondem a pressões institucionais, dilemas morais e restrições de recursos.

Nessa perspectiva ampliada, o coping é visto como um conjunto de estratégias adaptativas que permitem a indivíduos e grupos lidar com situações de estresse organizacional e com as contradições inerentes à implementação de políticas públicas. Essa abordagem é particularmente relevante nos estudos sobre burocracias de nível de rua, em que o coping é associado ao exercício da discricionariedade e à criação de práticas informais que moldam o resultado das políticas.[2][3][4]

Classificações

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Associados ao conceito de coping estão o de mediadores e moderadores. Moderadores são variáveis preexistentes que influenciam as estratégias de coping, como as características da pessoa (nível de desenvolvimento, gênero, experiência prévia, temperamento), do elemento de estresse (tipo, nível de controlabilidade), do contexto (influência paterna, suporte social), assim como a interação entre esses fatores.[5]

As estratégias de coping são divididas em coping focalizado na emoção e coping focalizado no problema. O coping focalizado na emoção tem por objetivo reduzir a sensação física desagradável de um estado de estresse — por exemplo, comer doces, fumar um cigarro ou chorar no ombro de um amigo. Dentre os copings emotivos mais estudados e comuns, está o coping religioso, como rezar e participar de rituais.

Os copings também são divididos entre adaptativos, caso sejam saudáveis e eficazes, como meditar para relaxar, e desadaptativos, caso causem prejuízos para si mesmo ou para outros como beber para esquecer dos problemas.

O coping focalizado no problema pode ser dirigido para uma fonte externa, como tomar medicamentos, ou dirigido internamente geralmente, como ao fazer uma reestruturação cognitiva para encarar o problema de uma forma mais adaptativa.[6]

Coping em crianças

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Um estudo demonstrou que crianças de 7 a 10 anos utilizam mais as estratégias de inação e busca de apoio, enquanto que o grupo de 11 a 15 anos utilizam mais estratégias objetivas e funcionais focalizadas no problema. Diante de adultos, foram mais frequentes as estratégias de evitação, aceitação e expressão emocional, enquanto que diante de outras crianças foram mais utilizadas reação agressiva e busca de apoio.[7]

Em muitas sociedades, meninos e meninas são socializados de forma diferente para reagir em acordo com expectativas de gênero. As meninas frequentemente são socializadas para o uso de estratégias pró-sociais, como conversar, negociar ou pedir ajuda, enquanto que os meninos são socializados para serem mais independentes e utilizar estratégias de coping competitivas, sendo mais comum o uso de estratégias anti-sociais como xingar, brigar e trapacear entre eles.[8]

Coping em organizações e políticas públicas

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Nas ciências sociais, especialmente na administração pública e na ciência política, o conceito de coping passou a ser utilizado para compreender como burocratas, principalmente do nível da rua, e agentes públicos lidam com dilemas morais, pressões institucionais e restrições de recursos em seu cotidiano de trabalho[9]. Esses estudos partem da ideia de que o comportamento dos indivíduos em organizações é moldado não apenas por regras formais, mas também por práticas informais e respostas situacionais [10][11][4].

Nesse contexto, as estratégias de coping são entendidas como padrões de ação desenvolvidos por burocratas para gerir demandas conflitantes entre normas institucionais, expectativas sociais e condições materiais. Elas permitem atenuar o estresse e a incerteza associados ao exercício da discricionariedade — ou seja, o espaço de decisão que esses agentes possuem na implementação de políticas públicas[3][2].

Em pesquisas sobre burocracias de nível de rua, o coping aparece como um mecanismo adaptativo que influencia diretamente a forma como políticas são efetivamente executadas[12]. Por exemplo, em estudos sobre o sistema prisional, observa-se uma lógica de mimetização entre policiais penais e pessoas privadas de liberdade, evidenciada por estratégias de coping que buscam reduzir as pressões psicológicas e os riscos associados à convivência nesse ambiente[13].

Referências

  1. Lazarus, R. S., & Folkman, S. (1984). Stress, appraisal, and coping. New York: Springer.
  2. a b Βλασσόπουλος, Γιάννης (22 de fevereiro de 2018). «M. Lipsky (1980), Street-Level Bureaucracy: The Dilemmas of the Individual in Public Service, Russell Sage Foundation, New York.». Κοινωνική Πολιτική. 133 páginas. ISSN 2241-8652. doi:10.12681/sp.15989. Consultado em 22 de outubro de 2025 
  3. a b Tummers, Lars L. G.; Bekkers, Victor; Vink, Evelien; Musheno, Michael (12 de janeiro de 2015). «Coping During Public Service Delivery: A Conceptualization and Systematic Review of the Literature». Journal of Public Administration Research and Theory (4): 1099–1126. ISSN 1053-1858. doi:10.1093/jopart/muu056. Consultado em 22 de outubro de 2025 
  4. a b Brodkin, E. Z. (28 de março de 2011). «Policy Work: Street-Level Organizations Under New Managerialism». Journal of Public Administration Research and Theory (Supplement 2): i253–i277. ISSN 1053-1858. doi:10.1093/jopart/muq093. Consultado em 22 de outubro de 2025 
  5. Rudolph, K. D., Denning, M. D., & Weisz, J. R. (1995). Determinants and consequences of children’s coping in the medical setting conceptualization, review, and critique. Psychological Bulletin, 118, 328-357.
  6. ANTONIAZZI, Adriane Scomazzon; DELL'AGLIO, Débora Dalbosco and BANDEIRA, Denise Ruschel. O conceito de coping: uma revisão teórica. Estud. psicol. (Natal) [online]. 1998, vol.3, n.2 [cited 2010-09-08], pp. 273-294 . Available from: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-294X1998000200006&lng=en&nrm=iso>. ISSN 1413-294X. doi: 10.1590/S1413-294X1998000200006.
  7. DELL'AGLIO, Débora Dalbosco and HUTZ, Cláudio Simon. Estratégias de Coping de Crianças e Adolescentes em Eventos Estressantes com Pares e com Adultos. Psicol. USP [online]. 2002, vol.13, n.2 [cited 2010-09-08], pp. 203-225 . Available from: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-65642002000200012&lng=en&nrm=iso>. ISSN 0103-6564. doi: 10.1590/S0103-65642002000200012.
  8. Lopez, D. F., & Little, T. D. (1996). Children's action-control beliefs and emotional regulation in the social domain. Developmental Psychology, 32, 299-312.
  9. NIELSEN, VIBEKE LEHMANN (6 de novembro de 2006). «ARE STREET‐LEVEL BUREAUCRATS COMPELLED OR ENTICED TO COPE?». Public Administration (4): 861–889. ISSN 0033-3298. doi:10.1111/j.1467-9299.2006.00616.x. Consultado em 22 de outubro de 2025 
  10. Davidovitz, Maayan; Cohen, Nissim (15 de setembro de 2020). «Playing defence: the impact of trust on the coping mechanisms of street-level bureaucrats». Public Management Review (2): 279–300. ISSN 1471-9037. doi:10.1080/14719037.2020.1817532. Consultado em 22 de outubro de 2025 
  11. Cohen, Nissim (8 de setembro de 2016). «How Culture Affects Street-Level Bureaucrats' Bending the Rules in the Context of Informal Payments for Health Care: The Israeli Case». The American Review of Public Administration (2): 175–187. ISSN 0275-0740. doi:10.1177/0275074016665919. Consultado em 22 de outubro de 2025 
  12. Lotta, G. (2019). A política pública como ela é: contribuições dos estudos sobre implementação para a análise de políticas públicas. Teoria e análises sobre implementação de políticas públicas no Brasil. Brasília: Enap, 11-38.
  13. Aronis, Muriel Akkerman (29 de abril de 2024). «De agentes a policiais: como trabalhadores do sistema penitenciário percebem a mudança de categoria profissional». Consultado em 22 de outubro de 2025