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Mesbla

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Mesbla
Razão socialMesbla S.A.
Nome(s) anterior(es)Sociedade Anônima Brasileira Estabelecimentos Mestre et Blatgé (1912–1939)
Empresa de capital aberto
CotaçãoB3: MESB (1968–2000)
AtividadeLojas de departamento
Fundação1912 (1912)
Fundador(es)Louis La Saigne
Encerramento24 agosto 1999; há 26 anos
SedeRio de Janeiro, RJ, Brasil
Proprietário(s)
  • Silvano Santos Cardoso (1961–1968)
  • Henrique de Botton (1968–1993)
  • André de Botton (1993–1997)
  • Ricardo Mansur (1997–1999)
Empregados9.000 (junto com o Mappin; 1999)

Mesbla foi uma rede de lojas de departamentos que iniciou suas atividades em 1912, como filial de uma firma francesa, e teve sua falência decretada em 1999.

História

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O começo

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No prédio de número 83 da rua da Assembleia, no centro da cidade do Rio de Janeiro, foi instalada em 1912 uma filial da firma Mestre & Blatgé, com sede em Paris e especializada no comércio de máquinas e equipamentos.

A filial brasileira tinha pouca importância dentro da organização francesa espalhada pelo mundo. Quatro anos depois de sua instalação, sua administração foi entregue ao francês Louis La Saigne, até então subgerente da filial em Buenos Aires. Em 1924 La Saigne transformou o estabelecimento carioca numa firma autônoma, com o nome de Sociedade Anônima Brasileira Estabelecimentos Mestre et Blatgé, que em 1939 passou a denominar-se Mesbla S.A.. A nova denominação era uma combinação das primeiras sílabas do nome original, que foi sugerida pela secretária de Louis La Saigne, Isaura, por meio de um concurso interno. A preocupação era que no início da Segunda Guerra Mundial a França se manifestou solidária a Adolf Hitler, o que poderia ocasionar represálias no Brasil com referência ao nome.

La Saigne teve quatro filhas, e a mais velha casou-se com Henrique de Botton. Após um dia de intenso trabalho, Louis La Saigne, morreu em sua residência na noite do dia 18 de janeiro de 1961. Com sua morte foram eleitos presidente e vice-presidente dois de seus mais antigos funcionários, respectivamente, Silvano Santos Cardoso e Henrique de Botton. No ano seguinte, em 12 de agosto de 1962, a Mesbla celebraria seu Jubileu de Ouro já como uma empresa genuinamente brasileira, com seus mais de 8.000 funcionários operando em 13 filiais, lojas de varejo e agências de venda estabelecidas em pontos estratégicos do território nacional.

Com o falecimento de Santos Cardoso, aos 29 de fevereiro de 1968, Henrique de Botton assumiu a presidência, e após seu falecimento, seu filho André herdaria o comando da empresa. Ambos comandaram a expansão e o descenso da empresa até os anos 1980.

Na década de 1950 a empresa tinha lojas instaladas nas principais capitais do país e em algumas cidades do interior. Três décadas mais tarde, a Mesbla tinha 180 pontos de venda e cerca de 28 mil funcionários(as). Suas lojas de grande porte, com áreas raramente inferiores a 3 mil metros quadrados (3.000m²), eram pontos de referência nas cidades onde a empresa far-se-ia presente.

Anos 1980: Reformulação, consagração e reconhecimento internacional

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Por quase três décadas, a Mesbla reinou praticamente sozinha no mercado de varejo. Ademais, era a única empresa do gênero de abrangência nacional. Orgulhavam-se seus funcionários em afirmar que a Mesbla só não vendia caixões funerários, que são para os mortos; para os vivos tinham todas as mercadorias, desde botões até automóveis, lanchas e aviões.

Propaganda da Mesbla em um prédio na cidade de Campinas.

No entanto, a expansão da Mesbla se fez com estratégias de mercado que logo se mostraram ultrapassadas. Com a incrementação da venda de vestuário e roupas de cama e mesa, os artigos eram expostos junto às máquinas e aos equipamentos, mercadorias tradicionais da empresa. A mesma mistura desorganizada se via nos catálogos.

Também as compras da empresa junto a fornecedores apresentavam falhas. Por exemplo, tão logo o Brasil reatou relações diplomáticas com a União Soviética, no governo de João Goulart, a Mesbla importou daquele país grande quantidade de máquinas fotográficas e câmeras de filmar de baixa qualidade. Como as importações não tiveram continuidade, a Mesbla se viu em dificuldades para prestar assistência técnica dos produtos vendidos.

Em 1981, acender-se-ia o sinal de alerta: A Mesbla passou do primeiro para o terceiro posto entre as maiores empresas de varejo do Brasil. Uma das consequências foi o fortalecimento das concorrentes. Uma consultoria mercadológica foi contratada e as lojas da Mesbla passaram por uma completa reformulação. Tal processo culminou com mudanças na decoração das lojas, na arrumação das vitrines, nos uniformes dos vendedores e na comunicação dos clientes. Passou também a cuidar melhor da publicidade, apresentando catálogos em cores e anúncios bem cuidados para a televisão. Todo este processo fez com que a Mesbla atraísse os melhores executivos do mercado, oferecendo bons salários.

Além das lojas de departamentos, a Mesbla tinha estabelecimentos próprios para venda de móveis, automóveis, lanchas, além de uma financeira. Atuou também no comércio internacional através de uma empresa subsidiária, a Mesbla Comércio Internacional, cuja filial estava localizada em Nova Iorque, nos EUA. Dentre os vários negócios milionários realizados pela referida subsidiária, mereceu destaque até no jornal The New York Times a venda de 60 mil caminhões à China, no valor de 900 milhões de dólares (US$ 900.000.000,00). Em 1986 foi escolhida pela revista Exame, especializada em economia e negócios, como a melhor empresa do Brasil.

Com isso, André de Botton foi consagrado como rei do varejo. Seu nome fazia parte do quarteto que formava a nobreza empresarial dos anos 1970 e 1980, completada por Octavio Lacombe, do Grupo Paranapanema, Olavo Monteiro de Carvalho, do Grupo Monteiro Aranha, e Augusto Trajano, da Caemi. Além dos escritórios das grandes corporações e dos gabinetes de ministros e políticos de Brasília, eles circulavam pelas esferas da alta sociedade carioca da época. De Botton foi escolhido por duas vezes o Varejista Estrangeiro do Ano pela organização estadunidense National Retail Federation.

Anos 1990: Plano Real, problemas e fragilidades financeiras

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Apesar das mudanças de estratégia efetuadas durante a década de 1980, alguns problemas persistiram. A Mesbla tinha quarenta diretores, o que tornava as decisões lentas. Ao final do governo Sarney, em 1989, temendo o recrudescimento da hiperinflação, a diretoria da Mesbla começou a estocar mercadorias em excesso e passou a contar basicamente com recursos gerados por sua financeira.

O advento do Plano Real (1993-1994), com o fim da inflação alta, mostrou as fragilidades da Mesbla. Com isso, os constantes prejuízos começaram a aparecer. Como tentativa de contê-los, a empresa fechou lojas e dispensou trabalhadores.

A concorrência com outras lojas de departamento e hipermercados estrangeiros também agravou o difícil quadro da Mesbla. Pontue-se que estas empresas criavam mecanismos para facilitar a obtenção de capital estrangeiro a juros mais baixos. Com isso, as empresas estrangeiras conquistaram a clientela de melhor poder aquisitivo, sempre atenta a novidades, com uma maior variedade de mercadorias e facilidades de crediário, em especial com a criação de cartões de crédito próprios.

Para manter-se de pé, a Mesbla tentou se igualar aos concorrentes, criando marcas exclusivas de roupa e seu próprio cartão de crédito. Medida insuficiente: Em 1994 já havia fechado várias lojas e reduzido seu quadro para 4,5 mil funcionários. Este número representa cerca de 16% dos mais de 28 mil que possuía. Estas medidas também não foram suficientes para estancar os prejuízos.

Mansur e o fim

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Em 1997, com dívidas superiores a um bilhão de reais (R$ 1.000.000.000,00), a Mesbla pediu concordata. No mesmo ano, o controle acionário da Mesbla foi adquirido pelo empresário Ricardo Mansur, que arrematou 51% das ações por 600 milhões de reais (R$ 600.000.000,00), a ser pagos em dez anos, além de assumir a dívida fiscal de 350 milhões de reais (R$ 350.000.000,00) da concordatária. Nove meses antes havia comprado as lojas do Mappin, tradicional empresa de varejo paulista. A intenção de Mansur era fundir as duas empresas para, posteriormente, torná-las rentáveis e revendê-las com lucro.

Na tentativa de salvar a Mesbla e o Mappin, Mansur colocou à frente das empresas o executivo João Paulo Amaral. Amaral, no entanto, deparar-se-ia com o fato de ser uma daquelas missões tidas como impossíveis. A falta de dinheiro no caixa era mais grave do que se pensava, os atrasos do pagamento de fornecedores, crônicos. Em seguida, começou uma série de pedidos de falência, além de ameaças de despejo em todos os shoppings onde as lojas exibiam suas marcas.

Mansur tentou usar de seu prestígio junto a políticos e até mesmo da pressão dos funcionários da Mesbla e do Mappin, por meio de passeatas, para conseguir dinheiro do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), um banco público. Ao mesmo tempo, buscava algum grupo estrangeiro interessado em adquirir as lojas.

Sua credibilidade, no entanto, começou a ser posta em dúvida quando passou a divulgar informações falsas para concretizar o negócio. Ao mesmo tempo, a administração de seu banco começou a ser investigada e se apuraram práticas fraudulentas, que resultaram em sua liquidação. Por conta dessas práticas, Mansur chegou a ser preso e teve seus bens bloqueados. Um novo pedido de prisão foi feito por sua ex-companheira, a quem não pagava pensão alimentícia.

Diante de tantos problemas, Mansur se desinteressou da sorte da Mesbla e do Mappin. Voou para Londres e não voltou mais ao Brasil. A falência de ambas as empresas foi decretada em julho de 1999. Após a decretação da falência, colocou seu estoque em promoção para pagar os salários dos 750 funcionários que a empresa tinha até então.[1] A situação agravou-se com as ordens de despejo em 3 de agosto do mesmo ano, fechando as lojas dos shoppings Rio Sul, Ilha Plaza e Plaza Shopping.[2] A loja-sede, no Passeio Público, encerrou suas atividades dez dias depois, aos 13 de agosto,[3] enquanto a filial da Tijuca cerrou suas portas na semana seguinte. A última loja da Mesbla a fechar suas portas foi a filial de Niterói, em 24 de agosto.

Retomada da marca via e-commerce

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Tentativa abortada (2009-2010)

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Em 2009, chegou a ser anunciada a volta da Mesbla: uma empresa de comércio eletrônico negociou a compra dos direitos de uso do nome com Mansur e pretendia inaugurar um site voltado ao público feminino em março de 2010, com lançamento oficial em maio do mesmo ano.[4] "A marca ainda tem um apelo positivo entre as consumidoras", avaliava um diretor da empresa.[5] Segundo a colunista Mônica Bergamo, na Folha de S.Paulo de 3 de junho de 2009, o ex-dono da Mesbla, Ricardo Mansur, teria ido a Nova York para acelerar os contatos para adiantar o mais rápido possível a reinauguração da Mesbla. Porém, a iniciativa não deu resultados.

Evolução do logotipo

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Referências

  1. «Mesbla queima estoques». memoria.bn.br. Jornal do Commercio. 6 de agosto de 1999. Consultado em 19 de agosto de 2020 
  2. «Mesbla é despejada no Rio e em Niterói». memoria.bn.br. Jornal do Commercio. 4 de agosto de 1999. Consultado em 19 de agosto de 2020 
  3. Mouteira, Bonança (14 de agosto de 1999). «Mesbla, agora um nome na memória». memoria.bn.br. Jornal do Commercio. Consultado em 19 de agosto de 2020 
  4. «Mesbla retorna com comércio eletrônico». PopMark. 9 de novembro de 2009. Consultado em 21 de janeiro de 2017. Cópia arquivada em 21 de janeiro de 2017 
  5. "De volta ao jogo", Veja São Paulo, 30/12/2009, Editora Abril, pág. 15

Ligações externas

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