Mistislau I de Czernicóvia

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
 Nota: Para outras pessoas de mesmo nome, veja Mistislau.
Mistislau I de Czernicóvia
Príncipe de Tamatarcha
Reinado 988 ou depois — ca. 1035
Antecessor(a) Novo (?)
Sucessor(a) Unido a Quieve
(Esvetoslau II em 1054)
Príncipe de Czernicóvia
Reinado 1024 ou depois — ca. 1035
Predecessor(a) Novo (?)
Sucessor(a) Unido a Quieve
(Esvetoslau II em 1054)
 
Nascimento 1147
Morte 1035
Sepultado em Catedral da Transfiguração, Czernicóvia
Descendência Eustáfio
Casa ruríquida
Pai Vladimir I
Mãe Raguenilda

Mistislau I (em bielorrusso: Мсціслаў Уладзіміравіч; em russo: Мстислав Владимирович; em ucraniano: Мстислав Володимирович ) foi o primeiro príncipe atestado de Tamatarcha e Czernicóvia da Rússia de Quieve. Era o filho mais jovem do grão-príncipe Vladimir I (r. 980–1015). Seu pai nomeou-o governante de Tamatarcha, importante fortaleza no estreito de Querche, em ou após 988. Mistislau invadiu o núcleo dos territórios rus', que estavam sob controle de seu irmão Jaroslau I, o Sábio (r. 1019–1054), em 1024. Embora não pode tomar Quieve, forçou os eslavos orientais que viviam ao leste do rio Dniepre a aceitar sua suserania. Jaroslau também aceitou a divisão dos rus' junto ao rio após Mistislau derrotá-lo em batalha travada em Listven, nas cercanias de Czernicóvia. Mistislau transferiu sua sede para Czernicóvia, e tornou-se o primeiro governante do principado que emergiu em torno dela.

Vida[editar | editar código-fonte]

Primeiros anos[editar | editar código-fonte]

Era um dos muitos filhos do grão-príncipe Vladimir I (r. 980–1015).[1] Sua posição exata na família é disputada, pois Vladimir, que teve sete esposas e muitas concubinas antes de sua conversão,[2] teve dois filhos chamados Mistislau, segundo Crônica de Nestor.[3] Uma delas foi Raguenilda, que foi forçada a ser sua primeira esposa no final dos anos 970.[2][4] O segundo Mistislau nasceu de uma mulher checa. Historiadores debatem se o futuro príncipe de Tamatarcha e Czernicóvia foi filho de Raguenilda ou da esposa checa: a primeira opção é preferida por George Vernadsky, a segunda por Janet Martin.[1][3]

Príncipe de Tamatarcha[editar | editar código-fonte]

Principados rus'
Desenho do selo de Jaroslau
Polônia ca. 1002-1005

Vladimir administrou grandes porções dos territórios rus' através seus filhos ao colocá-los em cidades nas fronteiras.[1][5] A Crônica de Nestor narra, para o ano 988, que Mistislau tornou-se príncipe de Tamatarcha após a morte de um de seus irmãos, Visseslau de Novogárdia.[6] Vernadsky escreve que Mistislau, como governante de Tamatarcha, assumiu o título de grão-cã.[7] Tamatarcha foi uma importante cidade controlando o estreito de Querche entre o mar de Azove e o mar Negro.[8] Estava separada de outras partes dos rus' pelas estepes.[9] Sob Mistislau, primeiro príncipe conhecido, a cidade se desenvolveu num importante empório para comerciantes rus' e o Império Bizantino.[10]

Vladimir morreu em 1014 enquanto se preparada para uma campanha contra seu filho rebelde, Iziaslau. Mistislau permaneceu neutro durante a guerra civil que se seguiu à morte do pai e terminou com a vitória de seu irmão, Jaroslau I, o Sábio em 1019.[11] O cronista bizantino João Escilitzes escreve sobre um "Esfengo, irmão de Vladimir"[12] que assistiu a frota imperial no ataque a Cazária em 1016.[13] Segundo os historiadores Simon Franklin e Jonathan Shepard, esse Esfengo – cujo nome parece ser a variante grega do varangiano Sueno – poderia ser identificado com Mistislau.[14]

Em 1022, Mistislau matou Redédia, príncipe da tribo circassiana dos cassogianos num duelo após violar as regras acordadas no duelo. Redédia propôs um duelo físico sem o uso de armas de modo a evitar a possibilidade de mais guerra e morte aos cassogianos que já estava num estado de guerra semi-permanente. Mistislau concordou e o duelo começou, Redédia imediatamente afirmou sua dominância e derrotou Mistislau. Pego desprevenido, Mistislau revelou uma adaga e traiu Redédia e a honra do duelo ao acertá-lo. Redédia, em seus suspiros finais, insistiu que seus companheiros não conduzissem uma vendeta de sangue para evitar mais guerras aos cassogianos que já lutaram com outros povos antes da campanha de Mistislau. O legado de Redédia foi imortalizado por seus bardos e seu nome continua a viver nos modernos menestréis, poemas e músicas populares circassianas.[15] Segundo a Crônica de Nestor, Mistislau tomou a "esposa e filhos" de Redédia e "impôs tributo aos cassogianos"[16] após sua vitória.[17] Muitos cassogianos uniram-se ao druzina ou comitiva de Mistislau.[18] Ele construiu uma igreja, dedicada a Virgem Maria, em sua sede em cumprimento do juramento que havia feito antes do duelo.[19]

Príncipe de Czernicóvia[editar | editar código-fonte]

Em 1024, enquanto Jaroslau estava fora de Quieve, Mistislau liderou seu exército, que incluía tropas cassogianas e cazares, contra Quieve.[15] Embora não poderia entrar na capital dos russos devido a oposição local, forçou os severianos — uma tribo de eslavos orientais que vivia ao longo do rio Desna a leste de Quieve — a aceitar sua suserania.[20][9] Ele transferiu sua sede de Tamatarcha para Czernicóvia, que era a segunda maior cidade dos rus'.[21] Por nenhuma fonte mencionar um príncipe local governando Czernicóvia antes desse evento, historiadores consideram Mistislau como primeiro governante do Principado de Czernicóvia.[22] Ele expandiu a cidadela e as construções defensivas em torno do subúrbio em sua nova sede.[23]

Duunvirato[editar | editar código-fonte]

Jaroslau, que mantinha tropas varegues em Novogárdia, invadiu o domínio de Mistislau em 1024. Na batalha decisiva, que foi travada em Listven próximo de Czernicóvia, Mistislau venceu.[15] Jaroslau cedeu os territórios a leste do rio Dniepre a Mistislau. [22][24] Após a distribuição de terras dos rus', Mistislau governou seu principado autonomamente.[25] Ordenou a construção na capital da catedral de alvenaria dedicada a Transfiguração do Santo Salvador em 1030 ou 1031.[26]

Mistislau forçou os alanos que viviam junto do curso inferior do rio Don a aceitar sua suserania em 1029.[7] Ele quase cooperou com seu irmão nos últimos anos de sua vida.[15] Jaroslau e Mistislau conjuntamente invadiram a Polônia e ocuparam as cidades rutenas em 1031.[27] A Crônica de Nestor narra que "também tomaram muitos polacos e distribuíram-os como colonos em vários distritos." [7][28]

O único filho de Mistislau, Eustáfio morreu em 1033.[29] Segundo a Crônica de Nestor, "adoeceu e morreu"[30] numa expedição de caça entre 1034 e 1036.[31] Foi sepultado na Catedral da Transfiguração que havia sido à época "construída a um ponto mais alto do que um homem sobre as costas de um cavalo podia alcançar sem suas mãos".[30] Por Mistislau morrer sem varões (teve ao menos uma filha), seu principado foi unido com o reino de seu irmão.[22]

Referências

  1. a b c Vernadsky 1948, p. 74.
  2. a b Vernadsky 1948, p. 57.
  3. a b Martin 1993, p. 27.
  4. Martin 1993, p. 2, 27.
  5. Martin 1993, p. 12.
  6. Martin 1993, p. 12, 26.
  7. a b c Vernadsky 1948, p. 77.
  8. Dimnik 1994, p. 56.
  9. a b Martin 1993, p. 26.
  10. Dimnik 1994, p. 26 56-57.
  11. Vernadsky 1948, p. 75-76.
  12. Wortley 2010, p. 336.
  13. Franklin 1996, p. 200.
  14. Franklin 1996, p. 200-201.
  15. a b c d Vernadsky 1948, p. 76.
  16. Cross 1953, p. 134 (ano 6530).
  17. Franklin 1996, p. 201.
  18. Vernadsky 1948, p. 357-358.
  19. Vernadsky 1948, p. 77-78.
  20. Vernadsky 1948, p. 3, 76.
  21. Dimnik 1994, p. 8, 16.
  22. a b c Dimnik 1994, p. 8.
  23. Dimnik 1994, p. 12, 16.
  24. Vernadsky 1948, p. 68.
  25. Dimnik 1994, p. 50, 74.
  26. Dimnik 1994, p. 8, 16-17.
  27. Manteuffel 1982, p. 81.
  28. Cross 1953, p. 136 (ano 6539).
  29. Dimnik 1994, p. 293.
  30. a b Cross 1953, p. 136 (ano 6542–44).
  31. Franklin 1996, p. 206.

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Cross, Samuel Hazzard; Sherbowitz-Wetzor, Olgerd P. (1953). The Russian Primary Chronicle: Laurentian Text (Translated and edited by Samuel Hazzard Cross and Olgerd P. Sherbowitz-Wetzor). Cambridge, Massachusetts: Medieval Academy of America. ISBN 978-0-915651-32-0 
  • Dimnik, Martin (1994). The Dynasty of Chernigov, 1054–1146. Ontário: Pontifical Institute of Mediaeval Studies. ISBN 0-88844-116-9 
  • Franklin, Simon; Shepard, Jonathan (1996). The Emergence of Rus 750–1200. Londres: Longman. ISBN 0-582-49091-X 
  • Manteuffel, Tadeusz (1982). The Formation of the Polish State: The Period of Ducal Rule, 963–1194 (Translated and with an Introduction by Andrew Gorski). Detroit, Michigan: Wayne State University Press. ISBN 0-8143-1682-4 
  • Martin, Janet (1993). Medieval Russia, 980–1584. Cambridge: Cambridge University Press. ISBN 978-0-521-67636-6 
  • Vernadsky, George (1948). A History of Russia, Volume II: Kievan Russia. New Heaven, Connecticut: Yale University Press. ISBN 0-300-01647-6 
  • Wortley, John, ed. (2010). John Skylitzes: A Synopsis of Byzantine History, 811-1057. Cambridge, Reino Unido: Cambridge University Press. ISBN 978-0-521-76705-7