Moïse Katumbi

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Moïse Katumbi Chapwe (2010)

Moïse Katumbi Chapwe (nascido em 28 de dezembro de 1964) é um político e empresário quinxassa-congolês.[1] Foi Governador da província do Catanga, região situada na região sul da República Democrática do Congo, de 2007 a setembro de 2015.[2] Foi membro do Partido do Povo para a Reconstrução e a Democracia (PPRD) até 29 de setembro de 2015.[3] Foi considerado como "provavelmente o segundo homem mais poderoso da República Democrática do Congo depois do Presidente, Joseph Kabila"[4] e foi nomeado pela revista Jeune Afrique para "Personalidade Africana do ano de 2015".[5]

Biografia[editar | editar código-fonte]

Moïse Katumbi é filho de mãe congolesa e de pai grego, Nissim Soriano, fugido de Rhodes entre as duas guerras mundiais, durante o domínio da Itália fascista.[6] Fixou-se em Catanga, perto do Lago Moero.[7]

Moïse Katumbi é casado com Carine Katumbi.[8]

Formação académica[editar | editar código-fonte]

Moïse Katumbi fez os seus estudos na escola Kiwele de Lubumbashi e na missão Kapolowe onde obteve um diploma estatal, tendo-se licenciado em Psicologia.[9]

Enquanto geria os negócios do irmão e iniciava outras atividades na Zâmbia, aprendeu Inglês e frequentou cursos de gestão.[10]

Empresa de pesca[editar | editar código-fonte]

Moïse Katumbi iniciou a sua carreira empresarial a vender peixe na escola e aos 13 anos obteve o primeiro lucro de 40 dólares.[11] O negócio prospera no lago Moero em grande parte devido ao fornecimento de peixe à empresa mineira Gécamines detida pelo estado.[12]

Établissement Katumbi[editar | editar código-fonte]

Katumbi desenvolveu, diversificou e expandiu rapidamente as atividades na Zâmbia a outros setores: transportes, comércio, abastecimento de produtos alimentares.[13] Desde uma extensa rede viária de milhares de quilómetros à eletrificação de zonas rurais e urbanas, à construção e à reabilitação de escolas e hospitais, Katumbi tem a sua marca espalhada por toda a província do Catanga.[14]

Em 1987, fundou a holding Établissement Katumbi para agregar todos os negócios: minas, transportes e abastecimento de produtos alimentares.[15]

Sociedade Mineira do Katanga[editar | editar código-fonte]

Dez anos mais tarde, depois de um período de diversificação dos negócios, funda a MCK (Sociedade Mineira do Katanga), tendo recuperado 80% da produção mineira de cobre e de cobalto da Gécamines.[10] A 9 de novembro de 2015, a empresa francesa Necotrans comprou a MCK por um montante não revelado.[16][17]

Futebol[editar | editar código-fonte]

TP Mazembe[editar | editar código-fonte]

Desde 1997, Moïse Katumbi também é presidente do clube de futebol TP Mazembe, em Lubumbashi.[18] A equipa ganhou cinco vezes a Liga dos Campeões da Confederação Africana de Futebol (CAF), cujos últimos êxitos conseguidos datam de 2009,[19] 2010[20] e 2015.[21] A equipa disputou ainda as finais do Campeonato do Mundo de Clubes de 2010 organizado pela FIFA em Abu Dhabi[22] e de 2015, realizado em Tóquio.[23]

O clube fez história ao tornar-se o primeiro clube africano a conseguir quebrar a hegemonia europeia e sul-americana, ao chegar à final do Campeonato do Mundo de Clubes organizado pela FIFA, onde perdeu com o Inter de Milão.[24]

Moise Katumbi também promoveu um programa social através da prática do futebol destinado a integrar e a treinar os jovens na província do Catanga. (Mais de 2 000 membros até agora) Katumbi terminou a construção do estádio do TP Mazembe em 2011, cujo montante orçou em 35 milhões de dólares americanos.[21]

Comissão Estratégica da FIFA[editar | editar código-fonte]

A 2 de janeiro de 2012 foi eleito para a Comissão Estratégica da FIFA, cargo que ocupa até hoje.[25][26]

Percurso político[editar | editar código-fonte]

Em 2006 e 2011, Moïse Katumbi apoiou Joseph Kabilana na corrida à presidência da República Democrática do Congo.[27] No entanto, como aconteceu com muitos outros, Katumbi afastou-se publicamente de Kabila em 2015.[28]

Num artigo da Reuters publicado no dia 13 de novembro de 2015, Moïse Katumbi sugeriu a imunidade criminal de Kabila pelos atos praticados no exercício das suas funções depois de abandonar o cargo "como uma tentativa de convencer Kabila a abandonar o lugar, uma vez que o segundo e último mandato para o qual foi eleito termina no ano seguinte". Moise acrescentou que se Kabila abandonasse as funções dentro do período estabelecido na Constituição tornar-se-ia o "pai da democracia congolesa" e um presidente muito querido pelo povo congolês.[29][30][31]

Deputado da Assembleia Nacional[editar | editar código-fonte]

Em 2006 foi eleito Deputado da Assembleia Nacional antes de ser eleito Governador da província do Catanga em janeiro de 2007, tendo obtido 94 votos, num total de 102 votos.[32]

Governador do Catanga[editar | editar código-fonte]

Pouco depois de ter tomado posse como governador do Catanga, Moïse Katumbi proibiu a exportação de matérias-primas minerais, obrigando assim as grandes sociedades mineiras a criarem unidades de transformação na província.[33] Aumentou os impostos locais, cujas receitas passaram de 80 milhões a mais de 3 biliões de dólares americanos para combater a corrupção e aumentar as exportações de cátodo de cobre puro. Estas receitas foram utilizadas na construção de escolas, estradas, hospitais e infraestruturas destinadas ao fornecimento de água potável (o acesso à água potável passou de 3% para 67%) a inúmeras populações carenciadas.[32]

De acordo com os dados da Câmara de Exploração Mineira, a produção de cobre que, em 2006, ascendia a 8 000 toneladas métricas, aumentou para mais de 1 milhão de toneladas em 2014 graças às medidas tomadas por Moise Katumbi. Durante a sua administração, foram construídos mais de 1 000 km de estradas e o preço de um saco de farinha de milho desceu de 45 para 10 dólares americanos.[34]

Tal como previsto na Constituição do seu país, Moïse Katumbi anunciou em 2013 que não se recandidataria a um segundo mandato como Governador. Para as eleições presidenciais de 2016, foi considerado por muitos observadores nacionais e internacionais como um potencial candidato à sucessão de Joseph Kabila.[35][36][37]

Front Citoyen 2016[editar | editar código-fonte]

A 29 de setembro de 2015 renunciou ao cargo de Governador depois dos líderes de sete partidos políticos terem sido expulsos por decisão da Maioria Presidencial, na sequência de uma carta aberta dirigida a Kabila, onde o questionavam sobre a sua intenção de se retirar em 2016, ano do fim do seu segundo mandato.[38][39] Katumbi acrescentou que a sua demissão do Partido Popular para a Reconstrução e a Democracia lhe permitiria denunciar as tentativas do governo nacional para violar a Constituição e adiar as eleições,[28] bem como recuperar a sua liberdade de expressão e de ação.[40] Na mesma declaração, anunciou a importância de se realizarem consultas públicas junto da sociedade civil tendo em vista a criação de um movimento republicano e democrático no país. A 19 de dezembro de 2015, Moïse Katumbi juntou-se a outras 26 altas figuras da sociedade congolesa numa coligação denominada "Front Citoyen 2016". A entidade visa proteger os valores fundamentais da Constituição e garantir a realização das eleições presidenciais de 2016.[41]

Prémios e Distinções[editar | editar código-fonte]

A 15 de dezembro de 2012, a Millenium Excellence Foundation distinguiu Katumbi com a «Estrela Negra de África 2012», condecoração atribuída em Nairobi, no Quénia. Esta distinção reconheceu o contributo e o papel desempenhado por Katumbi enquanto defensor da boa governação em África.[42]

Em janeiro de 2015, Moise Katumbi foi ainda distinguido com o prémio «Dirigente de Futebol do Ano» atribuído pela Confederação Africana de Futebol.[43]

A 22 de dezembro de 2015, Moïse Katumbi foi nomeado pela Jeune Afrique para «Personalidade Africana de 2015», a mais prestigiada revista pan-africana.[5]

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Referências

  1. «Moïse Katumbi Chapwe Millenium Excellence Foundation». Millenium Excellence Foundation Africa. 2012. Consultado em 18 de fevereiro de 2016. Arquivado do original em 17 de fevereiro de 2016 
  2. Provinces of Congo (Kinshasa)
  3. «Is Katumbi's resignation a game changer in DRC?». Democracy in Africa. 21 de outubro de 2015 
  4. «An old ally of Joseph Kabila leaves the ruling party». The Economist. 6 de outubro de 2015. Consultado em 12 de outubro de 2015 
  5. a b «Sondage : Moïse Katumbi, Africain de 2015 selon les lecteurs de J.A., devant Mbonimpa et Mukwege - JeuneAfrique.com». JeuneAfrique.com (em francês). Consultado em 23 de dezembro de 2015 
  6. «Moise Katumbi Chapwe: The People's governor». Transterramedia. 10 de setembro de 2013 
  7. «Moïse Katumbi, un ovni en politique». Blog Le Soir. 31 de março de 2009 
  8. «Matata III: M.Katumbi pas d'accord avec J. Kabila sur le choix d'un ministre». 7 sur 7. 28 de setembro de 2015 
  9. «Portrait de Moise Katumbi Chapwe». Enews 24. 2014 
  10. a b «La conscience - Moïse Katumbi : l'homme, son parcours et ses œuvres». www.laconscience.com. Consultado em 16 de setembro de 2015. Arquivado do original em 10 de novembro de 2015 
  11. «Moïse Katumbi Chapwe: A man the west would love to do business with». Forbes Custom 
  12. «Katanga Big Boss». Consultado em 16 de setembro de 2015 
  13. «Moise Katumbi Chapwe EMRC» (PDF). EMRC. Consultado em 18 de fevereiro de 2016. Arquivado do original (PDF) em 4 de março de 2016 
  14. «Kabila's "Decoupage": an aim at Moise Katumbi's rising popularity». Zambia Reports. 10 de junho de 2015 
  15. «Moïse Katumbi: l'homme, son parcours et ses oeuvres». La conscience. 4 de fevereiro de 2007. Consultado em 18 de fevereiro de 2016. Arquivado do original em 10 de novembro de 2015 
  16. «Necotrans fait l'acquisition d'une importante société de Moïse Katumbi». Jeune Afrique. 9 de novembro de 2015 
  17. «RDC: Necotrans rachète Mining Company Katanga de Moïse Katumbi». Radio Okapi. 10 de novembro de 2015 
  18. «TP Mazembe president». www.tpmazembe.com. Consultado em 16 de setembro de 2015 
  19. «2009 CAF Champions League» 
  20. «2010 CAF Champions League» 
  21. a b «Moise Katumbi - The Abramovich of African football». Ghana Web. 14 de novembro de 2015 
  22. FIFA.com. «FIFA Club World Cup UAE 2010 - Awards - FIFA.com». FIFA.com. Consultado em 16 de setembro de 2015 
  23. «FIFA Club World Cup Japan 2015 - TP Mazembe Mazembe - FIFA.com». FIFA.com (em inglês). Consultado em 23 de dezembro de 2015 
  24. «Katumbi: The Moses of Katanga». African Business Magazine. 4 de abril de 2013 
  25. FIFA.com. «FIFA Committees - Strategic Committee - FIFA.com». FIFA.com. Consultado em 16 de setembro de 2015 
  26. «The management of Moïse Katumbi attracts CAF». TP Mazembe. 17 de maio de 2013 
  27. «- Www.LiveCongo.Com - Tout le Congo en Live !!! -». www.livecongo.com. Consultado em 16 de setembro de 2015 
  28. a b «Powerful governor of Congo's copper-rich Katanga province resigns». News Yahoo. 30 de setembro de 2015 
  29. «Congo's Kabila should receive immunity, says main opponent Katumbi». Reuters. 11 de novembro de 2015 
  30. «Katumbi wants immunity for Kabila after leaving office». Post Zambia. 13 de novembro de 2015. Consultado em 18 de fevereiro de 2016. Arquivado do original em 17 de fevereiro de 2016 
  31. «DRC: Kabila should not face prosecution says main rival Katumbi». UK News Yahoo. 12 de novembro de 2015. Consultado em 18 de fevereiro de 2016. Arquivado do original em 17 de fevereiro de 2016 
  32. a b «Moïse Katumbi: New African Leadership». The Huffington Post. Consultado em 16 de setembro de 2015 
  33. «Katanga : l'effet Moïse Katumbi - JeuneAfrique.com». Consultado em 16 de setembro de 2015 
  34. «Soccer-Loving Congolese Businessman Eyes Run for Presidency». Bloomberg. 11 de novembro de 2015 
  35. «Katumbi quits DRC ruling Party». Zambia Reports. 29 de setembro de 2015 
  36. «Millionaire governor gears up for 2016 Congo election bid». Consultado em 16 de setembro de 2015 
  37. Manson, Katrina (20 de janeiro de 2015). «Congo: 'Katumbi will decide the election'». Financial Times. ISSN 0307-1766. Consultado em 16 de setembro de 2015 
  38. «Congolese opposition mulls Katumbi as presidential candidate». Bloomberg. 12 de outubro de 2015 
  39. «Powerful governor of Congo's copper-rich Katanga province resigns». Reuters. 29 de setembro de 2015. Consultado em 1 de outubro de 2015 
  40. «Congo's Katumbi signals bid for presidency by quitting party». Bloomberg. 30 de setembro de 2015 
  41. Wilson, Tom. «Congo Opposition Parties Demand Election Calendar Be Revised». Bloomberg.com. Consultado em 23 de dezembro de 2015 
  42. «Moïse Katumbi le gouverneur du Katanga auréolé du prix de bonne gouvernance "Black star of Africa 2012"». Digital Congo. 26 de dezembro de 2012. Consultado em 18 de fevereiro de 2016. Arquivado do original em 30 de junho de 2017 
  43. «Toure makes it four in a row». CAF. 8 de janeiro de 2015