Mobutu Sese Seko

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Mobutu Sese Seko
Mobutu Sese Seko
Mobutu durante visita aos Estados Unidos em 1983
Presidente do Zaire
Período 24 de novembro de 1965
até 16 de maio de 1997
Antecessor(a) Joseph Kasa-Vubu
Sucessor(a) Laurent-Désiré Kabila
Dados pessoais
Nome completo Joseph-Desiré Mobutu
Nascimento 14 de outubro de 1930
Lisala, Congo Belga
Morte 7 de setembro de 1997 (66 anos)
Rabate, Marrocos
Cônjuge Marie-Antoinette Mobutu (c. 1955; m. 1977)
Bobi Ladawa Mobutu (c. 1980; m. 1997)
Filhos(as) 21
Partido Movimento Popular da Revolução (MPR)
Religião Catolicismo Romano
Profissão Militar e político
Serviço militar
Lealdade Congo Belga
Zaire
Serviço/ramo Force Publique
Armée Nationale Congolaise
Forces armées zaïroises
Anos de serviço 1949–1965
Graduação Marechal

Mobutu Sese Seko Nkuku Ngbendu wa Za Banga GColIH (Lisala, Congo Belga, 14 de outubro de 1930Rabate, Marrocos, 7 de setembro de 1997; nascido Joseph-Desiré Mobutu) foi o ditador do Zaire (atual República Democrática do Congo) entre 1965 e 1997. Com uma imagem marcada pelo uso de um barrete de pele de leopardo e uma bengala, ficou para a história contemporânea da África como um dos mais poderosos e autoritários governantes do continente.

Biografia[editar | editar código-fonte]

Primeiros anos[editar | editar código-fonte]

O então Coronel Mobutu, em dezembro de 1960

De etnia Ngbandi, Mobutu nasceu em 14 de outubro de 1930, na cidade de Lisala, no Congo Belga. Sua mãe, Marie Madeleine Yemo, era uma camareira de hotel que fugiu de sua vila para não ser obrigada a fazer parte do harém do chefe tribal local. Marie se casou com Albéric Gbemani, um cozinheiro de um juiz belga. Seu nome, Mobutu, foi escolhido por seu tio. Quando seu pai, Gbemani, faleceu, seu avô e tio foram os responsáveis por sua criação. Foi a esposa do juiz belga com quem seu pai trabalhava que o ensinou a ler, escrever e falar francês. Na juventude, estudou numa pequena escola em Léopoldville e depois em Coquilhatville. Mobutu era um estudante popular, se destacando academicamente e nos esportes. Porém, sua personalidade forte causava certos confrontos, chegando a bater boca com alguns padres belgas que visitaram sua escola. Em 1949, foi mandado para o Force Publique (o exército colonial local), algo comum para estudantes considerados "rebeldes".[1][2]

Carreira no exército e entrada na política[editar | editar código-fonte]

Mobutu em 1978

No exército, Mobutu afirmou que ganhou disciplina. O sargento Louis Bobozo se tornou uma figura paterna para ele. No exército colonial, buscou continuar estudando, principalmente roubando livros e jornais de oficiais belgas. Enquanto ainda estava no exército, começou a escrever, sob um pseudônimo, para o jornal político Actualités Africaines ("Notícias Africanas"). Em 1956, deixou o exército colonial e começou a trabalhar como jornalista para o diário L'Avenir. Dois anos depois, foi para a Bélgica para cobrir a Expo 58 e completar seus estudos. Lá, ele conheceu diversos intelectuais congoleses que eram contrários ao governo colonial belga. Mobutu se tornou amigo do político Patrice Lumumba e se juntou ao Mouvement National Congolais (MPR, ou Movimento Popular da Revolução), uma organização nacionalista africana no Congo. Numa recepção com membros da embaixada americana, Mobutu foi descrito como "inteligente, meio imaturo mas com muito potencial".[3]

Em 1960, começou o processo de independência do Congo com relação a Bélgica. Após as eleições gerais, Lumumba se tornou primeiro-ministro e tornou Mobutu seu secretário de estado para a presidência. Assim, ele ganhou muita influência no novo governo.[4]

Em julho de 1960, começou uma rebelião contra o governo (a Crise do Congo). Muitos militares acreditavam que as reformas de Lumumba eram muito lentas e que o status quo colonial estava sendo mantido. No Campo Léopold II, o foco do motim, ministros do presidente Joseph Kasa-Vubu se reuniram para decidir quem seria o comandante do exército. Dois nomes surgiram: Maurice Mpolo e Mobutu. Kasa-Vubu e o ministro Jean Bolikango sabiam da influencia de Mobutu sobre os amotinados mas temiam lhe dar poder, acreditando que ele usaria isso dar um golpe de Estado, temendo sua crescente ambição. Lumumba continuava a favorecer Mobutu, criando um racha dentro do governo. No final, Mobutu recebeu o comando do exército e ganhou a patente de Coronel. O governo então começou o processo de "africanização" das forças armadas, com Mobutu indo para a província de Équateur.[4]

Com o governo belga ainda mantendo enorme influência sobre o Congo para garantir seu controle sobre os ricos recursos naturais do país, uma rebelião separatista começou no sul. Já que a Força de Paz das Nações Unidas no Congo, enviada para ajudar na restauração da ordem, parecia não demonstrar interesse em reprimir os separatistas, o primeiro-ministro Lumumba se voltou para a União Soviética por apoio. No meio da Guerra Fria, o governo dos Estados Unidos demonstrou preocupação com a ideia da maior nação do coração da África cair sob influência comunista. Com os soviéticos mandando enormes quantidades de equipamentos militares e conselheiros para o Congo, o presidente Kasa-Vubu foi contactado pelo governo estadunidense e belga para dispensar Lumumba, o que ele o fez, em 5 de setembro de 1960. Lumumba se recusou a aceitar a renúncia e declarou que seria Kasa-Vubu a ser deposto.[5]

Lumumba e Kasa-Vubu ordenaram a Mobutu para que prendesse o outro. Como chefe do exército, ele começou a ser pressionado por diversas fontes. As nações ocidentais e a maioria dos oficiais das forças armadas eram contrários a influência soviética no Congo. Mobutu então decidiu desobedecer tanto seu presidente quanto o primeiro-ministro e anunciou, em 14 de setembro de 1960, que eles haviam sido "neutralizados". O golpe de Estado foi pacífico. Kasa-Vubu permaneceu como presidente, ainda que com poderes limitados. Lumumba pensou em resistir mas, sem apoio, se retirou para sua casa até que o exército congolês o prendeu. Lumumba então desapareceu sem deixar vestígios. Mais tarde foi descoberto que Mobutu o entregou para os homens de Moïse Tshombe, que acabaram assassinando ele. Em 1964, o líder rebelde Pierre Mulele lançou uma insurreição contra o governo, mas em menos de um ano seu movimento foi duramente reprimido pelo exército, liderado por Mobutu.[4]

Segundo Golpe de Estado, presidência e derrocada[editar | editar código-fonte]

O Príncipe Bernardo da Holanda e o Presidente Mobutu, em 1973.

Em março de 1965, o partido do primeiro-ministro Moise Tshombe ganhou boa parte dos votos nas eleições nacionais. O presidente Kasa-Vubu, contudo, indicou Évariste Kimba para o cargo de premier. Isso gerou uma crise constitucional e paralisou o governo. Mobutu se aproveitou da situação e deu um novo golpe de Estado em novembro. Ele tinha 35 anos na época.[6]

Mobutu declarou um regime d'exception ("estado de exceção") e assumiu poderes absolutos. Mobutu deu então um discurso para uma grande e exuberante multidão na capital Léopoldville, onde justificou a tomada de poder afirmando que os políticos tinham levado o país a ruína nos primeiros cinco anos de independência. Em 1967 ele fundou o Mouvement Populaire de la Révolution ("Movimento Popular da Revolução"), que se tornou o único partido político legal no país até 1990.[6]

O início do governo de Mobuto viu alta repressão política, com torturas e assassinatos de dissidentes. Seu regime foi ficando cada vez mais autoritário com o passar do tempo. Ele adotou o nacionalismo como a base do seu governo e afirmou que iria destruir a herança colonial na cultura e sociedade do Congo, trazendo de volta costumes africanos ao invés dos europeus, incluindo novas vestimentas (num processo conhecido como Authenticité). Em 1971, Mobutu mudou o nome do país para Zaire e depois mudou também o próprio nome para Mobutu Sese Seko em 1972. Ele afirmava que sua administração era "nem de esquerda, nem de direita, nem mesmo de centro" porém seu governo era amplamente considerado como um regime totalitário de extrema-direita.[7]

O antigo palácio de Mobutu Sese Seko em Gbadolite.

O governo de Mobutu, além de autoritário, foi, com o passar do tempo, se tornando cada vez mais corrupto. Embora o Congo (ou Zaire, como ficou conhecido entre as décadas de 1970 e 90) fosse uma nação rica em recursos naturais, boa parte da população vivia na pobreza extrema, enquanto Mobutu, sua família e associados concentravam enormes riquezas às custas dos cofres públicos. Foi colocado ao redor dele um amplo culto à personalidade, enquanto a oposição (pacífica ou armada) era brutalmente reprimida.[8] Durante seu regime, Mobutu angariou uma gigantesca fortuna pessoal através da exploração econômica e corrupção, com seu governo sendo considerado uma "cleptocracia".[9][10] Com o passar dos anos, a corrupção e a má gestão cobraram seu preço, com o país sofrendo com inflação crônica, dívida pública e externa imensas e uma moeda altamente desvalorizada. Seus apoiadores, por outro lado, o louvam por sua postura nacionalista e defesa da cultura africana. O país se industrializou durante seu regime e avanços foram reportados na área econômica, mas quando ele deixou o poder, o Congo estava em profunda recessão.[11][12]

Mobutu Sese Seko e Richard Nixon em Washington, D.C., em outubro de 1973.

O regime de Mobutu recebeu vasto apoio (militar, diplomático e econômico) dos Estados Unidos, França e Bélgica, que o viam como um pilar na luta contra o comunismo no maior país da África francófona; ele também cultivou um bom relacionamento com o governo do Apartheid sul-africano, de Israel e a Junta Militar Grega.[13] A partir de 1972, passou a receber apoio de Mao Zedong da China, principalmente quando o governo chinês começou a ter uma relação tribulada com os soviéticos, aceitando dinheiro chinês que passou a entrar na África; a ajuda econômica chinesa que chegou no Zaire permitiu a Mobutu mais flexibilidade a respeito de sua relação com o Mundo Ocidental, dando a ele a oportunidade de se chamar tanto de anticomunista como "anti-capitalista".[14]

Em 1991, a deterioração econômica congolesa levou a uma enorme crise social, com insurreições populares brotando em vários lugares pelo país. Isolado agora também no cenário internacional (com o fim da Guerra Fria, países como Estados Unidos cortaram sua ajuda aos regimes ditatoriais anticomunistas pelo mundo), Mobutu concordou em ceder o poder e dividir sua autoridade, mas ele utilizou o exército, ainda leal a ele, para manter o máximo de poder político possível até que, em maio de 1997, forças rebeldes, lideradas por Laurent-Désiré Kabila, o derrubaram do poder, forçando o ditador ao exílio. Sofrendo com câncer de próstata, ele faleceu no Marrocos quatro meses depois, aos 66 anos.[15]

Mobutu com o presidente americano George H. W. Bush, em 1989.

Mobutu se tornou um dos ditadores mais notórios da África, reconhecido por sua crueldade, corrupção e autoritarismo, com um regime crivado de nepotismo, fisiologismo e apropriação indébita, com o próprio Mobutu acumulando uma fortuna pessoal de US$ 4 a US$ 15 bilhões de dólares durante seu governo de trinta anos. Ele era conhecido por sua extravagância, com um suntuoso palácio na cidade de Gbadolite e viagens caras ao exterior (para cidades como Paris), utilizando até mesmo o extremamente caro avião a jato Concorde.[16]

Referências

  1. Akrasih, Shirley (28 de fevereiro de 2012). «AFRICA AND DEMOCRACY Joseph Mobutu, Dictator of the DRC, and His Life-Saving Support from the US». Davidson College. Cópia arquivada em 3 de março de 2014 
  2. Crawford Young e Thomas Turner, The Rise and Decline of the Zairian State, p. 175
  3. Mwakikagile, Godfrey. Africa is in A Mess: What Went Wrong and What Should Be Done, 2006. New Africa Press. ISBN 978-0-9802534-7-4
  4. a b c Kanza, Thomas R. (1994). The Rise and Fall of Patrice Lumumba: Conflict in the Congo. Rochester, Vermont: Schenkman Books, Inc. ISBN 978-0-87073-901-9 
  5. Chomé, Jules. L'ascension de Mobutu: Du sergent Désiré Joseph au général Sese Seko. F. Maspero. ISBN 2-7071-1075-2
  6. a b Close, William T. Beyond the Storm: Treating the Powerless & the Powerful in Mobutu's Congo/Zaire. Meadowlark Springs Production. ISBN 0-9703371-4-0
  7. Crawford Young, Thomas Edwin Turner, The Rise and Decline of the Zairian State, p. 210, 1985, University of Wisconsin Press.
  8. «Mobutu Sese Seko». The Columbia Electronic Encyclopedia. Columbia University Press. 2012. Consultado em 30 de abril de 2013 
  9. Acemoglu, Daron; Robinson, James A.; Verdier, Thierry (maio de 2004). «Kleptocracy and Divide-and-Rule: A Model of Personal Rule». Journal of the European Economic Association. 2 (2–3): 162–192. CiteSeerX 10.1.1.687.1751Acessível livremente. doi:10.1162/154247604323067916 
  10. Pearce, Justin (16 de janeiro de 2001). «DR Congo's troubled history». BBC 
  11. Callaghy, Thomas M. Politics and Culture in Zaire. Center for Political Studies. ASIN B00071MTTW
  12. Callaghy, Thomas M. State-Society Struggle: Zaire in Comparative Perspective. Columbia University Press. ISBN 0-231-05720-2
  13. Schatzberg, Michael G. Mobutu or Chaos? University Press of America. ISBN 0-8191-8130-7
  14. Jung Chang e Jon Halliday, Mao: the Unknown Story, p. 574, 2006 edition, Anchor Books.
  15. «Mobutu Sese Seko, Zairian Ruler, Is Dead in Exile in Morocco at 66». The New York Times. Consultado em 7 de maio de 2020 
  16. Tharoor, Ishaan (20 de outubro de 2011). «Mobutu Sese Seko». Top 15 Toppled Dictators. Time Magazine. Consultado em 30 de abril de 2013 
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