Natal cigano (Arre burriquito)

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"Natal cigano" (com o estribilho: "Arre burriquito") é uma canção de Natal tradicional portuguesa originária da freguesia de Pardais no concelho de Vila Viçosa.[1]

História[editar | editar código-fonte]

Jean-Baptiste Camille Corot: Cigana com Bandolim (1874) no Museu de Arte de São Paulo.

Esta interessante cantiga tem diversos pontos de contacto com "Sou cigana", proveniente de Elvas, que é uma localidade próxima. Ambas seriam interpretadas pela personagem "Cigana" em peças de teatro popular.[2] Mário de Sampayo Ribeiro viu na versão de Elvas características que apontam para uma origem espanhola[3] e de facto, este Natal cigano adapta uma popular quadra andaluza:

Original Tradução

Yo soy un pobre gitano
Que vengo de Egipto aquí,
Y al niño de Dios le traigo
Un gallo quiquiriquí.[4]

Eu sou um pobre cigano
Que venho do Egito aqui,
E ao Deus Menino trago
Um galo corococó.

A tradução amadora por populares dos versos que escutavam além da raia, cria a curiosa expressão "um galho quiriquiqui". É interessante notar que, enquanto que na língua castelhana, quiquiriquí procura representar o som de um galo já adulto[5], quiquiriqui ou quiqueriqui em língua portuguesa é usualmente uma onomatopeia que representa o som de um pintainho, em claro contraste com cocorocó.[6]

A letra da canção deve ter a sua origem entre os séculos séculos XVII ou XVIII, altura em que a "Cigana" passou a ser uma personagem comum nos autos populares. A redundância "cigana do Egito", que começa a cair em desuso a partir do século XVIII, expressa a ideia incorreta, mas enraizada, de que os ciganos eram originários do Egito[2] quando, na verdade, têm uma origem remota no subcontinente indiano.

Foi harmonizada pelo musicólogo português Mário de Sampayo Ribeiro já no século XX.[1]

Letra[editar | editar código-fonte]

A letra é muito pequena e simples. Tem uma única copla na qual que a Cigana, derrubando a quarta parede, se identifica e relata diretamente à plateia o propósito da sua viagem (ofertar um galo ao Menino Jesus). Segue-se um refrão em que a personagem apressa o seu burro de forma a chegarem mais rapidamente a Belém.

Na verdade a letra deste refrão não é exclusiva desta canção, existindo também, por exemplo, numa outra composição de Elvas, designada "Olhei para o céu".

Sou cigana do Egito
Cheguei mesmo agora aqui,
Ai, cheguei mesmo agora aqui.
Venho trazer ao Menino
Um galho quiriquiqui,
Ai, um galho quiriquiqui.

Arre burriquito,
Vamos a Belém,
A ver o Menino
Que a Senhora tem.
Que a Senhora tem,
Que a Senhota adora,
Arre burriquito,
Vamo-nos embora.[1]

Discografia[editar | editar código-fonte]

  • 2011Canções de Natal Portuguesas. Coro Gulbenkian. Trem Azul. Faixa 17: "Natal cigano (Arre burriquito)".[7]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. a b c «Natal cigano» (PDF). Coro Laudate. Consultado em 27 de agosto de 2015. Arquivado do original (PDF) em 3 de março de 2016 
  2. a b Carvalho, Maria José Albarran (1999). «Inserção do Profano no Sagrado - a adoração do menino num corpus de peças de Cante». Filologia e Lingüística Portuguesa (3): 23-54 
  3. Ribeiro, Mário de Sampayo (1939). «Música do Natal português». Lisboa. Ocidente. 6 e 7 
  4. Caballero, Fernán (1852). «La Noche de Navidad». Cuadros de costumbres populares andaluces (em Castelhano) 1 ed. Sevilha: Librería Española y Extrangera de D. José M. Geofrin. p. 12. 280 páginas 
  5. «quiquiriquí» (em Castelhano). Diccionario de la lengua española. Consultado em 27 de agosto de 2015 
  6. Coelho, Adolfo (1879). «O gallo e o pinto». Contos Populares Portuguezes 1 ed. Lisboa: P. Plantier. p. 10. 165 páginas 
  7. «Canções de Natal Portuguesas». 2011. Consultado em 27 de agosto de 2015. Arquivado do original em 30 de abril de 2015