Ofélia Marques

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Ofélia Marques
Ofélia Marques
Ofélia Marques, Autorretrato, 1936
Nascimento 1902
Lisboa
Morte 1952 (50 anos)
Lisboa
Nacionalidade Portugal portuguesa
Prémios Prémio Sousa-Cardoso (1940)
Movimento(s) Modernismo

Ofélia Gonçalves Pereira da Cruz ou Ofélia Marques (Lisboa, 14 de novembro de 1902 - Lisboa-Lisboa 17 de Dezembro de 1952) foi uma pintora, caricaturista e ilustradora portuguesa, conhecida pelas suas ilustrações de livros infantis.[1]

Biografia[editar | editar código-fonte]

Foi uma das primeiras mulheres a frequentar a Universidade, em Portugal. Inscrita no Curso de Filologia Românica, da Faculdade de Letras, abandonou, contudo, a licenciatura no 3º ano. Ofélia dedicar-se-á, a partir daí, à carreira artística, vindo a integrar o 2º modernismo português.[2] "A sua chegada às artes plásticas, porventura apoiada pelo encontro com Bernardo Marques, colega de faculdade e futuro marido", ficará marcado pelo autodidatismo. E a sua primeira participação nas exposições coletivas dos modernistas dá-se em 1926, no II Salão de Outono.[3]

Obra[editar | editar código-fonte]

Dedica-se acima de tudo ao desenho, onde revela "o seu gosto pelo registo ingénuo de crianças e do seu universo de brincadeiras, sempre temperado de poses contemplativas, aliados ao seu conhecido desgosto de não ser mãe". No entanto, a bonomia das suas representações da infância é em grande parte subvertida nas imagens onde meninas, "em poses sensuais, revelam facetas de uma intimidade erótica, servida por um desenho de traço denso ou sinuoso", ou quando decide realizar retratos ficcionados de amigos, como se fossem ainda crianças, definindo de modo benévolo ou cruel "todos os contornos da personalidade, [...] servindo-se, em alguns casos ironicamente, de um léxico que cita os próprios representados". [3]

Ofélia Marques descobre uma expressão autoral "capaz de registos de traço plurais e plásticos […] ora frescos e ingénuos, ora rápidos e ríspidos, dotados de um cromatismo forte, marcado pela ilustração, e que acentua uma desobediência às regras […]. Depois há também os outros, deliberadamente inacabados, e ainda os surrealizantes, como acontece em alguma autorrepresentação". [3] "A imagem mais forte, Ofélia dá-a através do conjunto dos seus autorretratos […]. Desenhada em várias poses de abandono, ou numa excessiva frontalidade – como se os olhos assim expostos não olhassem – e muitas vezes ainda, deslocada do seu tempo real, em todos eles se evoca uma estranha forma de ausência" .

Ilustrações[editar | editar código-fonte]

Ofélia Marques, ficou conhecida pelas suas ilustrações de livros infantis e contos de autores portugueses, entre eles encontram-se:

Auto-retrato[editar | editar código-fonte]

Paralelamente ao seu trabalho público, desenvolve um outro, no espaço privado e clandestino: o auto-retrato e os desenhos eróticos. Assume o desenho como forma de expressão. Nos auto-retratos, revisita-se e transfigura-se, sem espaço para a inocência e para a doçura que encontramos na sua obra pública. Nas cenas eróticas e homossexuais, transgride a moral puritana, imposta às mulheres numa sociedade opressiva e castradora, que era a vivência do Estado Novo. É neste espaço privado que a artista revela os traços mais importantes da sua obra, ainda hoje esquecida.[2]

Em 17 de Dezembro de 1952, Ofélia suicida-se.[2]

Prémios e Reconhecimento[editar | editar código-fonte]

Embora tenha centrado grande parte da sua actividade no desenho e ilustração (com trabalhos publicados em jornais e revistas entre os quais o ABC-zinho, Atlântico, Ver e Crer, Revista de Portugal, Panorama, Civilização e Litoral ), o seu trabalho em pintura permite-lhe vencer o Prémio Amadeu de Souza-Cardoso em 1940. [7][8]

Em 2002 a Casa da Cerca, Almada, apresentou uma exposição antológica dos seus desenhos.[9]

É uma das artistas portuguesas cujas obras foram expostas no Museu Calouste Gulbenkian, no âmbito a exposição Tudo O Que Eu Quero que integrou o programa cultural da Presidência Portuguesa do Conselho da União Europeia em 2021. [10]

O seu nome consta da toponímia da Charneca da Caparica, freguesia da Câmara Municipal de Almada. [11][12]

Referências

  1. José Augusto França inclui Ofélia Marques na 2ª geração de pintores modernistas portugueses. França, José Augusto - A Arte em Portugal no Século XX: 1911-1961 [1974]. Lisboa: Bertrand Editora, 1991, p. 303.
  2. a b c «Ofélia Marques (1902-1952) – Centro de Documentação Elina Guimarães». Consultado em 5 de janeiro de 2024 
  3. a b c Ferreira, Emília – Ofélia Marques. In: A.A.V.V. – Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão: roteiro da coleção. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2004, página 42. ISBN 972-635-155-3
  4. «Jornada das mães de família [ Visual gráfico]». catalogo.bnportugal.pt. Consultado em 9 de julho de 2021 
  5. «Infância de que nasci». catalogo.bnportugal.pt. Consultado em 9 de julho de 2021 
  6. «Mariazinha em África: romance infantil». catalogo.bnportugal.pt. Consultado em 9 de julho de 2021 
  7. Helena Roldão (19 de Junho de 2018). «Ficha histórica:Litoral : revista mensal de cultura (1944-1945)» (pdf). Hemeroteca Municipal de Lisboa. Consultado em 25 de Janeiro de 2019 
  8. Hargreaves, Manuela (2020). Breve história das mulheres artistas, condicionalismos e percursos alternativos, em Portugal e fora. Lisboa: FLUP –Biblioteca Digital. p. 11 
  9. Ferreira, Emília – Desenhos do Silêncio. In: Marques, Ofélia – Ofélia Marques: quarenta caricaturas / vinte e um desenhos. Almada: Casa da Cerca, 2003. ISBN 972-8794-00-2
  10. «Tudo o que eu quero - Exposição». Fundação Calouste Gulbenkian 
  11. «Código Postal». Código Postal. Consultado em 9 de julho de 2021 
  12. «"Marido e Mulher", na Toponímia do mesmo Município.». Ruas com história. 2 de outubro de 2016. Consultado em 9 de julho de 2021 
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Ligações externas[editar | editar código-fonte]