Olavo Bilac

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Olavo Bilac
Olavo Bilac
Nome completo Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac
Nascimento 16 de dezembro de 1865
Rio de Janeiro, Município Neutro, Império do Brasil
Morte 28 de dezembro de 1918 (53 anos)
Rio de Janeiro, Distrito Federal, Brasil
Nacionalidade brasileiro
Cidadania Brasil
Progenitores Mãe: Delfina Belmira Gomes de Paula
Pai: Brás Martins dos Guimarães Bilac
Alma mater Universidade de São Paulo
Ocupação jornalista, contista, cronista e poeta
Movimento literário Parnasianismo
Magnum opus Poesias (1888)
Assinatura
Estátua "Idílio" ou Beiijo Eterno, realizada por William Zadig, patrocinada pelo Centro Acadêmico XI de Agosto e os estudantes da Faculdade de Direito da USP, em homenagem à obra de Bilac. Localiza-se no Largo de São Francisco.

Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac (Rio de Janeiro, 16 de dezembro de 1865 — Rio de Janeiro, 28 de dezembro de 1918) foi um jornalista, contista, cronista e poeta brasileiro, considerado o principal representante do parnasianismo no país. Foi membro fundador da Academia Brasileira de Letras, ocupando a cadeira 15 da instituição, cujo patrono é Gonçalves Dias.

Conhecido por sua atenção à literatura infantil e, principalmente, pela participação cívica, Bilac era um ativo republicano e nacionalista, também defensor do serviço militar obrigatório (codificado à época pela Lei do Sorteio)[1] em um período em que o exército usufruía de amplas faculdades políticas em virtude da proclamação da República em 1889.

Foi o responsável pela criação da letra do Hino à Bandeira, inicialmente criado para circulação na capital federal (na época, o Rio de Janeiro), e mais tarde sendo adotado em todo o Brasil. Também ficou famoso pelas fortes convicções políticas, sobressaindo-se a ferrenha oposição ao governo militar do marechal Floriano Peixoto.

Em 1907, foi eleito "príncipe dos poetas brasileiros", pela revista Fon-Fon. É autor de alguns dos mais populares poemas brasileiros, como os sonetos Ora (direis) ouvir estrelas e Língua portuguesa.

Biografia[editar | editar código-fonte]

Filho de Brás Martins dos Guimarães Bilac e de sua esposa Delfina Belmira Gomes de Paula, teve infância e adolescência comuns para sua época. Era considerado um aluno aplicado, conseguindo, aos 15 anos - antes, portanto, de completar a idade exigida - autorização especial para ingressar no curso de Medicina na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, a gosto do pai, que era médico durante a campanha da Guerra do Paraguai, e a contragosto próprio.

Olavo Bilac (M. J. Garnier).

Portanto, começa a frequentar as aulas da faculdade mencionada, terminada a rápida passagem no colegial, mas seu precoce trabalho na redação da Gazeta Acadêmica absorve-o e interessa-o mais do que a prática medicinal. Por este motivo, Bilac não concluiu o curso de medicina e nem o de direito que frequentou posteriormente, em São Paulo.

Bilac foi jornalista, poeta, frequentador de rodas de boêmias e literárias no meio letrado do Rio de Janeiro. Sua projeção como jornalista e poeta e seu contato com intelectuais e políticos da época conduziram-no a um cargo público: o de inspetor escolar. A se considerar a importância dada aos cargos escolares naquele período, principalmente aquele de professor da Escola Pedro II (onde diversos eruditos disputaram famosas preleções para cargo professoral, como Euclides da Cunha e Astrojildo Pereira), não é de somenos importância perceber o relevo social desta profissão naquele meio. Aliás, sua participação na vida cotidiana e cultural foi uma marca patente em sua imagem: sabe-se, por exemplo, que em 1897 Bilac acabou perdendo o controle do seu automóvel Serpollet e o bateu contra uma árvore na Estrada da Tijuca, no Rio de Janeiro - RJ, sendo o primeiro motorista a sofrer um acidente de carro no Brasil.

Aos poucos profissionaliza-se: produz, além de poemas, textos publicitários, crônicas, livros escolares e poesias satíricas. Visava, então, contar através de seus manuscritos a realidade presente na sua época. Prestou colaboração em publicações periódicas como as revistas: A Imprensa[2] (1885-1891), A Leitura[3] (1894-1896), Branco e Negro[4] (1896-1898), Brasil-Portugal[5] (1899-1914), Azulejos[6] (1907-1909) e Atlântida[7] (1915-1920). Sua estreia como poeta, nos jornais cariocas, ocorreu com a publicação do soneto "Sesta de Nero" no jornal Gazeta de Notícias, em agosto de 1884. Recebeu comentários elogiosos de Artur Azevedo, precedendo dois outros sonetos seus, no Diário de Notícias. Ademais, escreveu diversos livros escolares, ora sozinho, ora em co-autoria com seus amigos Coelho Neto e Manuel Bonfim.

Homenagem filatélica de 1967.

Em 1891, com a dissolução do parlamento e a posse de Floriano Peixoto, inúmeros intelectuais perdem seu protetor, o dr. Portela, ligado ao primeiro presidente republicano Deodoro da Fonseca. Como reação, o escritor participa da fundação d'O Combate, órgão antiflorianista e opositor do estado de sítio declarado pelo presidente Floriano Peixoto após a ameaça de novo golpe político contra a ainda instável república, quando então o primeiro é preso e constrangido a passar quatro meses detido na Fortaleza da Laje, no Rio de Janeiro.

O grande amor de Bilac foi Amélia de Oliveira, irmã do poeta Alberto de Oliveira. Chegaram a ficar noivos, mas o compromisso foi desfeito por oposição de outro irmão da noiva, desconfiado de que o poeta era um homem arruinado. Seu segundo noivado fora ainda menos duradouro, com Maria Selika, filha do violonista Francisco Pereira da Costa. Viveu sozinho, em consequência destes descasos amorosos, sem constituir família até o fim de seus dias. Decorrido seu falecimento, em 28 de dezembro de 1918 vítima de edema pulmonar e insuficiência cardíaca,[8] fora sepultado no Cemitério de São João Batista no Rio de Janeiro.

Participação cívica e social[editar | editar código-fonte]

A Pátria não é a raça, não é o meio, não é o conjunto dos aparelhos econômicos e políticos: é o idioma criado ou herdado pelo povo.
— Olavo Bilac[9]

Já consagrado em 1907, o autor do Hino da Bandeira é convidado para liderar o movimento em prol do serviço militar obrigatório − já matéria de lei desde 1907, mas apenas implementado em 1915 por ocasião da I Guerra Mundial. Bilac se desdobra para convencer os jovens a se alistar.

É como poeta Bilac que se imortalizou. Foi eleito Príncipe dos Poetas Brasileiros pela revista Fon-Fon em 1907. Juntamente com Alberto de Oliveira e Raimundo Correia, foi a maior liderança e expressão do Parnasianismo no Brasil, constituindo a chamada Tríade Parnasiana. A publicação de Poesias, em 1888 rendeu-lhe a consagração.

Já no fim de sua vida, em 1917, Bilac recebe o título de professor honorário da Universidade de São Paulo.

Principais obras[editar | editar código-fonte]

Membros da Academia de Letras: Olavo Bilac é o quarto em pé, da esquerda para a direita.

Dentre os escritos de Olavo Bilac, destacam-se os seguintes:

  • Alma inquieta;
  • Antologia poética;
  • Através do Brasil;
  • Conferências literárias (1906);
  • Contos Pátrios;
  • Crítica e fantasia (1904);
  • Crônicas e novelas (1894);
  • Dicionário de rimas (1913);
  • Hino à Bandeira;
  • Ironia e piedade, crônicas (1916);
  • Língua Portuguesa, soneto sobre a língua portuguesa;
  • Livro de Leitura;
  • Poesias (1888);
  • Tarde (1919) - Poesia, org. de Alceu Amoroso Lima (1957);
  • Teatro Infantil;
  • Tratado de Versificação, em colaboração com Guimarães Passos;
  • Tratado de versificação (1910);
  • " Ouvir as Estrelas"

Língua Portuguesa[editar | editar código-fonte]

Placa de uma rua em Campo Maior (Piauí) homenageando Olavo Bilac.

É soneto constituído de versos decassílabos heróicos (acento tônico ocorrente nas 6ª e 10ª sílabas poéticas), com rimas opostas, interpoladas ou intercaladas.[10]

"No poema Língua Portuguesa, o autor parnasiano Olavo Bilac faz uma abordagem sobre o histórico da língua portuguesa, tema já tratado por Camões. Este poema inspirou outras abordagens, como o poema 'Língua', de Gilberto Mendonça Teles e 'Língua', de Caetano Veloso.
Esta história é contada em quatorze versos, distribuídos em dois quartetos e dois tercetos – um soneto – seguindo as normas clássicas da pontuação e da rima.
Partindo para uma análise semântica do texto literário, observa-se que o poeta, com a metáfora 'Última flor do Lácio, inculta e bela', refere-se ao fato de a língua portuguesa ter sido a última língua neolatina formada a partir do latim vulgar – falado pelos soldados da região italiana do Lácio.
No segundo verso, há um paradoxo: 'És a um tempo, esplendor e sepultura'. 'Esplendor', porque uma nova língua estava ascendendo, dando continuidade ao latim. 'Sepultura' porque, a partir do momento em que a língua portuguesa vai sendo usada e se expandindo, o latim vai caindo em desuso, 'morrendo'.
No terceiro e quarto verso, 'Ouro nativo, que na ganga impura / A bruta mina entre os cascalhos vela', o poeta exalta a língua que ainda não foi lapidada pela fala, em comparação às outras também formadas a partir do latim.
O poeta enfatiza a beleza da língua em suas diversas expressões: oratórias, canções de ninar, emoções, orações e louvores: 'Amo-te assim, desconhecida e obscura,/ Tuba de alto clangor, lira singela'. Ao fazer uso da expressão 'O teu aroma/ de virgens selvas e oceano largo', o autor aponta a relação subjetiva entre o idioma novo, recém-criado, e o 'cheiro agradável das virgens selvas', caracterizando as florestas brasileiras ainda não exploradas pelo homem branco. Ele manifesta a maneira pela qual a língua foi trazida ao Brasil – através do oceano, numa longa viagem de caravela – quando encerra o segundo verso do terceto.
Ainda expressando o seu amor pelo idioma, agora por meio de um vocativo, 'Amo-te, ó rude e doloroso idioma', Olavo Bilac alude ao fato de que o idioma ainda precisava ser moldado e, impor essa língua a outros povos não era uma tarefa fácil, pois implicou destruir a cultura de outros povos.
No último terceto, para finalizar, quando o autor diz: 'Em que dá voz materna ouvi: 'meu filho'! / E em que Camões chorou, no exílio amargo / O gênio sem ventura e o amor sem brilho', ele utiliza uma expressão fora da norma ('meu filho') e refere-se a Camões, quem consolidou a língua portuguesa no seu célebre livro 'Os Lusíadas', uma epopeia que conta os feitos grandiosos dos portugueses durante as 'grandes navegações', produzida quando esteve exilado, aos 17 anos, nas colônias portuguesas da África e da Ásia. Desse exílio, nasceu 'Os Lusíadas', uma das oitavas epopeias do mundo".[11]
Língua Portuguesa
Olavo Bilac

Última flor do Lácio, inculta e bela,

És, a um tempo, esplendor e sepultura:

Ouro nativo, que na ganga impura

A bruta mina entre os cascalhos vela…

Amo-te assim, desconhecida e obscura,

Tuba de alto clangor, lira singela,

Que tens o trom e o silvo da procela

E o arrolo da saudade e da ternura!

Amo o teu viço agreste e o teu aroma

De virgens selvas e de oceano largo!

Amo-te, ó rude e doloroso idioma,

Em que da voz materna ouvi: "meu filho!"

E em que Camões chorou, no exílio amargo,

O gênio sem ventura e o amor sem brilho![12][13]

Olavo Bilac tradutor[editar | editar código-fonte]

Olavo Bilac traduziu as famosas travessuras de Max und Moritz de Wilhelm Busch, do alemão para o português: Juca e Chico.[14]

Representações na cultura[editar | editar código-fonte]

Olavo Bilac já foi retratado como personagem no cinema e na televisão.

Na televisão sendo interpretado por Rui Minharro, na minissérie Chiquinha Gonzaga, transmitida pela Rede Globo em 2002. No cinema, foi interpretado por Carlos Alberto Riccelli no filme Brasília 18%, com produção da Globo Filmes em 2006.

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. «Olavo Bilac: patrono do Serviço Militar». 16ª circunscrição de serviço militar. Consultado em 17 de dezembro de 2010. Arquivado do original em 8 de abril de 2013 
  2. A imprensa : revista científica, literária e artística (1885-1891) [cópia digital, Hemeroteca Digital]
  3. A Leitura: magazine litterario (1894-1896) [cópia digital, Hemeroteca Digital]
  4. Rita Correia (1 de Fevereiro de 2012). «Ficha histórica: Branco e Negro : semanario illustrado (1896-1898)» (pdf). Hemeroteca Municipal de Lisboa. Consultado em 21 de Janeiro de 2015 
  5. Rita Correia (29 de Abril de 2009). «Ficha histórica: Brasil-Portugal : revista quinzenal illustrada (1899-1914).» (pdf). Hemeroteca Municipal de Lisboa. Consultado em 26 de Junho de 2014 
  6. Rita Correia (3 de Novembro de 2016). «Ficha histórica: Azulejos : semanario illustrado de sciencias, lettras e artes (1907-1909)» (pdf). Hemeroteca Municipal de Lisboa. Consultado em 28 de novembro de 2016 
  7. Rita Correia (19 de Fevereiro de 2008). «Ficha histórica: Atlantida: mensário artístico, literário e social para Portugal e Brasil (1915-1920)» (pdf). Hemeroteca Municipal de Lisboa. Consultado em 17 de Junho de 2014 
  8. Dilva Frazão (27 de janeiro de 2023). «Biografia de Olavo Bilac». eBiografia. Consultado em 14 de março de 2023 
  9. Eduardo Fernandes Paes (2000). «Nossa língua, nossa pátria». Intervox.nce.ufrj.br. Consultado em 23 de janeiro de 2010 
  10. LESSA, Kathleen. «Kaleidoscópio Literário». Kathleenlessa.prosaeverso.net 
  11. «SANTOS, Paula Perin dos. Análise do poema "Língua Portuguesa", de Olavo Bilac». Infoescola.com 
  12. Eduardo Fernandes Paes (2000). «Nossa língua, nossa pátria - "Última flor do Lácio, inculta e bela"». Intervox.nce.ufrj.br. Consultado em 23 de janeiro de 2010. Arquivado do original em 9 de fevereiro de 2009 
  13. Paula Perin dos Santos (2009). «Análise do poema "Língua Portuguesa». Infoescola.com. Consultado em 23 de janeiro de 2010 
  14. BUSCH, Wilhelm. «Juca e Chico História de Dois Meninos em Sete Travessuras. (tradução: Olavo Bilac) 11ª edição. São Paulo: Melhoramentos, s/d.». Unicamp.br 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

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