Old Firm
Old Firm | |
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Torcidas de Rangers e Celtic separadas em uma edição da Old Firm. |
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Celtic | 202 vitória(s), gol(s) |
Rangers | 241 vitória(s), gol(s) |
Empates | 132 |
Total de jogos | 575 |
Old Firm (lit. "velha firma", em inglês) é o nome popularmente dado ao maior clássico do futebol escocês, que envolve o Celtic Football Club e o Rangers Football Club, equipes da cidade de Glasgow, maior cidade da Escócia, que se confrontam desde 28 de maio de 1888, quando o Celtic venceu por 5 a 2.
É um dos clássicos de futebol mais antigos do mundo e para muitos especialistas esta é a maior rivalidade do futebol mundial devido às divergências culturais e religiosas envolvidas.
Índice
História[editar | editar código-fonte]
No segundo jogo da final da Copa da Escócia de 1909, com 60 000 espectadores no Estádio de Hampden Park, uma briga de enormes proporções entre torcedores dos dois clubes e também com a polícia, suspendeu a decisão e inaugurou a fase violenta deste confronto.
A confusão iniciou-se por rumores de que os dois clubes, que já haviam empatado a primeira partida, teriam combinado nova igualdade no placar, pois haveria interesse de ambos em realizar um terceiro jogo para definir o campeão por interesses econômicos, com a venda de mais ingressos. O clássico receberia então o apelido de "The Old Firm", uma insinuação que ambos os clubes se beneficiariam financeiramente da antipatia mútua.[1]
Estas equipes dominam amplamente a Liga Escocesa de Futebol, conquistando a maioria dos títulos disputados.[1] Após um domínio inicial do Celtic, o Rangers o ultrapassou no início do século XX e mantem-se na dianteira desde então. O domínio é tamanho que ambos são ocasionalmente sondados para, tais como alguns clubes galeses, disputarem o Campeonato Inglês de Futebol, especialmente a partir do advento da Premier League.[2]
Sob o comando de Jock Stein, o Celtic experimentou seu melhor momento entre 1966 e 1974, quando conseguiu o ineditismo de conquistar o campeonato escocês por nove vezes seguida, diminuindo uma diferença de 14 títulos para cinco que o arquirrival possuía, recuperando-se de seu pior momento: entre os anos 20 e 30, ficou justamente nove anos em jejum, em que oito taças ficaram com o Rangers e uma com o Motherwell.
Dentro desse período áureo, o clube teve seu ano inesquecível em 1967: além do campeonato escocês, venceu a Copa da Escócia, a Copa da Liga Escocesa e o mais importante, a Copa dos Campeões da UEFA sobre a favorita Internazionale, então, bicampeã.
O Celtic tornou-se com isso o primeiro clube de todo o Reino Unido a vencer a mais importante competição europeia de clubes. O elenco vencedor, todos formados por torcedores do time e nascidos a um raio de 50 quilômetros do estádio do clube, ficou conhecido como "Leões de Lisboa", alusão à cidade onde a final foi disputada.[3] O sabor foi ainda melhor pois na mesma temporada, o rival Rangers também teve a chance de ser campeão continental, mas da Recopa Europeia, o segundo torneio em importância, perdendo para o Bayern Munique. A equipe já havia sido vice em 1961.
Os anos 70, que marcavam o melhor momento da história do Celtic, viram uma decadência do Rangers, a despeito de em 1972 o clube ter finalmente ter conquistado o seu troféu europeu, justamente a Recopa. Os anos ruins dos Gers, que vinham conquistando a Liga poucas vezes, continuaram no início da década de 80, em que o time perdeu momentaneamente o posto de anti-Celtic, que passou a disputar os títulos nacionais com o Aberdeen.
Em 1988, o Celtic conseguiu colocar a diferença em apenas três títulos. A balança começaria finalmente a pender para os protestantes justamente no momento em que o clube reviu seu posicionamento, com a chegada de Graeme Souness como técnico. Ele quebrou a tradição de não aceitar não-protestantes em 1987, contratando o judeu Avi Cohen. Dois anos depois viria um impacto ainda maior, com o primeiro católico em mais de cem anos na equipe: Maurice Johnston.
Mo Johnston ou "MoJo", escocês de família irlandesa, era ainda por cima ex-jogador de sucesso do Celtic. Entre as duas torcidas, acabou defendido pelos moderados e detestado pelos radicais, ele teve de se mudar de cidade pelas constantes ameaças - os exaltados do Celtic o viam o tacharam de "MoJudas" e os do Rangers o detestavam por ser católico - exilando-se depois nos EUA.[1][4]
O fim das restrições que o Rangers se impunha o recolocou como clube amplamente hegemônico nacionalmente. A equipe contrataria, por exemplo, também os ortodoxos Oleksiy Mykhailychenko e Oleh Kuznetsov e conseguiria repetir o grande feito do rival: entre 1989 e 1997, venceram a Liga Escocesa nove vezes consecutivamente, colocando diferença semelhante à que havia entre os rivais nos anos 60: doze títulos.
No início do século XXI, o Celtic vem se mostrando melhor, tendo chegado a reduzir a diferença para nove em 2008 (novamente aumentada para doze, após um tricampeonato seguido do Rangers). A primeira década do novo século viu os dois serem vice-campeões europeus: em ambos os casos, na Copa da UEFA, que substituíra a Recopa (extinta em 1999) como segundo torneio europeu em prestígio. O Celtic a perdeu em 2003 e o Rangers, em 2008.
Já a segunda década começou marcada pela falência do Rangers, obrigado a recomeçar na quinta divisão logo após ter sido tricampeão em 2011. O campeonato ficou sem o clássico entre 2011 e 2016. O Celtic conseguiu então, à altura de 2017, um hexacampeonato seguido. A temporada do hexa veio com o rival enfim retornando à elite, mas não impedindo a primeira vez em 108 anos que o campeonato foi vencido de forma invicta;[5] nem a primeira tríplice coroa do Celtic (títulos no campeonato, na Copa da Escócia e na Copa da Liga Escocesa) em dezesseis anos, também invicta;[6] tampouco a pior goleada sofrida em casa no clássico em 118 anos: o Celtic ganhou de 5-1 no Ibrox Stadium.[7] A diferença de títulos escoceses ficou em seis no ano de 2017, com 54 para o Rangers e 48 para o Celtic.[8]
A questão político-religiosa[editar | editar código-fonte]
Além da grande rivalidade entre os clubes, da mesma cidade escocesa, as torcidas também trazem consigo questões alheias ao futebol. As torcidas defendem duas filosofias político-religiosas antagônicas em suas respectivas histórias de intensidade tal que o clássico é tido como o de maior ódio recíproco no mundo.[9]
Em 1900, instalava-se em Glasgow um estaleiro, de nome Harland & Wolf, que tinha como norma não contratar católicos. Este fato trouxe à tona o problema religioso escocês, que imediatamente foi transferido para o futebol, já que ambos os clubes tinham identidades com as partes envolvidas, o Celtic, católico e Rangers, protestante. O Rangers, embora no início fosse uma equipe aberta, resolveu adotar a política de aceitar apenas protestantes ainda em 1890.
A torcida do Rangers ficou associada ao anglicanismo, seguidora político-religiosa da Rainha do Reino Unido, portando bandeiras do Reino Unido bem como outras com o rosto da Rainha Elizabeth II, a atual líder anglicana. Extremistas também veneram o UVF (grupo terrorista protestante da Irlanda do Norte).[1] A primeira partida realizada em casa homenageia a Rainha, que também é retratada nos vestiários. Apesar desse estereótipo, a maioria da torcida do clube mostrou-se favorável à independência da Escócia em pesquisas de opinião realizadas na ocasião do referendo de 2014. Além de pequena margem de indecisos, eram cerca de 45% favoráveis e 41% contra.[10]
O Celtic, por sua vez, é o clube predileto dos escoceses de religião católica e dos irlandeses e descendentes residentes na Escócia, tendo milhares de torcedores entre os católicos das duas Irlandas. Sua torcida exibe uma bandeira alviverde com o retrato do falecido papa João Paulo II, costumando portar bandeiras da República da Irlanda e da Escócia. Os mais extremistas também exaltam o IRA (grupo terrorista católico da Irlanda do Norte).[1] Por outro lado, isso não impediu que, também contraditoriamente ao estereótipo, uma minoria expressiva da torcida se posicionasse contra a independência escocesa, nas mesmas pesquisas de opinião realizadas em função do referendo de 2014. Os favoráveis eram 48%, mas o número dos contrários era de 40%, similar aos 41% do arquirrival.[10]
Diferentemente do Rangers, o Celtic, apesar da identificação com os católicos, nunca se restringiu; sempre aceitou jogadores de todas as religiões. Jock Stein, mítico treinador dos alviverdes, inclusive incentivava os seus olheiros a, caso encontrassem jovens protestantes e católicos de talentos similares, a investirem nos protestantes e os convencerem a atuar no Celtic, uma vez que os católicos não seriam em nenhuma hipótese usados pelo Rangers. Kenny Dalglish é um exemplo famoso de protestante [11] que atuou no Celtic em época em que o Rangers, clube que torcia,[12] continuava restrito: foi na década de 1970.[9]
Esta rivalidade muitas vezes atravessa as tênues fronteiras do enfrentamento saudável, mesmo em uma cidade definida como liberal, rica e culturalmente criativa, desafiando a noção de que a civilização aplaca a barbárie e dissemina a tolerância.[9] O goleiro polonês Artur Boruc, do Celtic, chegou a ser multado após fazer o sinal da cruz em uma Old Firm, por seu gesto ter sido interpretado como uma provocação aos oponentes;[13] Neil Lennon, norte-irlandês católico que treinava o time, chegou a receber uma carta-bomba de rivais em 2011.[14]
Recordes de público[editar | editar código-fonte]
Os recordes de público deste clássico são os confrontos de 1 de janeiro de 1938 com 92.000 espectadores no Celtic Park e de 118.567 espectadores no Ibroux Park (Rangers) em 1 de janeiro de 1939 .
Principais títulos[editar | editar código-fonte]
Listagem de títulos conquistados por Rangers FC e Celtic FC nas principais competições nacionais e internacionais, ao longo da história.
Competições internacionais | Rangers FC | Celtic FC |
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Taça dos Campeões Europeus / Liga dos Campeões | - | 1 |
Taça das Taças | 1 | - |
Competições nacionais | Rangers FC | Celtic FC |
Campeonato da Escócia | 54 | 48 |
Taça da Escócia | 33 | 37 |
Taça da Liga da Escócia | 27 | 17 |
Total | 115 | 103 |
Referências
- ↑ a b c d e LEME, Tiago (outubro de 2008). Futebol, política e religião. Placar n. 1323. Editora Abril, pp. 96-97
- ↑ STEIN, Leandro (17 de setembro de 2014). «O futebol da Escócia sempre foi independente, mas saída do Reino Unido deve afetá-lo». Trivela.com. Consultado em 10 de agosto de 2017
- ↑ Top 10 maiores esquadrões da história da Liga dos Campeões (setembro de 2007). Trivela Especial - Guia da Liga dos Campeões 2007/08. Trivela Comunicações, p. 64
- ↑ BARNETT, Tim; BRENNA, Dan; CORBETT, James; HARPER, Nick; LYTTLETON, Ben; MITTEN, Andy; MOYNIHAN, Leo; TALBOT, Simon; WILSON, Jonathan (dezembro de 2008). 16 transferências que abalaram o mundo. FourFourTwo n. 2. Editora Cádiz, pp. 62-67
- ↑ BONSANTI, Bruno (23 de maio de 2017). «É incontestável o tamanho do feito do Celtic, primeiro campeão escocês invicto em 108 anos». Trivela.com. Consultado em 11 de agosto de 2017
- ↑ STEIN, Leandro (27 de maio de 2017). «Sem perder um jogo sequer, Celtic fatura a tríplice coroa escocesa pela primeira vez em 16 anos». Trivela.com. Consultado em 11 de agosto de 2017
- ↑ STEIN, Leandro (29 de abril de 2017). «A freguesia aumenta: Celtic impõe a maior goleada ao Rangers em 118 anos de Estádio Ibrox». Trivela.com. Consultado em 11 de agosto de 2017
- ↑ ROSS, James M. (7 de abril de 2017). «Scotland - List of Champions». RSSSF. Consultado em 11 de agosto de 2017
- ↑ a b c GWERCMAN, Sérgio (outubro de 2004). Como o futebol explica o mundo. Superinteressante n. 205. Editora Abril, pp. 88-93
- ↑ a b STEIN, Leandro (16 de setembro de 2014). «Uma coisa une as torcidas de Celtic e Rangers: a independência da Escócia». Trivela.com. Consultado em 10 de agosto de 2017
- ↑ TAYLOR, Louise (4 de abril de 2011). «Kenny Dalglish expects respect but no free ride from Sir Alex Ferguson». The Guardian. Consultado em 11 de agosto de 2017
- ↑ MÜLLER, Renato (27 de maio de 2011). «Kenny Dalglish: lenda em Liverpool». Trivela.com. Consultado em 27 de maio de 2011
- ↑ HOFMAN, Gustavo (outubro de 2008). Devoção religiosa. Trivela n. 32. Trivela Comunicações, p. 42
- ↑ «Acusados de enviar bomba ao técnico do Celtic são presos». Trivela.com. 13 de maio de 2011. Consultado em 28 de maio de 2011