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Paço de São Cristóvão

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Paço de São Cristóvão
Informações gerais
Estilo dominanteNeoclássico
Início da construção1808
Inauguração1893
Proprietário inicialElias António Lopes
Função inicialResidência particular
Proprietário atualUFRJ
Função atualMuseu Nacional
Andares3
Área13,616,79 m²
Geografia
PaísBrasil
CidadeRio de Janeiro, Rio de Janeiro
Coordenadas22° 54′ 21″ S, 43° 13′ 34″ O
Mapa
Localização em mapa dinâmico

O Paço de São Cristóvão também conhecido como Paço Imperial de São Cristóvão, Palácio de São Cristóvão, Palácio Real (1810-1822) ou Palácio Imperial (1822-1889), é um palácio localizado na Quinta da Boa Vista, no Bairro Imperial de São Cristóvão, na cidade do Rio de Janeiro, Brasil. Serviu de residência oficial para a Família Real Portuguesa e depois para a Família Imperial Brasileira até 1889, quando o país se tornou uma república, através de um golpe militar com a deposição do Imperador D. Pedro II. O palácio serviu brevemente como edifício público, durante o governo provisório, para a assembleia constituinte da primeira constituição republicana. Abrigava a maior parte (92,5%) das coleções do Museu Nacional do Brasil, o qual, juntamente com o edifício, foram em grande parte destruídos por um incêndio em 2 de setembro de 2018.[1][2]

Ao longo do tempo, o Paço de São Cristóvão, que abriga hoje o Museu Nacional, sofreu diversas transformações, como a ampliação feita por D. Pedro II, a partir de 1850. Ali, ele viveu um período de longa duração, tornando este edifício palco de diversos momentos importantes da História do Brasil.[3]

Antecedentes

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Vista do Paço de São Cristóvão por volta de 1820, antes da reforma neoclássica. O edifício tinha um único torreão

Nos séculos XVI e XVII, a área onde atualmente se localiza a Quinta era parte de várias fazendas dos Jesuítas, nos arredores da cidade do Rio de Janeiro. Eram chamadas São Cristóvão, Engenho Velho e Engenho Novo. Entretanto, em 1759, foi decretada a expulsão dos padres Jesuítas de Portugal e das suas colônias. As fazendas e suas outras propriedades foram subdividas em grandes chácaras e adquiridas por particulares.[4]

No início do século XIX, com a chegada da Família Real ao Brasil, em 1808, a área chamada Quinta da Boa Vista — um tanto distante do então centro da cidade — pertencia a um rico comerciante português, Elias Antônio Lopes, que havia construído, por volta de 1803, um casarão sobre uma colina. Esse local proporcionava uma bela vista da Baía de Guanabara, o que deu origem ao atual nome da Quinta.[5]

Palácio Real

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Vista do Paço Real durante o reinado de D. João VI, 1817.

Devido à carência de espaços residenciais no Rio de Janeiro, e diante da chegada da família real, em 1808, Elias doou sua propriedade ao Príncipe regente D. João Maria de Bragança — mais conhecido no Brasil como Dom João VI — para transformá-la na residência real. Essa foi uma estratégia do comerciante, pois, sendo conhecido por ter a melhor casa da cidade, ao oferecê-la ao príncipe regente foi recompensado com outras propriedades, condecorações e verbas públicas.[6]

A mansão era extraordinariamente grande para um particular solteiro, e pequena para a residência de um soberano. É de notar que, em 1803, sendo perguntado a Elias por que razão edificou uma casa tão grande, respondeu — talvez com base em certas profecias populares — que era para a residência do príncipe regente de Portugal. E, com efeito, em 1808, ofereceu-a ao príncipe, que aceitou.[6]

Detalhe do teto de uma das salas do palácio imperial.

À época, a área da quinta ainda estava cercada por manguezais, e a comunicação por terra com a cidade era difícil. Mais tarde, os trechos alagadiços foram aterrados e os caminhos por terra aprimorados. O nome do local, Quinta da Boa Vista, fazia jus ao cenário que se descortinava dali: À frente do casarão, era possível avistar o mar, e, numa de suas laterais, o morro do Corcovado e a floresta da Tijuca.[6]

Para acomodar a família real, o casarão, mesmo sendo vasto e confortável, necessitou de adaptações. A reforma mais importante iniciou-se à época das núpcias do príncipe D. Pedro com a arquiduquesa Maria Leopoldina de Áustria, em 1816. E estendeu-se até 1821. Foi encarregado do projeto o arquiteto inglês John Johnston que, além da reforma do paço, instalou um portão monumental na sua entrada — um presente de casamento do general Hugh Percy, 2.º Duque de Northumberland. O portão, inspirado no pórtico de Robert Adam para a "Sion House", residência daquele nobre na Inglaterra, é moldado em uma espécie de terracota denominada "Coade stone", fabricada pela empresa inglesa Coade & Sealy. Tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, esse portão encontra-se atualmente na entrada principal do Jardim Zoológico do Rio de Janeiro, nas dependências da quinta.

É de destacar-se a linha arquitetônica deste paço, em próxima semelhança ao Palácio da Ajuda, em Lisboa. O palácio português está inacabado, devido às invasões francesas, à transferência da corte p6ara o Brasil e, mais tarde, pela vitória do liberalismo, em Portugal. Ganha, assim, o da Quinta da Boa Vista o relevo merecido como a nova capital do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves e do império português.

Palácio Imperial

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Pintura do Palácio Imperial, 1835, 1840
O Palácio Imperial após a intervenção neoclássica, 1862

Com a independência do Brasil, D. Pedro I encarregou as obras do agora Paço Imperial de São Cristóvão ao arquiteto português, Manuel da Costa (1822-1826), posteriormente substituído pelo francês Pedro José Pézerát (1826-1831), creditado como autor do projeto em estilo neoclássico do edifício.

Antigo portão central do Palácio, hoje localizado no Jardim Zoologico do Rio de Janeiro

O paço, que apresentava apenas um torreão no lado norte da fachada principal, ganhou outro simétrico, no lado sul, e um terceiro pavimento começou a ser erguido sobre os dois já existentes. As obras foram continuadas, a partir de 1847, pelo brasileiro Manuel Araújo de Porto-Alegre, que harmonizou as fachadas do edifício, seguido pelo alemão Theodor Marx (1857 e 1868). Entre 1857 e 1861, o pintor italiano Mario Bragaldi decorou vários aposentos interiores.

Após o casamento, em 1817, D. Pedro e a Imperatriz, D. Leopoldina, passaram a residir no paço. Ali, nasceram a futura Rainha de Portugal, D. Maria II (4 de abril de 1819), nascida Dona Maria da Glória de Bragança, princesa da Beira e, mais tarde, princesa imperial do Brasil; e o futuro imperador do Brasil, D. Pedro II (2 de dezembro de 1825). Também ali veio a falecer, em 1826, a imperatriz D. Leopoldina.

Próximo à Quinta, em um casarão presenteado por D. Pedro I, vivia Domitila de Castro Canto e Melo, a Marquesa de Santos, favorita do imperador, com quem teve vários filhos. No casarão, hoje, funciona o Museu do Primeiro Reinado.

Sala do Trono do Palácio, formato que estava antes do incêndio de 2018.

Na Quinta, cresceu e foi educado D. Pedro II. Entre as reformas que este imperador empreendeu na propriedade, contam-se as obras de embelezamento dos jardins, executadas por volta de 1869, com projeto do paisagista francês Auguste François Marie Glaziou. Muitas características originais permanecem até os dias atuais, como a Alameda das Sapucaias, um lago onde pode-se navegar de pedalinhos e outro, onde se encontra uma gruta artificial.

No paço, nasceu, em 29 de julho de 1846, a Princesa Isabel, filha de D. Pedro II com a imperatriz D. Teresa Cristina.[7]

Dias atuais

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Palácio nos dias atuais

Atualmente, ali funciona um parque municipal, abrigando o Jardim Zoológico do Rio de Janeiro (com o Museu da Fauna) e, no antigo paço, o Museu Nacional. O prédio do palácio, mantido durante décadas em péssimo estado de conservação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, foi alvo de denúncias na imprensa sobre o risco de perda do patrimônio arquitetônico e de ameaça ao acervo em seu interior. Recentemente, foram realizadas algumas intervenções na fachada monumental e reparos de emergência em partes do telhado. No entanto, um incêndio surgido no terceiro andar do museu, na noite de 2 de setembro de 2018, confirmou as piores expectativas e destruiu quase que a totalidade do palácio, do qual restou apenas a fachada. Avaliações preliminares, realizadas no dia seguinte à tragédia, deram conta da perda de mais de 90% do acervo, originalmente composto por cerca de 20 milhões de itens — foi a maior catástrofe cultural do Brasil!

Quinta da Boa Vista

Nos jardins, o projeto original de Glaziou também vem sendo destruído, com o plantio contínuo de árvores de diversas espécies sobre os gramados da quinta pela prefeitura da cidade do Rio de Janeiro, sem quaisquer estudos históricos ou paisagísticos para sua implantação, descaracterizando o parque. Além de alguns monumentos depredados, como o monumento em homenagem ao centenário natalício de dom Pedro II, em frente ao paço, cujas inscrições se encontram muito deterioradas.[8]

Referências

  1. «Fire Devastates Brazil's Oldest Science Museum». Science (em inglês). 6 de setembro de 2018. Consultado em 6 de março de 2022 
  2. «Incêndio de grandes proporções destrói o Museu Nacional, na Quinta da Boa Vista». G1. Consultado em 6 de março de 2022 
  3. REDESCOBRINDO A CASA DO IMPERADOR
  4. «Conheça o Paço de São Cristóvão» 
  5. «Conheça a Imperial Quinta de São Cristóvão» 
  6. a b c REZZUTTI, Paulo (2020). D. Pedro, a história não contada. São Paulo: Leya. p. 71 
  7. «Paço de São Cristóvão abriga o Museu Nacional». MultiRio. Consultado em 6 de março de 2022 
  8. «amp-nested-menu - Example 1». preview.amp.dev. Consultado em 6 de março de 2022 

Ligações externas

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