Louis-Joseph Lebret

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Louis-Joseph Lebret
Louis-Joseph Lebret
Nascimento Louis Marie Nicolas Lebret
26 de junho de 1897
Le Minihic-sur-Rance
Morte 20 de julho de 1966 (69 anos)
Paris
Cidadania França
Alma mater
  • École Navale
Ocupação economista
Prêmios
Religião catolicismo

Louis-Joseph Lebret, O.P. (Le Minihic-sur-Rance, Bretanha, 1897 – Paris, 20 de julho de 1966), conhecido no Brasil como Padre Lebret, foi um economista e religioso católico dominicano francês, criador do centro de pesquisas e ação econômica "Economia e Humanismo", em 1942, e de um grande número de associações para o desenvolvimento social, em vários países do mundo, dentre os quais o IRFED - Institut International de Recherche et de Formation, Éducation et Développement, atual Centre International Développement et Civilisations- Lebret-Irfed, em Paris.

Foi um dos introdutores da preocupação com o desenvolvimento global dentro da Igreja Católica, entendido como desenvolvimento da pessoa e dos grupos sociais. Chamou a atenção da Igreja e do mundo ocidental para as questões do subdesenvolvimento e da necessidade de solidariedade com os países pobres. Atuou sobretudo no Líbano, Senegal, Benin, Costa do Marfim, Brasil, Colômbia e Venezuela e Vietnam do Sul. Com François Perroux, com quem colaborou, foi pioneiro de uma nova abordagem do planejamento territorial, relacionando as questões do meio físico-geográfico aos problemas do desenvolvimento.

Participou da redação de documentos conciliares como o Gaudium et Spes , e foi o inspirador da encíclica Populorum Progressio (1967), durante o pontificado de Paulo VI.

Biografia[editar | editar código-fonte]

Nascido em uma família de forte tradição naval, descendente de Jacques Cartier, Louis-Joseph Lebret estudou na Escola Naval, formou-se oficial de marinha e participou da Primeira Guerra Mundial, nas esquadras do Líbano. Deixou a marinha em 1923 para se tornar Dominicano, sendo ordenado ao sacerdócio em 1928.

Em seu último ano de teologia teve problemas de saúde e foi enviado para a costa da Bretanha a fim de se recuperar. Ao observar que os pescadores se afastavam das tradições cristãs, por conta de suas precárias condições de trabalho, decidiu aí a sua futura orientação.

Entre 1932 e 1939, fundou o Movimento de Saint Malo e o periódico "La Voix du marin" ("A voz do marinheiro"), visando alertar a opinião pública francesa sobre as condições de vida dos pescadores bretões, valorizar o laicato e construir o "apostolado do mar"[1]. Estudou as raízes do problema e descobriu que as grandes empresas pesqueiras eram favorecidas com as melhores áreas de pesca. Propôs, então, uma série de leis que reformaram o setor. Esses seus dez anos de trabalho durante a Grande Depressão lhe proporcionaram um profundo entendimento sobre os males estruturais da economia contemporânea, além de lhe possibilitar relacionar-se com importantes organizações multilaterais, tais como a OIT, a Sociedade das Nações, de modo que, mais tarde, ele viesse a se tornar consultor da ONU. [2][3]

Em 1942, após romper com a República de Vichy, tentando ainda entender os complexos problemas sociais, lançou o Movimento Economia e Humanismo, de onde aprofundou os estudos da Economia Humana, ajudando na formação de pesquisadores e técnicos capazes de entender e planejar reformas necessárias para melhorarem as condições dos trabalhadores de seu tempo.

Em 1947, visitou o Brasil pela primeira vez, através do intermédio do Frei Romeu Dale e do professor Ciro Berlynk, diretor da Escola de Sociologia e Política de São Paulo (ELSP), onde ministrou uma disciplina sobre a "Economia Social" no curso em nível de pós-graduação em Ciências Sociais. [4]. Foi convidado para realizar uma série de três palestras na Universidade de São Paulo (USP) onde tratou da "Economia Humana". O choque que teve ao visitar o Brasil, lhe aproximando dos problemas do terceiro mundo foi tão importante quanto a vivência com os pescadores da Bretanha e a partir daí faria palestras em vários países da África, da América Latina e também no Vietnã para explicar as razões mais profundas do subdesenvolvimento[1].

A disciplina ministrada na ELSP, durante o primeiro semestre de 1947, também lhe aproximou de jovens jucistas, entre eles Franco Montoro, que mais tarde fundariam a Vanguarda Democrática, movimento ligado à Democracia Cristã em São Paulo. Tais jovens se engajaram na política institucional e alcançaram importantes postos políticos nas décadas de 1950 e 1960. Uma das propostas da Democracia Cristã era a descentralização política e Lebret foi convidado para assessorar a realização de pesquisas tanto no município quanto no estado de São Paulo, além de outras regiões da América Latina. Ainda em 1947 fundou em São Paulo a Sociedade para a Análise Gráfica e Mecanográfica Aplicada aos Complexos Sociais (SAGMACS) que atuou no Brasil entre 1947 e 1964 atuando no planejamento urbano, especificamente com pesquisas e formação de quadros técnicos para atuarem no desenvolvimento. Através de suas relações políticas a SAGMACS foi convidada para realizar uma série de estudos, entre eles, em 1952 uma pesquisa sobre as possibilidaes de desenvolvimento do Estado de São Paulo, em 1953 pesquisa sobre o nível de vida rural no Paraná, em 1954 pesquisa sobre os níveis de vida de 64 municípios da bacia Paraná-Uruguai com ênfase na situação das populações rurais, entre 1952 e 1955 pesquisa sobre o desenvolvimento de Pernambuco e do Nordeste e em 1956 pesquisa sobre desenvolvimento urbano de São Paulo, que propunha um modelo de distribuição urbana apoiada em células com infra-estrutura autossuficiente.[5][6][7]

Em 1958, o Padre Lebret fundou o Institut international de recherche et de formation éducation et développement (IRFED). A criação do IRFED, por Lebret, assim como a criação do Iram - Institut International de Recherches et d'Actions sur la Misère du Monde, atual Institut de Recherches et d'Applications des Méthodes de développement [8] -, em 1957, pelo abade Pierre, no Marrocos, praticamente coincide com a fundação, em 1957, da ASCOFAM - Associação Mundial da Luta contra a Fome -, por Josué de Castro. De fato, o IRFED e o IRAM eram filiados à ASCOFAM e pautavam seu trabalho por um plano comum. [9]

O Padre Lebret representou a Santa Sé em diversas conferências da Organização das Nações Unidas (ONU). Em 1960, recebeu o título de doutor honoris causa da Universidade de São Paulo [10].

Em 1964, foi nomeado como perito conciliar do Concílio Vaticano II pelo Papa Paulo VI, tendo colaborado na redação da constituição pastoral Gaudium et Spes.

Contribuiu com a elaboração da Encíclica "Populorum Progressio" do Papa Paulo VI [1].

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Garreau (Lydie), Louis-Joseph Lebret, 1897-1966. Un homme traqué , Villeurbanne, Éditions Golias, 1997.
  • Houée (Paul), Louis Joseph Lebret. Un éveilleur d’humanité , Paris, Éditions de l’Atelier, 1997.
  • Lavigne (Jean-Claude), Les écrits spirituel du Père Lebret , Paris, Cerf et Éditions de l’Atelier, 1996.
  • Malley (François), Le Père Lebret: L'économie au service des hommes, Paris, Cerf, 1968.
  • Becker (Charles), Missehougbe (Pierre-Paul) et Verdin (Philippe), Le père Lebret, un dominicain économiste au Sénégal (1957 - 1963), Paris, Karthala, 2007.

Obras de Louis-Joseph Lebret[editar | editar código-fonte]

(em francês)

  • Desroche (Henri) et Lebret (L.-J.), La communauté Boimondau, L'Arbresle, Économie et Humanisme, 1944.
  • Lebret (L.-J.), Dimensions de la charité, Paris, Éditions ouvrières, 1958.
  • Lebret (L.-J.), Dynamique concrète du développement, Paris, Éditions ouvrières, 1967.
  • Lebret (L.-J.) Suicide ou survie de l’Occident ?, Paris, Économie et Humanisme et Éditions ouvrières, 1968.
  • LEBRET, Louis-Joseh. Estudo sobre desenvolvimento e implantação de indústrias, interessando a Pernambuco e ao Nordeste.3.ed.Ver. Recife, CONDEPE, 2001,118p.

Entidades ligadas ao pensamento de Louis-Joseph Lebret[editar | editar código-fonte]

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Referências

  1. a b c Instituto Humanitas Unisinos. Lebret.
  2. Fr. Louis Joseph Lebret, O.P. - Un Profeta para nuestro tiempo
  3. SIQUEIRA, Élcio. Melhores que o patrão : a luta pela cogestão operária na Companhia Brasileira de Cimento Portland Perus (1958-1963). Tese de doutorado em História. Campinas: UNICAMP, 2009.
  4. CESTARO, Lucas R.. A atuação de Lebret e da SAGMACS no Brasil (1947-1964). Ideias, planos e contribuições. Tese de Doutorado. São Carlos: USP, 2015
  5. Angelo, Michely Ramos de. Les Développeurs : Louis-Joseph Lebret e a SAGMACS na formação de um grupo de ação para o planejamento urbano no Brasil. Tese de Doutorado. São Carlos: USP, 2010.
  6. CESTARO, Lucas. R.. Urbanismo e Humanismo: A SAGMACS e o estudo da Estrutura Urbana da Aglomeração Paulistana. Dissertação de Mestrado. São Carlos: USP, 2009.
  7. BOSI, Alfredo. Economia e Humanismo. In Estudos avançados, vol. 26 nº 75. São Paulo, maio-agosto de 2012.
  8. Site do Iram
  9. ROLDAN, Dinalva Derenzo. Um ideário Urbano em desenvolvimento: a experiência de Louis-Joseph Lebret em São PAulo de 1947 a 1958. Dissertação de Mestrado. São Paulo: USP, 2012
  10. «Doutores Honoris Causa da USP 1954 a 1962» (PDF). Universidade de São Paulo. 
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