Palazzo dei Convertendi

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Vista da fachada do palácio na Via della Conciliazione.

Palazzo dei Convertendi, conhecido também como Palazzo della Congregazione per le Chiese orientali, é um palácio renascentista localizado no rione Borgo em Roma. Originalmente ele estava de frente para a Piazza Scossacavalli, mas ele foi demolido e reconstruído ao longo do lado norte da nova Via della Conciliazione,[1] a ampla avenida construída entre 1936 e 1950 para ligar a Basílica de São Pedro e a Cidade do Vaticano ao centro de Roma. Ele é famoso por ter sido a última residência do pintor Rafael, que morreu ali em 1520.

Sua fachada leste está de frente para Via dell'erba, que o separa do Palazzo Giraud-Torlonia, outro edifício renascentista.[1] Para o oeste está o Palazzo Rusticucci-Accoramboni, outro palácio renascentista demolido e reconstruído em 1940.

História[editar | editar código-fonte]

Vista do palácio pouco antes de sua demolição (1939) bem no meio de onde passará a Via della Conciliazione.

Palazzo Caprini[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: Palazzo Caprini

No final do século XV, uma casa conhecida como "della stufa" ficava no canto noroeste da pequena Piazza Scossacavalli no Borgo.[2] Em 1500, a casa foi vendida para o protonotário apostólico Adriano (ou Alessandro) de Caprineis, da nobre família Caprini de Viterbo.[2][3][4] Aproveitando os incentivos disponíveis depois da construção da Via Alessandrina, os Caprini compraram uma parte de uma outra casa perto da della stufa e construíram ali um pequeno palácio projetado por Donato Bramante.[2] Ainda incompleto, o edifício foi vendido em 1517 para o artista e arquiteto Rafael,[4][5] que completou a obra e viveu ali os últimos três anos de sua vida.[3][5]

Depois da morte de Rafael, o edifício foi vendido para o cardeal de Ancona, Pietro Accolti, que já era proprietário de outro palácio na Via Alessandrina separado do Palazzo Caprini por uma casa que ele próprio comprou mais tarde.[5] Depois de um conflito entre os herdeiros de Accolti e a família Strozzi, banqueiros de Florença.[6] Estes últimos venceram, mas, em 1576, acabaram sendo forçados a vender o palácio — já em ruínas e com as paredes escoradas — para o cardeal Giovanni Francesco Commendone.[6][7]

Palazzo dei Convertendi[editar | editar código-fonte]

Varanda original, que ficava originalmente na fachada do Borgo Nuovo e atualmente está na fachada principal na Via della Conciliazione no palácio reconstruído.

Commendone encomendou a reforma completa do palácio a Annibale Lippi, que já havia sido responsável pela avaliação do palácio antes da compra,[6] e possivelmente ele foi o responsável por dar à fachada sua aparência final.[6] Depois, o palácio foi vendido a Camilla Peretti, irmã de Felice Peretti, o futuro papa Sisto V (r. 1585–90), que o comprou para seu sobrinho, o cardeal Alessandro Peretti de Montalto.[8] Camila adquiriu também algumas casas de frente para a Piazza Scossacavalli e o Borgo Vecchio, o que permitiu que o palácio atingisse sua dimensão atual[8]. Segundo outros autores, após a morte de Commendone, o palácio foi vendido ao cardeal Giovanni Antonio Facchinetti, o futuro papa Inocêncio IX (r. 1591), cujos herdeiros o venderam em 1614 para a Câmara Apostólica[8]. Em 1620, o palácio foi comprado por membros da família Spínola, uma casa nobre genovesa, que o venderam em 1676 para outro patrício genovês, o cardeal Girolamo Gastaldi (1616–85)[4][8].

Gastaldi, que morreu no palácio em 8 de abril de 1685,[9] deixou o edifício em testamento para o "Asilo dos Convertendi", que se mudou para lá em 1715.[8][10][11] Esta instituição, fundada em 1600 pelo papa Clemente VIII (r. 1592–1605), se dedicava à proteção de protestantes que queriam se converter ao catolicismo.[4][8] O palácio em si estava sob autoridade direta do papa e era administrado por membros eleitos da instituição supervisionados pelo maggiordomo pro tempore do Palácio Apostólico.[10] Durante a enchente de 1805, o edifício sofreu muitos danos, incluindo o desabamento de uma abóbada no porão, e foi restaurado pelo papa Gregório XVI (r. 1831–46).[10] Durante o reinado do papa Pio IX (r. 1846-78), o palácio abrigou o Collegio Ecclesiastico entre 1852 e 1854, um seminário dedicado exclusivamente ao clero inglês convertido do anglicanismo e que finalmente se tornou o Colégio Beda. O palácio passou por novas reformas em 1876[12] e, durante o reinado do papa Bento XV (r. 1914–22), a escadaria monumental foi construída.[10]

Palazzo della Congregazione per le Chiese orientali[editar | editar código-fonte]

O mesmo papa Bento, em 1917, entregou o edifício para a recém-fundada Congregação para as Igrejas Orientais.[10] Em 1929, de acordo com o estipulado pelo Tratado de Latrão, o edifício foi considerado como uma propriedade extraterritorial da Santa Sé em Roma.[13] Oito anos depois, durante as obras de construção da Via della Conciliazione, o palácio foi demolido juntamente com a Spina di Borgo, reconstruído e inaugurado em 1941 a oeste do Palazzo Giraud-Torlonia. A obra foi supervisionada por Giuseppe Momo, o arquiteto da corte do papa Pio XI (r. 1922–39), responsável por remodelar a Cidade do Vaticano depois do tratado. Momo colaborou na reconstrução com Marcello Piacentini e Attilio Spaccarelli, que projetaram a Via della Conciliazione.[10] O terreno utilizado para a reconstrução foi, até meados do século XIX, ocupado pelas casas dos Soderini, um complexo do período inicial do Renascimento.[10] A fidelidade na reconstrução foi tamanha que é possível considerar o edifício reconstruído não como um novo edifício, mas como uma outra fase em sua centenária história.[7]

A partir de 1939, com a reconstrução ainda incompleta, o palácio abrigou a escola Magistero di Maria SS. Assunta. Em 1946, a escola se mudou para uma nova sede, também na Via della Conciliazione,[10][14] e, a partir de então, o palácio abrigou vários escritórios da Santa Sé e apartamentos de vários prelados de alta patente.[10]

Descrição[editar | editar código-fonte]

Detalhe da fachada original numa foto de 1920.
Vista da moderna Via della Conciliazione: o Palazzo dei Convertendi está no centro. À esquerda (na foto) está o Palazzo Rusticucci-Accoramboni, também reconstruído, e à direita, o Palazzo Giraud-Torlonia.

Palazzo Caprini[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: Palazzo Caprini

O edifício original é conhecido apenas através de gravuras e desenhos feitos por contemporâneos. Segundo um desenho de Antoine Lafréry (1549), o edifício original tinha três janelas na Piazza Scossacavalli e cinco no Borgo Nuovo.[15] Já segundo uma avaliação da década de 1930, feita antes da demolição, a fachada principal era a do Borgo Nuovo, com três janelas ao longo da Piazza Scossacavalli e duas no Borgo Nuovo.[7] Neste caso, o desenho de Lafréry pode ser considerado uma idealização do edifício, o que não seria um caso isolado em suas obras.[7]

O edifício tinha dois pisos, o mais baixo era rusticado, com os silhares obtidos através de um processo conhecido como "di getto", que envolvia misturar pozzolana, cal e outros materiais numa forma.[15] O portal e as portas das lojas, encimadas por arcos que com pequenas janelas de um mezzanino, se abriam na rusticação.[15] O piso inferior servia de pódio para o superior, em ordem dórica,[15] marcado por colunas com um entablamento completo, com arquitrave e friso decorados com tríglifos e métopes.[15] No espaçamento entre as colunas estavam encaixadas balaustradas.[15] No alto do edifício havia um sótão de serviço cujas janelas se abriam no friso dórico do entablamento.

Palazzo dei Convertendi[editar | editar código-fonte]

Desde a construção, o novo Palazzo dei Convertendi ocupava toda a lateral oeste da Piazza Scossacavalli, com seis lojas e dois portais no centro.[16] O da esquerda dava acesso a uma pequena igreja dedicada a São Filipe Néri construída no século XVII pela família Spínola, de apenas um altar apenas, chamada San Filippo Neri in Borgo.[7][16] Além do piso térreo, havia mais outros três, cada um com oito janelas; as do piso nobre com molduras centralizadas e rusticadas.[16]

A fachada do Borgo Nuovo tinha um piso térreo com cinco lojas, interrompido por um portal rusticado encimado por uma janela paladiana. Sobre ela estava uma varanda, atribuída a Carlo Fontana ou a Baldassarre Peruzzi, também rusticada e com uma outra janela paladiana acima.[11][16] Estava varanda era considerada pelos romanos como a mais elegante da cidade.[11] Os pisos superiores tinham quinze janelas retangulares.[16] O estilo maneirista do exterior era devido às suas janelas centralizadas emolduradas por silhares alternadamente longos e curtos, às paredes engessadas brancas contrastando com os portais rusticados e à varanda na fachada do Borgo Nuovo, também rusticada.[16]

No final do século XIX, restos de uma decoração em sgraffito branco e preto foram descobertos na fachada e uma sala de estar com um teto em caixotões no canto nordeste do primeiro piso foi identificada como sendo a sala na qual Rafael pintou suas últimas obras, incluindo a "Transfiguração".[16] Na época, uma inscrição em mármore comemorando o fato de Rafael ter sido proprietário do palácio e também a sua morte no local estava afixada na fachada.[16]

Palácio atual (reconstruído)[editar | editar código-fonte]

Foto de Paolo Monti, 1979
Foto de Paolo Monti, 1979

O edifício que existe atualmente na Via della Conciliazione conta com dois pisos com um portal rusticado encimado pela varanda de Peruzzi.[17] O interior recebe luz a partir de duas janelas quadradas no piso térreo, janelas centralizadas e rusticadas no piso nobre e janelas retangulares no segundo piso.[17] No alto do teto se sobressai uma cornija[17]. Os elementos arquitetônicos das janelas, do portal e da varanda foram desmontados do palácio original e remontados no novo.[17]

No pórtico, a já mencionada inscrição foi afixada na parede juntamente com um brasão do papa Alexandre VI e uma outra inscrição latina onde se lê "HEIC / RAPHAEL SANCTIVS / E MORTALI VITA DECESSIT / DIE VI MENSIS APR. / ANNO REP. SALVTIS MDXX ("Aqui morreu Rafael Sanzio em 6 de abril de 1520").[17]

O palácio conta ainda com um jardim com arcos assentados em pilares dóricos rusticados sustentando abóbadas esféricas.[17] No primeiro andar está abrigada uma mostra com cerca de 120 pinturas religiosas russas, quase todas da pintora russa Leonida Brailowsky (1872–1937).[17] Além disto, o novo palácio abriga vários afrescos do edifício original, entre eles um grupo de lunetas atribuídas à escola de Il Pomarancio, cinco paisagens na chamada "Recepção dos Patriarcas" (ou "dos Papas"), no primeiro andar, e duas cenas de batalha no salão de audiências.[18]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. a b Gigli (1992), Inside front cover
  2. a b c Gigli (1992) p. 44
  3. a b Borgatti (1926) p. 163
  4. a b c d Cambedda (1990) p. 55
  5. a b c Gigli (1992) p. 46
  6. a b c d Gigli (1992) p. 48
  7. a b c d e Dal Mas & Spagnesi (2010)
  8. a b c d e f Gigli (1992) p. 50
  9. Marsili, Marcella (1999). «Gastaldi, Girolamo» (em italiano). Dizionario Biografico degli Italiani 
  10. a b c d e f g h i Gigli (1992) p. 52
  11. a b c Borgatti (1926) p. 164
  12. Cambedda (1990) p. 57
  13. «Lateran Pacts» (em inglês). Aloha.net. p. Art. 15 
  14. Gigli (1990), p. 90
  15. a b c d e f Gigli (1992) p. 54
  16. a b c d e f g h Gigli (1992) p. 56
  17. a b c d e f g Gigli (1992) p. 58
  18. Gigli (1992) p. 60

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Borgatti, Mariano (1926). Borgo e S. Pietro nel 1300 –1600 –1925 (em italiano). Roma: Federico Pustet 
  • Ceccarelli, Giuseppe (Ceccarius) (1938). La "Spina" dei Borghi (em italiano). Roma: Danesi 
  • Castagnoli, Ferdinando; Cecchelli, Carlo; Giovannoni, Gustavo; Zocca, Mario (1958). Topografia e urbanistica di Roma (em italiano). Bologna: Cappelli 
  • Gigli, Laura (1990). Guide rionali di Roma. Borgo (em italiano). I. Roma: Fratelli Palombi Editori. ISSN 0393-2710 
  • Gigli, Laura (1992). Guide rionali di Roma. Borgo (em italiano). III. Roma: Fratelli Palombi Editori. ISSN 0393-2710 
  • Cambedda, Anna (1990). La demolizione della Spina dei Borghi (em italiano). Roma: Fratelli Palombi Editori. ISSN 0394-9753 
  • Dal Mas, Roberta; Spagnesi, Gianfranco (2010). «Dalla Casa di Raffaello al Palazzo dei Convertendi». Roma: Bonsignori. Quaderni dell'Istituto di Storia dell'Architettura (em Italian) (53): 1–10. ISBN 978-88-7597-411-4