Paradoxo de Klein

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Em 1929, o físico Oskar Klein[1] obteve um resultado surpreendente através da aplicação da equação de Dirac para o problema familiar de espalhamento de elétrons por uma barreira de potecial. Na mecânica quântica não-relativística, o tunelamento de elétrons em uma barreira é observado, com amortecimento exponencial. No entanto, o resultado de Klein mostrou que, se o potencial é da ordem da massa do elétron, , a barreira é quase transparente. Além disso, conforme o potencial se aproxima do infinito, a reflexão diminui e o elétron é sempre transmitido.

A aplicação imediata do paradoxo foi o modelo próton-elétron de Rutherford para partículas neutras dentro do núcleo, antes da descoberta do nêutron. O paradoxo apresentou uma objeção quântica com a noção de um elétron confinado dentro de um núcleo.[2] Este paradoxo claro e preciso sugeriu que um elétron não pode ser confinado dentro de um núcleo por qualquer poço de potencial. O significado desse paradoxo foi intensamente debatida na ocasião.[2]

Partículas sem massa[editar | editar código-fonte]

Considere uma partícula sem massa relativistica se aproximando de um potencial degrau de altura com energia  e momento .

A função de onda da partícula, , segue a equação de Dirac independente do tempo:

E é a matriz de Pauli:

Fig. 1 Descrição da relação de dispersão, o eixo x representa o momento enquanto que o eixo y representa a energia.

Assumindo que a partícula está se propagando a partir da esquerda, obtemos duas soluções — um antes do degrau, na região (1) e um abaixo do potencial, na região (2):

Onde os coeficientes A, A′ e B são números complexos. Ambas as funções de onda incidente e transmitida estão associados com velocidade de grupo positiva (Linhas azuis na Fig.1), enquanto que a função de onda refletida é associado com velocidade de grupo negativa. (Linhas verdes na Fig.1)

Agora queremos calcular os coeficientes de transmissão e reflexão, Eles são derivados da correntes de amplitude de probabilidade.

A definição da corrente de probabilidade associada com a equação de Dirac é:

Nesse caso:

Os coeficientes de transmissão e reflexão são:

A continuidade da função de onda em , nos fornece:

E assim, o coeficiente de transmissão é 1 e não há reflexão.

Uma interpretação do paradoxo é de que um potencial degrau não pode inverter a direção da velocidade de grupo de uma partícula relativística sem massa. Esta explicação se adéqua melhor a solução de partícula única citada acima. Interpretações mais complexas são sugeridas na literatura, no contexto da teoria quântica de campos onde é mostrado que o tunelamento desenfreado ocorre devido à existência de pares de partículas-antipartícula no potencial.

Caso massivo[editar | editar código-fonte]

Para o caso massivo, os cálculos são semelhantes ao descrito acima. Os resultados são tão surpreendente como no caso sem massa. O coeficiente de transmissão é sempre maior do que zero, e se aproxima de 1 conforme o potencial degrau tende a infinito.

A zona Klein[editar | editar código-fonte]

Se a energia da partícula está na faixa , então resultará em uma reflexo parcial ao invés de reflexão total.

Resoluções para o caso massivo[editar | editar código-fonte]

Enquanto a resolução tradicional utiliza produção de pares partícula / antipartícula no contexto da teoria quântica de campos (Hansen 1981), existe uma resolução mais simples que substitui a produção de pares físicos por um espalhamento de soluções de energia negativa sob a barreira (Alhaidari 2009). Esta estratégia foi também aplicada para obter soluções analíticas para a equação de Dirac para um poço quadrado infinito.

Outros casos[editar | editar código-fonte]

Estes resultados foram expandidos para dimensões maiores, e para outros tipos de potenciais, tais como um degrau linear, uma barreira quadrada, etc. Muitas experiências em transporte de elétrons no grafeno apoiam-se no paradoxo Klein para partículas sem massa.[3][4]

Referências

  1. Klein, O. (1929). «Die Reflexion von Elektronen an einem Potentialsprung nach der relativistischen Dynamik von Dirac». Zeitschrift für Physik. 53 (3–4). 157 páginas. Bibcode:1929ZPhy...53..157K. doi:10.1007/BF01339716 
  2. a b Stuewer, Roger H. (1985). «Niels Bohr and Nuclear Physics». In: French, A. P.; Kennedy, P. J. Niels Bohr: A Centenary Volume. [S.l.]: Harvard University Press. pp. 197–220. ISBN 0674624165 
  3. Katsnelson, M. I.; Novoselov, K. S.; Geim, A. K. (2006). «Chiral tunnelling and the Klein paradox in graphene». Nature Physics. 2 (9). 620 páginas. Bibcode:2006NatPh...2..620K. arXiv:cond-mat/0604323Acessível livremente. doi:10.1038/nphys384 
  4. Pendry, J. B. (2007). «PHYSICS: Negative Refraction for Electrons?». Science. 315 (5816): 1226–7. PMID 17332397. doi:10.1126/science.1140178 

Leituras adicionais[editar | editar código-fonte]

Ver também[editar | editar código-fonte]