Plataforma P-36
| Data | 15 de março de 2001 |
|---|---|
| Danos | US$ 500 milhões |
| Vítimas | 11 mortos |
| Áreas afetadas | Campo de Roncador (Bacia de Campos), Oceano Atlântico (150 km da costa) |
A P-36 foi a maior plataforma semissubmersa de produção de petróleo no mundo, antes de seu naufrágio em março de 2001, que levou a 11 óbitos.[1] A plataforma era de propriedade da estatal brasileira Petrobras, custou 350 milhões de dólares e apresentava-se como um ícone da importância e tamanho da empresa na época.[2] O acidente de seu naufrágio representou a maior perda[nota 1] financeira da história do Brasil no segmento da exploração e produção de petróleo.[3]
Construção
[editar | editar código]A plataforma Petrobras-36 (P-36) foi construída entre 1986 e 1994 pelo Estaleiro Fincantieri, em Gênova e Palermo. Recebeu inicialmente o nome Spirit of Columbus (SOC) e pertencia à empresa SANA SpA, subsidiária da Midland and Scottish Resources (MSR), destinada ao Campo de Emmerald, no Mar do Norte, com configuração voltada à perfuração e construção de poços. Com a desistência da MSR em explorar esse campo, a unidade permaneceu inativa até 1997, quando foi arrendada pela Petrobras, passando a se chamar P-36.[4]
O contrato foi negociado pela Brasoil, com intermediação da empresa Marítima Navegação e Engenharia, e incluía a adaptação da plataforma para operação no Campo de Marlim Sul, na Bacia de Campos. Originalmente projetada para perfuração e produção com capacidade de 100 mil barris/dia, a unidade foi convertida exclusivamente para produção. Com a posterior decisão de instalá-la no Campo de Roncador, sua capacidade foi ampliada para 180 mil barris de petróleo por dia e 7,2 milhões de m³/dia de gás.[4]
Por razões ligadas a incentivos fiscais concedidos pelo governo italiano, a plataforma manteve bandeira daquele país. Essa condição implicou exigências adicionais, como a presença de certificadora italiana, parte da tripulação composta por italianos e a manutenção da torre de perfuração.[4]
O arrendamento previa ainda que, ao término do contrato, a Brasoil poderia adquirir a plataforma da Petro-Deep Inc. (empresa criada pela Marítima para gerenciar a operação junto à SANA) por um valor simbólico de um dólar. Durante todo o período contratual, a unidade permaneceu afretada à Petrobras.[4]
A conversão da unidade foi coordenada pela Marítima, por meio da Petromec Inc., que subcontratou diversas empresas especializadas: a Noble Denton (responsável pelo projeto naval), a Amec (projeto da planta de óleo e gás), a Davies Industries (construção e montagem no Canadá), a RINA (certificação italiana, exigida pela bandeira da unidade) e a ABS (certificação americana, utilizada por familiaridade da Petrobras).[4]
A P-36 entrou em operação no Campo de Roncador em 16 de maio de 2000, ligada administrativamente à Unidade de Negócios Rio de Janeiro (UN-RIO) e com base de apoio em Macaé. Em março de 2001, quando ocorreu o acidente que resultou no seu naufrágio, a plataforma produzia cerca de 84 mil barris de petróleo por dia e 1,3 milhão de m³ de gás natural.[4]
Acidente
[editar | editar código]Na madrugada do dia 15 de março de 2001 ocorreram três explosões em uma das colunas da plataforma, sendo a primeira às 0h22min e a segunda às 0h39m (não há informações sobre o horário da terceira explosão). Segundo a Petrobras, 175 pessoas estavam no local no momento do acidente, das quais 11 morreram, todas integrantes da equipe de emergência da plataforma. Depois das explosões, a plataforma inclinou-se em 16 graus, devido ao bombeamento de água do mar para o seu interior, o suficiente para permitir alagamento, que levou ao seu naufrágio. Tentativas de resgate e aprumo foram feitas em seguir, injetando-se nitrogênio e ar comprimido nos tanques, para remover a água acumulada, porém sem sucesso, abandonaram a mesma.
No momento do acidente, a plataforma produzia cerca de 84 000 barris de petróleo e 1 300 000 metros cúbicos de gás, por dia, oriundos de 6 poços interligados.[5]
A plataforma afundou cinco dias após as explosões, no dia 20 de março, em uma profundidade de 1 200 metros e com estimadas 1 500 toneladas de óleo ainda a bordo. Segundo a agência nacional de petróleo (ANP) do Brasil, o acidente foi causado por "não-conformidades quanto a procedimentos operacionais, de manutenção e de projeto".[6] Segundo o relatório de investigação do acidente realizado pela ANP, 6 atividades marcantes, que tinham relação direta com o naufrágio da unidade, apresentaram não-conformidades, sendo eles: alagamento da coluna e flutuador, a admissão de água de lastro em proa bombordo, submersão contínua da plataforma, a evacuação e abandono da plataforma, as tentativas de salvamento da plataforma e o impacto ambiental.[7]
Em 2007 a P-36 foi substituída pela plataforma P-52, FPSO P-52, construída em Singapura e no Brasil.[2]
Vitimas
[editar | editar código]O acidente resultou na perda de 11 vidas, sendo todos membros da equipe de resposta à emergência que tentavam controlar o acidente, seus nomes são:
- Adilson Almeida de Oliveira
- Charles Roberto Oscar
- Emanoel Portela Lima
- Ernesto de Azevedo Couto
- Geraldo Magela Gonçalves
- Josevaldo Dias de Souza
- Laerson Antônio dos Santos
- Luciano Cardoso Souza
- Mário Sérgio Matheus
- Sérgio dos Santos Souza
- Sérgio dos Santos Barbosa
Punições
[editar | editar código]Segundo levantamento realizado pela empresa Marsh, o acidente representou perdas[nota 1] da ordem de US$ 500 milhões à época do acidente, o que significa cerca US$ 905 milhões ajustado para o ano de 2019.[8]
o Ibama multou a Petrobras pelo derramamento de óleo bruto e diesel (havia cerca de 10 mil barris estocados) e pela dispersão química feita à época e considerada danosa pelos órgãos ambientais. o vazamento de óleo e diesel ocorreu a 150 km do litoral, o que evitou maiores danos aos ecossistemas costeiras.[9]
O Ministério Público Federal ingressou com uma ação civil pública cobrando R$ 100 milhões de reparações.[9]
Em 2018, a judicialização das punições aplicadas pelo Ibama e as exigidas pelo Ministério Público Federal (MPF) atingiam o valor de 1,469 bilhão de reais.[9]
Notas
Referências
- ↑ Siqueira, Carlos Eduardo; Haiama-Neurohr, Nadia (2006). «The Sinking of the Neoliberal P-36 Platform in Brazil». Worker Safety Under Siege. Labor, Capital, and the Politics of Workplace Safety in a Deregulated World. Nova Iorque: Routledge. p. 187. ISBN 9781315698069
- ↑ a b «Em 2001, explosão da plataforma P-36 deixou 11 mortos na Bacia de Campos». O Globo (Acervo). 12 de agosto de 2013. Consultado em 10 de outubro de 2022
- ↑ 100 Largest Losses in the Hydrocarbon Industry (1974-2019) 26ª ed. [S.l.]: Marsh Jlt Specialty. 2020. p. 32
- ↑ a b c d e f Adylson Motta (2002). Vista do Petrobrás - Apuração de causas e responsabilidades relativas ao acidente com plataforma de exploração de petróleo P-36. Revista do TCU (Relatório). 33. Brasília. Consultado em 17 de setembro de 2025
- ↑ SindiPetro-LP (14 de março de 2023). «22 anos da tragédia da P-36 não mudam a realidade dos riscos à vida e a segurança no Sistema Petrobrás». SindiPetro-LP. Consultado em 8 de junho de 2023
- ↑ «Folha Online - Cotidiano - Explosão no Mar». www1.folha.uol.com.br. Consultado em 25 de dezembro de 2022
- ↑ «Análise do acidente com a plataforma P-36: relatório final da comissão de investigação ANP/DPC» (PDF). Agência Nacional do Petróleo (ANP). Julho de 2001. Consultado em 9 de setembro de 2022
- ↑ 100 Largest Losses in the Hydrocarbon Industry (1974-2019) 26ª ed. [S.l.]: Marsh Jlt Specialty. 2020. p. 69
- ↑ a b c «Após 17 anos, Petrobras disputa R$ 1,5 bilhão pelo naufrágio da P-36». agência epbr. 16 de março de 2018. Consultado em 8 de junho de 2023