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Poema

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Foto de um livro mostrando quatro estrofes do poema "Presságio", de Fernando Pessoa.
Trecho do poema "Presságio", de Fernando Pessoa.

Um poema é um texto literário que veicula uma expressão de poesia lírica ou épica[1]. Geralmente, é escrito em versos e organizado segundo os padrões de estilo e desenvolvimento de alguma forma fixa, como o soneto e a epopeia, mas não há, a princípio, quaisquer regras de composição formal para que um texto seja considerado um poema[nota 1].

Segundo Afrânio Coutinho, "a palavra poema é, desde que adotada por Alfred de Vigny, no século XIX, a forma que encorpa a poesia lírica (não obstante se denominar a epopeia um "poema épico", e se poder encontrar lirismo em outros gêneros, como a ficção e o drama)"[1]. Sendo assim, o conceito de poema é intrinsecamente ligado à produção do gênero literário de poesia, sendo um nome comum para designar qualquer obra resultante desse gênero.

Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada

— Primeira estrofe do poema Vou-me embora pra Pasárgada, de Manuel Bandeira.

Algumas fontes, procurando uma definição formal de poema, dizem que ele é um texto escrito em versos, a exemplo do Dicionário Aulete, que o define como um "texto literário escrito em verso"[2]. Contudo, Aristóteles, no século IV a.C, já argumentava que a poesia não se define por isso, porque qualquer tipo de texto pode ser escrito em versos[3]. Além do mais, é bem conhecida a existência de poemas em prosa.

Decerto as pessoas associam poiein ao nome da métrica e chamam alguns de poetas elegíacos, e outros de poetas épicos. Isso, contudo, não significa classificá-los como poetas devido à imitação, mas devido à métrica de que compartilham; consequentemente, se um autor escreve sobre medicina ou física sob forma métrica, ainda assim as pessoas o designarão mediante esses termos. Todavia, Homero e Empédocles nada tem em comum, exceto a métrica que utilizaram – Aristóteles[3]

Ainda, Massaud Moisés observa que "o poema não é a sua apresentação formal, gráfica, é, sim, a soma de significantes e significados mediante os quais o poeta procura comunicar-se"[4].

Aspectos formais

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Os poemas podem apresentar uma variedade de aspectos quanto à sua forma, dependendo do propósito dos seus autores. Em geral, eles contém ritmo prosódico, figuras de sonoridade, tropos e jogos de palavras, visto que esses são os principais artifícios da poesia[5].

Não chores, meu filho;
Não chores, que a vida
É luta renhida:
Viver é lutar.
A vida é combate,
Que os fracos abate,
Que os fortes, os bravos,
Só pode exaltar.

— Primeira estrofe do poema Canção do Tamoio, de Gonçalves Dias.

O conteúdo do poema é apresentado por um eu lírico. Este é um conceito usado para descrever a voz que se manifesta em um poema, visto que nem sempre esta se identifica com a do seu autor[6] (por exemplo, no poema Canção do Tamoio, de Gonçalves Dias, manifesta-se a voz de um velho indígena tamoio, que se dirige a seu filho).

Os poemas são compostos de acordo com "moldes estruturais [...] segundo o critério de adequação entre linguagem e conteúdo, entre significante e significado"[7]. Esses moldes são popularmente conhecidos como formas fixas e ditam o número e o tipo dos versos, o esquema de rimas, o desenvolvimento do texto, dentre outras coisas. Dentre as formas fixas, estão o soneto, a ode, a epopeia, o haiku, etc.

Por exemplo, o soneto, na variante italiana, é composto por quatorze versos métricos, dividido em quatro estrofes, dois quartetos e dois tercetos, sendo que os quartetos apresentam a proposição de um problema e o mesmo esquema de rimas, e os tercetos, a conclusão desse problema e um esquema de rimas distinto[8].

Às vezes, uma dor me desespera...
Nestas ânsias e dúvidas em que ando.
Cismo e padeço, neste outono, quando
Calculo o que perdi na primavera.

Versos e amores sufoquei calando,
Sem os gozar numa explosão sincera...
Ah! Mais cem vidas! com que ardor quisera
Mais viver, mais penar e amar cantando!

Sinto o que esperdicei na juventude;
Choro, neste começo de velhice,
Mártir da hipocrisia ou da virtude,

Os beijos que não tive por tolice,
Por timidez o que sofrer não pude,
E por pudor os versos que não disse!

— Poema Remorso, de Olavo Bilac. Exemplo de soneto.

Contudo, desde o século XIX, com o advento da poesia moderna, diversos poemas têm sido compostos sem enquadrar-se em uma forma fixa definida, muitas vezes apresentando versos livres e brancos. Esse movimento não só desgastou o conceito das formas fixas como também operou diversas transformações em muitas delas.

Como se sabe, a partir da revolução romântica, com o liberalismo estético, paralelo ao político, religioso e filosófico, deu-se a desintegração das formas poéticas. Estas, com a modernidade, quase se reduziram a objetos de museu, sobretudo as chamadas formas fixas, ou poemas de forma fixa. – Massaud Moisés[9]

Notas

  1. Todas as tradições poéticas antigas e modernas ao redor do mundo estabelecem como elemento essencial e distintivo do poema o ritmo prosódico. Contudo, na contemporaneidade, experiências como a do concretismo dissolveram essa necessidade poema, sem contar que, hoje em dia, é muito comum que textos em prosa também possuam ritmo prosódico, o que desfaz o caráter distintivo desse traço estilístico. Contemporaneamente, não há, portanto, qualquer pré-requisito formal para que um texto seja considerado um poema, sendo essa classificação construída socialmente.

Referências

  1. a b COUTINHO, 2015, p. 83.
  2. AULETE, Caldas (2011). Novíssimo Aulete dicionário contemporâneo da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Lexikon. p. 1079. ISBN 9788586368752 
  3. a b ARISTÓTELES (2011). Poética. São Paulo: Edipro. pp. 38–39. ISBN 9788572837590 
  4. MOISÉS, 2013, p. 72.
  5. COUTINHO, 2015, p. 82-83.
  6. DIANA, Daniela. «Eu lírico: o que é, como identificar e exemplos». Toda Matéria. Consultado em 10 de maio de 2025 
  7. MOISÉS, 2013, p. 55-56.
  8. MOISÉS, 2013, p. 230-237.
  9. MOISÉS, 2013, p. 216.
  • COUTINHO, Afrânio. Notas de teoria literária. Rio de Janeiro: Vozes, 2015. ISBN 9788532637475.
  • MOISÉS, Massaud. A criação literária: poesia e prosa. São Paulo: Cultrix, 2012. ISBN 9788531611810.

Ligações externas

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O Wikiquote tem citações relacionadas a Poema.